Safra 2025/26 avança lentamente por irregularidade das chuvas
O plantio da safra de soja 2025/2026 avança em ritmo mais lento no Brasil do que o observado na safra anterior em razão da irregularidade das chuvas, especialmente no bioma Cerrado, uma das principais regiões agrícolas do país. Levantamentos da consultoria AgRural indicam que, no início de novembro, apenas 47% da área estimada havia sido semeada, contra 54% no mesmo período da safra anterior, reflexo direto da baixa umidade do solo em áreas do Centro-Oeste e do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Até meados de novembro, o índice de plantio chegou a 71%, ainda abaixo dos cerca de 80% registrados um ano antes. Somente no início de dezembro, com a retomada parcial das chuvas em áreas do Cerrado, o plantio alcançou 94% da área prevista, patamar próximo, mas ainda inferior ao da safra 2024/25, segundo a AgRural. A distribuição desigual das precipitações nas últimas semanas já impacta o ritmo de plantio e acende alertas sobre possíveis reflexos na produtividade de culturas como soja e milho, altamente dependentes de um regime hídrico regular.
Entre os estados mais afetados pelo atraso está Goiás, apontado por analistas como um dos locais com maior lentidão no plantio de soja desde a safra 2017/18, período que se tornou referência histórica de adversidade climática na região. No MATOPIBA, áreas do oeste da Bahia e do sul do Piauí também enfrentaram dificuldades recorrentes para avançar com a semeadura dentro da janela ideal.
Para a engenheira ambiental e especialista em recursos hídricos e engenharia sanitária, Maristela Rodrigues, CEO da Four Ambiental, que acompanha indicadores climáticos e seus impactos no agronegócio, a atual safra já demanda atenção redobrada por parte dos produtores e do poder público.
“Estamos diante de um padrão de chuvas que foge do ciclo tradicional de plantio no Cerrado. A irregularidade, com períodos secos prolongados intercalados por chuvas fora de época, reduz o potencial produtivo e aumenta o risco de perdas, especialmente em regiões mais dependentes da chuva”, afirma.
De acordo com os boletins agroclimatológicos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), mesmo onde houve ocorrência de chuvas, os volumes foram mal distribuídos e, em muitos casos, insuficientes para recompor adequadamente a umidade do solo.
Regiões do interior do Centro-Norte do país registraram acumulados abaixo da média histórica em diferentes momentos do início da estação chuvosa, comprometendo o armazenamento hídrico e dificultando o avanço uniforme do plantio. O INMET destaca que essas anomalias de precipitação, comparadas às médias de longo prazo, reforçam o quadro de irregularidade climática observado em 2025.
Além do impacto direto no calendário agrícola, há preocupação com o aumento de custos. Relatórios de mercado citados por consultorias como Safras & Mercado e AgRural apontam que, embora o replantio ainda seja pontual, a combinação entre calor e baixa umidade pode forçar produtores a refazerem áreas, pressionando o orçamento das propriedades.
Adaptação climática e políticas públicas
Maristela Rodrigues ressalta que a resposta ao cenário climático adverso precisa ir além das ações individuais no campo. Segundo ela, políticas públicas voltadas à adaptação climática tornam-se estratégicas para preservar a competitividade do agronegócio brasileiro.
No financiamento do recurso para o plantio, Maristela explica que, ao invés de bloquear os financiamentos dos produtores, o ideal seria que os financiamentos já destinassem uma cota para a regularização das áreas e investimentos, para minimizar os impactos das mudanças climáticas nas propriedades. “Os fomentos precisam levar em conta a análise ambiental e realmente impulsionar a economia”.
Ela lembra que o Cerrado concentra uma parcela expressiva da produção nacional de grãos. “Sem instrumentos como crédito climático, fortalecimento do seguro agrícola e investimentos contínuos em pesquisa de cultivares mais tolerantes ao estresse hídrico, o país corre o risco de enfrentar não apenas perdas de safra, mas também impactos na sua posição no mercado global”, alerta.
Medidas práticas no campo
Diante das incertezas, a especialista recomenda a adoção de medidas práticas para mitigar os efeitos da variabilidade climática:
- Instalação de pluviômetros e monitoramento frequente das chuvas;
- Regularização ambiental das propriedades, com proteção de áreas de preservação permanente e nascentes;
- Manejo hídrico eficiente, com práticas como plantio direto, cobertura do solo e uso de cultivares mais eficientes no uso da água;
- Produção de água na propriedade, com poços e barramentos;
- Educação e conscientização para o uso sustentável dos recursos hídricos.
“O produtor que se apoia em zoneamentos agrícolas, monitora o clima e adota práticas conservacionistas têm maior capacidade de enfrentar períodos de seca ou irregularidade. Não se trata apenas de salvar a safra atual, mas de construir resiliência frente a um clima cada vez mais instável”, finaliza Rodrigues.
Sobre a especialista: Maristela Rodrigues é engenheira ambiental especialista em Recursos Hídricos e Engenharia Sanitária, formada pela PUC-Goiás, com mais de 18 anos de atuação. É CEO da Four Ambiental e presidente da OSCIP “Amigos do Rio”, organização dedicada à fiscalização, preservação e educação ambiental com foco na recuperação de nascentes.
A especialista participou da COP30, representando a Amigos do Rio na Zona Azul da Conferência Global, uma área estratégica destinada ao diálogo entre governos, agentes internacionais e atores da sociedade civil. Ela agiu em defesa à proteção das nascentes do estado de Goiás.
0 comentário
Safra cheia garante fôlego à ração em 2025 enquanto clima e etanol redesenham o próximo ciclo
Safra 2025/26 avança lentamente por irregularidade das chuvas
Com o palmito pupunha, SP chega a 9 IGS do agro e totaliza 12 Indicações Geográficas no estado
Dólar recua no Brasil com dados de emprego e ata do Fed no radar
Queijos puxam alta de preços no Brasil em novembro enquanto leite e arroz recuam
Agro brasileiro ultrapassa R$ 1 trilhão em demanda por crédito e abre espaço para inovação financeira