Embrapa e instituições parceiras investem na conservação do cavalo lavradeiro de Roraima

Publicado em 10/02/2010 07:01

O cavalo lavradeiro de Roraima, também chamado de cavalo selvagem, é um dos principais símbolos do estado de Roraima e, por isso, não raramente são vistos estampados em camisetas, ônibus interestaduais e em outros souvenires, objetos e locais que representem a região. Além disso, esse animal é um presente genético para os cientistas, pois os séculos de adaptação às condições de lavrado o tornaram um manancial de genes à disposição da pesquisa. Uma das características que mais desperta o interesse dos pesquisadores é o incrível desempenho físico do cavalo lavradeiro, capaz de percorrer grandes distâncias em velocidade se alimentando apenas do capim do lavrado que, por sua baixa qualidade nutricional, é conhecido popularmente como “fura-bucho”. <?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Por isso, o cavalo lavradeiro de Roraima não poderia deixar de fazer parte do programa de conservação de recursos genéticos animais da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, que desde a década de 80, investe na coleta, caracterização e conservação de raças de animais domésticos cuja história se confunde com a história do Brasil, já que muitos deles se encontram no país desde a época da colonização. Em comum, essas raças de animais, que incluem bovinos, suínos, caprinos, bubalinos, ovinos e eqüinos, têm o fato de estarem ameaçadas de extinção apesar das características de rusticidade e adaptabilidade adquiridas ao longo do tempo.

A explicação para o risco em que muitos desses animais se encontram hoje se deve ao imediatismo dos produtores que, ao longo dos séculos, foram os substituindo por outros considerados mais produtivos. O seu desaparecimento poderia representar a perda de um tesouro genético, pois esses animais possuem genes resultantes de anos de seleção natural com enorme potencial para programas de melhoramento genético.

Segundo o pesquisador Ramayana Menezes Braga em seu livro “Cavalo lavradeiro em Roraima: aspectos históricos, ecológicos e de conservação”, na formação de uma raça animal dois fatores interferem diretamente: o potencial genético e o ambiente. A interação entre esses fatores é que determina o fenótipo, ou seja, a forma física do animal, incluindo tamanho, resistência, rusticidade etc.

A introdução de animais em uma região e a sua reprodução livre, sem a interferência do homem, leva a um processo denominado seleção natural, que faz com que apenas os animais mais adaptados sobrevivam.

O cavalo lavradeiro é um ótimo exemplo da ação da natureza que, ao longo dos séculos, foi eliminando os genes desfavoráveis, fazendo com que apenas os animais mais fortes e adaptados sobrevivessem. Especialmente se levadas em consideração as condições climáticas do lavrado de Roraima, que incluem alimentação de baixo valor nutritivo e isolamento geográfico por muralhas naturais (serras da fronteira).

Esses fatores levaram esses cavalos a apresentar características bastante peculiares: são animais pequenos (<?xml:namespace prefix = u1 />1,40 m), com alto índice de fertilidade, muito velozes (podem correr por 30 minutos a 60 Km/h), resistentes ao trabalho árduo e tolerantes a doenças e parasitas.

Animais são conservados em núcleos de criação

 

Cavalo lavradeiro

 

Atualmente, a Embrapa Roraima mantêm um Núcleo de Conservação do cavalo lavradeiro na Fazenda Resolução, situada no município de Amajari a cerca de 170 km da capital Boa Vista. Ao todo são 43 animais da Embrapa que são mantidos juntamente com animais de propriedade de criadores particulares. Somam-se a esses, seis garanhões que foram transferidos para o campo experimental “Fazenda Água Boa” pertencente a Embrapa Roraima para adaptação e manejo.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Maria do Socorro Maués, que recentemente visitou o Núcleo de Conservação em Roraima, as ações desenvolvidas até o momento permitiram a manutenção dos animais, incluindo alimentação, vacinação e vermifugação, entre outras necessidades.Os animais são criados livremente e costumam andar em bandos de apenas um macho e cerca de oito a dez fêmeas. Além de Maria do Socorro, participaram também da visita os pesquisadores Ribamar Marques da Embrapa Amazônia Oriental, Silvia Castro da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Ramayana Braga e Paulo Mattos da Embrapa Roraima, este último curador do Núcleo de Conservação dos cavalos.

 

Ações de pesquisa serão intensificadas para desvendar a riqueza genética do cavalo lavradeiro

 

“Mas é preciso investir em ações mais efetivas para conhecer melhor a capacidade genética do cavalo lavradeiro”, ressalta a pesquisadora.

Socorro lidera a Rede de Recursos Genéticos Animais da Embrapa que, atualmente, integra mais de 80 pesquisadores de várias unidades de pesquisa da Embrapa, universidades e associações de criadores. A Rede funciona de forma compartilhada e engloba atividades de caracterização, coleta e conservação de animais in situ, ou seja, em seus locais de origem e ex situ, que inclui a conservação de amostras de sêmen, embriões e DNA em bancos genéticos.

Entre as prioridades da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia,destacam-se: a manutenção e documentação do Núcleo de Conservação de Cavalos Lavadeiros, através da realização de diagnóstico do efetivo populacional, caracterização genética e preservação da sua variabilidade genética.

Uma das características do animal que instiga os cientistas é a capacidade de seus cascos, já que consegue percorrer longas distâncias em um solo composto quase em sua totalidade por pedras.

Outra ação prevista é a realização de monitoramento aéreo na região de Roraima para medir o efetivo populacional desses animais. O monitoramento aéreo, que já vem sendo feito com sucesso pela Embrapa Pantanal, consiste em levantamentos feitos com avião pequeno, para quatro passageiros, a uma altura de 61 metros, por amostragem, através de marcadores fixados no suporte das asas do avião.

 

Patrimônio genético ameaçado

 

Conta a lenda que mais de dois mil cavalos habitavam o estado de Roraima. Hoje, esse número talvez não chegue a 200. Portanto, o que a Embrapa e as instituições parceiras pretendem, acima de tudo, é desenvolver pesquisas que permitam chegar a metodologias eficientes de conservação desses animais. “Com a conservação em bancos genéticos, através de amostras de sêmen e DNA, aliada à manutenção dos animais em núcleos de criação, esperamos poder contribuir para a conservação da raça lavradeira e garantir que esse tesouro genético possa continuar sendo símbolo das futuras gerações de Roraima e do Brasil”, finaliza a pesquisadora da Embrapa.

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Fonte:
Embrapa Genética e Biotecnologia

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