La Niña pode afetar próxima safra de grãos
As projeções são recebidas com cautela pelo chefe do Centro de Pesquisa Meteorológica da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), o meteorologista Gilberto Diniz. "No momento, o que se pode afirmar é que temos um enfraquecimento do El Niño, mas não há indicativo concreto de que teremos La Niña", salienta o professor. Segundo Diniz, a partir do prognóstico do Comitê Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Rio Grande do Sul para os meses de junho, julho e agosto, que deverá ser elaborado nesta semana, será possível uma reavaliação do quadro.
Dependendo da força do La Niña, as safras de grãos poderão ser menores, afetando os preços. No Estado, o passado recente demonstra impacto adverso no milho e na soja com a tendência de menor ocorrência de chuva no período crítico de reprodução e enchimento de grãos das culturas nos meses de dezembro e fevereiro, respectivamente. Trigo e fumo também seriam prejudicados no caso da escassez de chuva. Já para o arroz, haveria benefícios com o aumento da luminosidade na safra. Entretanto, com todo o inverno pela frente e a possibilidade de chover suficientemente para o abastecimento de reservatórios, o assistente técnico estadual da Emater em Agroenergia, Alencar Paulo Rugeri, pondera que ainda é muito cedo para especulações.
Produtor está mais preparado
Se os prognósticos de La Niña forem confirmados, o produtor gaúcho estará melhor preparado para enfrentar a estiagem do que em anos anteriores. A opinião é do secretário adjunto da Secretaria Extraordinária da Irrigação e Usos Múltiplos da Água, Mário Silva. Ele atribui essa maior proteção ao avanço do programa estruturante Irrigar é a Solução, criado para minimizar os efeitos das estiagens sobre a produtividade do agronegócio gaúcho, por meio do aproveitamento racional do potencial hídrico do Estado. "Temos hoje muito mais reserva de água no Estado e produtores mais conscientes de que é preciso investir em irrigação", afirma.
Apesar de admitir que há muito para avançar, Silva argumenta que, até o final deste ano, estarão prontos 5 mil açudes e cisternas em 300 municípios do Estado, com prioridade para regiões atingidas por estiagens. Até agora, 3 mil estruturas foram concluídas. O acúmulo de água é um dos pilares do programa e previa 16 mil açudes e cisternas. Contudo, segundo o secretário, faltou demanda por parte do agricultor. Silva lembra que o projeto, que prevê depósito antecipado de 20% do valor pelo produtor, sofreu certo descrédito no início e enfrentou burocracia.