Terras: Mãos gringas no "filé" do Brasil

Publicado em 09/06/2010 07:44 e atualizado em 09/06/2010 17:09
Mapeamento das terras brasileiras sob comando de proprietários de fora do país indica que há pelo menos 4,3 milhões de hectares em 3.694 municípios, com grande concentração em seis estados e em áreas de intensa produtividade.
Documento inédito obtido pelo Correio permite uma radiografia da distribuição de terras brasileiras compradas por estrangeiros. São 4,3 milhões de hectares distribuídos em 3.694 municípios. Ao contrário do que muitos imaginam, o maior interesse não está na Amazônia. As terras estrangeiras concentram-se em estados do Centro-Oeste e do Sudeste, com destaque absoluto para o Mato Grosso, onde 844 mil hectares estão nas mãos de corporações transnacionais. Empresas da China, do Japão, da Europa, dos Estados Unidos, da Coreia e de países árabes investem principalmente na produção de grãos, cana-de-açúcar e algodão, além de eucalipto para a indústria de celulose. A competição com o capital internacional elevou o preço das terras em cerca de 300% em algumas áreas do Centro-Oeste. Não há regulamentação que imponha limites a essa ocupação, nem informações precisas no governo brasileiro.

O mapa das terras estrangeiras foi elaborado a partir de dados do Sistema Nacional de Cadastro Rural do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Ele permite identificar as áreas de maior interesse, mas as informações não são completas, pois o cadastro do Incra é declaratório. As empresas não informam o que produzem nem a origem do dinheiro. Apenas há três anos foi criado um campo específico para esses dados, mas nem todos declaram. Os cartórios também deveriam exigir essas informações ao lavrarem as escrituras, mas nem sempre cumprem a obrigação. Técnicos do instituto avaliam que os números podem ser até cinco vezes maiores.

Em solenidade realizada na Embrapa, em Brasília, anteontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou preocupação em relação à compra de terras no Brasil por estrangeiros. "Uma coisa é o cidadão vir e comprar uma usina, comprar fábrica. Outra coisa é comprar a terra da fábrica, a terra da soja, a terra do minério. Daqui a pouco ficaremos com um território diminuto", disse o presidente. Ele acrescentou que é preciso evitar que haja "abuso" nas aquisições, "sobretudo da terra mais produtiva".

Perfil

O cadastro permite identificar as regiões de maior interesse das multinacionais. No Mato Grosso, onde é forte a produção de soja, a distribuição é equilibrada, mas há forte concentração em alguns municípios. Em Porto Alegre do Norte, nordeste do estado, 13 propriedades de estrangeiros somam 79 mil hectares, o que corresponde a 790 km² . No Mato Grosso do Sul, a produção é dividida entre a cana e os grãos. Destaca-se Ribas do Rio Pardo, na região central, com 51 mil hectares distribuídos em 18 fazendas.

Na Bahia, há duas regiões preferenciais para os estrangeiros. No oeste do estado, uma fronteira agrícola relativamente recente, grupos japoneses já adquiriram cerca de 30 mil hectares para o cultivo de algodão e grãos. Mas já havia outras empresas transnacionais na região. No extremo sul, apenas seis municípios somam mais da metade de todas as terras estrangeiras no estado. Em Santa Cruz de Cabrália, são 56 mil hectares. Na região, cerca de 100 mil hectares estão ocupados com plantações de eucaliptos destinados à produção de celulose pela fábrica Veracel, uma sociedade da empresa sueco-finlandesa Stora Enso com a antiga Aracruz, hoje controlada pelo grupo Votorantim.

Em São Paulo, há uma capilarização maior. São cerca de 12 mil propriedades ocupando 491 mil hectares. No estado, interessa principalmente a produção de cana. O município de Agudos tem a maior concentração dessas propriedades, com 11 mil hectares. Os estados do Nordeste parecem não atrair a atenção das multinacionais. Em alguns deles, o total de terras não passa de 6 ou 9 mil hectares.

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Fonte:
Correio Braziliense

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3 comentários

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, estive matutando sobre o assunto e ..... " No 1º governo quando ... . O CARA ..... era conselheiro do BUSH , o mesmo veio ao Brasil e numa viagem de 48 hrs , diz-se , que ia transformar o etanol em commodity ( é assim que escreve né ? ? ) , Veja o que deu ! ! Neste curto espaço de tempo , vimos um " ATAQUE " de multis " COMPRANDO " ( está com aspas pois existe um outro sentido na palavra ) Usinas e/ou grupos de Usinas . .............. . NUNCA NA HISTÓRIA DESTE PAÍS SE VIU UM MOVIMENTO DESSA MAGNITUDE E RAPIDEZ ! ! ! ..... PORQUE ?? NESSAS " AQUISIÇÕES " COM QUANTO O BNDES ENTROU COM FINANCIAMENTOS ? ? N o discurso êle usou , se não me engano , .... " tudo bem, que êles vêm aqui e compre as nossas industrias " ..... SINCERAMENTE ...... A minha inteligência não chega " A TANTO ! "........... " E VAMOS EM FRENTE ! ! ! "

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  • Darci Dumke Maravilha - SC

    Que paradoxo. Enquanto os desbravadores estão na espera a mais de 20 anos para regularizar suas terras na Rondonia, Amazonas etc; os estrangeiros conseguem num passo de mágica, fundar novas colônias, requere plantas de fabricas, autorização para explorar o sub-solo no nosso pais, em pleno seculo 21. Enquanto isso lá em Brasilia, nossos representados só conseguem aprovar

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  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi , não entendo a " paura " todo esse discurso só vem de encontro com uma realidade ....OS GRINGOS ESTÃO OCUPANDO UM ESPAÇO CRIADO PELA TRANSFERENCIA DE RENDA QUE OS GRINGOS OBTIVERAM , COMERCIALIZANDO COM OS " COLONOS " .... " E VAMOS EM FRENTE ! ! ! " .

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