Cresce deficit em transações com o exterior

Publicado em 08/09/2010 06:40

De janeiro a julho deste ano, o país acumulou deficit nas chamadas transações correntes de US$ 28,261 bilhões, o equivalente a 2,51% do Produto Interno Bruto (PIB), ante os US$ 8,8 bilhões em igual período de 2009.
Nos 12 meses encerrados em julho, o saldo de transações correntes é negativo em US$ 43,764 bilhões (2,24% do PIB). Consultorias projetam que nos próximos anos ele chegue perto de 4% do PIB.
Essa número é resultado de tudo o que país gasta e recebe do exterior na forma de exportações, importações, serviços, juros, contas de turismo, fretes e seguros. Quando há deficit, significa que o país gastou no exterior mais do que recebeu em suas exportações e serviços.
As causas do deficit estão -entre outras- na taxa de cambio valorizada, que estimula as importações e os gastos no exterior e reduz a competitividade das exportações.
Os economistas discutem as consequências da continuidade desse deficit, com possibilidade de restrição ao crescimento e à possibilidade de o país atrair capitais de novos investimento.


Meta de inflação merece atualização

(Por Mário Mesquita)

O REGIME brasileiro de metas para a inflação completou dez anos em 2009. Nesses 11 anos, a economia enfrentou diversos choques, como o estresse pré-eleitoral de 2002 e o pânico financeiro global de 2008, mas seguiu na rota da consolidação da estabilidade macroeconômica. 
Embora seja vítima de críticas de interesses setoriais contrariados, o regime de metas para a inflação, com taxa de câmbio flutuante, tem forte amparo entre os formadores de opinião e -a julgar pela posição dos principais candidatos à Presidência, que o apoiam ou pelo menos não o criticam diretamente- também de vasta parcela do eleitorado. 
Nesse sentido, pode-se dizer que o regime de metas encontra-se consolidado. Isso não significa que não possam ocorrer aprimoramentos. O principal seria a atualização da meta para a inflação. A meta encontra-se em 4,5% desde 2005, em um intervalo de mais ou menos dois pontos percentuais. Esse índice difere consideravelmente do que a literatura acadêmica considera ser consistente com o conceito de estabilidade de preços, algo entre 2% e 3%. A meta brasileira supera também, em muito, a média (3,6% em 2009) das metas de 25 países que praticam esse regime. 
Aliás, apenas dois países, que não se notabilizam como exemplos de estabilidade monetária, possuem índices centrais de meta superiores ao brasileiro: Turquia e Guatemala. 
Na região, a comparação nos é desfavorável: a meta é de 3% no Chile, na Colômbia e no México, e de 2% no Peru. É verdade, contudo, que a nossa é inferior, por enquanto, à praticada no Paraguai, de 5%. 
Note-se que caiu por terra nos últimos anos a tradicional justificativa que, comparando-se por exemplo com o Chile e com o México, o Brasil precisaria de uma meta para a inflação maior por não ter atingido ainda o grau de investimento. Não só o índice central da meta é elevado, mas também o intervalo de tolerância de 4 pontos percentuais (2 pontos para cima ou 2 para baixo) adotado pelo Brasil fica entre os maiores -se não for o maior- entre os países que praticam o regime. 
Os benefícios de reduções da meta de inflação e do intervalo de tolerância seriam vários. Em primeiro lugar, propiciaria maior proteção do poder de compra dos assalariados, além de reduzir os incentivos a práticas de indexação na economia -o que aumentaria a eficácia da política monetária. Haveria, também, redução da incerteza inflacionária e dos prêmios de risco, aumentando a previsibilidade da economia, favorecendo o investimento. 
A redução da meta deveria interessar também ao Tesouro Nacional: com a redução do prêmio de risco inflacionário, cairia o custo da dívida prefixada e a inflação menor reduziria diretamente o custo dos títulos indexados ao IPCA. Quanto aos títulos indexados à Selic, uma inflação menor e menos volátil implicaria menos esforço da política monetária e custos menores. 
Evidentemente, seria complexo reduzir de uma só vez a meta de 4,5% para os 3%, que caracterizam a melhor prática nos países emergentes. Um processo gradualista seria mais indicado. Por essas razões, o novo governo, qualquer que seja o resultado da eleição, daria uma grande contribuição para o funcionamento da economia se anunciasse, logo em seu início, uma trajetória gradual, mas consistente, de redução da meta para a inflação, para algo como 4,25% em 2011, 4% em 2012, 3,5% em 2013 e 3% em 2014, com estreitamento também paulatino do intervalo de tolerância. 
Se é verdade, como sugerem certas análises, que o ambiente mundial seguirá exercendo importante influência desinflacionária sobre a economia brasileira, então faria sentido aproveitar essa influência favorável para reduzir a meta -ou, colocando de outra forma, a meta de 4,5% fica ainda mais fora de esquadro em um ambiente global desinflacionário. 
Vale lembrar que a meta para a inflação é determinante importante das expectativas inflacionárias e, assim, das taxas de juros praticadas na economia. Isso significa que não pode haver a tão esperada convergência das taxas de juros brasileiras para padrões internacionais sem convergência também da taxa de inflação, e isso não se consegue com a meta congelada em 4,5%.

MARIO MESQUITA, 44, doutor em economia pela Universidade de Oxford, 

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FSP

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