No debate, Dilma dá sinais de que pode rifar Erenice, por Reinaldo Azevedo

Publicado em 13/09/2010 08:20


No debate de ontem promovido pela Folha/Rede TV, a candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, procurou se descolar de Erenice Guerra, ministra da Casa Civil, e deu a entender que, se preciso, o governo pode rifá-la. Sob certas condições, é claro. Já falo a respeito. A ministra pode ser o fusível que vai ter de queimar para preservar a candidata. Reportagem da VEJA desta semana mostra que Israel Guerra, filho de Erenice — pessoa da mais estrita confiança de Dilma — atua como lobista e cobra comissão para intermediar negócios de empresas privadas com o governo. A jornalista Renata Lo Prete, da Folha, perguntou a Dilma:
“A senhora colocaria a mão no fogo por Erenice Guerra, que foi seu braço-direito na Casa Civil e assumiu o ministério quando a senhora saiu do governo?”

Leiam o que Dilma respondeu; prestem atenção aos detalhes:
“Eu tenho, até hoje, Renata, a maior e a melhor impressão da ministra Erenice. O que se tem publicado nos jornais [olhando para a colinha] é uma acusação contra o filho da ministra. Esta acusação quanto ao filho da ministra, o governo deve apurar de forma rigorosa e deve avaliar se houve ou não tráfico de influência. Se houve, tem de tomar as providências mais drásticas possíveis. No caso da ministra Erenice, foi feita uma acusação, ela foi desmentida, e, hoje, o que se tem ainda é exatamente nada. Agora, eu quero deixar claro aqui:eu não concordo, não vou aceitar, que se julgue a minha pessoa baseado com o que aconteceu com o filho de uma ex-assessora minha. Até porque, Renata, eu perguntaria pra você: você acha correto responsabilizar o diretor-presidente da tua empresa pelo que foi feito pelo filho de um funcionário dele? Eu, pessoalmente, não acho. Acho que isso cheira a manobra eleitoreira,sistematicamente feita contra mim e a minha campanha.”

Vamos pensar
De saída, é preciso ficar claro: não! Dilma não põe a mão no fogo por Erenice. É o cuidado típico de quem não sabe o que vem por aí. Assim, se preciso, a sua sucessora na Casa Civil terá de ir para o sacrifício. A candidata deu a sua resposta olhando, como sempre, para uma colinha — a turma que cuida da sua campanha sabia que tal questão iria aparecer. A “melhor impressão” de Dilma sobre Erenice vai “até hoje”. O amanhã às pesquisas pertence.

Dilma deixou claro que Erenice pode dançar, sim, mas isso não significa que sua resposta não esteja eivada de absurdos. O maior deles é tentar fazer uma distinção entre o “filho” e a “mãe”, como se Israel pudesse fazer “tráfico de influência”, para usar a sua expressão, sozinho. Mais um pouco, Dilma lembra seu antigo mestre na política, Leonel Brizola, que ela abandonou para se juntar ao PT, e proclama: “Filho não é parente! Dilma para presidente”. Ora…

Quem é o rapaz? Sozinho, ele não é ninguém. A “influência” que ele trafica não é sua, mas da progenitora, que é ministra de estado e braço-direito de Dilma, com vasta folha de serviços prestados à ministra — alguns deles não muito republicanos, como já se lembrou aqui. Assim, é patacoada essa história de que existem “a ministra” e o “filho da ministra” como realidades distintas. Não nesse escândalo.

A frase “se houve [irregularidades], tem de tomar as providências mais drásticas possíveis” não quer dizer rigorosamente nada. Afinal, só faltava a candidata afirmar o contrário. Os petistas ainda não chegaram a tanto. Um dia ainda o farão, mas não já.

Desmentido uma ova!
Segundo Dilma, “a acusação foi desmentida no caso de Erenice”. Falso! A nota do empresário Fábio Baracat não desmente coisa nenhuma, como deixei claro ontem. Ao contrário. Ele reafirma que Israel Guerra atuava como intermediador de verba pública, cobrando comissão: 
Durante o período em que atuei na defesa dos interesses comerciais da MTA, conheci Israel Guerra, como profissional que atuava na organização da documentação da empresa para participar de licitações, cuja remuneração previa percentual sobre eventual êxito” . Baracat confirma ainda o encontro com a ministra: “Destaco também que não tenho qualquer relacionamento pessoal ou comercial com a Ministra Erenice Guerra, embora tivesse tido de fato a conhecido, jamais tratei de qualquer negócio privado ou assuntos políticos com ela.Cadê o desmentido?

Ele foi levado à presença de Erenice por quem? Pelo filho, Israel, que atuava como intermediário nos negócios, o que também foi confirmado à Folha por Artur Rodrigues da Silva, diretor de Operações dos Correios. De resto, cumpre destacar que o depoimento de Baracat à VEJA foi gravado. Como informa a revista, “a reportagem não foi construída com base em declarações, mas em intensa apuração jornalística e sobre documentação, parte da qual ainda não foi publicada.”

No depoimento gravado — antes, portanto, que o governo tivesse atuado com seus métodos de convencimento —, o empresário informa que se encontrou com a ministra em seu (dela) apartamento. Ao menos uma vez, quando o pagamento estava atrasado, ela lembrou que eles — ela própria e o filho — tinham de “saldar compromissos políticos”.

Para não esquecer
A conclusão da resposta de Dilma é risível. É evidente que Erenice não tem existência autônoma. Ela é quem é porque Dilma a colocou lá e porque a mulher tem algumas medalhas no peito em razão de “serviços” prestados à chefa.  A simples admissão de que o filho de uma ministra de estado atua para liberar verba pública sobre a qual a mãe tem influência é um disparate, o que dá conta do estágio a que chegamos. 
Só falta agora Erenice afirmar que não sabia como o filhote ganhava a vida.

Israel é mais do que um rapaz que está fazendo coisas impróprias a um filho de uma ministra de estado. Ele é um sintoma de uma doença e evidência de um método. Ou alguém é inocente o bastante para considerar que mãe e filho atuam ao arrepio do partido? Basta ler o currículo de Erenice para constatar que ela é um quadro do PT. Mais faz o que mandam do que manda no que faz.

Por Reinaldo Azevedo

Plínio de Arruda Sampaio arrancou alguns risos da platéia com a sua performance de Velhinho Maluquinho. Mas houve outros momentos de humor no debate. Involuntário. Marina perguntou a Dilma o que ela faria, se eleita, para que episódios como os da Receita não voltassem a acontecer. A petista em vermelho. Eu vou de azul outra vez.

Nós estamos fazendo uma investigação rigorosa…
Os fatos:
1 - A VEJA denuncia a existência do grupo do Lanzetta. O PT nega que esteja fazendo um dossiê e, oficialmente, afasta o rapaz, que continua a trabalhar para o partido;

2 - A Folha descobre as declarações de IR de Eduardo Jorge com petistas do comitê de Dilma. O partido nega vínculo com a violação. No programa Roda Viva, Dilma afirma ao editor executivo da Folha que só não processa o jornal por respeito à liberdade de imprensa;

3 - Eduardo Jorge recorre à Justiça para ter acesso a investigação. Descobre-se que foram quebrados os sigilos de outras pessoas ligadas ao PSDB. O PT continua a negar vínculo com as violações;

4 - A cúpula da Receita dá uma entrevista e nega que as violações tenham caráter político-partidário. Reportagem do Estadão publicada dois dias depois demonstra que a investigação interna demonstrava o contrário. O órgão já sabia que também o sigilo de Verônica Serra havia sido violado. Ou seja: a Receita estava sendo usada pelo PT.

5 - Vem a público a violação do sigilo de Verônica Serra, desta feita no posto da Receita de Mauá. A pessoa que obteve o documento, com procuração falsa, é filiada ao PT. Mas Dilma e os petistas acusam “baixaria” das vítimas. PT e Dilma, escandalosamente, anunciam que vão processar Serra!!!

6 - Descobre-se que, em Formiga, Minas Gerais, o sigilo de Eduardo Jorge foi violado 10 vezes. A pessoa que o fez é filiada ao PT. A cúpula do PT diz que não pode responder por aquilo que fazem seus filiados.

7 - Surge a prova de que o sigilo de Alexandre Bourgeois, genro de Serra, também foi violado em Mauá. O cinismo é tanto que o Ministério da Fazenda emite nota para dizer que não tinha sido uma violação, mas apenas consulta. Acontece que a Receita já sabia que a violação ocorrera também no posto de Santo André, com uma procuração falsa apresentada pelo mesmo contador petista que violara o de Verônica Serra.

Essa é a investigação rigorosa feita pelo governo Lula

…É algo inclusive que foi o meu partido que solicitou, que houvesse uma investigação da Polícia Federal…
O partido de Dilma agora decide o que a PF investiga ou deixa de investigar. É o fim da picada!

…Porque, se houver, de fato, essa mercantililização de sigilos fiscais, é fundamental que se apure, primeiro:
1 - quem vaza?
2 - quem utiliza?

3 - é importante que isso seja feito de forma a que a gente não comprometa a reputação da instituição.
Uau! Ao falar em “mercantalização”, Dilma tenta eliminar o caráter político das quebras. Respondo às questões da candidata, segundo o que se sabe e está provado até agora:
1 - Quem vaza? Os petistas. Foram eles que quebraram sigilos de tucanos e de familiares de Serra.
2 - Quem utiliza? O comitê de campanha de Dilma Rousseff, onde estava o sigilo de Eduardo Jorge.
3 - Comprometida, a reputação da instituição está hoje. Enquanto Otacílio Cartaxo permanecer no cargo, a Receita é nada mais do que um ente do estado a serviço de um partido.

Escrevi que foi humor involuntário? Errei. Tem jeito de cinismo voluntário.

Por Reinaldo Azevedo

Um outro momento glorioso do debate se deu quanto o Plínio de Arruda Sampaio, fiel  à plataforma do seu PSOL, perguntou à candidata petista, Dilma Rousseff, se ela era favorável a uma espécie de confisco das moradias desocupadas — pagando “aluguel compulsório”, como disse esse doce libertário — para entregar aos sem-casa. Huuummm… Imagino que a velha militante da VAR-Palmares deve até ter sentido bater aquele “coração de estudante”, mas ela não endossou a proposta, não. Preferiu falar do programa “Minha Casa, Minha Vida”. Pois é… Para que serve um debate, coisa, vá lá, mais séria do que a mera propaganda, se um candidato pode dizer o que lhe dá na telha e espancar a verdade à vontade?  Vamos lá. Ela vai em vermelho. A verdade vai em azul.

“O governo do presidente Lula, e eu tive o prazer de coordenar esse programa, construiu um programa chamado ‘Minha Casa, Minha Vida’. Nesse programa, nos vamos enfrentar o déficit de frente.
Aqui é só uma questão de, bem…, estilo. “Enfrentar de costas” só na hora de tomar injeção…

De fato, em 2008, havia entre 5,6 e 5,8 milhões de brasileiros que não tinha acesso à moradia. Ou que moravam em condições muito precárias.
Errado! Havia 5,8 milhões de FAMÍLIAS, não de brasileiros.

Construir um lar para eles é uma obrigação do estado brasileiro. Assim sendo, o que é que nós fizemos? Subsidiamos a população de zero a três salários mínimos, pagando o que ela não conseguia pagar, porque uma casa custa R$ 40 mil, R$ 50 mil. Isso significa que hoje nós temos, já contratados na Caixa, em torno de 630 mil novas moradias. Dessas 630 mil novas moradias, nós temos mais de 230 (mil) que são de baixa renda. As restantes também são de baixa renda e estão entre 3 a 6 salários mínimos, onde se concentram também o déficit.
Atenção, brasileiros que me seguem (hehehe…)! Atenção, 4% de esquisitos, que aquele blogueiro pançudo quer fichar
- 90% do déficit habitacional se concentra nas famílias com renda de até 3 salários mínimos.
- Sabem quantas casas, daquele MILHÃO PROMETIDO POR DILMA, tinha sido entregues a essa faixa até 31 de julho? 3.588!!! Os dados são da Caixa Econômica Federal, onde petistas mandam soltar, prender e quebrar sigilo de caseiro;
- 149 mil casas foram entregues à faixa entre 3 e 10 mínimos. E essas são as casas entregues pelo governo federal. Dilma cumpriu 15% da sua promessa.
- “Unidade contratada” não quer dizer nada. Ninguém mora em “unidade contratada”; é mero papelório. Aliás, o tucano José Serra chamou o programa de Dilma de “casa de saliva”. E ela não pôde contestar. O “Minha Casa, Minha Vida” é uma dos vistosos estelionatos eleitorais do governo Lula. Agora atenção para o que vem:

Por isso, eu acredito numa política que vai fazer evoluir essa questão. Nós propusemos no PAC 2 a construção de mais 2 milhões de moradias. Esses dois milhões de moradias são dominantemente para essa população, que, como não teve política habitacional nos últimos anos…”
Notaram a sutileza da linguagem? “Propusemos a criação de mais 2 milhões de casas…” Fala como se o primeiro milhão já tivesse sido construído. É um troço formidável. Promete um milhão de casas, entrega 15% e dobra a promessa!

Por Reinaldo Azevedo

Já escrevi aqui, vocês podem procurar em arquivo, e reafirmo: os debates, na forma como são feitos no Brasil, têm colaborado para privilegiar a mentira, a picaretagem  e, com alguma freqüência, o absurdo. Se as campanhas eleitorais na TV se transformaram em diversão de marqueteiros, com rebaixamento óbvio da política, nos debates, a coisa não é muito diferente. Os jornalistas acabam servindo de escada para a conversa mole. E o candidato “esperto” sempre aproveita a fala final de uma seqüência de resposta, réplica e tréplica com os adversários para dizer abobrinhas e inverdades que ficam sem contestação.

Ontem, Serra e Dilma divergiram sobre o investimento em saneamento básico. A petista gosta de afirmar que o que era tragédia no governo FHC virou um paraíso no governo petista. Não é exatamente o que dizem os números. Em 1996, 48,5% da população tinham acesso a água tratada. FHC passou o governo a Lula, em 2003, com 59,6%. Em 2008, chegava a 68,3% Em relação à coleta de esgoto, saiu-se de 32% em 1996 para 41% no fim de 2002, atingindo 52% em 2008. O avanço nos dois governos é equivalente. E há muito a fazer na área.

Mas vamos lá. Serra afirmou que, no governo Lula, entre 2003 e 2009, o investimento em saneamento foi inferior ao que se investiu nos oito anos anteriores. Não deu números, mas estava falando a verdade: foram R$ 49 bilhões (em valores de 2009) no total, o que dá uma média de R$ 6,1 bilhões por ano, contra a média de R$ 5,36 bilhões no governo Lula (também em valores de 2009). Dilma não contestou a informação do adversário — que lembrou ainda que o governo elevou a alíquota do PIS/Cofins para investimento em saneamento, de 3% para 7,6% — e preferiu fazer perorações sobre o crescimento do crédito.

Uma fala sua dá a medida de como faz política: “Essa história de que ‘eles’ investiram em saneamento não é real. E não é real porque os prefeitos desse país sabem, porque os governadores desse país sabem: não havia investimento em saneamento”. Bem, isso é, obviamente, uma daquelas mentiras clamorosas do petismo. Não só o dinheiro investido desmente a afirmação como os dados de água e esgoto, que são do PNAD.

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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