Diretor dos Correios e argentino se unem para controlar transporte aéreo

Publicado em 19/09/2010 18:55
Documentos mostram que eles montaram empresas de fachada para operar MTA, pivô de lobby que derrubou ministra Erenice Guerra


O diretor de Operações dos Correios, coronel Eduardo Artur Rodrigues, que assumiu o cargo em 2 de agosto numa "reformulação administrativa" comandada pela ex-ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra, é testa de ferro do empresário argentino Alfonso Conrado Rey. 
 

Morador de Miami, Rey é o verdadeiro dono da empresa Master Top Linhas Aéreas (MTA), que ganhou as manchetes nas últimas semanas por causa do tráfico de influência de Israel Guerra, filho de Erenice, a seu favor. Ex-coronel da Aeronáutica, Artur faz parte de um grupo de executivos e advogados que tem uma rede de empresas de fachada espalhadas pelo Uruguai, EUA e Brasil. Eles movimentam dinheiro para um casal de laranjas brasileiros, como provam documentos do Banco Central, e trabalham para fazer da MTA o embrião da empresa de logística e carga aérea que o governo Lula promete criar após as eleições. O negócio atiça os empresários porque os Correios pretendem comprar dessas empresas aéreas os aviões da nova estatal.

Até pouco antes de assumir o cargo nos Correios, o coronel Artur dirigia a MTA no País. O Estado teve acesso a documentos da Justiça, do Banco Central e da própria MTA que revelam o papel duplo dele e ajudam a entender como a empresa já abocanhou R$ 60 milhões em contratos públicos. A MTA foi o pivô da queda de Erenice da Casa Civil, na quinta-feira. Ela deixou o governo depois de a revista Veja ter revelado que seu filho Israel intermediou junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a devolução da certificação de voo da MTA, que fora suspensa.

Os documentos mostram que o coronel Artur se envolveu pessoalmente no esquema montado para viabilizar a MTA no Brasil com recursos externos e driblar a legislação, que é clara: o capital estrangeiro não pode superar 20% em empresas aéreas. Por isso, foi criada, de 2005 para cá, a rede com pelo menos seis empresas de fachada com sede em apenas dois endereços: em Campinas e em Montevidéu, no Uruguai. Em outra ponta, sustentam o esquema empresas com sede nos EUA, ligadas a Rey. O empresário, que foi a Brasília para prestigiar a posse do coronel Artur nos Correios, é dono do grupo americano Centurion Cargo, que movimenta o dinheiro e fornece os aviões da MTA.

Resumindo: é tudo a mesma coisa, e bancado com dinheiro externo. Quem aluga o avião para a MTA é o dono da MTA e quem "empresta" dólares do exterior é a própria empresa.

Atualmente, a MTA é dirigida no Brasil pelo peruano Orestes Romero. Mas no papel os ex-sogros da filha do coronel, Tatiana Silva Blanco, são os donos, como "laranjas". Anna Rosa Pepe Blanco Craddock e Jorge Augusto Dale Craddock moram no Rio e não entendem nada de transporte aéreo de carga. O uso do casal como "laranja" fica evidente pelos documentos do BC, pois, além da MTA, são eles que "recebem" os empréstimos milionários, em dólares, remetidos do Uruguai.

No mês passado, a MTA simulou empréstimo de US$ 2,5 milhões da Viameral Sociedad Anônima, com sede na Avenida 18 de Julho, 878, em Montevidéu, repetindo transações semelhantes ocorridas desde 2006, quando entraram pelo menos outros US$ 2 milhões. Só que essa empresa uruguaia não existe na prática. Sua filial no Brasil, a Viameral Participações, fica no mesmo endereço da MTA em Campinas.

Na "sede", em Montevidéu, funciona ainda a Deadulus Aviation Financing, matriz da "campineira" Deada Investimentos, outra companheira de sede da MTA. Coincidentemente, no mesmo endereço uruguaio estão registradas a DC-Quatro Cargo S.A e a CD-Cinco Pax, que alugam os aviões para a MTA operar no Brasil. É o que revelam contratos assinados no Uruguai e obtidos pelo Estado nos autos de um processo na Justiça brasileira. Segundo a Junta Comercial de São Paulo, os advogados da MTA, Marcos de Carvalho Pagliaro e Bruno Fagundes Vianna, são procuradores das empresas de Campinas que não existem.

Além do peruano Romero, os negócios da MTA no Brasil são hoje dirigidos pelo advogado argentino Eduardo Galasio e o brasileiro Fernando Barbosa, amigo do coronel, todos homens de confiança de Rey. Em e-mail enviado aos operadores da MTA no Brasil em 6 de abril, Galasio informa que já consultou o coronel sobre possíveis mudanças na sociedade, para que tudo fique como propriedade de Rey. "Hoje falei com coronel Artur e confirmo que devemos efetuar tudo como havíamos planejado ou seja com todos os documentos que garantissem ao Alfonso a propriedade e o controle da MTA."

Então consultora da MTA, a filha do diretor dos Correios é copiada na mensagem. Noutro e-mail, de 2 de março, Tatiana é alertada sobre os documentos de possíveis mudanças no quadro societário, tratadas como "saída dos Craddock".

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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