Braço da CNBB distribui panfleto anti-Dilma a fiéis

Publicado em 13/10/2010 08:40

Um panfleto assinado por um braço da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) recomendando que fiéis contrários à legalização do aborto não votem no PT foi distribuído ontem, em Aparecida (SP) e Contagem (MG), antes e durante missas em homenagem ao Dia de Nossa Senhora Aparecida.

O documento atribui posições pró-aborto ao PT, ao governo federal e, apesar de não citá-los nominalmente, ao presidente Lula e à presidenciável Dilma Rousseff.
Trata-se do mesmo panfleto que já havia circulado entre fiéis durante o primeiro turno e no dia das eleições.
O texto é assinado pelos bispos da Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, responsável pelo Estado de São Paulo.
A seção é presidida pelo bispo de Santo André (SP), dom Nelson Westrupp. O conteúdo do panfleto também está publicado no site da regional da CNBB.
Cerca de 150 mil pessoas estiveram ontem em Aparecida. Em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, cerca de 6.000 pessoas acompanharam a missa solene, pela manhã.
A posição dos candidatos a presidente em relação ao aborto virou um dos temas principais da campanha, pautando debates entre Dilma Rousseff e José Serra (PSDB) e os programas de TV dos candidatos.
O panfleto, datado de 26 de agosto, diz que Lula e Dilma assinaram o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, "no qual se reafirmou a descriminalização do aborto".
A defesa da legalização é chamada de "política antinatalista de controle populacional, desumana, antissocial e contrária ao verdadeiro progresso do país".
O texto afirma ainda que, no mesmo congresso em que deu "apoio incondicional" ao plano, o PT aclamou Dilma como candidata.
Ao fim, o panfleto recomenda que os brasileiros "deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto".
Em Aparecida, policiais militares foram orientados a coibir qualquer tipo de panfletagem ao redor da Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Do lado de fora, no entanto, o documento era distribuído livremente.

"APENAS CATÓLICOS"
Em Contagem, os quatro homens que distribuíram os papéis negaram receber dinheiro ou ter ligação com partidos ou grupos religiosos específicos, definindo-se como "apenas católicos".
A CNBB divulgou uma nota oficial, em 16 de setembro, quando os primeiros panfletos foram distribuídos, afirmando que somente sua Assembleia Geral pode falar em nome da entidade.
No último dia 8, a nota foi reiterada, em que "desautoriza qualquer decisão contrária à da Assembleia Geral, que não vetou candidatos ou partidos".

Igreja diz que seção paulista não fala por entidade

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) disse, por meio de assessoria, que sua regional paulista -que assina os panfletos antipetistas- não pode falar em nome da entidade.

Segundo a CNBB, suas manifestações oficiais são emitidas só pela cúpula nacional. Nota da semana passada dizia: "A CNBB não indica nenhum candidato, e recordamos que a escolha é um ato livre e consciente".
Em seguida, porém, a entidade ressaltava a "responsabilidade" do voto e exortava os fiéis a seguirem "critérios éticos, entre os quais se incluem especialmente o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade".
Ninguém da regional paulista da CNBB foi encontrado pela reportagem.
Além do bispo de Santo André (SP), Nelson Westrupp, subscrevem o panfleto distribuído em BH os bispos de Lorena (SP), dom Benedito Beni dos Santos, e de Mogi das Cruzes (SP), dom Airton José dos Santos.
A Arquidiocese de Belo Horizonte, que fez a missa em Contagem, disse não ter relação com a autoria ou a distribuição dos panfletos.
Após celebrar a missa, o arcebispo de BH, dom Walmor Azevedo, disse à 
Folha que a igreja "orienta e conscientiza a partir dos valores", mas que os fiéis são livres para escolher.
Na homilia, ele defendeu que a fé ilumine escolhas de fiéis, mas não citou nomes.

Serra diz que governo levou o tema aborto à campanha


Joel Silva/Folhapress
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Serra recebe hóstia em missa em Aparecida (SP) DO ENVIADO A APARECIDA (SP)

O candidato a presidente José Serra (PSDB) negou que o tema da religiosidade esteja sendo banalizado na campanha e afirmou ontem que foi o 3º PNDH (Plano Nacional de Direitos Humanos), patrocinado pelo governo federal, que levou o aborto a ser tema da campanha.
"Esse PNDH é a base de muitas das polêmicas que tiveram sequência a respeito de valores, de religiosidade e tudo o mais", afirmou o candidato tucano, após participar, em Aparecida (SP), de missa solene em homenagem à padroeira do Brasil.
O tucano disse que o tema é uma demanda da sociedade e que não foi sua campanha quem o levou ao centro do debate político desde a reta final do primeiro turno.
O candidato, ainda em referência ao PNDH, disse que o documento, que foi reformulado pelo governo, previa "criminalizar o não aborto": "[O documento] diz que aborto é um direito humano. Logo, quem é contra, é contra os direitos humanos".
Serra foi a Aparecida acompanhado de sua mulher, Monica, do vice Indio da Costa, de Geraldo Alckmin, governador eleito de São Paulo, e de Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo.
Nesta semana Monica foi bastante criticada por Dilma por tê-la associado à defesa do aborto. Segundo reportagem da Agência Estado, Monica teria dito que Dilma "é a favor de matar criancinhas".
A exemplo de Dilma, que visitou o santuário católico na véspera, sua presença foi anunciada durante a missa. Com o anúncio, Serra foi aplaudido pela maioria dos cerca de 35 mil presentes.
Logo após o sermão do cardeal arcebispo de Belo Horizonte, dom Serafim Fernandes Araújo, Monica, chilena, foi chamada ao altar, onde recebeu uma imagem de Nossa Senhora, que deverá ser levada às famílias dos mineiros soterrados no Chile.

Biografia de Dilma na TV agora cita "sólida formação religiosa"


A biografia de Dilma Rousseff mostrada em seu programa na TV foi editada para incluir menções à religião.
No programa de domingo passado, reprisado ontem, o locutor apresenta Dilma como "filha da professora Dilma Jane e do imigrante búlgaro Pedro Rousseff, que lhe transmitem uma sólida formação moral e religiosa".
A estrutura é idêntica à do filmete de estreia da petista no horário eleitoral, em 17 de agosto: narração cronológica ilustrada por fotos de família.
Mas naquela ocasião, depois dos nomes dos pais da candidata, não havia referência à religião: "Se casaram em Uberaba e depois mudaram para Belo Horizonte, onde Dilma nasceu".
Há duas outras alusões à religião no programa de domingo. Numa, a petista surge de véu ao lado do papa Bento 16, sob os dizeres "braço direito de Lula, Dilma viaja o mundo [...] reafirmando seus valores e sua fé".
Pouco depois, a candidata afirma: "O que sempre me moveu foi a fé de que eu poderia ajudar o Brasil".
A referência às credenciais religiosas da candidata -já presente na volta do horário eleitoral, na sexta passada- vem na esteira da controvérsia em torno de sua posição sobre o aborto e da circulação de boatos sobre sua fé. Na infância, Dilma estudou num colégio de freiras em Belo Horizonte e participou de projetos sociais mantidos pela irmandade.

SERRA
José Serra também incrementou acenos ao eleitorado religioso. No programa de segunda à noite, reapresentado ontem, usou o Dia de Nossa Senhora Aparecida para advogar por "bons exemplos de união, de fé, de respeito à liberdade e valores cristãos".
No domingo, ele havia mostrado fotos de sua primeira comunhão.


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Fonte:
Folha de S. Paulo

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