PT vê disputa 'problemática' e aposta no Sudeste para tentar segurar votos

Publicado em 15/10/2010 07:11 e atualizado em 15/10/2010 08:16

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ministros mais próximos - que integram o "núcleo duro" do governo - e o comando da campanha de Dilma Rousseff avaliaram, em reuniões ao longo da semana, que "a situação é problemática" para a candidatura petista. A recomendação unânime foi para que Dilma concentre a campanha nas Regiões Sul e Sudeste e "esqueça o Nordeste", onde a eleição "está ganha".

Os Estados do Sul-Sudeste que serão alvos prioritários da campanha são Minas, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná. O Nordeste, onde Dilma tem 19 pontos porcentuais de vantagem sobre o tucano José Serra (57% a 36%), segundo o Ibope, é considerado uma região em que as perdas eventuais serão pequenas. Na avaliação do QG dilmista, elas "nem atrapalharão Dilma nem ajudarão Serra". No Norte, a candidata tem vantagem de 9 pontos porcentuais, 51% a 43%.

Wilson Pedrosa/AE
Wilson Pedrosa/AE
Clima. 'As nossas lideranças foram derrotadas lá (em Minas) e isso provocou perplexidade', afirma José Eduardo Dutra

Há no comitê de Dilma uma preocupação especial com os dois maiores colégios eleitorais, São Paulo e Minas Gerais, onde o PT foi derrotado pelo PSDB de Serra na disputa pelos governos estaduais. Ainda ontem, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, reuniu-se com deputados e prefeitos, em Belo Horizonte (MG), para tentar reaglutinar a tropa.

Lá, além das mágoas do PMDB de Hélio Costa - que perdeu a eleição ao Palácio da Liberdade para Antonio Anastasia (PSDB) -, as divergências entre o ex-ministro Patrus Ananias e o ex-prefeito Fernando Pimentel, ambos do PT, só se acentuaram. Patrus foi vice de Costa e acabou sem cargo. Pimentel perdeu a corrida ao Senado.

"O problema maior não é a disputa entre Pimentel e Patrus. Nossas lideranças foram derrotadas lá e isso provocou perplexidade", disse Dutra. Na tentativa de reverter a apatia em Minas, Lula e Dilma participarão de carreata amanhã, em Belo Horizonte. Hoje, a candidata estará em São Paulo num megaencontro com professores e reitores. À noite, deverá fazer comício em São Miguel Paulista, na zona leste. Antes disso, à tarde, Lula e ministros baixam no Paraná, em Telêmaco Borba.

"Menos de dez". No diagnóstico de Lula e da coordenação da campanha, o ideal seria que Dilma começasse o segundo turno com pelo menos 10 pontos porcentuais de vantagem sobre Serra - no primeiro turno, a votação terminou com 14 pontos de dianteira para Dilma, 47% a 33%. Na primeira pesquisa, do Datafolha, a diferença foi de 7 pontos. Na do Ibope, caiu para 6 pontos. O levantamento CNT/Sensus, divulgado ontem, mostrou Dilma e Serra com 4 pontos porcentuais de diferença, 46% a 42% (veja na pág. A8).

"Começar segundo turno com menos de dez (pontos porcentuais de diferença nas intenções de voto) é problemático", admitiu ao Estado um dos auxiliares de Lula. Não só as pesquisas anunciadas por institutos como os trackings internos em poder do comando petista mostram que diminui cada vez mais a distância entre Dilma e Serra.

No comando da campanha há dúvidas sobre a estratégia de começar o segundo turno com "mais Dilma e menos Lula" e sobre a dose certa de agressividade a ser usada contra Serra no debate da RedeTV!, no domingo. "Cada debate é um debate. A estratégia depende das condições de campo, do gramado, da iluminação, da torcida", afirmou Dutra.

Cobranças. O clima nos bastidores da campanha é de cobrança. Todos estão à procura dos responsáveis que não viram a "investida conservadora" de religiosos, a tentativa de carimbar Dilma como candidata a favor do aborto e, ainda, que não foram eficientes para ganhar a batalha da internet. No caso do escândalo do tráfico de influência envolvendo a Casa Civil, o próprio Lula criticou a "falta de indignação" de Dilma, no debate da TV Bandeirantes, há cinco dias, ao tratar do caso Erenice Guerra.

Lula avalia que a campanha ainda está despolitizada e cobrou mais mudanças do marqueteiro João Santana. Em uma das análises, ao falar sobre o comportamento de Dilma nos últimos dias do primeiro turno, o presidente chegou a dizer que a senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e candidata derrotada do PV à Presidência, estava "mais parecida" com ele do que a petista. Para Lula, faltou a Dilma "emoção" porque ela apresentava as propostas de forma "muito burocrática". 

Lula chama opositores de "políticos Xuxa"

Em defesa da candidatura de Dilma, o presidente Lula voltou a discursar contra o elitismo nesta quinta-feira durante comício com Dilma Rousseff (PT) em Ananindeua, região metropolitana de Belém (PA). Insinuou que governos tucanos separam ricos de pobres e duvidou que Serra aumentará, em um eventual governo, o valor das aposentadorias: “É muito fácil falar na campanha, quero ver cumprir”. Lula batizou seus opositores de “políticos Xuxa”- aqueles que dão beijos antes da campanha e depois “tchau, tchau”.

A candidata Ana Júlia foi no mesmo tom, dizendo que não existe mais a “turma dos mauricinhos e das patricinhas”. A petista afirmou também que o Pará vivia no Período Colonial antes de seu governo, por depender de outros estados.

FHC – Dilma Rousseff se esbaldou nas comparações entre os governos Lula e FHC, como lhe foi recomendado pela equipe de campanha. De acordo com a candidata, seus opositores sempre “viraram a cara” para a educação. “Achavam que era gastar dinheiro demais. Nós achamos que fazer escola é obrigação nossa”, atacou.

Empolgada, a candidata Ana Júlia tirou o microfone da mão de Dilma para acrescentar uma informação. A ex-ministra concedeu. Mas foi impedida na segunda vez que a paraense tentou interromper a presidenciável. “Isso eu vou deixar para o fim”, justificou-se Dilma. Ao final do discurso, a candidata usou uma pequena toalha para enxugar o rosto e bebeu bastante água. Estava transpirando bastante.

Também estavam presentes os pastores evangélicos e senadores eleitos Magno Malta (PR/ES) e Walter Pinheiro (PT/BA). E ainda o governador eleito na Bahia Jaques Wagner (PT), o petista Paulo Rocha (que candidatou-se ao Senado, mas foi considerado ficha suja pelo Tribunal Superior Eleitoral) e os ministros Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) e Luiz Dulci (Secretaria-geral da Presidência).

Guitarrista da banda Calypso sobe em palanque de Dilma

Chimbinha divide palanque com Dilma, mas não cita candidata em discurso (Foto: Roberto Stuckert Filho/Divulgação)

Mesmo impedido de cantar por causa da legislação eleitoral, o guitarrista da banda Calypso, Chimbinha, subiu no palco do comício de Dilma Rousseff (PT) em Ananindeua, região metropolitana de Belém (PA).

O cantor – o primeiro a discursar no evento político – fez vários elogios à candidata ao governo do Pará Ana Júlia Carepa (PT), em especial a seus projetos para o meio ambiente. A petista transformou a música “Acelerou”, do grupo Calypso, em um jingle de campanha, com algumas mudanças na letra. “Virei fã da Ana Júlia. Se Deus quiser, nós vamos elegê-la”, aclamou Chimbinha.

Para completar a frase do artista, uma voz do palco gritou: “Vamos eleger Dilma também”. Em suas breves palavras, Chimbinha não havia mencionado Dilma Rousseff.

A presidenciável, contudo, parece não ter se importado. Tanto que se esqueceu de nomeá-lo na hora de cumprimentar os presentes. A lembrança só veio mais tarde: “Obrigada pelo apoio, meu querido Chimbinha. Eu pensei, mas não falei. Esqueci de falar”.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a presença do artista para fazer brincadeiras: “Não posso pedir para você cantar porque a lei não permite. Eu também não posso cantar. Você vai até me contratar para o Calypso depois que eu tocar com você”.

O presidente também usou o artista para falar sobre redução da desigualdade social em seu governo: “Chimbinha talvez nos seus shows nunca teve tanta gente pobre como hoje porque agora o pobre pode pagar”.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo/Veja.com

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