Lula diz que “bebeu menos” para poder inaugurar o pré-sal

Publicado em 28/10/2010 18:04 e atualizado em 29/10/2010 07:34
A três dias das eleições, presidente vence o medo de voar para festejar início da exploração no campo de Tupi - na verdade, a fase de testes da jazida

Em seu discurso na visita ao navio plataforma Cidade de Angra dos Reis, para o início da produção de petróleo na camada pré-sal do Campo de Tupi, na Bacia de Santos, o presidente Lula fez uma revelação: “Ontem fiz aniversário, bebi menos do que devia porque eu precisava estar inteiro para fazer esta viagem até aqui hoje. Eu jamais deixaria o meu mandato sem colocar os pés em Tupi para ver esta coisa que eu acho que é a consagração dos nossos filhos”, disse Lula, depois de confessar que tem medo de voar em alto mar de helicóptero.

Ao lado do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e do governador do Rio, Sérgio Cabral, o presidente afirmou que a Petrobras “é a afirmação de uma nação”, “a prova mais contundente de que o brasileiro é capaz, que o brasileiro é inteligente, de que o brasileiro não é de segunda classe”.

O que Lula inaugurou, a três dias do segundo turno das eleições presidenciais, foi na verdade o início de uma fase experimental da exploração. A fase de testes só deve terminar em dezembro, quando deve ser emitida a “Declaração de Comercialidade” da jazida – termo que autoriza a empresa a vender o produto da camada pré-sal.

Nesta fase, segundo informou a Petrobras, a expectativa é de que a produção seja de 15 mil barris/dia de óleo leve – de alto valor comercial – do poço RJS-660. No ano que vem, esse volume deve chegar a 75 mil barris/dia e, em 2012, atingir a capacidade plena, que é estimada em 100 mil barris/dia.

Luva de quatro dedos para o presidente – Descontraído, o presidente começou o discurso agradecendo a dedicação dos petroleiros. “Eu fico muito feliz porque todas as vezes que eu venho aqui na Petrobras eles fazem uma luvinha para mim. Aprenderam a cortar o dedinho. Antes, o dedo ficava pendurado aqui e eu ficava mexendo nele. Então, teve alguém que, de forma muit gentil, resolveu cortar o dedinho da luva e costurar”, brincou

Não, eu não me orgulho de ter um presidente semi-analfabeto, por Ricardo Setti

Escrevi um post ironizando o desejo de o presidente Lula “escrever” sobre “coisas” que “agora não pode dizer” depois de deixar a Presidência, pois, como se sabe, Lula não é de escrever.

Recebi vários comentários dizendo-me “preconceituoso”.

Por coincidência, na festinha improvisada com que colaboradores homenagearam seus 65 anos de idade, ontem, Lula voltou a um velho tema que me permite retomar o assunto da importância da educação formal e do exemplo que um presidente deve dar.

Depois de dizer que os brasileiros não precisam mais “ter medo” de um presidente não detentor de diploma universitário, como supostamente ocorreu nas eleições de 1989, o presidente disse o seguinte:

-- Precisei chegar lá para provar que inteligência não é medida pelo tempo de escolaridade. O tempo de escolaridade mostra conhecimento e aperfeiçoamento específico de uma matéria. A inteligência, você nasce com ela e aperfeiçoa. Até porque o dom da política não se aprende na escola. Se se aprendesse na escola, quem seria um bom presidente seria um cientista político e não um torneiro mecânico, essa é a lógica.

ESCOLARIDADE E INTELIGÊNCIA — Lula misturou um monte de coisas nessa frase mas, em meio a considerações corretas, disse bobagem.

É verdade que inteligência não é provada por “tempo de escolaridade”.

É verdade que o dom da política não se aprende na escola.

É verdade, para deixar bem claro, que o presidente é um homem inteligente. Eu não apenas acompanho sua carreira e seu trabalho desde o começo, nos anos 70, como o conheço pessoalmente há anos e, embora não o veja há tempos, sempre me pareceu claro que Lula é excepcionalmente dotado de inteligência. Apostaria que sua inteligência é bem acima da média.

É também verdade que as pessoas nascem inteligentes, como, repito, é o caso de Lula.

ESTUDAR É ABRIR-SE PARA O MUNDO E A VIDA — Mas é bobagem, e bobagem da grossa, produto da ignorância, que “o tempo de escolaridade mostra conhecimento e aperfeiçoamento específico de uma matéria”.

Não, prezado presidente Lula. Escolaridade, estudos, a frequência à escola e à universidade abrem horizontes, aprimoram a compreensão do mundo, ensinam a importância do contraditório, disciplinam e direcionam o uso da inteligência, preparam a pessoa para a profissão e a vida.

É, pois, muito, muitíssimo mais do que “conhecimento e aperfeiçoamento específico de uma matéria”, como afirmou Lula.

Do ponto de vista técnico, e a despeito de sua enorme inteligência e do conhecimento que adquiriu na prática dos problemas do país e do que aprendeu sobre o funcionamento do mundo e das relações internacionais, o presidente Lula, infelizmente, é semi-analfabeto. Não gosta de ler, admite ter lido pouquíssimos livros ao longo da vida, não possui livros de cabeceira nem sequer uma mini-biblioteca de dez, quinze livros prediletos.

Nunca escreveu de próprio punho um texto sobre qualquer tema.

LULA NÃO ESTUDOU POR ARROGÂNCIA, E PORQUE NÃO QUIS —E, francamente, ninguém aguenta mais a demagogia do pobre torneiro mecânico que veio do nada e precisou se virar na vida para sustentar a família. Ele poderia ter estudado, se quisesse. Sendo um líder político importante, deveria. Centenas de milhares de brasileiros o fizeram, chegaram lá, de alguma maneira.

Lula não se ilustrou por arrogância — por achar que sua inteligência dava e dá conta de tudo — e porque não quis.

Não faltam líderes políticos de origem humilde que superaram obstáculos e, ao longo da vida, enriqueceram sua bagagem cultural.

Vejam o caso da senadora Marina Silva, cujo parto foi feito pela própria avó nos cafundós dos seringais do Acre e que era analfabeta e incapaz de garranchar o próprio nome até os 16 anos.

A despeiro da vida dura que teve, dos quatro filhos que criou, ela deu um jeito de ilustrar-se, aprender: fez o ensino elementar, o médio e formou-se em História pela Universidade Federal do Acre. E mais. Marina acaba de conceder uma entrevista em vídeo para a repórter Mirella D’Elia, do site de VEJA, cuja primeira parte vai ao ar amanhã.

Lá, a certa altura, diz a ex-seringueira que teve 20 milhões de votos para presidente:

-- Eu nunca paro de estudar. Quando eu estava no Ministério do Meio Ambiente e no Senado, estava sempre estudando. Graças a Deus consegui fazer duas especializações -- uma na Universidade de Brasília, em Teoria Psicanalítica, e outra na [Universidade] Católica [de Brasília], em Psicopedagogia. E estou terminando uma em Psicopedagogia na Argentina. Tive que parar esse ano, mas vou retomar.

OS EXEMPLOS DE LUIZ MARINHO E VICENTINHO -- Ela não é a única entre líderes brasileiros, evidentemente. O atual prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – sindicalista como Lula, portanto –, ex-pintor de automóveis na Volkswagen, tocou a vida para a frente e, militando no sindicalismo e na política, e hoje é advogado.

O deputado e ex-presidente da CUT Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, outro que comeu o pão que o diabo amassou — no interior do Rio Grande do Norte, onde nasceu, foi vendedor de pães, trabalhador rural, operário de picareta na mão e lavador de carros --, não deixou que a luta sindical em que se envolveu em São Bernardo do Campo desde os anos 70 o impedisse de estudar, e tampouco a política, em que ingressou posteriormente. Caminhou aos trancos e barrancos, mas seguiu em frente. O segundo grau, fez por meio do Telecurso 2000. Orgulhosamente, com sempre admite, formou-se em Direito.

REALIZAÇÕES E PÉSSIMO EXEMPLO — Ao chegar ao final de seu mandato, muita coisa pode-se dizer de Lula. Em outra post, tentarei um balanço, do meu modesto ponto de vista. Apesar das muitas críticas que merece pela forma como se comporta no cargo, pelas alianças que fez e outras razões, não há dúvida sobre a grandiosidade de várias de suas realizações, sobretudo no terreno da distribuição de renda.

Por isso, e por outras razões, Lula é admirado mundo afora — menos, é verdade, depois das sucessivas declarações de “amizade” a tiranos como Fidel Castro e o ditador do Irã --, e um grande número de brasileiros se orgulha dele.

A meu ver, porém, a insistência de Lula em jactar-se a cada momento de não ter estudado constitui péssimo exemplo, sobretudo aos jovens, principalmente por vir de um presidente da República, com o peso e a carga legal, moral e simbólica do cargo.

Este ponto específico não me desce pela garganta.

Não, amigos, eu não tenho o menor orgulho de ter um presidente semi-analfabeto.

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Fonte:
Veja.com.br

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