Não, Presidente Obama, o Senhor Não Pode Tudo, por Caio Blinder

Publicado em 03/11/2010 06:40
No, he can’t.  Foi uma humilhação para ele.  Mas não é apocalypse now para o presidente Barack Obama e muito menos para o país. Na terça-feira, os eleitores americanos determinaram uma correção de curso e removeram o Partido Democrata do comando da Câmara dos Deputados. Os republicanos tiveram avanços significativos, mas não conseguiram conquistar o Senado. Não existe como dourar a pilula. Será mais difícil para o presidente sorrir, mais há muito chão pela frente até 2012. O republicano Ronald Reagan e o democrata Bill  Clinton sobreviveram ao desastre legislativo no primeiro mandato e foram reeleitos de forma confortável.

Mas, de volta ao sorriso. No seu próximo discurso sobre o “estado da união”,  no começo do ano que vem (foto acima), Obama terá atrás dele o novo presidente da Câmara, o republicano John Boehner,  e não mais a democrata Nancy Pelosi, embora ainda o vice-presidente Joe Biden, presidente do Senado. Os democratas levaram uma surra e os eleitores enfraqueceram o mandato de Obama no meio do seu primeiro mandato presidencial. Isto não é o mesmo que conferir um mandato aos republicanos.

Foi um voto de castigo, um dolorido puxão de orelhas para um presidente que ambiciona demais e um partido que exorbitou. Os democratas pagaram o preço de uma liderança legislativa muito à esquerda num país com uma população moderadamente conservadora e com uma relação esquizofrênica com o governo. Desconfia dele, mas não está disposta aos sacrifícios resultantes dos necessários cortes de benefícios. Claro que não tinha jeito. Nenhum Salvador da Pátria ou Maria do Socorro impediriam um desastre diante do atual estado da economia, com o desemprego beirando os 10% e não abaixo dos 8% como a Casa Branca projetara para o momento eleitoral.

Os furiosos insurgentes do Tea Party (o setor mais conservador dos republicanos) tiveram algumas vitórias espetaculares, mas agora o desafio para o establishment republicano será domar a fera. No jogo pendular da política americana, os americanos tampouco querem desmantelar o governo federal como deseja fervorosamente o Tea Party. É um movimento que sofre dos mesmos delírios daqueles que acreditaram nas mensagens mais otimistas de mudança e esperança de Obama dois anos atrás. 

Este negócio de reinventar o país é complicado. A turma do Obama achou que emplacara um duradouro realinhamento partidário em 2008 com conotações progressistas, a mesma ilusão da banda do republicano George W. Bush no ciclo anterior. A coalizão de Obama era frágil e vale destacar a deserção dos independentes. E aqui está o alerta para os republicanos. Uma fatia expressiva do eleitorado não deu um cheque para os conservadores. Tirou o crédito dos liberais. A demografia ainda funciona a favor de Obama, mas em termos imediatos os jovens não se mostram tão entusiasmados com o presidente, como em 2008.

Na margem republicana, houve mais entusiasmo e fúria. Mas a melhor definição para o estado da nação é de ansiedade.  Existem atitudes políticas instáveis. É a era da volatilidade  Em mais de meio século, nunca havia ocorrido uma dança de cadeiras tão intensa no Congresso como nos últimos 18 anos. A rigor, os dois partidos estão afundando simultaneamente. Os eleitores deram votos para os republicanos na terça-feira, mas não morrem de amores pelo partido. Aliás, dentro dele existe um bastião de resistência, o Tea Party, que considera o comando republicano tão corrupto e viciado como os democratas.

Resta esperar que a longo prazo prevaleça o senso de otimismo dos americanos. No seu editorial desta semana, a revista The Economist fez uma ode ao EUA, dizendo que, apesar dos seus problemas, este é o país que ainda tem a economia mais inovadora do mundo, um presidente ainda talentoso e um imã para imigrantes de todas as partes do mundo. Há dois anos, foi o triunfo de Barack Obama, o filho do pai negro do Quênia e mãe branca do Kansas. Neste ciclo eleitoral, temos  estrelas ascendentes do Partido Republicano, como o senador eleito da Flórida, Marco Rubio, filho de exilados cubanos, e Nikki Haley, governadora eleita da Carolina do Sul, filha de indianos. Nas suas tensões internas e em meio à volatilidade política, os americanos exibem vigor e dinamismo

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Veja.com

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