Uma nova crise global de alimentos está a caminho

Publicado em 13/11/2010 02:32
PAULO PICCHETTI ESPECIAL PARA A FOLHA

Em dezembro de 2007, o semanário britânico "The Economist" anunciava em sua capa "O fim do alimento barato". O biênio 2007/8 assistiu ao que foi chamado de "crise global de alimentos", caracterizada pelo aumento generalizado dos preços de commodities agrícolas no mundo (e no Brasil). 


Em termos quantitativos, podemos olhar para um índice de preços calculado mensalmente pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), baseado em uma cesta contendo arroz, milho, trigo, sementes oleaginosas, açúcar, laticínios e carnes. 
O pico histórico desse índice foi de 211 pontos, em junho de 2008. A crise econômica mundial iniciada naquela época derrubou o índice para 142 pontos, em janeiro do ano seguinte. 


A partir do início de 2010, essa tendência de elevação voltou com grande força, tendo se intensificado nos últimos meses. No mês passado, o índice subiu 5%, situando-se no maior patamar em mais de dois anos. 


A crise anterior ainda não foi igualada: o índice continua abaixo de 200 pontos. Entretanto, a trajetória observada nos últimos meses mostra uma intensidade de aumento similar à que levou ao pico de 2008. 


Nesse cenário, as perspectivas são de nova crise global de alimentos? 

Infelizmente, pelo menos para o início de 2011, existe uma conjugação de fatores apontando nessa direção. 


Entre esses fatores estão a redução na oferta de alguns itens fundamentais, causada por problemas climáticos em países produtores e exportadores; o aumento da demanda, em decorrência da recuperação da economia mundial; a redução de estoques a níveis já historicamente baixos; e o componente de especulação no contexto de taxas de juros reais próximas de zero nas economias centrais e queda do dólar nos mercados mundiais. 

Na China, a inflação de alimentos anualizada está em 8%, enquanto nos Estados Unidos está em 1,4% (o índice geral está próximo de zero). 


No Brasil, a inflação de alimentos medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas está acumulada em quase 6% em 2010. 

Olhando para os valores acumulados no mesmo período, os itens que puxaram o índice da FAO no mundo também estão em elevação no Brasil: milho, 6,6%; pão francês (trigo), 8,9%; carnes bovinas, 16,3%; e laticínios, 11,3%. 
Alguns itens fundamentais, como arroz e açúcar, estão estabilizados nos últimos meses, mas em patamares elevados. 


Esse é um assunto particularmente importante no Brasil, tanto pela ponderação dos alimentos no índice de preços que norteia a condução da política monetária como pelo momento em que o acesso a uma dieta mínima é o principal fator capaz de tirar da miséria um número maior de brasileiros. 


PAULO PICCHETTI, 48, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV (Fundação Getulio Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV).



País ganha 720 hectares de eucalipto por dia

Ambientalistas protestam contra consumo elevado de água e a proliferação de pragas 


O Brasil ganhou nos últimos anos 720 hectares por dia de plantações de eucalipto. A quantidade, estimada pela Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas, equivale a 4,5 parques Ibirapuera ou a 960 campos de futebol.
Parte das novas áreas pertence a empresas estrangeiras, como a sueco-finlandesa Stora-Enso, que viraram um dos principais alvos de críticas de grupos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
A árvore é utilizada na fabricação de papel, celulose e carvão vegetal ou aproveitada como madeira.
Um dos atrativos é o tempo de crescimento mais rápido da planta no país. No Brasil, ela está pronta para o corte em sete anos, enquanto na Europa leva até 25. Também contribui o baixo preço da terra em algumas regiões.
Minas, São Paulo e Bahia lideram o ranking de área plantada no país. A expansão de 2005 a 2009 das plantações foi de 10 mil km2 (o DF tem 5.800 km2), segundo dados da associação do setor.
Isso ocorre apesar da crise internacional de 2008, que freou investimentos na área. Os produtores estimam um aumento ainda maior nos próximos anos.
Salesópolis, cidade de 16 mil habitantes a 101 quilômetros de São Paulo, tem a economia totalmente voltada o setor de eucaliptos e pínus. Um terço do território é coberto por essas árvores, que avançam até sobre o pequeno centro do município.
A Suzano é uma das principais forças da economia local. Mas também há muitos pequenos produtores -médicos e advogados possuem áreas enquanto mantêm suas outras atividades.
Ávidos por novas atividades econômicas, cidades e Estados, como o Rio Grande do Sul, incentivam a cultura.
O MST e ambientalistas, porém, criticam a expansão das florestas plantadas. Dizem que a monocultura degrada o solo porque as plantas consomem mais água. Apontam também os riscos de incêndios e de pragas.

QUESTÃO AMBIENTAL
Dirce Suertegaray, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diz: "Esses bosques não produzem alimentos. Os animais se proliferam e vão consumir lavouras ou pomares próximos".
Para a geógrafa, as empresas estrangeiras vêm ao Brasil para cultivar a planta também como forma de fugir de leis ambientais mais rígidas dos países desenvolvidos.
O sul do Rio Grande do Sul, afetado por uma espécie de desertificação, vem sendo ocupado com plantações do tipo. De acordo com a geógrafa, a expansão do setor pode agravar o fenômeno.
No Estado, o MST invadiu unidades de florestas plantadas em diversas ocasiões nos últimos anos.
A associação dos produtores nega que as plantações causem danos ambientais. Declara que os bosques criam um habitat para a fauna e há condições de alimentação para várias espécies.
Diz ainda que o eucalipto consome a mesma quantidade de água do que florestas nativas e que existe uma série de cuidados de produtores com matas ciliares.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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2 comentários

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    O Eucalipto é ignorantemente mal afamado no consumo de água para a produção de lenha (madeira). Ele é um dos MENORES consumidores de água por kg de madeira produzida. cerca de 400 litros.... apenas. Soja gasta mais de 1.000 litros... batatinha por exemplo gasta mais de 2.000 litros de água para produzir um unico kg de batatinha. Qualquer outra madeira gasta mais de 400 litros de água para produzir 1,0 kg de madeira... O que acontece é que as pessoas plantam o eucalipto "muito amontoado" e como cada planta nada mais é do que uma "bombinha" para tirar água do solo e pulverizá-la no ar.... portanto é uma verdadeira idiotice de "geógrafos" e outros poetas ambientalistas de araque combater o florestamento. No Egito já tem uma área do tamanho do Panamá, no deserto, irrigada com água de esgoto para almejar alguma mudança benéfica no ambiente - 20% de eucaliptos, uma das escolhidas por causa do baixo consumo de água por madeira produzida... Brasil, um país cheio de TOLOS.

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  • Vilson Ambrozi Chapadinha - MA

    Eucalipto não consome agua,e sim recicla,capta a agua que acabou de chegar da atmosfera,usa para o seu metabolismo,e joga(evapotranspira) para a atmosfera,assim como faz o pinheiro ,a soja,etc.o cuidado que devemos ter é com o balanço desta agua,isto é ,não colocar mais eucalipto ,do que a capacidade de reposição das chuvas.além de secar fontes,ou baixar lençol freático poderá inviabilizar a rentabilidade do proprio eucalipto.Normalmente se a area de plantio regional não exeder a 60 % ,e a precipitação anual for acima de 1500 mm,não deverão aparecer nenhum problema.

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