Entre os presos no Rio, um dos assassinos de Tim Lopes

Publicado em 28/11/2010 15:59 e atualizado em 28/11/2010 21:21

Entre os presos, um dos assassinos de Tim Lopes

(Wesley Santos/Folhapress)

A ocupação do Complexo do Alemão revela-se um inventário gigantesco das décadas de crimes cometidos pelo Comando Vermelho no Rio. No início da tarde foi preso um dos bandidos mais procurados pela polícia do Rio, o traficante Elizeu Felício de Souza, o Zeu.  O criminoso tem em sua ficha, entre outros crimes, uma condenação por participação na morte do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo. Escondido em sua casa, no Largo do Coqueiro, como se fosse apenas mais um morador, ele não resistiu à prisão.

A morte de Tim Lopes chocou o país. O principal condenado pelo crime é o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, transferido do presídio de Catanduvas, no Paraná, para outra unidade federal, em Porto Velho. Junto com o bandido Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP, Elias Maluco é acusado de ter participado da elaboração dos planos para os ataques da última semana no Rio.

As apreensões ocorrem a todo momento. Já foram recolhidas mais de sete toneladas de maconha, grande quantidade de cocaína e material das bocas-de-fumo, para embalar e misturar a droga outras substâncias.

As armas recolhidas também impressionam. Entre as dezenas de armas longas e curtas, há pistolas dos calibres 40 e 45, de uso exclusivo das Forças Armadas. Este é um indício da colaboração de agentes públicos com o crime, pois muitas vezes o material chega aos traficantes por meio de desvios dos quartéis.

Pai entrega filho – A colaboração de moradores é algo nunca visto na história  de guerra contra o tráfico no Rio. Até as famílias dos bandidos estão convencendo traficantes que é melhor não resistir. Pouco depois da prisão de Zeu, foi preso o traficante Carlos Augusto, de 25 anos, conhecido como Pingo.

Pingo foi trazido até o ponto marcado para rendição, na rua Joaquim de Queiroz, pelo próprio pai, o bombeiro elétrico Ivanildo Dias Trindade, de 55 anos. “Tive medo que ele morresse no tiroteio. Agradeço ao Bope por ter capturado meu filho vivo”, disse Ivanildo, observado por moradores, policiais e jornalistas, perplexos com a cena. “Ele tem que pagar pelo que fez”, disse o pai.

Pingo tentou, inicialmente, se camuflar. Ele forçou a entrada na casa de uma vizinha e buscou esconderijo em um parapeito. O capitão Ivan Blaz, do Bope, tentou consolar o pai do criminoso. “É triste ver um filho ser preso, mas a Justiça tem que ser feita”, disse.

Ocupação funcionou. Prisões ainda são poucas

A expectativa era de uma guerra sangrenta, mas pouco depois de 20 minutos depois da entrada da Polícia Civil, com auxílio de carros blindados, o Areal, considerado o coração do Complexo do Alemão, era declarado “reconquistado”. Os tiros contra os blindados e as equipes de policiais foram poucos e, pela quantidade de armas abandonadas, a suposição é de que os traficantes decidiram fugir mais uma vez. Do ponto de vista de reconquista do espaço, a operação foi surpreendentemente rápida e bem-sucedida. Mas, se considerados os objetivos de captura da quadrilha, o resultado ainda não veio.

Até o fim da manhã, pouco mais de 20 pessoas estavam detidas – quase todas com passagem pela polícia por tráfico, entre elas uma mulher. Quem tratou de arrefecer o clima de euforia estabelecido com a chegada do estado a locais foi o comandante geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte.

“As posições estão conquistadas. Isso não significa, ainda, posição consolidada”, disse Mário Sérgio. A falta de resistência à incursão da polícia na manhã deste domingo é um indício de que, apesar de não serem propriamente um grupo de “crime organizado”, os traficantes do Alemão não podem ser subestimados. Principalmente quando estão em um território que dominavam havia décadas e que a polícia conhece, basicamente, por sobrevôos, informações de denúncias anônimas e relatos de bandidos capturados.

Depois de uma noite de muitos tiros, uso de munição traçante – aquelas que deixam um rastro de luz e permitem ao atirador aferir a pontaria quando não há luz – e até intimidação com disparos a partir de prédios do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o silêncio tomou conta do vale onde se formou o imenso complexo de 13 favelas. Surpreendentemente, a madrugada no Rio não teve, pela primeira vez em uma semana, ataques a carros e ônibus.

A suspeita agora é de que, enquanto uma parte da quadrilha sustentava o tiroteio contra os militares no Alemão, a outra parte do bando – entre eles os mais de 200 cuja fuga foi exibida ao vivo pela Rede Globo na quinta-feira – tenha tratado de se camuflar entra a população de bem ou mesmo tenha escapado ao cerco na região.

O relações públicas da PM, coronel Lima Castro, evita avaliações precipitadas. “Ainda é muito cedo para saber se traficantes fugiram ou não. Nem há como afirmar que os chefes escaparam”, explicou.

Frases célebres após a operação que invadiu o Alemão

Neste domingo, a bem sucedida ocupação do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, levou à euforia diversos políticos, policiais e autoridades, que travam uma batalha na tentativa de ver quem é o mais habilidoso na hora de falar frases de efeito. Comparar a invasão das comunidades cariocas à chegado do homem à Lua é apenas um dos exemplos.

Veja a seguir o que andam falando sobre a invasão do complexo.

“É a mesma coisa que conquistar a lua”. Coronel Henrique Lima Castro, relações públicas da PM do RJ

“O Complexo do Alemão já está sob domínio do estado”Rodrigo Oliveira, delegado subsecretário operacional da Polícia Civil do RJ

O tráfico do Rio de Janeiro está com as pernas quebradas”. Coronel Alvaro Garcia, chefe do estado maior da PM do RJ

“Estamos virando uma página na história do Rio”. Sérgio Cabral (PMDB), governador do RJ

“Faremos uma invasão de serviços públicos municipais no Complexo do Alemão”. Eduardo Paes (PMDB), prefeito do RJ

“Quem quiser se entregar, faça-o agora”. Mario Sergio Duarte, comandante geral da PM do RJ

“Os traficantes estão desesperados, desgastados e estressados”. Coronel Henrique Lima Castro, relações públicas da PM do RJ

“Nós da imprensa também estamos cumprindo nosso papel”. Paulo Brandão Whitaker, fotógrafo baleado durante confronto

“Agradeço ao Bope por ter capturado meu filho vivo”. Ivanildo Dias Trindade, pai do traficante Carlos Augusto, o Pingo

Paes diz que quer invasão de serviços públicos no Alemão

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), afirmou neste domingo que fará uma “invasão de serviços públicos municipais” no Complexo do Alemão a partir da próxima semana, quando os comandantes da polícia autorizarem a entrada nas comunidades ocupadas pelas tropas militares. “A prefeitura do Rio sempre esteve nesses locais, mas de forma tímida. Na próxima semana, poderemos enviar serviços de limpeza,  serviços sociais e de saúde da família”, disse Paes em entrevista à Rede Globo.

O prefeito disse que os funcionários contratados pelo município para “urbanizar as comunidades e resgatar a cidadania das pessoas de bem que vivem nesses locais” irão permanecer no complexo pagos com recursos da prefeitura. “Não temos limites de recursos financeiros. A prefeitura tem condição de pagar essa conta”, declarou.

(Robson Fernadjes/AE)

O governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, fez uma avaliação positiva da operação de tomada do Complexo do Alemão realizada neste domingo. Em entrevista à TV Globo, ele agradeceu o empenho dos policiais envolvidos, lembrou do histórico de violência no Rio, que já completa 30 anos, e falou em virar a página.

“Primeiro, a minha mensagem de agradecimento aos nossos policiais militares, aos nossos policiais civis do estado do Rio de Janeiro, aos nossos policiais federais, à prefeitura do Rio de Janeiro e sobretudo à população, que nos apoia de maneira irrestrita na recuperação de território, na recuperação da paz”, disse.

Cabral ressaltou que trata-se de um trabalho “de médio e longo prazo”. “O secretário de segurança, José Mariano Beltrame, nunca escondeu da população que nós temos um trabalho que tem como principal objetivo recuperar 30 anos de abandono, 30 anos de mazelas, 30 anos de populismo, 30 anos de confusão”, declarou.

O governador destacou, também, o apoio da população e a parceria entre os governos federal, estadual e municipal no combate ao crime. “Esse é o grande segredo do momento que estamos vivendo no Rio de Janeiro: a articulação, a parceria, a completa visão de união visando à população”, prosseguiu, dizendo-se “emocionado” ao agradecer aos moradores do Rio.

“Estamos virando uma página na história do Rio de Janeiro”.

Rio tem hospital de campanha para atender feridos

Um hospital de campanha foi montado neste domingo no Posto de Atendimento Médico (PAM) de Del Castilho, no subúrbio do Rio de Janeiro, para receber feridos, principalmente policiais, na operação de ocupação do Conjunto de Favelas do Alemão, na Penha, subúrbio carioca. O hospital está equipado com duas salas cirúrgicas, quatro leitos de recuperação pós-anestésica (RPA), quatro de pré e quatro de pós-operatório, um laboratório para realização de exames de emergência e um tomógrafo móvel.

Também foram instalados no PAM 40 leitos de retaguarda, ação desenvolvida em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil. O hospital de campanha conta com dez cirurgiões, três anestesistas, dois enfermeiros, um clínico geral e dez técnicos de enfermagem. No local, dez ambulâncias de UTI estão a postos para possíveis transferências.

Embora tenha sido instalado para atender prioritariamente aos integrantes da força policial e militar, o hospital também atenderá civis eventualmente feridos na área de conflito, segundo a secretaria, que ainda mantém em prontidão o atendimento da emergência do hospital Getúlio Vargas. O serviço foi normalizado neste domingo. Em função dos conflitos dos últimos dias, o Getúlio Vargas vinha recebendo apenas feridos na operação policial na Vila Cruzeiro e também no Complexo do Alemão.

Assim, as ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do GSE voltaram a ter a unidade como referência para pacientes socorridos na região da Penha, cujo caso esteja previsto dentro do perfil da unidade. A equipe de profissionais da unidade permanece reforçada, assim como ocorre na UPA da Penha. As equipes de cada uma das duas unidades foram reforçadas nos últimos dias por dez médicos e 20 enfermeiros, entre profissionais militares e civis.

Também foi instalado no hospital Getúlio Vargas uma sala extra com dez leitos para atendimento de trauma, além de dez leitos de CTI (oito de adultos e dois pediátricos) na UPA da Penha, que serão mantidos por tempo indeterminado.

Para relações públicas da PM, “é como conquistar a Lua”

(Sergio Moraes/Reuters)

O relações públicas da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Henrique Lima Castro, está há 27 anos na corporação. Já comandou ações pacificadoras internacionais, mas não esconde a euforia de integrar a ação da polícia na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão, na zona norte da capital fluminense. “É a mesma coisa que conquistar a lua”, exagera, ao falar sobre a ocupação das favelas, que estão entre as mais perigosas do Rio.

Castro integrou a missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) em Moçambique e foi chefe do Grupo de Observadores Eleitorais Internacionais durante as primeiras eleições livres no país, em 1994. Em 2001, voltou a trabalhar com a organização, desta vez no Timor Leste, como subcomandante das Forças Policiais Internacionais da ONU. Saiu condecorado de ambas e voltou ao Brasil com medalhas de uma das organizações mais respeitadas do mundo.

Recados – Quando deixou o 37º Batalhão da PM, no Rio, para assumir a chefia da Controladoria de Comunicação Social da PM, em 2009, não sabia, mas seria um dos principais nomes das invasões à Vila Cruzeiro e ao complexo do Alemão. Em seu posto de porta-voz da polícia, Castro detalha o que se passa no embate e manda recado aos inimigos, através das câmeras de televisão.

No último sábado, durante toda a tarde sua imagem foi reproduzida com o pedido que fazia, incessantemente: “Mães, peçam a seus filhos que se entreguem, pois nós vamos entrar”. Na quinta-feira, quando o fogo cruzado aterrorizou a cidade, ele pediu à população: “Não reajam e não percam a calma”. Aos que questionam o saldo negativo do embate, Castro tem a resposta pronta: “Esta operação é histórica. Pensamos em tudo.”

Missão cumprida – O clima entre Polícia Militar e fuzileiros é de que “tudo deu certo” e de missão cumprida. Há uma troca de elogios intensa entre as forças. No entanto, eles ressaltam que a recuperação do Rio de Janeiro “só começou”. “Vai chegar a hora de todas as facções criminosas caírem, assim como aconteceu na Vila Cruzeiro e no Alemão. Não vamos permitir o domínio do mal e o poder do fuzil vai acabar”.

Às 19h, haverá uma entrevista coletiva em que a polícia irá fazer um balanço de toda a operação. Os policiais também continuarão passando o pente fino nas 30 mil casas do complexo em busca de bandidos escondidos. Não há prazo para acabar essa busca. “Só agora tivemos recursos e apoio para fazemos nosso trabalho. Antes queríamos fazer mas as políticas de segurança pública atrapalhavam”, diz.

Ocupação funcionou. Prisões ainda são poucas

A expectativa era de uma guerra sangrenta, mas pouco depois de 20 minutos depois da entrada da Polícia Civil, com auxílio de carros blindados, o Areal, considerado o coração do Complexo do Alemão, era declarado “reconquistado”. Os tiros contra os blindados e as equipes de policiais foram poucos e, pela quantidade de armas abandonadas, a suposição é de que os traficantes decidiram fugir mais uma vez. Do ponto de vista de reconquista do espaço, a operação foi surpreendentemente rápida e bem-sucedida. Mas, se considerados os objetivos de captura da quadrilha, o resultado ainda não veio.

Até o fim da manhã, pouco mais de 20 pessoas estavam detidas – quase todas com passagem pela polícia por tráfico, entre elas uma mulher. Quem tratou de arrefecer o clima de euforia estabelecido com a chegada do estado a locais foi o comandante geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte.

“As posições estão conquistadas. Isso não significa, ainda, posição consolidada”, disse Mário Sérgio. A falta de resistência à incursão da polícia na manhã deste domingo é um indício de que, apesar de não serem propriamente um grupo de “crime organizado”, os traficantes do Alemão não podem ser subestimados. Principalmente quando estão em um território que dominavam havia décadas e que a polícia conhece, basicamente, por sobrevôos, informações de denúncias anônimas e relatos de bandidos capturados.

Depois de uma noite de muitos tiros, uso de munição traçante – aquelas que deixam um rastro de luz e permitem ao atirador aferir a pontaria quando não há luz – e até intimidação com disparos a partir de prédios do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o silêncio tomou conta do vale onde se formou o imenso complexo de 13 favelas. Surpreendentemente, a madrugada no Rio não teve, pela primeira vez em uma semana, ataques a carros e ônibus.

A suspeita agora é de que, enquanto uma parte da quadrilha sustentava o tiroteio contra os militares no Alemão, a outra parte do bando – entre eles os mais de 200 cuja fuga foi exibida ao vivo pela Rede Globo na quinta-feira – tenha tratado de se camuflar entra a população de bem ou mesmo tenha escapado ao cerco na região.

O relações públicas da PM, coronel Lima Castro, evita avaliações precipitadas. “Ainda é muito cedo para saber se traficantes fugiram ou não. Nem há como afirmar que os chefes escaparam”, explicou.

Televisão serve de trincheira à guerra contra o tráfico

Não é a primeira vez que a tecnologia proporciona a sensação de que o melhor reality show que passa na televisão é a guerra do momento. Este combate no Rio de Janeiro, no entanto, foi além da transmissão ao vivo. Não só são vistas imagens de ataques, tiroteio e fuga em todos os ângulos como é através das câmeras que se mandam recados ao inimigo. A trincheira, agora, é a televisão.

“Quem quiser se entregar, faça-o agora”, disse encarando a lente o comandante geral da Polícia Militar, Mario Sergio Duarte, no sábado. Um pouco depois foi a vez do relações públicas da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Lima Castro, fazer outro pedido através das emissoras de televisão: “Mães, peçam a seus filhos que se entreguem, pois nós vamos entrar.”

A mensagem é recebida pelo telespectador. Além das próprias mães a quem ele se dirigia e aos traficantes do complexo do Alemão, o mundo ouviu o pedido. Com esses detalhes e links ao vivo de todos os pontos do front, forma-se um confronto que vai além daquele que acontece nos morros cariocas. A guerra se estende, é também virtual, construída por uma consciência coletiva de estado de pânico.

A primeira vez em que as imagens em tempo real começaram a ser o destaque de uma guerra foi em 1991, na Guerra do Golfo. As câmeras não participavam, como hoje. Apenas captavam. Mas foi o suficiente para que o filósofo francês Baudrillard a definisse como ‘a guerra que não existiu’, já que o menos importante do acontecimento foi o massacre em si, o que configura uma guerra.

Através da moldura dos aparelhos de televisão, as cenas históricas da operação conhecida como ‘Tempestade no deserto’, com o céu de Bagdá pintado de fogo, foram o mais importante do conflito. O mundo, boquiaberto, assistia pela primeira vez o que só era contado depois, pelos vencedores. A sedução pelo conflito impedia a análise do contexto de uma guerra, do que aquele fato significava para a história como ato violento, não como acervo de imagens.

Vieram em seguida as imagens da guerra do Afeganistão e Iraque, ao vivo, para que o mundo assistisse, 24 horas por dia. As semelhanças com as cenas aéreas de perseguição mostradas esta semana fazem o carioca Estefan Souza comparar: “Aqui não tem homem-bomba, mas tem criminoso segurando uma granada no meio da cidade. A televisão mostrou hoje, você viu?”, pergunta, antes de voltar a grudar os olhos no pequeno aparelho da barraca de coco, acompanhando mais um replay de uma cena de tiroteio no Alemão.

PM e militares apreendem fuzis no Complexo do Alemão

A polícia começou a subir no Complexo do Alemão pouco antes das 8h da manhã deste domingo. Pelo menos 100 homens de grupos operacionais da polícia civil, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e da Polícia Federal estão nesse momento revistando casas no conjunto de favelas. A expectativa é que eles encontrem pelo menos parte dos traficantes que poderiam utilizar a região como rota de fuga. Os policiais têm o apoio de mais de 50 homens do Exército e cinco blindados: um tanque e quatro veículos de transporte com metralhadora.

Sete fuzis e sacos com drogas foram encontradas pelos policiais em quatro casas do Areal, o coração do Complexo do Alemão, que a polícia ocupou neste domingo. O material foi levado para o batalhão de Olaria em bacias de plástico.

“Todas as casas serão revistadas. Beco por beco, buraco por buraco”, afirmou o comandante geral da PM, Mario Sergio Duarte, que chegou há pouco no local. Segundo ele, nenhum policial nem morador foi baleado, mas ainda não é possível fazer um balanço da operação.

Contrariando as orientações policiais, alguns moradores acompanham a movimentação das tropas de suas janelas, tentando ao mesmo tempo se esconder de uma possível bala perdida. Poucos se aventuram a sair. O clima é tenso, mas as forças policiais demonstram confiança na ação.

(Com Agência Estado)

O Rio de Janeiro pega fogo. Cadê a Dilma?

Praticamente um mês já se passou depois do seu triunfo eleitoral e Dilma Rousseff continua meio sumida. Às voltas com a delicada costura para a montagem do seu ministério, praticamente não apareceu em público nestes 28 dias. A última vez que mostrou a cara e falou em público foi há nove dias, num evento do PT.

O Rio de Janeiro está pegando fogo e de Dilma não se ouviu nada sobre o assunto — somente um vago “Sérgio Cabral tem o apoio da presidente”, dito por um assessor.

O.k., Lula ainda é o presidente. Ele, naturalmente, tem o protagonismo de certas situações, tanto por ser o presidente como por ser o chefe inconteste do PT. Mas parece evidente que era a hora apropriada para começar a passagem de bastão: Dilma deveria, sim, estar botando a cara na TV pontuando assuntos urgentes como o da guerra carioca.

Até porque o brasileiro quer ouvir da presidente recém-eleita suas opiniões sobre temas reais — algo que a campanha muitas vezes não permitiu. Além do mais, a palavra de Lula só vale pelos próximos 32 dias; a dela até 2014. É também, portanto, uma questão de prazo de validade.

Não se trata só da guerra do Rio – este é apenas um exemplo.  O ministério é outro: vem sendo anunciado por porta-vozes. A palavra de Dilma não foi ouvida. E neste caso nem dá para lançar a hipótese de que ela estaria preocupada em não melindrar um Lula ainda presidente.

Esse quase sumiço de Dilma desde que se elegeu levanta suspeitas sobre o seu estilo de governar. Alguns aliados temem que Dilma que, de modo explícito, detestou a experiência de fazer campanha, tendo que se expor diariamente, tente governar para dentro. Temem que ela repita os tempos em que era ministra das Minas e Energia ou da Casa Civil. Ou seja, com muito trabalho de gabinete e pouca exposição pública.

O receio dos aliados é que se enfurnar no Palácio do Planalto, dando pouca importância ao simbólico das aparições públicas (sempre seguidas de declarações), afete sua popularidade.

Para o bem ou para o mal, o chefe do executivo hoje é obrigado a estar com a cara todos os dias (ou pelo menos quase todos) na TV ou na internet. Não é só Lula que fez e faz isso. José Serra fez isso quando prefeito e governador de São Paulo. Sérgio Cabral faz isso (mesmo quando o Rio está em paz). É, pois, uma necessidade suprapartidária

Ainda é cedo para cravar o estilo Dilma de governar. Mas os primeiros 28 dias depois de eleita só ajudaram a aumentar as evidências de que ela não é afeita à exposição à luz.

Por Lauro Jardim

Organizações criminosas dominam 96 favelas cariocas

Carolina Freitas
A favela Rio das Pedras, na zona oeste, foi a primeira a ser ocupada por milicianos

A favela Rio das Pedras, na zona oeste, foi a primeira a ser ocupada por milicianos (Custódio Coimbra/Agência O Globo)

Glaucio Ary Soares, doutor em sociologia: “As milícias ficaram para depois porque incomodam menos. Quem está no comando de ataques terroristas são as facções”

A expulsão de centenas de traficantes da Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro deu fôlego a autoridades, policiais e moradores da cidade. Um clima de esperança tomou os cariocas, das vielas da favela aos cafés do asfalto. Afora a euforia, no entanto, ninguém sabe quando, de fato, os morros da cidade estarão livres da violência do tráfico de drogas.

Mantidas as operações da polícia, com apoio das Forças Armadas, há possibilidade de expurgar o tráfico de regiões estratégicas. Vence-se uma batalha, mas a guerra continua, travada com um inimigo íntimo: as milícias. Criam dificuldade para vender facilidade. Tomaram os morros de facções criminosas e passaram a controlar o fornecimento de água, energia elétrica e TV a cabo clandestinas, a venda de gás de cozinha e serviços de segurança e transportes. E cobram caro, com pistolas em punho.

Comandadas por militares, ex-militares, policiais e ex-policiais, as organizações criminosas já dominam 96 favelas cariocas. A zona oeste está na mão dos milicianos. A única favela que a polícia tomou das milícias foi a do Batan, em Realengo, após o sequestro e tortura de uma equipe de jornalistas que estavam infiltrados na região. 

Domínio territorial
 - O doutor em Sociologia Glaucio Ary Soares, pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), explica que os milicianos foram, a princípio, bem recebidos pelos moradores. “Houve um apoio até maior do que o esperado às milícias. Aos poucos, os novos chefes do morro passaram a extorquir comerciantes e moradores, obrigá-los a consumir os serviços que ofereciam. Percebeu-se que era só mais uma forma de domínio territorial.”

Os morros dominados por traficantes foram escolhidos como alvo prioritário das autoridades por serem mais numerosos e pelo poder de dano à ordem pública das facções criminosas. “Eles têm o poder de parar a cidade. De 2000 a 2009, queimaram mais de 800 ônibus no Rio. Há um apelo de insegurança muito forte”, afirma Soares. “As milícias ficaram para depois porque incomodam menos. Quem está no comando de ataques terroristas são as facções.”

O diretor do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Claudio Beato, acredita que o combate às milícias, em uma segunda etapa da guerra contra o terror, colocará à prova a capacidade de planejamento da cúpula da Segurança Pública fluminense – que até agora se mostrou fraca. “O governo reage, não se antecipa aos acontecimentos. A violência do tráfico é um problema urgente e visível”, afirma. “As milícias são algo muito mais complicado de se enfrentar. Eles estão dentro da polícia, têm representação na política.”

Os milicianos incrustraram-se nas instituições de poder de uma forma que os traficantes jamais ousaram. Cooptaram colegas policiais. Elegeram deputados. Fazer frente a eles exigirá outra estratégia. “A cena de um bando de meninos sem camisa fugindo da polícia não se repetirá com os milicianos”, diz Beato. 

Apoio - Para o estudioso, o poder público terá de atacar os grupos pela via econômica, com o apoio da Receita e de órgãos de combate a crimes financeiros. Será preciso centrar fogo ainda em crimes como extorsão, exploração irregular de serviços públicos e de jogos de azar, como o jogo do bicho.

O relatória final da CPI das Milícias, capitaneada pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, recomenda ainda medidas como a regulamentação e o controle pelo Estado do transporte alternativo e a criação de um convênio da Agência Nacional do Petróleo com o Corpo de Bombeiros para fiscalização da venda ilegal de gás.

Para que a esperança dos cariocas para um Rio de paz não seja em vão, as linhas de ação contra traficantes e contra milicianos precisam se cruzar em momentos como o de agora. Com a expulsão do Comando Vermelho da Vila Cruzeiro, a ocupação da região pelo estado, precisa ser permanente – sob o risco de uma população no lugar de liberdade ganhar apenas um novo dono.

O acordo, a ocupação pacífica do Complexo do Alemão e o futuro

Como vocês estão cansados de saber a esta altura, a polícia entrou no Complexo do Alemão praticamente sem resistência. Bandido é bandido, mas não é burro. Resistir ao aparato que reúne PM (Bope), PF e Forças Armadas seria suicídio coletivo. Muita droga foi apreendida. Não se sabe ao certo o número de presos até agora, mas não são muitos. Também é pequena a apreensão de armas, dado o arsenal já exibido pelos bandidos. A ocupação não rende um filme de ação, algo como Tropa de Elite 3. Acabou sendo chocha. Melhor assim em certo sentido. Do contrário, haveria muitas mortes: de bandidos, de militares e também de moradores. Depois de cantar o Hino Nacional, o Hino da Proclamação da República, o Hino à Bandeira e o Hino da Independência, a gente pode começar a pensar.

Esse desdobramento não é acidental. Desde o cerco ao complexo, as forças de segurança negociam com a bandidagem. O, como é mesmo?, “mediador social” (ou coisa assim) José Júnior, da ONG AfroReggae, foi uma das pessoas que fizeram o meio-de-campo. A “ocupação” só foi decidida depois de um acordo. Ficou estabelecido que as forças de segurança “invadiriam” a área sem resistência. Os bandidos ofereceram a passividade, e o Estado lhes deu o direito de tentar fugir. A região é gigantesca. Bem poucos trazem estampado no corpo a marca “sou bandido”, a exemplo de um tal Leandro Sedano, 20 anos. Ele mandou tatuar três vezes o nome de “Fernandinho Bera Mar” (sic) nos braços; numa das mãos, um folha de maconha; nas costas, a expressão “eu cheiro”. Ou seja: Leandro é um Zé Mané. O tráfico não confiaria a ele um papelote de cocaína para vender - ele cheiraria o pó… A polícia não tem o retrato de todos os traficantes, e ninguém  pode ser preso se estiver em casa, assistindo ao confronto Corinthians X Fluminense…

É claro que era preciso ocupar o Complexo do Alemão — aliás, é preciso levar Estado a todas as favelas do Rio. No que concerne à entrada no morro propriamente, o certo é isso que se vem fazendo agora, não o que se vinha fazendo antes. Essa política é, sim, desdobramento da anterior (aquela que não prendia ninguém), mas pelo avesso. As conseqüências negativas da escolha anterior forçaram a ação de emergência — embora esperada há pelo menos 20 anos pelos trabalhadores, que são reféns do narcotráfico, e pelo conjunto dos cariocas, que não suportavam mais ter sua rotina abalada pelos traficantes. Pensando a coisa toda só por suas conseqüências, talvez se possa dizer que há males que vêm para bem — se vierem. O que quero dizer?

Feita a ocupação, é preciso fazer o trabalho de investigação para prender os traficantes, O QUE NÃO FOI FEITO ATÉ AGORA NAS 13 FAVELAS PACIFICADAS. Em 11 delas, o tráfico opera normalmente. Mudou a logística, mudou o comportamento dos traficantes, direitos mínimos são garantidos pela Polícia, mas o comércio do bagulho segue normalmente. Soldados do tráfico, tornados desnecessários nas favelas aonde chegaram as UPPs, haviam se deslocado para as favelas nas quais a polícia ainda não está presente.

Pedem que, nos meus textos, eu dê tempo ao tempo. Ora, claro que sim! Só estou chamando a atenção para uma evidência: caso se repita no Alemão o que aconteceu nas 13 favelas já “pacificadas”, o tráfico será “civilizado”, e quase ninguém será preso, com uma apreensão de armas pequena, dado o arsenal da bandidagem. E a isso não se pode chamar exatamente “combater” o tráfico.

Fala-se na apreensão de até 20 toneladas de maconha só no Alemão! É um troço fabuloso! Dado o andar anterior da carruagem, toda essa mercadoria logo seria posta para circular, financiando esse ramo da economia que, estima-se, emprega 16 mil pessoas só no Rio de Janeiro. Como se nota, estavam certos todos aqueles que se perguntavam indignados: “Mas por que a polícia e as Forças Armadas não sobem os morros e tomam as fortalezas do tráfico?” Pois é… Por quê? Que bom que o tenham feito agora!

Os próximos dias e meses dirão até onde se preparou um espetáculo para turistas — como turística era a política anterior. Sem investigação, prisões em massa e o devido processo legal, nada feito!

Por Reinaldo Azevedo
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Veja.com.br

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    Depois de ficar anunciando a "Invasão ao Complexo do Alemão" durante um dia inteiro, só podia dar nisso. Muito poucas prisões. Houve tempo de sobra para a fuga dos marginais. Os ratos devem estar fazendo a sua Assembléia para ver quem será encarregado para pendurar o chocalho no gato... É muito cedo para registrar mudanças, todavia a iniciativa toda é louvavel.

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