Preços agrícolas geram maior alta do IGP-M em 28 meses
A comparação com 2008 não termina aí - os preços das commodities, tal como ocorre agora, estavam pressionados pela combinação entre forte demanda mundial e especulação de preços impulsionada por elevada liquidez. Se nos 12 meses terminados em agosto daquele ano, antes da crise, os preços agrícolas no atacado acumulavam alta de 23%, entre janeiro e novembro de 2010 esses produtos já acumularam 23,9%.
Apurado entre 21 de outubro e 20 de novembro, o IGP-M de novembro foi pressionado pela alta de 5,4% nos preços agrícolas, influenciado pelo salto de 3,9% nas matérias-primas brutas. A carne bovina, que já pressionara o índice em outubro, com alta de 4,2%, dessa vez passou chegou a 11,4%. Além disso, a soja em grão ficou 9,7% mais cara em novembro, depois de ter aumentado 5% em outubro. Ainda entre os básicos, os preços do algodão passaram por elevação de 13,5% neste mês, contra 2,4%, em outubro.
"Vivemos, em novembro, o pior momento para a inflação de preços básicos e de alimentos, principalmente", afirma Fernando Rocha, economista da JGP Gestão de Recursos. A alta dos produtos básicos no atacado, que representa 60% do IGP-M, contagiou os preços no varejo, no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que responde por 30% do IGP-M - os 10% restantes referem-se a preços na construção civil. No IPC, cuja variação em novembro foi de 0,8%, a principal contribuição veio do item alimentação, que registrou salto de 1,9%, tendo à frente a forte elevação de 8,6% nos preços das carnes bovinas.
Segundo Fabio Ramos, da Quest Investimentos, o "contágio" entre preços internacionais e o atacado é direto, mas entre o atacado e o varejo é "quase a metade". O economista estima que o item alimentação em domicílio, no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulará alta de 10% em 2010. Ao mesmo tempo, os preços agrícolas no atacado ficarão em torno de 24% no ano.
"Com o consumo aquecido, sustentado pelo forte salto nos salários e na queda da taxa de desemprego, o produtor pode repassar parte da alta de custos para o varejista, que transfere parte disso para o consumidor", diz Ramos. Em períodos de aceleração semelhante, como o pré-crise, o repasse foi parecido. Nos 12 meses entre agosto de 2007 e agosto de 2008, os preços agrícolas aumentaram 23% no atacado, e a alimentação em domicílio, 15%.
Para Rocha, da JGP, o mês de novembro concentrou o pico de preços da carne bovina e dos grãos, que tendem a perder força em dezembro e no início de 2011. "Mas é nos momentos de maior pessimismo que conseguimos, finalmente, ver a redenção", diz Rocha, para quem o primeiro trimestre do próximo ano será mais "tranquilo".
O raciocínio do economista é que o consumo das famílias, estimulado em 2009 pelos incentivos fiscais, e pelo crescimento do emprego e do crédito, em 2010, tende a arrefecer em 2011, o que dificulta o repasse de preços do atacado na mesma proporção. Além disso, diz Rocha, os problemas com safras de grãos e especulação de preços tendem a ser contornados no ano que vem - em 2010, os preços do trigo foram afetados pela pior estiagem em 150 anos na Rússia, um dos principais mercados produtores.
A inflação no atacado em 2011 tende a ser mais equilibrada entre preços agrícolas e industriais. Em novembro, o IGP-M deu a primeira mostra disso, uma vez que os preços industriais aumentaram 0,61%, contra apenas 0,19% em outubro. A principal influência veio do produto final, com salto de 1,34% no mês.
O economista Constantin Jancso, do HSBC, avalia que a distância entre o avanço dos preços agrícolas e industriais cairá de 18 pontos percentuais, em 2010, para algo em torno de 4 pontos, no ano que vem. Jancso estima que o IPA-agrícola passará por forte alta ainda em dezembro, acumulando no ano elevação de 28%, contra 10% do IPA-industrial. Em 2011, calcula o economista, esses valores serão de 10% e 6%, respectivamente.
"O momento mais complicado da inflação é agora, mas avaliamos que o Banco Central elevará as taxas de juros em 2011, e isso, além de uma economia que crescerá mais devagar, vai conspirar para preços mais controlados no atacado", diz o economista.
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