Agricultura prepara plano contra difamação externa

Publicado em 29/12/2010 15:58
ENTREVISTA com WAGNER ROSSI, Ministro da Agricultura

Escolhido pela presidente eleita, Dilma Rousseff, para permanecer à frente da Agricultura, o ministro Wagner Rossi afirmou, em entrevista à Folha, que uma de suas prioridades será um plano para combater os ataques constantes contra o setor agrário brasileiro no exterior. O agronegócio deve ser um dos principais responsáveis pelo superavit da balança comercial brasileira em 2010 e, na opinião do ministro, esse sucesso fez do setor uma vitrine para a difamação por parte de outros países.

Segundo Rossi, com o mercado aberto, "o Brasil tem capacidade de ganhar na grande maioria dos produtos". 


Leia, a seguir, trechos da entrevista.


Folha - O país teve safra recorde de GRÃOS em 2010, mas a agricultura nem sempre vive de boas notícias...

Wagner Rossi - Tivemos um recorde de produção de GRÃOS, mais de 149 milhões de toneladas, o que era quase inconcebível alguns anos atrás. Na cana-de-açúcar, tivemos uma colheita de 651 milhões de toneladas.

Foi um ano em que os preços, em geral, estiveram bem reputados. E, no setor, ocorre um certo descasamento entre a produção e a renda do produtor. A formação de preços não é feita no Brasil, e isso cria uma dificuldade imensa para o agricultor.

E não há relação com a competência?

É claro que tem relação com a competência, com gestão, com tecnologia, mas não é uma meritocracia pura, nem sempre os melhores são os que obtêm o melhor resultado. Somos muito competentes dentro da fazenda, mas temos dificuldades porteira afora, em logística e na formação de preços.

Mesmo com todas as dificuldades, inclusive com o câmbio, que pune o setor, o resultado é muito positivo. Neste ano, vamos ter superavit de mais de US$ 60 bilhões no agronegócio. Num sistema de livre comércio, o Brasil tem capacidade de ganhar na grande maioria dos produtos, com alta qualidade e preço baixo.

O Brasil sofre reação forte no exterior, com protecionismo e até mesmo propaganda. O que o senhor está fazendo para enfrentar a situação?

Há propaganda negativa na Irlanda. É um concorrente na carne. Os Estados Unidos têm uma tradição protecionista muito ruim para a agricultura, que é levada ao paroxismo na Europa. Lá, o uso de protecionismo é terrível. Eles não entendem como fizemos essa revolução em tão pouco tempo e se surpreendem com o desenvolvimento da agricultura com um respeito crescente ao ambiente.

No imaginário popular deles, o Brasil destrói a Amazônia para plantar cana, temos trabalho escravo...

Isso não é levado adiante por ONGs?

As ONGs, nesse sentido, prestaram um desserviço ao país porque mentiram. Existe trabalho escravo no Brasil? Sim, mas pontualmente, em locais onde o Estado não chegou. Mas mesmo lá os nossos órgãos de Estado estão atrás e têm punido exemplarmente todos os desvios. Até gente do Brasil fez uma série de propagandas e de vídeos.

Qual a finalidade dessa difamação?

Tem um sentido comercial. São concorrentes que inocularam essas ideias numa população que não tem informação. Uma das coisas que vamos fazer no próximo ano é uma campanha institucional de informação. Conversar com formadores de opinião. Temos de fazer iniciativas de comunicação, campanhas publicitárias para mostrar a realidade do Brasil. Eles também fazem alegações mentirosas sobre questões sanitárias.

Não tem país no mundo com uma campanha tão constituída de combate à febre aftosa como o Brasil. Nós estamos livres da aftosa. Temos qualidades tão nobres que precisamos divulgar.

O senhor propõe uma revisão dos conceitos de índice de produtividade para desapropriação?

Como é que pode exigir de um produtor determinado índice de produtividade se a agricultura brasileira hoje já é a de maior índice de produtividade do mundo? Não se pode determinar um índice sem perguntar primeiro se aquela produção dá prejuízo ou dá lucro.

Você não pode dizer "você vai produzir tanto na sua fazenda". A não ser que fosse soviética. E sabemos como acabou o regime da agricultura coletiva. Nenhum país no mundo garante a função social da terra como o Brasil, com a produção que alimenta seu povo generosamente.

É um discurso atrasado, então?

É um discurso de 30, 40 anos atrás. É muito importante o pequeno ter acesso à terra, e quem combate isso é o extremista do outro lado.

Nós temos de apoiar o pequeno [produtor rural], temos de dar a ele a oportunidade de se tornar um produtor e um agente do mercado, mas nós não temos de pensar que isso tem objetivo de socializar a terra no Brasil, porque não é esse o objetivo.

É indispensável ter segurança jurídica para investimento na área rural. 


RAIO-X

WAGNER ROSSI

FORMAÇÃO Graduação em direito (USP), doutorado em administração e economia pela Bowling Green State University (EUA)

ATUAÇÃO Foi presidente da CONAB (COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO), deputado estadual e deputado federal

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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1 comentário

  • André Luiz Farias de Souza BRASILIA - DF

    Eu acho que ainda estamos muito longe de servir de exemplo para muita coisa e precisamos melhorar mais, mas, estamos no caminho certo, como por exemplo, melhorar o tratamento dados aos produtores rurais que não detêm latifúndios, principalmente no que diz respeito ao apoio técnico e empréstimos mais realistas, principalmente do ponto de vista de possibilidade de pagamento (juros excessivos). A revolução agrícola do Brasil, além de técnica, que adaptou os cultivares às nuances dos climas brasileiros, também se fez às custas de muito, mas, muito desmatamento mesmo. Mas, isto tem um limite e estamos bem próximos dele e as perspectivas podem melhorar se o código florestal não for penalizado.

    E outra coisa que nem foi comentada é o terrorismo agrícola!!! Não é por acaso que "novas" pragas estão sendo inseridas nas lavouras do Brasil!!!

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