Antonio Fortes, 73 anos, luta tara continuar na citricultura

Publicado em 02/01/2011 14:03 e atualizado em 10/03/2020 13:05
Eu falei que quero ser o último dos irmãos a sair da citricultura, vou lutar. Mas está difícil...
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Antônio Fortes na fazenda Cercadinho, em Casa Branca (SP) 

RESUMO
Antônio Fortes é um dos maiores produtores pessoas físicas de laranja do país. Sob seu comando estão 250 mil pés de laranja e cerca de 700 hectares em três fazendas no interior de São Paulo.
A produção anual própria chega a 1 milhão de caixas, mas ainda compra e revende outro milhão.
Grande parte do que Fortes produz é distribuído em supermercados. Apenas 30% vai para a indústria de suco de laranja.
Ele critica o controle sob o preço exercido pelas indústrias, além do fato de que o produtor precisa bancar o frete das frutas.

(...)Depoimento a GRAZIELLE SCHNEIDER

ENVIADA ESPECIAL A LIMEIRA (SP) 

Meu pai era espanhol e veio para o Brasil para trabalhar em cafezal em 1913.
Em 1937, ele comprou uma propriedade pequena. Plantava cebola e cereais, de laranja tinha um tantinho só.
Com o tempo, a produção aumentou e lá por 1942 passou a vender para exportação.
Aí apareceram uns médicos e engenheiros que colocaram na nossa cabeça que éramos bastante gente, que o sítio era pequeno e que devíamos vender a laranja em São Paulo para crescer.
Então em 1962 compramos uma banca no mercadão de São Paulo. Nós éramos oito irmãos, seis homens.
Montamos um barracão no sítio do meu pai e trabalhamos lá até 1968. Depois compramos uma propriedade em Conchal, um pedacinho de 60 alqueires.
Em 1969 nós nos mudamos para Limeira e compramos um barracão grande.
Foi só em 2000 que nos separamos. Cada um resolveu pegar os filhos para trabalhar. Mas foi uma divisão perfeita, sorteamos as fazendas e cada um saiu com uma.
Os irmãos Fortes eram conhecidos pela qualidade.
Quando comecei a trabalhar com meu pai, ainda criança, a laranja era preta, feia.
Assim que começamos a cuidar, depois de uns cinco anos, a gente já tinha a melhor laranja de São Paulo. Ganhamos até prêmio, em 1978.
Garanto a qualidade até hoje cuidando com um agrônomo. Ele faz análise da terra, da folha, faz adubação certinha e pulveriza muito.
Também a nossa genética é boa. A minha lima, eu peguei um galhinho, enxertei e fiz uma variedade que hoje é a melhor do Estado.

APOSENTADORIA?
Eu sou separado da primeira mulher há quase 30 anos. Casei de novo, mas nós trabalhamos juntos, a primeira mulher é minha sócia e a segunda ajuda na empresa.
Nem todos os meus filhos trabalham comigo, só dois.
Mas não querem saber de responsabilidade, de trabalhar no fim de semana. E vou me aposentar de que jeito?
Eu levanto todo dia às 5h, há 50 anos. Venho aqui ao barracão e, lá pelas 6h30, desço para as fazendas.
Pego o resultado da venda de São Paulo, vejo quem vendeu mais, quem vendeu menos e decido para onde mandar mais laranja e para onde mandar menos. Isso é todo dia, não tenho folga nunca.
Vendemos para supermercado, e lá muda o preço todo dia. Então você está entregando e aparece outro vendendo mais barato, aí ligam, tem que acertar preço.

MERCADO
O mercado foi bom para a indústria de suco em 2010, ela pagou bem. Então achei que o de fruta ia surpreender.
Mas não, ele enganou.
Tem muita gente mandando mercadoria ruim. E, depois do cruzado para cá, eles vendem a laranja feia mais barato, e aí é duro pegar um preço bom pela fruta boa.
Eu também acho que choveu muito na época de seca, adiantando a maturação. Laranja que ia colher em fevereiro, tiramos em dezembro.
Agora, em janeiro e fevereiro, vai faltar laranja. Até estou indo para Sergipe para ver se pego algo e trago de lá.
Além disso, apareceu esse monte de doença. Tem o greening , que está comendo o pomar à vontade. Ele vem de longe, então a gente brinca que essa doença que pula a cerca ninguém segura, porque as outras têm que passar pelo portão.
O nosso tratamento está dando certo. As árvores doentes não chegam a 1%, enquanto por aí já tem fazenda com 25%, 30%.
Essa praga apareceu em 2004. A laranja fica miúda e não dá semente, dá pra ver de longe. Fica um pé meio amareladinho, a laranjinha torta, pequena, você corta e ela não tem semente. Em dois anos ou três, se não cortar, morre o pé inteiro.
Já para 2011, a gente não tem uma expectativa de safra. Faltou chuva e a florada está muito variada, num lugar deu cedo demais, noutro deu muito tarde. Até agora nós não sabemos o que temos na mão.
O preço deve aumentar, mas depende da indústria. Se eles pagam bem, melhora. Se eles pagam pouco, o pessoal vai para o nosso mercado, e aí cai o preço.

GLOSSÁRIO
Greening
Doença causada por bactéria, afeta a laranja, o limão e a tangerina. É transmitida por meio de mudas infectadas ou de insetos vetores.

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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