Brasil torce por pouso suave da economia chinesa

Publicado em 21/01/2011 06:37
Superaquecimento chinês pressiona inflação no País e eventual freada brusca iria causar efeitos negativos na balança comercial brasileira.

O Brasil está "torcendo por um pouso suave" da economia da China. Os especialistas temem que o "superaquecimento" do gigante asiático piore o cenário de inflação no Brasil, mas também ressaltam que um freio brusco traria impactos negativos para a balança comercial. 

O governo chinês divulgou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 10,3% em 2010 - retomando o patamar de dois dígitos. O resultado surpreendeu o mercado e alimentou expectativas de que Pequim reforçará as medidas para controlar a inflação. 

A economia brasileira está cada vez mais ligada ao que acontece na Ásia, especialmente na China, e a principal via de contágio é o preço das commodities, que sobe graças ao apetite dos asiáticos por matérias-primas. 

"O forte crescimento da China costumava ser, inequivocamente, positivo para o Brasil, porque melhora a balança comercial. Hoje, por causa do cenário apertado para a inflação, a situação é bem diferente", acredita Monica Baumgarten de Bolle, economista-chefe da Galanto Consultoria.

No ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) fechou em 5,91% no Brasil, bem acima da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O governo brasileiro vem tomando medidas para conter a evolução dos preços e, na quarta-feira, o Banco Central elevou os juros.

Cálculo do Bradesco aponta que, excluídos os alimentos, o IPCA teria subido menos de 5% em 2010. A "inflação das commodities" está ligada aos problemas climáticos em alguns países, à fuga dos investidores para esses ativos, e à forte demanda dos países emergentes, como a China.

Conforme a economista da Galanto, também há evidências de que começa a surgir na China uma "inflação de salários" - o que é algo novo para o país que é considerado o chão de fábrica do mundo. Nos últimos meses, grandes províncias chinesas concederam reajustes de salário mínimo acima de 20%.

Até agora, por causa do impacto da crise global, que elevou a capacidade ociosa das indústrias, o Brasil "importou" deflação, o que compensou o aquecimento do mercado doméstico. "Agora a China deve começar a exportar inflação para o resto do mundo", disse Mônica.

Boa notícia. Para os exportadores brasileiros, o forte desempenho da economia chinesa é uma boa notícia. No ano passado, o país asiático se firmou como o principal cliente do Brasil, absorvendo 27,9% dos embarques. Minério de ferro, soja e petróleo responderam por mais de 80% das exportações para a China.

A demanda chinesa por commodities também traz um efeito indireto para o Brasil: eleva os preços da maior parte dos produtos que o País vende para qualquer lugar do mundo. Em 2010, os produtos básicos responderam por 44,6% das exportações, superando os manufaturados pela primeira vez desde 1978.

Os termos de troca (diferença entre os preços dos produtos exportados e importados) do Brasil estão em nível recorde. De acordo com a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), em dezembro, esse indicador estava 17% acima do ápice atingido em agosto de 2008, antes da crise.

Graças aos termos de troca bastante positivos, o Brasil conseguiu superávit de US$ 20,3 bilhões na balança comercial em 2010, que ajudou a amenizar o déficit em transações correntes.

Segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o governo chinês vai se esforçar para manter a inflação controlada, o que significa preços de commodities mais moderados, que vai se refletir na balança comercial brasileira. A média dos analistas de mercado projeta superávit de US$ 9 bilhões este ano.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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