Petróleo e ouro sobem; ações e grãos caem por agitação na Líbia

Publicado em 07/03/2011 17:12 e atualizado em 08/03/2011 07:20
Preços do petróleo recuaram de picos atingidos cedo no dia por conta de notícias de que o líder líbio Muammar Gaddafi estava tentando negociar uma saída da Líbia

NOVA YORK - Os preços do petróleo atingiram o maior nível em dois anos e meio e os do ouro bateram recorde nesta segunda-feira em meio a preocupações dos investidores de que os distúrbios crescentes na Líbia possam se alastrar a outros países produtores de petróleo no Oriente Médio. 

Os preços do petróleo recuaram de picos atingidos cedo no dia por conta de notícias de que o líder líbio Muammar Gaddafi estava tentando negociar uma saída da Líbia e também em razão de realização de lucros.

Mas os preços do Brent permaneceram elevados, em torno de US$ 116 o barril, e os preços do petróleo no mercado norte-americano subiram mais de 1%, para perto de US$ 105 o barril.

Dois portos na Líbia são fechados devido à violência, dizem fontes

Forças da Líbia combateram rebeldes pelo controle de um porto estratégico de petróleo na segunda-feira


Os principais portos de petróleo da Líbia, Ras Lanuf e Brega, no leste do país, estão fechados, pois a violência na área impediu as operações dos terminais, afirmaram nesta segunda-feira fontes ligadas ao embarque.

Forças da Líbia combateram rebeldes pelo controle de um porto estratégico de petróleo na segunda-feira e um dos oficiais rebeldes afirmou que Muammar Gaddafi poderia atacar campos de petróleo como um "lobo ferido" se o Ocidente não o impedisse com ataques aéreos.

"Ras Lanuf não está operando", afirmou uma fonte ligada ao embarque, acrescentando que Brega também estava fechado.

Temores de que os preços mais elevados do petróleo prejudiquem a recuperação econômica derrubaram ações na Europa e nos Estados Unidos, com os papéis de tecnologia em Wall Street também afetados por um rebaixamento da indústria de semicondutores pela Well Fargo.

A perspectiva de distúrbios adicionais nos países do Oriente Médio produtores de petróleo levaram os investidores a optar por ativos de baixo risco. Os preços do ouro no mercado spot atingiram o valor recorde de US$ 1.444,40a onça, enquanto a prata subiu a US$ 36,52 a onça, valor mais elevado desde o início dos anos 1980.

"Caso vejamos a tensão aumentar mais, podemos testemunhar uma nova alta do ouro", afirmou Ong Yi Ling, analista de investimento da Phillip Futures em Cingapura.

Wall Street cai novamente perante alta do petróleo



A Bolsa de Nova York retrocedeu pelo segundo dia consecutivo perante a contínua alta do preço do petróleo, que traz riscos à recuperação econômica: o Dow Jones perdeu 0,66% e o Nasdaq, 1,40%.

Segundo dados definitivos de fechamento, o Dow Jones Industrial Average caiu 79,85 pontos, a 12.090,03 pontos, enquanto o Nasdaq cedeu 39,04 pontos, a 2.745,63 pontos.

O índice ampliado Standard & Poor's 500 caiu 0,83% (11,02 pontos), a 1.310,13 pontos.

Na abertura, o mercado tentou se recuperar após as perdas de sexta-feira, mas terminou em baixa, enquanto os preços do petróleo continuavam subindo.

"Os investidores aprenderam nos últimos 40 anos que quando os preços do petróleo aumentam, vendem ações", disse Mace Blicksilver, da Marblehead Asset Management.

"Também é preciso fazer justiça à atualidade, que anima o mercado do petróleo", acrescentou.

A alta dos preços da energia continuou sendo alimentada pela situação na África do Norte e Oriente Médio. As forças leais ao coronel Muamar Kadhafi lançaram ataques contra os rebeldes para tentar sufocar a insurgência.

O barril do petróleo chegou a quase US$ 107 nesta segunda-feira em Nova York, antes de encerrar a mais de US$ 105.

"É muito difícil para o mercado eliminar os temores geopolíticos, porque não vemos soluções a estes problemas no curto prazo", afirmou Gregori Volokhine, da Meeschert Capital Markets.

"Até o momento ninguém se atreve a fazer previsões de crescimento em queda devido ao custo da energia, mas é claro que isto acontecerá se seguirmos assim, e isso é o que assusta o mercado", disse Volokhine.

O rendimento dos títulos de 10 anos do Tesouro subiu para 3,497% contra 3,492% na sexta-feira à noite e os papéis de 30 anos para 4,608% contra 4,601% na véspera.

Armar rebeldes é uma opção para a Líbia, diz EUA


Onda de RevoltasA Casa Branca afirmou nesta segunda-feira que armar rebeldes é uma das muitas opções que os Estados Unidos estão considerando para lidar com a crise na Líbia. A declaração do porta-voz Jay Carney foi feita logo depois de o presidente Barack Obama reconhecido que a opção de uma intervenção militar no país norte-africano está sob análise.

Segundo o porta-voz da Casa Branca, o governo americano se movimenta rapidamente para avaliar as opções, mas ressaltou que os EUA não querem se colocar à frente dos eventos.

Carney disse que Washington está usando canais diplomáticos, assim como contatos na comunidade empresarial e em organizações não-governamentais, para reunir informações sobre a oposição rebelde que, há 21 dias, enfrentam as forças leais a Gaddafi.

"A opção de dar assistência militar é uma das que está na mesa, porque nenhuma opção foi removida da mesa", disse Carney. No entanto, ele afirmou que enviar tropas para a Líbia "não está no topo da lista neste momento".

Antes das declarações de Carney, Obama havia advertido aos seguidores de Gaddafi que eles responderão por seus atos e pelo uso da violência contra os rebeldes no país, reconhecendo

Pablo Martinez Monsivais/AP
Presidente Barack Obama afirma que uma intervenção militar na Líbia está sob análise
Presidente Barack Obama afirma que uma intervenção militar na Líbia está sob análise

"Quero dizer àqueles próximos [a Gaddafi] que depende deles tomar a decisão sobre como querem agir daqui por diante", assinalou Obama na Casa Branca, onde se reuniu com a primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard. "Terão de prestar contas por qualquer ato de violência que ocorrer."

Obama disse ainda que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) deve se reunir em Bruxelas para discutir uma reação à violência na Líbia, incluindo incursões militares.

"Enquanto isso, temos a Otan, com quem falamos, que está consultando em Bruxelas o amplo leque de potenciais opções, incluindo potenciais ações militares, como resposta à violência que continua acontecendo na Líbia", explicou Obama.

Mais cedo, o secretário-geral da aliança, Anders Fogh Rasmussen, exigiu uma transição rumo à democracia e advertiu que pode haver reação militar se Gaddafi continuar usando a força para conter a revolta popular.

"Se Gaddafi e suas forças militares continuarem atacando sistematicamente a população, não posso imaginar que a comunidade internacional fique somente olhando", disse Rasmussen, acrescentando: "Muita gente pelo mundo se verá tentada a dizer: 'façamos algo para deter este massacre''.

Rasmussen ressaltou, contudo, que a aliança não tem prevista nenhuma ação militar e só agira se for solicitada e contar com um mandato apropriado da ONU (Organização das Nações Unidas).

"A Otan não tem intenção de intervir, mas como organização de segurança nossa obrigação é fazer um planejamento prudente para qualquer eventualidade", explicou Rasmussen em entrevista coletiva.

Os analistas da Otan estão elaborando planos sobre possíveis cenários da revolta --o que inclui uma intervenção militar. "Temos de estar prontos para agir rapidamente", afirmou Rasmussen.

EXCLUSÃO AÉREA

Outra opção é aplicar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, ideia que alguns países tentam levar adiante para impedir os bombardeios da Força Aérea leal a Gaddafi.

A Otan já realizou duas missões de exclusão aérea na década de 1990, uma durante a guerra da Bósnia-Herzegovina e outra no conflito do Kosovo.

Rasmussen afirmou que essa ação requer um "amplo leque de recursos militares" e lembrou que a resolução sobre a Líbia aprovada por enquanto pelo Conselho de Segurança da ONU não prevê o uso da força.

Por outro lado, o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, confirmou nesta segunda-feira que o Reino Unido prepara um projeto de resolução na ONU sobre uma zona de exclusão aérea na Líbia. O projeto, que conta com apoio da França, Liga Árabe, e Estados Unidos, é rejeitado pela Rússia --que tem poder de veto no Conselho de Segurança.

"Estamos trabalhando estreitamente com nossos parceiros no Conselho de Segurança na eventualidade de uma zona de exclusão aérea", afirmou Hague, durante um comparecimento na Câmara dos Comuns, a câmara baixa do Parlamento britânico.

Um diplomata britânico na ONU confirmou que o projeto de resolução está sendo preparado para caso seja necessário, mas nenhuma decisão oficial foi tomada.

Rebeldes pediram à comunidade internacional que estabeleça uma zona de exclusão aérea no país para conter os bombardeios das Forças Aéreas de Gaddafi.

Respondendo às perguntas dos deputados, Hague assegurou que os rebeldes líbios "já pediram explicitamente uma zona de exclusão aérea", mas assinalou que a medida "deve estar sujeita a muitas condições".

"Deve haver uma necessidade demonstrável que todo mundo possa ver, deve haver uma base legal clara para esta zona de exclusão aérea e deve haver um apoio claro da região, do Oriente Médio, do Norte da África, assim como do próprio povo da Líbia", disse o ministro.

A medida ganhou nesta segunda-feira o apoio da Liga Árabe. O apoio do órgão, sempre muito resistente a qualquer tipo de intervenção, pode acabar com as reservas de alguns dos países membros do Conselho na hora de adotar a medida aprovada apenas duas vezes --no Iraque e na Bósnia.

Na Itália, o ministro de Relações Exteriores, Franco Frattini, revelou que mantém contato com os rebeldes líbios e confirmou a disponibilidade das bases italianas para a realização da intervenção --"com a condição de que esteja dentro da legitimidade internacional, segundo resolução do Conselho de Segurança da ONU".

Já a Rússia voltou a declarar nesta segunda-feira que é contra qualquer ingerência militar estrangeira na Líbia.

"Não consideramos a ingerência estrangeira, em especial militar, como um meio para resolver a crise na Líbia. Os líbios devem resolver seus problemas", declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo/Folha

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