Guerra civil na Líbia: Gaddafi retoma cidade no oeste após cerco de 5 dias, diz TV

Publicado em 08/03/2011 07:23


Onda de RevoltasAs forças leais ao ditador líbio Muammar Gaddafi conseguiram retomar a cidade de Zawiyah --localizada a apenas 50 quilômetros da capital Trípoli-- após mantê-la sitiada durante cinco dias, em um cerco que causou dezenas de mortes, informou nesta terça-feira a rede de televisão Al Jazeera.

A cidade, onde fica uma das mais importantes refinarias do país, foi castigada com fogo de artilharia e morteiros, além das incursões dos carros de combate, que foram rechaçados durante pelo menos três dias.

A comunicação com o interior da cidade foi perdida na noite do último domingo, após a telefonia celular e a energia elétrica terem sido cortadas, em uma cidade já sem reservas de munição, armas e alimentos.

As sucessivas tentativas das forças leais a Gaddafi de tomar a praça dos Mártires, onde os rebeldes empreenderam uma desesperada defesa, ocasionaram um "açougue", em palavras de alguns residentes pró-revolucionários ouvidos pela Al Jazeera.

CONFLITOS SANGRENTOS

A Força Aérea leal ao ditador líbio voltou a bombardear neste terça-feira a região do estratégico porto petroleiro de Ras Lanuf, leste do país, controlada pelos rebeldes, segundo informações da agência France Presse.

Na segunda-feira, além de ataques a Ras Lanuf, as forças governistas enfrentaram ainda os rebeldes em Bin Jawad, em um confronto que deixou ao menos 12 mortos, segundo fontes locais.

Os rebeldes disseram que se reagruparão com forças do oeste do país e trarão armas de grosso calibre para rebater a ofensiva dos últimos dias das forças de Gaddafi que impediram a marcha da oposição à capital Trípoli.

Mohamad Samir, coronel que luta ao lado dos rebeldes, disse à agência de notícias Associated Press que suas forças precisavam de reforço do oeste depois dos reveses de domingo. "As ordens são para ficar aqui e guardar a refinaria, porque o petróleo é o que faz o mundo girar", disse o rebelde Ali Suleiman, em um dos postos de checagem de Ras Lanuf.

Segundo as agências de notícias, as forças leais a Gaddafi lançaram ao menos dois ataques aéreos perto de Ras Lanuf --uma delas a dois quilômetros da cidade, no deserto. Não há relato de vítimas.

Uma das bombas caiu por volta das 10h45 (5h45 de Brasília) a poucos quilômetros de um posto de controle rebelde junto ao terminal petrolífero de Ras Lanuf, em uma zona desértica, aparentemente para amedrontar os rebeldes.

Os rebeldes tentaram atingir os caças, sem sucesso. Fontes rebeldes indicaram que outro avião havia lançado previamente uma bomba contra outra posição rebelde em Ras Lanuf, mas também caiu em uma zona desértica.

"Houve uma nave, ela lançou dois foguetes e não houve mortes", disse Mokhtar Dobrug, combatente rebelde em Ras Lanuf, confirmando que não houve vítimas.

As forças de Gaddafi já haviam bombardeado Ras Lanuf no domingo. A cidade é controlada pelos insurgentes desde sexta-feira, apesar da TV estatal ter proclamado na véspera a conquista da cidade pelas forças governistas.

Marco Longari/AFP
Rebeldes fazem sinal da vitória olhando para um avião que jogou bomba contra a cidade de Ras Lanuf
Rebeldes fazem sinal da vitória olhando para um avião que jogou bomba contra a cidade de Ras Lanuf

INTERVENÇÃO ESTRANGEIRA

Cresceu na segunda-feira no mundo a defesa de uma intervenção mais forte na Líbia. A Casa Branca afirmou que os Estados Unidos estudam, entre as muitas opções para lidar com a crise naquele país, armar os rebeldes que lutam contra forças leais ao ditador Muammar Gaddafi.

A afirmação foi feita após o presidente norte-americano, Barack Obama, e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) terem reconhecido com cautela, em mais um dia de intensos e violentos confrontos, que uma intervenção militar no país do norte da África não está descartada.

Na frente europeia, o Reino Unido confirmou que prepara um projeto de resolução na ONU (Organização das Nações Unidas) sobre uma zona de exclusão aérea no território líbio.

Em mais um sinal de intensificação da pressão sobre Gaddafi, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse que o governo americano se movimenta rapidamente para avaliar as opções, mas ressaltou que os EUA não querem se colocar à frente dos eventos. "A possibilidade de armar, fornecer armas, é uma das opções que estão sendo consideradas", afirmou.

Hussein Malla/AP
Rebelde empunhando várias munições de RPGs (lança-foguetes) em posto de verificação em Ras Lanuf
Rebelde empunhando várias munições de RPGs (lança-foguetes) em posto de verificação em Ras Lanuf

No entanto, o porta-voz do Departamento de Estado, P.J. Crowley, pareceu contradizer Carney ao afirmar que a resolução de 26 de fevereiro do Conselho de Segurança da ONU proíbe qualquer transferência de armas para a Líbia.

"Seria ilegal para os EUA fazerem isso", acrescentou Crowley. Perguntado se essa opção fica descartada, o porta-voz disse, "bom, não é uma opção legal".

Em seu texto, a resolução da ONU dirige-se à República Árabe Líbia Popular e Socialista, o que poderia ser identificado como um embargo de venda de armas ao governo do país, e não aos rebeldes.

Crowley, no entanto, rejeitou a brecha. "Eu entendo que a ONU impôs um embargo de armas à Líbia. Não é ao governo da Líbia. É à Líbia."

O governo Obama tem enfrentado críticas, principalmente de comentaristas republicanos e conservadores --mas até mesmo de membros de seu próprio Partido Democrata--, de ser muito cauteloso sobre a revolta na Líbia. Mas tem assinalado que não irá tomar decisões precipitadas que poderiam levar os EUA a uma nova guerra e dar combustível ao sentimento contrário ao país.

Um grande obstáculo é que autoridades americanas ainda estão tentando identificar os principais atores das forças anti-Gaddafi. Os objetivos desses grupos não são conhecidos e nem está claro se eles têm uma visão favorável aos EUA.

Carney disse que Washington está usando canais diplomáticos, assim como contatos na comunidade empresarial e em organizações não-governamentais, para reunir informações sobre a oposição rebelde.

"A opção de dar assistência militar é uma das que está na mesa, porque nenhuma opção foi removida da mesa", disse Carney. No entanto, ele afirmou que enviar tropas para a Líbia "não está no topo da lista neste momento".

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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1 comentário

  • Telmo Heinen Formosa - GO

    O que a imprensa não diz sobre a Libia: Em 1986 Ronald Reagan mandou bombardear a capital da Líbia. Em 15 de abril de 1986, Trípoli foi bombardeada por 13 modernos aviões dos EUA. O bombardeio terminou com a morte de Hanna, filha de Gaddafi, de 1 ano e 3 meses, e com outros dois filhos feridos. Hoje, o local ainda exibe os danos do bombardeio e a estátua foi erguida para relembrar o episódio. > Depois da Segunda Guerra do Golfo, Kadhafi começou a mudar sua política. Privatizou dezenas de empresas, aceitou a “receita” do FMI e abriu as fronteiras para as grandes empresas multinacionais. Começou neste momento a queda do país e a corrupção se alastrou! > Mas é preciso deixar de lado as notícias falsas da nossa imprensa e fazer uma reflexão sobre os acontecimentos na Líbia. Comparar a crise atual e o movimento oposicionista com o que aconteceu no Egito ou na Tunísia é desconhecer a realidade.

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