Embrapa: vence o bom senso; serviço continua e sai fortalecido

Publicado em 25/03/2011 08:04
Blogs Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes (Veja.com.br)

Muitos de vocês acompanharam o caso da extinção da área de Gestão Territorial Estratégica (GTE) da Embrapa Monitoramento por Satélite. Tinha sido decidida pelo senhor Mateus Batistella, diretor de pesquisas da empresa, presidida por Pedro Arraes, primo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Houve protestos de todo lado. Escrevi ontem um post em que denunciava o obscurantismo da medida e propunha que a GTE se transformasse num Serviço de Gestão Territorial Estratégica, sediado em Campinas, que não estivesse subordinado ao tal Battistela.

Pois bem. O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, reuniu-se ontem com Arraes. Fica o decidido pelo não-decidido, e ainda com sobrar a favor da boa causa. O GTE, conforme este bloguinho sugeriu, será mesmo um serviço independente, não-subordinado à diretoria de pesquisa, que queria extingui-lo. Cláudio Spadotto, que comandava o GTE e que tinha sido afastado, é quem vai implementar o novo serviço. A proposta original de Arraes era outra: um certo núcleo de gestão territorial, que ficaria sob o mando da chefia de pesquisa, sem nenhuma autonomia. Felizmente, Rossi fez a coisa certa.

Melhor assim! Mas não seria eu se não fizesse a seguinte observação: é claro que a Embrapa está com problemas de comando. Um serviço não é extinto num dia para ressurgir fortalecido no outro; o homem que vai agora comandá-lo tinha sido afastado havia pouco.  Que diabo de direção é essa, sujeita a tais rompantes de obscurantismo?

Por Reinaldo Azevedo

Não sei como se fazem salsichas, mas sei como se fazem algumas notícias

Certas notícias nos levam àquela expressão de uma brasileiro ilustre: “Ai, que preguiça!” . Maria Fernanda Ramos Coelho deixou a presidência da Caixa Econômica Federal. Vai ser a representante do Brasil no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), tadinha! Assume o comando da CEF Jorge Hereda, que tem o cargo de “Vice-Presidente de Governo” — nome esquisito, né? Achei que esse fosse o Michel Temer…  Não sei como se fazem salsichas, mas sei como se fazem algumas notícias.  Qual versão você escolhe, leitor?

Versão A
Dilma Rousseff, severa que é, decidiu trocar todo o comando da CEF depois do escândalo do Banco Panamericano, aquele que era do Sílvio Santos. Afinal, menos de um ano antes de a instituição quebrar, a CEF achou que o negócio era tão bom, e a instituição, tão sólida que comprou 49% das ações, ao custo de quase R$ 800 milhões. O resto da história vocês já conhecem.

Versão B
Há uma dança de cadeiras no primeiro escalão da CEF — em alguns casos, ficam os diretores, mas em novas funções. O sapo de fora é mesmo o ex-deputado Geddel Vieira Lima, do PMDB da Bahia. Opositor ferrenho de Lula no primeiro mandato, governista ferrenho no segundo, a ponto de ter virado ministro, resolveu disputar o governo da Bahia com Jaques Wagner (PT) e quebrou a cara. Dilma decidiu premiá-lo com a Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da instituição. Maria Fernanda não teria gostado e , então, pediu demissão.

Vamos fazer agora, leitor, alguns exercícios de escolha editorial.
Título A
“Depois de escândalo do Panamericano, Dilma muda presidência da Caixa”
 
Essa é a versão “dilmista” da notícia. Dá a entender que a presidente, durona como é, não perdoou aquela batatada.
TÍTULO B
Governo põe Geddel na CEF; presidente da instituição prefere ir para o BID”
 
Essa versão dá a entender que Maria Fernanda não gostou da nomeação, escandalosamente política.

Qual é a verdade?
Provavelmente, nem uma coisa nem outra. Escrevo isso por puro exercício de lógica.

Contestação A
Se o governo ficou bravo com a falta de apuro técnico — na melhor das hipóteses — que resultou na compra do Panamericano, não demonstraria seu amor pelo rigor dando emprego para Geddel.
Contestação B
Mesmo sem o aporte “intelectual” de Geddel, Maria Fernanda comandou aquela batatada da compra do Panamericano e não teria por que reclamar da eventual falta de expertise do político.

Por Reinaldo Azevedo

Se Erenice perdesse a cabeça, a de Dilma poderia ser servida na bandeja seguinte

Para quem vê as coisas como as coisas são, Erenice Guerra é uma militante do PT que, homiziada na cúpula do ministério mais importante da República, tratou de ganhar dinheiro sujo como gerente e coiteira da quadrilha formada por parentes. Ponto. Se fosse personagem de algum seriado policial da TV americana, já teria ouvido há muito tempo a leitura dos seus direitos pelo detetive que escalado para algemá-la pelas costas. Como Erenice existe no Brasil, aguarda em sossego a condenação à liberdade em última instância.

Enquanto contempla entre bocejos o ritual das sindicâncias de araque e das investigações simuladas, exerce o direito de ir e vir para circular por Brasília com a pose de quem foi convidada até para a confraternização de fim de governo dos ministros de Lula, até para a festa de posse de Dilma Rousseff. Talvez fosse mais discreta se o prontuário só registrasse o que fez em parceria com a família. Esbanja arrogância por confiar na força que vem das patifarias cometidas em parceria com Dilma Rousseff.

Em fevereiro de 2008, para desviar do Planalto os holofotes que iluminavam a farra dos cartões corporativos, o presidente Lula encomendou a Dilma um dossiê que transformasse Fernando Henrique e Ruth Cardoso no mais perdulário dos casais. A chefe da Casa Civil repassou o serviço à companheira que acumulava as funções de braço direito, melhor amiga e confidente. Pilhada em flagrante, Dilma negou a maternidade da sordidez. Se não for tratada com a devida gentileza, Erenice pode ser induzida a contar o que sabe. Ela tem temperamento esquentado, dizem os amigos.

Em outubro de 2008, a superassessora foi encarregada por Dilma de agendar uma conversa reservada com Lina Vieira, secretária da Receita Federal.  Em agosto de 2009, numa entrevista à Folha, Lina revelou que durante o encontro, ocorrido em 9 de outubro, foi pressionada para “agilizar” a auditoria em curso nas empresas da família Sarney. Tradução: convinha esquecer o caso. Como fez de conta que não entendeu a ordem de Dilma, foi demitida por honestidade. Dilma jurou que a conversa não houve.

Em mais de um depoimento, sem incorrer em qualquer contradição, Lina reproduziu o diálogo de alta voltagem, descreveu a cena do crime, até detalhou o figurino usado pela protetora de Fernando Sarney. Dilma continuou agarrada ao desmentido. Se lhe forem negadas as mesuras e atenções que tem recebido, Erenice pode sucumbir à tentação de contar o que sabe. Como no caso do dossiê contra Fernando Henrique e Ruth Cardoso, Dilma não resistiria à profusão de detalhes armazenados na memória da comparsa. E o país saberia que é governado por uma serial killer da verdade.

Esses cadáveres no armário comum transformaram Dilma Rousseff e Erenice Guerra em xifópagas morais. Não há como separá-las sem ameaçar a sobrevivência das duas. Se Erenice for decapitada, a  cabeça de Dilma poderá ser servida na bandeja seguinte. Proibida de afastar-se da cúmplice, instada a prorrogar por quatro anos a impunidade dos corruptos de estimação, a presidente terá de prosseguir a obra mais repulsiva de Lula: o esforço pela revogação definitiva da ética na política.

(do Blog Direto ao Ponto, de Augusto Nunes)


A fórmula usada no País do Carnaval pode resolver o problema do Brasil Maravilha

Feliz com a ideia de administrar o país assessorada por um bando de 40 ministros, Dilma Rousseff certamente ficou aflita com o falatório de Gilberto Kassab na festa de batizado do PSD: é conversa de quem está pronto para reivindicar uma vaga no primeiro escalão. Recusar o pedido é difícil: até o PCdoB joga nesse time. Aceitá-lo é ultrapassar o número cabalístico, além de aguçar o apetite do PMDB e do PT. Como resolver o problema?

Com a adaptação da fórmula usada no País do Carnaval, responde a coluna em dia de oposição propositiva. As escolas de samba que desfilam na Sapucaí são distribuídas por grupos, cuja composição muda a cada ano ano: umas sobem, outras descem. O primeiro escalão de Dilma seria dividido em dois: haveria um Grupo de Elite e um Grupo de Acesso, ambos com 40 integrantes. O grupo principal juntaria os ministérios e as secretarias especiais já existentes ou em gestação, todas promovidas por decreto a ministérios.

O segundo grupo reuniria 40 novas secretarias especiais, comandadas não por um chefe com status de ministro”, mas por um secretário de Estado. Em dezembro, um corpo de jurados independentes trataria de avaliar a performance dos 80 pais-da-pátria. O pior ministério do Grupo de Elite seria rebaixado a secretaria especial. O menos bisonho do Grupo de Acesso viraria ministro.

Neste momento, por exemplo, estaria entre os fortes candidatos ao rebaixamento a ministra da Pesca, Ideli Salvatti, que não sabe a diferença entre uma tainha e um tamanduá. Também são consideráveis as chances do ministro do Turismo, Pedro Novaes, abalroado pela constatação de que o número de estrangeiros que visitaram a República Dominicana superou em 100% os forasteiros que deram as caras por aqui.

A proposta precisa ser enriquecida com uma lista das 40 novas secretarias indispensáveis, pelos critérios do governo, ao aperfeiçoamento do país que Lula fundou. Algumas sugestões já foram enviadas por amigos da coluna. Sellba sugeriu a criação da Secretaria Especial dos Descendentes dos Indios Goitacazes e da Secretaria Especial dos Criadores de Girinos. Tô Vendo Tudo acha que falta uma Secretaria Especial de Caça às Muriçocas. Paulo Henrique pensou numa Secretaria Especial de Insuficiência de Cargos (SEIC), com a missão de “avaliar a necessidade necessária de cargos públicos para a promoção dos não-eleitos”.

A lista completa fica por conta de vocês. O timaço de comentaristas saberá desincumbir-se da missão com a competência de sempre.

Uma lição de Obama a Lula e Dilma

Nos dois dias de visita ao Brasil, Barack Obama não disse em nenhum momento que é o primeiro negro a tornar-se presidente dos Estados Unidos. Nenhum. Discursou mais de uma vez, concedeu entrevistas, teve encontros formais, conversou informalmente com autoridades ou gente do povo ─ sem fazer uma só menção ao fato histórico.

Se Lula e Dilma Rousseff assimilarem a lição, se ele parar de contar a cada palavrório a história do operário que virou presidente e ela deixar de repetir de meia em meia hora que nunca antes neste país houve uma mulher na Presidência da República, milhões de brasileiros vão considerar a viagem de Obama uma das mais produtivas de todos os tempos.

Os 40 do mensalão e o ministério dos 40

Composto por 37 ministros de Estado e chefes de secretarias especiais com status de ministro, o mamute federal acaba de engordar mais algumas arrobas. Neste fim de semana, a presidente Dilma Rousseff anunciou a criação da Secretaria Especial de Aviação Civil. O comandante da inutilidade burocrática, ainda não escolhido oficialmente, será  o 38° ministro. E há mais dois a caminho.

O governo americano, por exemplo, funciona muito bem com 15 secretarias de Estado. Na China, onde os tentáculos do polvo estatal alcançam até o botequim da esquina, os ministérios são 27. O Brasil tem o mais obeso primeiro escalão do planeta, mas Dilma acha que é pouco. Além do pai-da-pátria que vai administrar o tráfego aéreo, decidiu que o time bisonho precisa de um ministro das Pequenas e Médias Empresas e um chefe (com status de ministro) da Secretaria Especial de Irrigação. Ambos entrarão em campo até junho.

Como entender uma presidente que, enquanto promete cortar R$ 50 bilhões do Orçamento, aumenta a gastança com invencionices perdulárias? Por que não encarrega o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio de cuidar das pequenas e médias empresas? Por que não deixa a Aviação Civil por conta de um Ministério dos Transportes que funcione? Por que não inclui a irrigação entre as atribuições do Ministério da Agricultura?

Além da necessidade de arranjar emprego para sócios insaciáveis, a explicação talvez esteja no número cabalístico. A maior (e mais voraz) das quadrilhas federais, desbaratada em junho de 2005, juntou os 40 do mensalão. Em junho deste ano, o maior (e pior) dos ministérios da história republicana terá chegado a 40 integrantes. No Brasil que Lula inventou e Dilma preside, o bando ideal tem esse tamanho porque 40 é muito mais que uma cifra. É cicatriz, estigma, marca de nascença e destino.

(por Augusto Nunes).





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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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