CONSUMISMO INCONSEQUENTE, por Rogério Arioli

Publicado em 01/04/2011 18:15 e atualizado em 09/03/2020 21:29

Um problema muitas vezes negligenciado quando a discussão envereda para a preservação ambiental diz respeito ao crescimento populacional e ao nível de consumo já atingido por algumas sociedades hodiernas.Malthus em sua teoria formulada em 1798 antecipou alguns destes desastrosos efeitos.Embora talvez tenha subestimado a capacidade de aumento da produção de alimentos em relação ao aumento populacional, creditando a este uma progressão geométrica e àquela uma progressão aritmética a teoria malthusiana foi certeira ao alertar a possível incapacidade de fazer-se frente às demandas alimentares do excesso demográfico.

Em trabalho divulgado ano passado, a Global Footprint Network divulgou os dados mais recentes do que se convencionou chamar de “pegada ecológica” da humanidade. Este novo conceito refere-se à medição das quantidades de terra e água, em termos de hectares globais (gha), que seriam necessários para sustentar os atuais consumos das populações.Segundo a GFN no ano de 2007 a pegada ecológica da humanidade atingiu 2,7 hectares globais (gha).Isto significa que para uma população mundial de 6,7 bilhões de pessoas (2007) seriam necessários 18,1 bilhões de gha.Acontece que o planeta Terra possui apenas 13,4 bilhões de gha de terra e água consideradas produtivas do ponto de vista biológico.Conclui-se, portanto, que já ultrapassamos em praticamente 50% a capacidade de regeneração do planeta.

Não bastasse essa péssima notícia, observa-se ainda que o padrão de consumo dos diferentes países se mostra extremamente desequilibrado.Canadá e Estados Unidos, por exemplo, possuem uma pegada ecológica de 7,9 gha o que significa que no atual padrão de consumo o planeta suportaria, de maneira sustentável, uma população de apenas 1,7 bilhões de pessoas.A pegada européia, embora menor, (4,7 gha) possibilitaria a presença de apenas 2,9 bilhões de pessoas consumindo. Por outro lado, o continente africano possui uma pegada de apenas 1,4 gha, ou seja, a Terra suportaria 9,6 bilhões de pessoas com este pífio consumo.

O consumo latino americano também já exacerba os limites aceitáveis atingindo 2,7 gha o que permitiria a sobrevivência sustentável de apenas 5,2 bilhões de pessoas.O mais preocupante, no entanto, diz respeito ao cenário desenhado para o ano de 2030, a manter-se os atuais níveis de consumo: serão necessárias duas Terras para suprir tal demanda.

Como existe apenas uma, e a maioria dos cientistas afirma que a possibilidade de encontrarmos um planeta com as mesmas características que proporcionaram a vida terrestre é ínfima, precisamos de maneira urgente modificar esta realidade.Para que isto ocorra duas atitudes são imperiosas: a diminuição dos atuais níveis de consumo e o controle populacional.

São duas decisões extremamente polêmicas que certamente provocarão reações diversas aos atingidos.O controle populacional envolve aspectos religiosos e atinge as chamadas liberdades individuais.A diminuição do consumo, ou pelo menos o compromisso de adotar-se um consumo mais responsável, afeta diretamente os países ricos, justamente aqueles que já esgotaram boa parte dos seus recursos naturais e agora se mobilizam para dificultar que os menos aquinhoados usufruam das suas próprias potencialidades.

Neste cenário, é fundamental que as sociedades possuidoras de maiores níveis de consumo assumam uma postura comprometida com práticas que levem em consideração o esgotamento dos recursos naturais e o provável e necessário incremento da dieta alimentar dos países pobres.

A agricultura moderna tem cumprido de maneira extremamente eficaz seu papel, aumentando os níveis de produtividade (produção por área) a cada ano que passa.O Brasil, através da pesquisa, tecnologia e eficiência no campo obteve um acréscimo de 68% da produtividade na cultura da soja em apenas 25 anos (1984 a 2008), o que gerou uma economia de milhares de hectares de terras.

De qualquer modo, a despeito do aumento da produtividade das culturas, atitudes precisam ser tomadas rapidamente, mesmo que isto cause polêmica e indignação por parte de setores mais conservadores, pois a persistir esta equação de crescimento populacional e consumo irresponsável, haverá um provável comprometimento da qualidade de vida das futuras gerações.

 

Rogério Arioli Silva

                                                           Engº Agrº e Produtor Rural

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Fonte:
Sind. Rural de CNP

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