Mantega diz que não pode usar 'bomba nuclear' para inflação

Publicado em 15/04/2011 07:08 e atualizado em 15/04/2011 10:00
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu nesta quinta-feira o acerto da estratégia do governo para mitigar a valorização do real, mas admitiu que combinar isso com o combate a inflação é difícil.

Mantega negou que esteja tomando medidas em "conta-gotas" e falou que um exagero poderia ser danoso. "Você não explode uma bomba nuclear porque se não os efeitos colaterais são piores que a medida em si", disse à Reuters antes das reuniões do G20 e do Fundo Monetário Internacional. 'Temos tomado medidas severas.'

As declarações vêm num momento em que os índices de inflação se aproximam do teto da meta fixada pelo Banco Central para 2011, de 6,5%, enquanto o dólar segue numa trajetória cadente frente ao real.

Segundo o ministro, sem as medidas tomadas pelo governo no câmbio, o dólar poderia estar agora entre R$ 1,35 e R$ 1,40 --nesta quinta, a moeda norte-americana fechou a R$ 1,580.

"Não é fácil conseguir conter a inflação, o que significa aumentar os juros, e ao mesmo tempo tomar medidas para conter a valorização do real", disse o ministro. "Mas acho que temos conseguido."

Na semana passada, o governo dobrou para 3% a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) incidente nas operações de crédito ao consumo, em mais um esforço para tentar desacelerar a economia.

Em dezembro, o BC havia adotado medidas macroprudencias com o mesmo objetivo. Segundo Mantega, elas estão funcionando. Em outra frente, o BC elevou o juro básico em 1 ponto percentual. Na semana que vem, os diretores do órgão devem adotar um aumento entre 0,25 e 0,5, segundo estimativa do mercado.

O receio do governo e de vários economistas é de que juro mais alto intensifique a entrada de dólares no país que tem valorizado o real e prejudicado setores da economia brasileira.

De acordo com Mantega, é preferível aumentar a taxação sobre a entrada de dólares do que impor restrições mais severas, como uma quarentena. Ele disse que o Brasil continua querendo capital de longo prazo.

"Quando você cobra IOF, está simulando a mesma coisa. Preferimos fazer com taxação do que fazer com quarentena. Mas dá mais ou menos na mesma", afirmou.

O ministro disse ainda que o Brasil não aceitará qualquer restrição à capacidade de impor controles de capital que ameacem prejudicar a economia do país.

Metas para 2012

Mantega adiantou que o governo pretende estabelecer o equivalente a 3% do PIB (Produto Interno Bruto) como meta de superavit primário em 2012, dentro da expectativa de que a economia se expanda em 5 por cento no período.

Na sexta-feira, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, falará sobre o Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2012, encaminhado ao Congresso Nacional.

O ministro ainda voltou a criticar a política de juros baixos praticada por países desenvolvidos que, segundo ele, contribuem para a especulação com as commodities, cuja alta é um dos motores da inflação global.

"Economist" alerta para eventual desaceleração em economias emergentes

Ainda que venham se beneficiando de uma situação econômica favorável, as grandes economias emergentes, como China, Brasil e Índia, devem ficar alertas para uma possível desaceleração brusca, segundo uma reportagem publicada na quinta-feira pela revista britânica The Economist.

"A crise econômica pode ter sido severa para o mundo rico, mas para as economias emergentes ela foi quase um triunfo. (...) Se projeções de crescimento futuro para as economias emergentes parecem auspiciosas, porém, a história aconselha cautela", diz a revista.

De acordo com a Economist, uma economia emergente tem a vantagem de poder usar ideias e tecnologias bem-sucedidas de países ricos para crescer. No entanto, quando atinge um nível de desenvolvimento próximo ao das economias avançadas, "precisa começar a inovar por conta própria".

A revista diz que, então, o crescimento econômico pode desacelerar, como ocorreu na Europa Ocidental e nos Tigres Asiáticos, ou sofrer uma queda brusca, como na América Latina nos anos 1990. Como as economias emergentes têm sido o motor do crescimento global, afirma a Economist, resta saber quando o limite delas será alcançado.

A publicação cita um estudo em que pesquisadores da Universidade da California, do Banco de Desenvolvimento Asiático e da Universidade da Coreia examinaram dados econômicos desde 1957 numa tentativa de identificar potenciais sinais alarmantes.

"O que surge é uma estimativa de um limiar crítico: em média, a desaceleração do crescimento ocorre quando o PIB per capita atinge cerca de US$ 16.740 em paridade do poder de compra. A taxa média de crescimento então cai de 5,6% ao ano para 2,1%."

O veloz crescimento da China, diz a revista, indica que ela deverá alcançar o limiar em 2015, "bem antes de Brasil e Índia".

"Dada a longa lista de fatores de ricso da economia chinesa - incluindo uma população mais velha, baixos níveis de consumo e uma moeda substancialmente subvalorizada - os autores sugerem que as chances de uma desaceleração são maiores do que 70%."

A Economist pondera: diz que o FMI prevê taxas de crescimento para a China acima de 9% até 2016 e que uma desaceleração para entre 7% e 8% não soa assustadora.

"Mas experiências passadas indicam que desacelerações são frequentemente acompanhadas por crises", diz a revista, que aconselha "reformas estruturais para ajudar a amortecer os efeitos de uma desaceleração".

"Seria sensato para a China buscar essas reformas durante os anos gordos, e não nos magros que, eventualmente, virão".

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Fonte:
Reuters/Folha de S. Paulo

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