Epidemia em morcegos já afeta agricultura nos EUA

Publicado em 18/04/2011 07:28
Um grupo de pesquisadores alertou para os riscos que uma doença fatal representa para os morcegos e como isso ameaça não apenas os animais, mas também a agricultura dos Estados Unidos, algo que consumidores e agricultores em grande parte ignoram.

Ao comer insetos que se alimentam das plantações, os morcegos trazem economia nos custos com controle de pragas de pelo menos US$ 3,7 bilhões por ano aos agricultores americanos. Esse reforço natural pode estar ameaçado pela doença que matou mais de 1 milhão de morcegos no Nordeste do país e agora se espalha pelo Meio-Oeste, segundo estudo dos pesquisadores, publicado na revista científica "Science". Os pesquisadores e outras pessoas temem que a doença também possa acabar chegando a áreas de cultivo de frutas e vegetais na região Oeste.

"Quase diariamente, nos perguntam por que deveríamos nos importar com os morcegos", disse um dos autores do estudo, o biólogo Paul Cryan, da Agência de Inspeção Geológica dos EUA (USGS, na sigla em inglês). "Sentimos que não há muito tempo para divulgar que os morcegos são importantes e por que são importantes".

A síndrome do nariz branco devastou populações de espécies migratórias do animal, como o pequeno morcego marrom, no Nordeste dos EUA, desde que foi descoberta em Nova York, em 2006. Desde então, o fungo que causa a doença disseminou-se em direção sul e oeste, chegando a 16 Estados e partes do Canadá. Mais de 1 milhão de morcegos morreram, segundo o Serviço de Vida Selvagem e Peixes dos EUA (FWS, em inglês).

Nos Estados do Norte, como Nova York, no entanto, a agricultura é bem menos relevante do que no Meio-Oeste. Apenas em março, a doença foi encontrada em Ohio, Estado que é um dos maiores produtores de soja e milho do país. Recentemente, também apareceu em Indiana - outro grande produtor de soja e milho - e há suspeitas de casos no Missouri. A síndrome do nariz branco também foi encontrada neste ano na Carolina do Norte, um grande Estado agrícola, na região Sul dos Estados Unidos.

Há anos, produtores de orgânicos e agricultores da Costa Leste falam sobre a eficiência dos morcegos no controle de pragas.

Cryan e outros pesquisadores começaram a mensurar esse benefício há algum tempo, tarefa considerada muito complicada. Começaram analisando quais insetos os morcegos comem nas áreas de cultivo de algodão na área do centro-sul do Texas. Estavam particularmente interessados em descobrir se os morcegos comiam as lagartas-das-maçãs (que atacam o algodão). Descobriram que as comiam - e muito. No geral, cada morcego come até 8 gramas (o peso de duas uvas) de insetos por noite. Pesquisas anteriores publicadas na "Science" indicaram que os morcegos no Meio-Oeste comem várias pragas, como o percevejo-fedorento, larvas de raízes e muitos outros.

A partir do grau de consumo encontrado no Texas, os autores calculam que os morcegos trazem economia de US$ 12 a US$ 173 por acre por ano em custos de pesticida, dependendo da cultura, pesticidas usados e outros fatores.

Os pesquisadores consideram conservadora a estimativa de US$ 3,7 bilhões, mas preveem encontrar certo ceticismo quanto aos números. "Achamos que algumas pessoas vão discordar dos detalhes disso e esperamos que isso inicie uma discussão científica mais amplo", disse Cryan. Ele e seus colegas também destacaram que, em menor grau, estão preocupados com os morcegos que morrem por turbinas eólicas geradoras de eletricidade, particularmente, porque o Meio-Oeste, plano e com muitos ventos, possui muitas.

Phil Nixon, insetologista da University of Illinois, trabalha com agricultores de milho e soja na proteção de colheitas e compartilha as preocupações dos autores com os morcegos e a síndrome do nariz branco. Ele apenas não tem certeza se os morcegos poderiam comer o suficiente para reduzir as várias pragas encontradas em milhões de hectares de milho, soja e trigo no Meio-Oeste. "Tenho certeza de que tudo é impactado pela alimentação dos morcegos, mas é difícil dizer até que ponto", disse Nixon. "Meu palpite é que é relativamente pequeno".

Mas os morcegos já desempenham papel significativo na redução de pragas em algumas culturas no Oeste. A insetologista Rachael Freeman Long, da University of California Extension Service, trabalha com vários agricultores na área central da Califórnia, de colheitas como nozes, que penduram casas de morcego para atrair e manter os animais.

"Os agricultores adoram seus morcegos nessa área", diz Long. "Quando você vai até a propriedade e fala com os agricultores, a ideia eles é que cada praga que um morcego come é uma a menos com a qual eles terão de lidar".

Bob Borchard é um desses agricultores. Ele diz ter, com o irmão, cerca de 20 casas de morcego espalhadas por seus 162 hectares de nogueiras, perto de Winters, Califórnia, especialmente, para livrar-se de um tipo de traça. "Eles fazem um trabalho realmente bom", diz Borchard, explicando que os morcegos dão conta da maior parte de suas necessidades de controle de pragas. "É cerca de 80%."

Ninguém sabe com que velocidade a síndrome do nariz branco poderia disseminar-se pelo Meio-Oeste, segundo Cryan e outro dos pesquisadores, Gary McCracken, ou se a doença acabara chegando à região Oeste. Mas eles temem que, tendo em vista a rapidez com que se espalhou até agora, a doença possa reduzir drasticamente populações de morcegos em apenas quatro ou cinco anos - e obrigar os agricultores a pulverizar bem mais pesticidas do que atualmente.

Até agora, a doença "não chegou realmente ao cinturão agrícola, por assim dizer", afirmou Gary McCracken, que é professor de economia e biologia evolucionista na University of Tennessee.

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Fonte:
Valor Econômico

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