Clima e dólar guiam preços das commodities

Publicado em 29/04/2011 07:10
Ainda que continuem a apresentar fundamentos de oferta e demanda em geral altistas, as principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior encontraram mais resistências para ampliar a escalada em abril e poderão perder alguma sustentação nos próximos meses caso o dólar de fato reverta sua tendência de queda em relação a outras moedas, como aparentemente começam a considerar autoridades americanas.

Referenciadas nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão), essas commodities são bastante sensíveis às oscilações do dólar, que tiram ou reforçam a competitividade dos próprios produtos americanos no exterior. Nesse contexto, o dólar fraco ajudou a fortalecer as cotações das commodities, da mesma forma que sua recuperação pode gerar o efeito contrário.

Ainda que tenha colaborado para impulsionar as exportações americanas, o risco de a deterioração da moeda se acelerar é encarada pelo Tesouro e pelo Fed, o banco central dos EUA, como um problema. Daí a possibilidade de que sejam adotadas medidas para fortalecê-la.
O dólar fraco, aliado às baixas taxas de juros em países desenvolvidos importantes, tirou a atratividade de algumas aplicações, incentivando a migração de investimentos para commodities com robusta demanda global, puxada por emergentes. Esse movimento, que elevou a liquidez nos mercados agrícolas, tornando-o mais interessante aos grandes fundos, também poderá ser afetado com uma eventual reação da moeda americana - mas, nesse caso, os fundamentos agrícolas poderão evitar uma debandada.

Como a demanda global por alimentos tende a continuar firme, é do lado da oferta que estão as incertezas que mantêm viva a influência dos fundamentos na formação de preços nesse momento. O milho, negociado na bolsa de Chicago, foi o melhor exemplo desse peso em abril. É verdade que os preços despencaram ontem em decorrência da melhora das condições climáticas para o plantio da safra 2011/12 nos EUA, mas foram as adversidades que já atrasaram a semeadura do grão no país que garantiram um mês de valorização.

Cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) mostram que o bushel do milho alcançou, em abril (até ontem), o valor médio de US$ 7,5982, 10,07% superior ao registrado em março. Com o salto, a alta em relação à média de dezembro de 2010 chegou a 27,42% e na comparação com a média de abril do ano passado atingiu expressivos 108,84%.

Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja, observa que os problemas climáticos americanos - muita umidade no norte e pouca no sul - afetaram mais o milho porque o plantio do cereal normalmente começa antes do da soja nos EUA. Mas, como tudo indica que também haverá atraso na soja, ele prevê um mês de maio de sustentação para as cotações da oleaginosa, o carro-chefe do agronegócio brasileiro. Em abril, o preço médio da soja em Chicago foi 0,55% superior ao de março. No trigo, também suscetível ao "weather market", o ganho foi de 6,31%.

No que tange às preocupações inflacionárias globais e domésticas, o trio negociado em Chicago é acompanhado com especial atenção por servir de base para alimentação humana e animal. Mas não só. A multinacional Unilever, por exemplo, divulgou um plano para cortar custos porque seus gastos globais com commodities, incluindo óleos vegetais, aumentarão de 14% a 16%.

Nessa frente, o índice de preços de exportação do Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) não serve de alento. Levando-se em conta uma base 100 fixada em janeiro de 2000, o indicador alcançou 293 pontos em 22 de abril, ante os 191 pontos do mesmo período do ano passado. Na mesma comparação, o índice do trigo americano sobe de 179 para 373 pontos, o do milho vai de 163 para 314 e o da soja americana passa de 372 para 509 pontos. Os três seguem com estoques globais magros e demanda superior à produção nesta safra 2011/12, também conforme o IGC.

Em Nova York, apenas o café subiu, "ajudado" pelas chuvas na Colômbia. Açúcar, algodão, suco e cacau recuaram. Mas todas as chamadas "soft commodities" apresentam altas nos últimos 12 meses, de 1,39% (cacau) a 114,03% (algodão).
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Fonte:
Valor Econômico

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