Bancos Centrais temem risco de estouro de nova bolha de commodities

Publicado em 09/05/2011 08:09 e atualizado em 09/05/2011 15:33
Autoridades monetárias alertam que o impacto do ajuste de preços seria mais sentido pelas economias exportadoras de matérias-primas, como o Brasil


Xerifes das finanças internacional temem que a correção nos preços de matérias primas possa ser um primeiro e perigoso sinal de possível estouro de uma bolha de commodities, o que representaria risco para a recuperação da economia mundial, além de escancarar à atuação de especuladores nos mercado de energia e alimentos. Essa é a avaliação de alguns dos principais Bancos Centrais do mundo que começaram ontem na Basileia avaliação da situação da economia mundial.
No final da semana passada, uma correção no mercado de commodities afetou preços de uma gama de produtos, do cobre ao algodão. O petróleo registrou a maior queda em termos absolutos da história. Em apenas um dia, o barril perdeu US$ 12,00. Na semana, a prata perdeu 30% de seu valor, na maior queda em quase 30 anos. O Financial Times chegou a classificar a queda de "épica" e, entre alguns representantes de BCs, a ordem é de manter vigilância total em relação aos acontecimentos diante do que poderia ser mais uma bolha.

Para alguns, a ameaça de " pouso forçado" existe em relação ao comportamento do mercado de commodities. O impacto seria sentido, acima de tudo, em economias exportadoras de matérias-primas. Segundo dados do Instituto de Finanças Internacionais, foram os altos preços de commodities que promoveram uma recuperação rápida na América Latina após a crise de 2009. A entidade, que representa os bancos privados, aponta que as commodities representam hoje 50% das exportações da região.

Fechada. A reunião na Basileia ocorre a portas fechadas e os presidente das instituições são orientados a não revelar o conteúdo das conversas. "Não posso falar nada", disse o presidente do BC chileno, José de Gregório. O Chile vinha sustentando parte de sua expansão na alta dos preços de cobre. A reunião ainda conta com representantes do Fed, Alexandre Tombini, presidente do BC brasileiro, e Jean Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu.

Apesar do caráter sigiloso do encontro, um dos presidentes de BCs sinalizou que a volatilidade dos preços de commodities e os primeiros sinais de que haveria uma bolha formada é uma das maiores preocupações de todos. A volatilidade dos preços seria uma incerteza considerada como "alarmantes" para a economia mundial em 2011.

"Há um temor muito grande de que podemos estar vivendo o início da explosão de uma bolha", diz o dirigente de país exportador de petróleo. "O que vimos na semana passada é que o preço de commodities é, em grande parte, fruto de especuladores e não só da demanda China e Índia".

Alguns dos BCs não acreditam no argumento do mercado de que a correção ocorreu por conta da espectativa de dados menos otimista de recuperação da economia americana. "Nenhum dado nos EUA justificaria correção do tamanho que vimos", relatou representante de um BC latino-americano.

A previsão pessimista não faz parte nem dos cenários do BC brasileiro e nem de empresas como a Goldman Sachs.


Emergentes são cobrados pela inflação

Bancos centrais dos países ricos exigem das nações em desenvolvimento providências para segurar os preços, para que possam voltar a crescer



BASILEIA - A pior crise financeira nos últimos 70 anos eclodiu nos países ricos. Mas agora esses governos cobram, justamente das economias em desenvolvimento, um abandono de políticas de estímulo ao crescimento, elevação de taxas de juros e cortes de gastos. Tudo para permitir que os países ricos, que patinam para sair da crise, evitem a "importação da inflação" e possam apresentar crescimento sustentável.

A cobrança é feita pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), alertando que a inflação nos países emergentes ameaça a recuperação da economia mundial, mas abrindo um racha entre emergentes e ricos. O BIS (o banco central dos bancos centrais) reúne na Basileia, na Suíça, autoridades monetárias do mundo, entre elas Alexandre Tombini, presidente do BC brasileiro.

A cobrança irritou representantes dos emergentes e alguns ironizaram o alerta como mais uma tentativa de transferir aos mercados em desenvolvimento a responsabilidade por tirar a economia mundial da incerteza.

O BIS estima que o impacto da alta nos preços se transformou em uma realidade para a grande maioria dos países emergentes. Mas seu efeito tem ido além, com prejuízos para a recuperação da Europa, Estados Unidos e Japão. Dos 21 BCs no mundo que têm metas de inflação, oito já a estouraram, entre eles a zona do euro, Reino Unido, Turquia, Chile e a própria Nova Zelândia, onde ideia das metas foi criada. Apenas Suíça e Noruega estão com inflação sob o centro da meta.

Contagio. O crescimento da demanda por commodities nos países emergentes teria levado a um aumento dos preços desses produtos. Essa alta também é sentida onde não há ainda crescimento sólido das economias. Como consequências, regiões como a Europa tem, ao mesmo tempo, dificuldades para crescer e ameaças de inflação.

Com recuperação ainda tímida, europeus e americanos não teriam espaço para elevar taxas de juros para conter os preços, sob o risco de matar prematuramente a recuperação. O BIS acredita que não há certezas ainda sobre a retomada dos mercados maduros.

Na zona do euro, a inflação já superou a meta estabelecido pelo BC europeu. Mas a região pena para crescer. Na Europa, o BC optou por não elevar os juros para não abafar a retomada.

Brasil. Para o BIS, emergentes precisariam tomar duas ações: continuar a elevar os juros e, ao mesmo tempo, cortar os gastos públicos para desaquecer suas economias.

No caso do Brasil, a estimativa é a de que o País também terá de seguir com sua política de elevação de taxas de juros e corte de gastos. Mas o BIS optou por destacar o trabalho do BC como um exemplo de autoridade monetária que estaria focada no esforço de reduzir a inflação. Na semana passada, a inflação do País estourou a meta de 6,5%.

Inflação oficial em 12 meses já ultrapassa meta do governo

IPCA em abril subiu 0,77%, ligeira queda ante março, que teve alta de 0,79%; em 12 meses, inflação acumulada é de 6,51%


RIO - A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ultrapassou o teto da meta do governo(de 6,5% para 12 meses) e registrou aumento acumulado de 6,51% em abril. Fechou o mês com alta de 0,77%, ante avanço de 0,79% em março, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou dentro do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções, que iam de 0,66% a 0,91%, com mediana de 0,85%.

A alta de 0,77% foi a maior para o mês de abril desde 2005. A taxa de 12 meses, de 6,51%, também foi a maior registrada desde julho de 2005, segundo o IBGE. "Mas o nível da inflação ficou mantido. A gente pode dizer que a diferença foi pequena, quase irrisória e (o índice) se manteve perto de 0,80%, como ocorreu também em janeiro e em fevereiro. O número permaneceu estável", disse a coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos.

Com o resultado anunciado hoje, o desempenho do IPCA em 12 meses até abril supera o teto da meta inflacionária para este ano, de 6,5%, e se posiciona dentro do intervalo das projeções dos analistas para este período (de 6,39% a 6,65%), com mediana muito próxima dos 6,60%. A partir das estimativas para a taxa mensal do IPCA de abril, o AE Projeções calculou o intervalo para o resultado em 12 meses do indicador.

Os preços de artigos de vestuário foram responsáveis pela segunda maior variação no IPCA. A alta do grupo Vestuário foi de 1,42% em abril, ante 0,56% em março. Quase todos os itens do grupo apresentaram variações expressivas, com destaque para roupas infantis, que subiram 1,97% no mês.

"O aumento explica-se pela entrada da nova coleção no mercado e pelo aumento no preço do algodão, embora o setor venha adotando muitas peças de material sintético", explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE. O grupo Vestuário foi responsável por uma alta de 0,09 ponto porcentual no IPCA de abril. (Daniela Amorim)

O IPCA é o índice oficial utilizado pelo Banco Central para cumprir o regime de metas de inflação, determinado pelo Conselho Monetário Nacional. Até abril, o indicador acumula alta de 3,23% no ano.

INPC

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 0,72% em abril ante alta de 0,66% em março, segundo dados divulgados há pouco pelo IBGE. Com o resultado, até o mês passado, o índice acumula altas de 2,89% no ano e de 6,30% em 12 meses.

O INPC mede a variação dos preços para as famílias de renda de um a seis salários mínimos e chefiadas por assalariados.

Construção civil

O Índice Nacional da Construção Civil (INCC/Sinapi), divulgado hoje pelo IBGE, variou 0,48% em abril, ante 0,52% em março. No ano, a alta é de 1,67%. O índice acumulado em 12 meses está em 7%, acima dos 6,88% registrados em igual período imediatamente anterior.

Segundo o IBGE, o custo nacional da construção alcançou R$ 779,18 por metro quadrado em abril, acima dos R$ 775,43 estimados em março. A parcela dos materiais variou 0,24%, enquanto o custo da mão de obra desacelerou para 0,80% em abril, ante 0,98% apurado em março.

Indicador de difusão

O indicador de difusão do IPCA de abril atingiu o nível de 59,38%, de acordo com cálculo realizado pela Rosenberg & Associados. O resultado do indicador de difusão, que representa o porcentual de preços de itens em alta do IPCA, ficou abaixo do nível de 68,23% registrado no IPCA de março e do de 62,76% do IPCA-15 de abril.

Vilões

As refeições fora de casa, a gasolina e a carne estão entre os principais responsáveis pela alta de 6,51% acumulada pelo IPCA nos últimos 12 meses até abril. No período, as refeições fora de casa acumulam alta de 12,66%, enquanto a gasolina registra avanço de 11,68%, e as carnes subiram 20,33%. O impacto destes itens no IPCA dos últimos 12 meses é de 0,55 ponto porcentual, 0,47 pp e 0,44 pp, respectivamente, segundo o IBGE.

Sobre o aumento da gasolina, a coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, disse que há influência da alta do etanol, sobretudo em 2011.

"A frota brasileira de automóveis do tipo flex aumentou muito nos últimos tempos, então a demanda por etanol também subiu muito. Como estamos num período de entressafra da cana-de-açúcar, o álcool está mais caro. Então, o consumidor vai preferir colocar gasolina, pressionando também os preços da gasolina", explicou Eulina.

Mais inflação, menos crescimento


por Carlos Alberto Sardenberg - O Estado de S.Paulo

"Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam (em março) que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza de que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano."

Assim a presidente Dilma Rousseff definiu seus objetivos econômicos em entrevista à jornalista Claudia Safatle, ainda em março. A presidente também garantia: "E também não acho que a inflação no Brasil seja de demanda".

Juntando isso com as manifestações de membros da equipe econômica, o novo governo passava o seguinte recado: certo, vamos ter de novo inflação acima da meta - em torno dos 5% -, mas menor do que a do ano passado. E, sobretudo, não vamos derrubar o crescimento econômico nem cortar investimentos importantes.

Na sexta-feira passada saiu o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, que jogou a inflação acumulada nos últimos 12 meses para 6,51%, no limite do teto de tolerância.

Qual o cenário hoje?

O governo não confessa oficialmente, mas já se sabe que vai lutar para que a inflação chegue ao final do ano abaixo dos 6,5%. Algo como 6,45% já será considerado uma vitória.

E o crescimento econômico? Se der 4%, será sensacional. Mas o governo espera mesmo que não seja inferior a 3,5%.

Resumo da ópera: o governo topava um pouco mais de inflação para garantir um pouco mais de crescimento.

Está colhendo mais inflação e menos crescimento - como diziam os assim chamados "ortodoxos" tão criticados pela presidente Dilma e por alguns de seus ministros.

Em tempo: deem uma olhada nos documentos do Banco Central. Procurem por "inflação de demanda". Vão encontrar.

Governança. A Vale anunciou um baita lucro no primeiro trimestre deste ano. Verdade que os preços do minério de ferro estiveram no pico em janeiro e fevereiro. Mas é verdade, também, que a Vale é uma companhia bem administrada, capaz de aproveitar as oportunidades do mercado.

Entretanto, suas ações em bolsa se têm valorizado menos do que as das concorrentes multinacionais. A causa? Governança. Ou seja, séria desconfiança em relação aos futuros resultados da empresa, dada a ostensiva interferência do governo Dilma no comando da companhia.

Demitiram os frentistas... Antes da operação que apanhou Osama bin Laden, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estava com a popularidade em baixa. Uma das causas era o preço da gasolina, que passava dos US$ 4 o galão, algo em torno de R$ 2 o litro. Mais barato do que no Brasil ou na Europa, por exemplo, porém mais alto do que as médias históricas norte-americanas.

Gasolina nos Estados Unidos paga pouco imposto, o preço é livre e responde direta e imediatamente às flutuações do mercado mundial.

Se o galão passar dos US$ 5 e ficar nisso - diziam então os analistas -, a reeleição de Obama estará seriamente comprometida. E, se chegar a US$ 6, completavam, estará perdida.

Gasolina é um preço político em qualquer país. Mas sempre pareceu que, nos Estados Unidos, o impacto eleitoral é muito maior.

Qual seria a causa disso? Uma explicação óbvia: os americanos adoram automóvel e usam mais o carro particular do que, por exemplo, os europeus - estes mais propensos ao transporte público.

Mas há uma outra explicação, comportamental. O problema é que nos Estados Unidos não há mais frentistas nos postos de gasolina.

Isso mesmo. Em nome da eficiência e da redução de custos, a profissão do frentista foi sendo eliminada. Como ocorreu no caso dos bancos - você mesmo faz os depósitos e pagamentos no seu computador -, o serviço de encher o tanque foi transferido para o consumidor.

O motorista para o carro ao lado da bomba, desce, passa seu cartão de crédito, o que destrava a mangueira, e faz a operação. Em certos postos, o motorista precisa entrar no escritório do posto e passar o cartão de crédito lá dentro. Depois volta e opera a bomba.

Em qualquer caso, eis a diferença: o consumidor fica ali, vendo a maquininha rodar o preço. Ele quer colocar dez galões (quase 38 litros) e é obrigado a ver o mostrador registrar: US$ 1, US$ 5, US$ 10... US$ 40 e tantos.

Diferentemente, por exemplo, do motorista brasileiro, que encosta o carro no posto, pede 30 paus da comum e fica ali, ouvindo música ou checando e-mails.

Pode ser? Pode. Estudos mostraram que o consumidor americano fica nervoso diante do avanço dos números na bomba. E se deprime em seguida.

A morte de Osama bin Laden dominou os noticiários e jogou para cima a popularidade do presidente Obama. Mas os americanos não esqueceram o dia a dia.

Vi na revista eletrônica Slate uma charge significativa. O carro está parado ao lado da bomba, na qual se lê o preço, US$ 4,31 o galão. O motorista comenta com o carona, que agita uma bandeira americana pela janela: "Não vamos mais à manifestação pela morte de Bin Laden, não temos grana para a gasolina".

Para sorte de Barack Obama, os preços do petróleo estão em queda, depois de semanas de alta. Mas esse mercado continua muito instável, na política e na economia.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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