Antonio Palocci é mesmo um Midas. Quando a gente reconstitui a história deste gênio das finanças é que nos damos conta de quão particular foi e tem sido a sua trajetória.
Vejam bem: ele foi flagrado envolvido naquele que considero, institucional e moralmente, o crime mais grave cometido pelos petistas: a quebra do sigilo do caseiro Francenildo. Tratou-se de uma verdadeira conspiração. Segundo a Caixa Econômica Federal, a ordem partiu do gabinete do então ministro da Fazenda, passou pela presidência do banco estatal, tendo transitado pelo jornalismo amigo no início e no fim do processo. E se urdiu aquilo tudo contra um homem pobre, simples, que mal tinha como se defender e teve a sua honra nacionalmente enxovalhada. E tudo por quê? Porque este adorável ser temerário chamado Palocci, com efeito, freqüentava a casa que Francenildo dizia que ele freqüentava, embora o petista negasse.
Muito bem! Em boas democracias do mundo, Palocci estaria politicamente liquidado, ainda que se safasse no Judiciário, o que é improvável. Afinal, violava-se um garantia constitucional. Não por aqui. Palocci deixou o governo. E foi justamente o caso Francenildo que lhe abriu a janela de oportunidades, certo? Pensem bem: se tivesse continuado ministro, e ele não teria saído a não ser à esteira de uma crise, não poderia ter criado a tal empresa Projeto, que lhe rendeu um fortuna fabulosa.
Então ficamos assim: um caso que a qualquer outro humilharia e teria força para retirá-lo da política fez de Palocci um nababo. Inocentado no Supremo em razão de mera firula técnica, dá a volta por cima e retorna à cena ainda mais poderoso do que antes. Afinal, no primeiro mandato de Lula, ele dividia a cena com o dono da bola; no governo Dilma, era ele o dono da bola; o cargo da “governanta” era só decorativo. Vale dizer: a ordem que partiu do gabinete de Palocci (segundo a CEF) para quebrar o sigilo de Francenildo era o primeiro evento de uma cadeia que resultaria no Palocci milionário. Vá ser competente assim na casa do chapéu!
Ocorre que o apreciadíssimo doutor Henry Jekyll tem o seu lado Edward Hyde. A poção que o faz ser uma coisa ou outra, vamos deixar claro, não lhe é exclusiva. Chama-se “moral petista”. Todos ingerem. Na Folha de hoje, lemos que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) censura em Palocci não a eventual lambança, mas o fato de ser apenas uma aventura privada, que não teria nada a ver com o partido — se é que não…
Em suma, Gleisi acharia tudo normal ou menos condenável se o objetivo fosse partidário. Notem que, na prática, ela justifica o mensalão. E, curiosamente, remete os mais informados a Santo André e a Celso Daniel. Segundo investigação do Ministério Público e segundo os irmãos do prefeito assassinado, ele morre justamente quando descobre que o esquema montado na cidade por ele mesmo para desviar dinheiro para o partido — aquilo que Gleisi parece não achar grave — tinha sido “maculado” por ambições pessoais. Pois é.
Celso morreu, e Palocci entrou para a história.