Presidente da Câmara suspende convocação de Palocci

Publicado em 01/06/2011 21:30


O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), tornou sem efeito a convocação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, para dar explicações de como multiplicou seu patrimônio por 20 em um período de apenas quatro anos. Pelo menos até terça-feira, quando sai a decisão em definitivo, Palocci está livre de ter de comparecer ao Legislativo, o que certamente aumentaria ainda mais a crise que se abateu sobre o governo nos últimos dias.


O requerimento de convocação do ministro foi aprovado em votação simbólica na Comissão de Agricultura da Casa, na manhã desta quarta-feira. A base aliada, que cochilou, acusou a oposição de fraudar o resultado. Tudo isso porque a decisão, em caráter simbólico, não pressupunha uma contagem individual dos votos. Quem era contra o requerimento deveria erguer o braço, o que nem todos os governistas fizeram.

O deputado Paulo Piau (PMDB-MG) apresentou uma questão de ordem ao presidente da Câmara, pedindo a revisão do resultado. A solicitação foi acompanhada por outros integrantes da Comissão de Agricultura. Depois de suspender a convocação de foram provisória, Marco Maia disse que irá analisar a situação com equilíbrio. Mas já deu um sinal de que a pressão da base pode funcionar: “É muito ruim uma decisão tomada por uma comissão e que é questionada pela ampla maioria dos integrantes dessa comissão”, declarou.

O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), disse que a revogação da decisão seria inaceitável: “A oposição cumpriu o regimento. Não podemos ser golpeados. Aí nós iremos ao Supremo”, adiantou. O líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP), também não aceita um recuo: "O ministro está convocado. A votação foi regimental". 

Novos esclarecimentos

Antonio Palocci deverá enviar ao Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, uma nova papelada com explicações sobre o seu trabalho como consultor. Na sexta-feira, Palocci mandou à Procuradoria uma série de esclarecimentos.  Não foram suficientes. Desta vez, os documentos tentarão esclarecer a remuneração da Projeta em comparação com o que cobram outras consultorias e responder às dúvidas que o PPS levantou sobre a investigação que o Coaf teria procedido pela compra do apartamento de 6,5 milhões de reais do ministro.

Assim, cai por terra o prazo inicialmente imaginado para que a PGR emitisse o seu parecer e definisse se abrirá ou não investigação sobre o caso. Agora, a resposta do PGR e esperada para a semana que vem.

O próprio governo esperava com ansiedade pelo parecer. Avalia que Gurgel não terá elementos para abrir qualquer investigação e, a partir daí, o caso começaria a diminuir de tamanho. Mas o governo terá que esperar. Enquanto isso, continua sangrando.

Por Lauro Jardim

Os atentos guardiões de Palocci

A base governista na Câmara pode chiar. A versão de que a Oposição deu um golpe na Comissão de Agricultura para convocar Antonio Palocci pode até chegar a Dilma Roussef e ser alardeada pelo Palácio do Planalto. O que se vê nas imagens da sessão da comissão, no entanto, é que os deputados governistas que lá estavam sabiam muito bem o que estava se passando. Mas vacilaram (veja o vídeo).

A oposição foi esperta. O requerimento que pedia a convocação de Palocci era o quarto item da pauta, mas os deputados oposicionistas pediram que ele passasse para a segunda posição. A mudança foi aprovada em uma votação nominal.

Pelas regras do regimento da Câmara, outra votação nominal só poderia ocorrer uma hora depois ou se um requerimento pedindo o fim do prazo fosse aprovado. Não foi o que aconteceu. O pedido de convocação de Palocci, de autoria de Onyx Lorenzoni, foi colocado em votação e aprovado.  Restou à base aliada espernear no plenário da Câmara.

Por Lauro Jardim.

Contradição. Se Palocci tivesse uma explicação, já a teria dado

Antonio Palocci é o articulador político do governo. Mas como ele faz para articular a própria sobrevivência? Eis o busílis. Isso teria de ser operado por outra pessoa — o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, por exemplo. Acontece que ninguém dá bola para Sérgio, ora essa! Nunca apitou nada! Palocci sempre cuidou de tudo sozinho. O outro não chegava a ser nem mesmo um seu estafeta, não existia. Como é que alguém poderia lhe dar atenção agora, da noite para o dia.

No petismo, não há ninguém hábil o bastante para isso — talvez Paulo Bernardo, que é, ou era, da turma de Palocci. Gleisi Hoffmann, mulher de Bernardo, senadora pelo PT do Paraná, foi a primeira petista a pedir a cabeça do chefe da Casa Civil.

A eventual saída de Palocci é, sim, um problemão para Dilma. Mas parece que a crise passaria mais depressa do que a sua manutenção no cargo. Ela não é do ramo, mas não é besta. Sabe que, se houvesse alguma explicação razoável para seu enriquecimento, Palocci já a teria dado há tempos.

Por Reinaldo Azevedo

Palocci se comporta como o seqüestrador da racionalidade do governo. É como se dissesse, “sem mim, vocês terão de agüentar a Dilma”

Palocci é hoje, para lembrar o grande Fernando Pessoa, um “cadáver adiado que procria”. Já era! Ainda que não caia, não recupera nunca mais a força política que teve. Qualquer que seja o interlocutor, do outro lado da mesa estará alguém olhando para um ministro de estado que só consegue explicar seu patrimônio se não explicar coisa nenhuma.

Um chefe da Casa Civil tem algumas tarefas delicadas. Não pode andar com os ombros tão pesados, não. Seu silêncio — até a presidente teve de falar sobre o caso — é de uma estúpida arrogância. Parece se colocar, e se coloca mesmo, acima dos interesses da República.

Palocci tem a ser favor apenas as ameaças veladas de sempre, habilmente manipuladas junto a setores importantes da sociedade: “Olhem que, sem mim, vêm os radicais do PT; olhem que, sem mim, vem o Zé Dirceu; olhem que, sem mim, vêm os fisiológicos do PMDB; olhem que, sem mim, vocês terão de lidar é com Dilma Rousseff”.

O ministro se cala, em suma, porque se comporta como uma espécie de seqüestrador da racionalidade do governo. Tudo seguirá um padrão mais ou menos civilizado de governança desde que paguem o seu preço — desta feita, não o da consultoria, mas o institucional: ele ficar acima de qualquer investigação, ser um homem à margem das leis da República.

Em muitos aspectos, Palocci pode até ser o melhor deles, mas o fato é que o Brasil será muito pior se ele continuar ministro sem que explique como alguém pôde ficar milionário em tão pouco tempo.

Por Reinaldo Azevedo

Reconstituam: quando alguém (quem?), no gabinete de Palocci, mandou quebrar o sigilo de Francenildo, aquele era o primeiro ato que faria do ministro um milionário

Antonio Palocci é mesmo um Midas. Quando a gente reconstitui a história deste gênio das finanças é que nos damos conta de quão particular foi e tem sido a sua trajetória.

Vejam bem: ele foi flagrado envolvido naquele que considero, institucional e moralmente, o crime mais grave cometido pelos petistas: a quebra do sigilo do caseiro Francenildo. Tratou-se de uma verdadeira conspiração. Segundo a Caixa Econômica Federal, a ordem partiu do gabinete do então ministro da Fazenda, passou pela presidência do banco estatal, tendo transitado pelo jornalismo amigo no início e no fim do processo. E se urdiu aquilo tudo contra um homem pobre, simples, que mal tinha como se defender e teve a sua honra nacionalmente enxovalhada. E tudo por quê? Porque este adorável ser temerário chamado Palocci, com efeito, freqüentava a casa que Francenildo dizia que ele freqüentava, embora o petista negasse.

Muito bem! Em boas democracias do mundo, Palocci estaria politicamente liquidado, ainda que se safasse no Judiciário, o que é improvável.  Afinal, violava-se um garantia constitucional. Não por aqui. Palocci deixou o governo. E foi justamente o caso Francenildo que lhe abriu a janela de oportunidades, certo? Pensem bem: se tivesse continuado ministro, e ele não teria saído a não ser à esteira de uma crise, não poderia ter criado a tal empresa Projeto, que lhe rendeu um fortuna fabulosa.

Então ficamos assim: um caso que a qualquer outro humilharia e teria força para retirá-lo da política fez de Palocci um nababo. Inocentado no Supremo em razão de mera firula técnica, dá a volta por cima e retorna à cena ainda mais poderoso do que antes. Afinal, no primeiro mandato de Lula, ele dividia a cena com o dono da bola; no governo Dilma, era ele o dono da bola; o cargo da “governanta” era só decorativo. Vale dizer: a ordem que partiu do gabinete de Palocci (segundo a CEF) para quebrar o sigilo de Francenildo era o primeiro evento de uma cadeia que resultaria no Palocci milionário. Vá ser competente assim na casa do chapéu!

Ocorre que o apreciadíssimo doutor Henry Jekyll tem o seu lado Edward Hyde. A poção que o faz ser uma coisa ou outra, vamos deixar claro, não lhe é exclusiva.  Chama-se “moral petista”. Todos ingerem. Na Folha de hoje, lemos que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) censura em Palocci não a eventual lambança, mas o fato de ser apenas uma aventura privada, que não teria nada a ver com o partido — se é que não…

Em suma, Gleisi acharia tudo normal ou menos condenável se o objetivo fosse partidário. Notem que, na prática, ela justifica o mensalão. E, curiosamente, remete os mais informados a Santo André e a Celso Daniel. Segundo investigação do Ministério Público e segundo os irmãos do prefeito assassinado, ele morre justamente quando descobre que o esquema montado na cidade por ele mesmo para desviar dinheiro para o partido — aquilo que Gleisi parece não achar grave — tinha sido “maculado” por ambições pessoais. Pois é.

Celso morreu, e Palocci entrou para a história.

Por Reinaldo Azevedo

O governo não existe. Dilma não existe. Existe Palocci, o que não consegue se explicar e só depende da boa-vontade do procurador

Vocês viram que a Comissão de Agricultura conseguiu aprovar a convocação de Antonio Palocci. Agora começa a guerra do governo para ver se reverte a coisa. O ministro vinha apostando no parecer dado como certo da Procuradoria Geral da República de que não há crime a ser investigado.  O agora ministro tinha uma empresa que lhe permitiu, no exercício do mandado, ficar milionário em quatro anos — parte da grana conhecida foi recebida quando ele já montava o futuro governo com a presidente eleita. Vai, gente, que mal tem? Isso é tão corriqueiro! Investigar o quê? É interessante a forma como as coisas estão sendo conduzidas, inclusive na Procuradoria. A fase do indício é tratada como se fosse a da prova. Cai-se num absurdo lógico, já evidenciado com alegria pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo: “Não se investiga porque não há prova; não há prova porque não se investiga”.

Mas volto ao ponto. O parecer do Procurador Geral seria usado como prova de inocência — o que ele absolutamente não seria e não é. Até porque, vamos convir: inocência do quê? A única coisa que se sabe é esta: Palocci ficou milionário. É proibido saber quais são os seus clientes. Como não se sabe, fica igualmente impossível apurar se houve tráfico de influência. O enriquecimento é atípico? É. O faturamento é igualmente impróprio a uma empresa do ramo? Sim! Só resta a conclusão de que Palocci é mais um dos “Ronaldinhos” de Lula, um gênio.

Absurdo
Por que será que Palocci é tão importante para o governo? Vocês já se deram conta do absurdo? Um homem considerado vital não conseguiria prestar um depoimento convincente numa comissão do Congresso! Não conseguiria dar uma entrevista que não fosse estritamente controlada!

Vindo à luz o parecer do procurador, o PT espera que a coisa vá perdendo força. Vamos ver. Vai depender um tantinho da imprensa e da habilidade da “máquina” de criar um fato novo. Que o caso tem potencial para durar bastante, isso tem. E a razão é simples: não se sabe nem os nomes dos clientes de Palocci. Essa lista, cedo ou tarde, aparece. Basta que haja lá uma empresa beneficiada por alguma ação do governo que, direta ou indiretamente, tenha contado com a colaboração do então deputado e agora ministro, e a suspeita, ou mais do que isso, de tráfico de influência se reaviva.

Ainda sobram a Dilma três anos e meio de mandato. É impressionante que esteja pendurada num único ministro, que não consegue se explicar. O resto do governo não existe. Como Lula deixou claro, a própria Dilma não existe.

O dado politicamente escandaloso é que a eventual queda de Palocci é tratada como se fosse o fim do governo. Pior: talvez fosse mesmo…

Por Reinaldo Azevedo
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Fonte:
Veja.com.br

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