Oremos, por Augusto Nunes

Publicado em 10/06/2011 18:53 e atualizado em 11/06/2011 10:14
blogueiro de Veja.com.br

Oremos

O núcleo duro do governo Dilma Rousseff agora é formado pela própria presidente, por Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil, e por Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais. Juntaram-se o neurônio solitário, a normalista oradora da turma e um berreiro à procura de uma ideia. Todas dependentes de Lula, também dependem dos humores do PT e do PMDB.

É como entregar o comando de um Boeing a três comissárias de bordo, orientadas por um controlador de voo que se promoveu a melhor piloto do mundo sem saber onde fica o manche e atarantadas com o bando de passageiros que não param de berrar pedidos.

Oremos.

O dia em que Ideli virou a Marilyn do Lula

Para mostrar do que é capaz a nova ministra das Relações Institucionais, a seção História em Imagens volta a exibir a histórica performance de Ideli Salvatti no dia em que resolveu transformar-se na Marilyn Monroe do Lula. Não perca.

A família Lula só devolveu metade do lote de passaportes diplomáticos ilegais

Emparedada pela última do Palocci e mais uma do Supremo, a notícia não conseguiu sequer alguns centímetros no rodapé da primeira página, nem mesmo a manchete de abertura da seção que junta coisas da política e casos de polícia. É compreensível que muitos brasileiros nem saibam que, no começo de maio, foram devolvidos ao escritório paulista do Ministério das Relações Exteriores quatro passaportes diplomáticos concedidos ilegalmente a filhos e netos do ex-presidente Lula.

Fruto das denúncias da imprensa independente e da insistência do Ministério Público Federal de Brasília, que pressiona o Itamaraty desde janeiro, a devolução dos documentos emitidos “no interesse do país” foi uma vitória do país que presta. Ou meia vitória: quatro integrantes da antiga Primeira Família continuam circulando com o documento irregular.

Curvaram-se às pressões do Ministério Público dois filhos de Lula ─ Marcos Cláudio, 39 anos, e Sandro Luís, 32 ─ que entregaram também os passaportes de dois netos do ex-presidente. Ficam faltando os documentos expedidos para favorecer outro neto e os filhos Luis Cláudio, 25, Fábio Luís, 35, e Lurian, 36. Cinco marmanjos bem postos na vida.

Entre tantos personagens que Lula gosta de incorporar em comícios, um dos preferidos é o Pai Justo, que jamais permite a qualquer filho desfrutar de alguma vantagem que falte aos demais. É hora de aplicar em casa a lição que vive declamando nos palanques. Se os cinco irmãos viajarem juntos para o exterior, por exemplo, só dois terão de enfrentar as restrições impostas aos brasileiros comuns. Três usarão o salvo-conduto que Celso Amorim expediu a pedido do chefe para dispensar-se de filas e incômodos burocráticos.

Ou o pai telefona para o chanceler Antonio Patriota e exige a restituição dos documentos devolvidos ou ordena aos recalcitrantes que cumpram a lei e entreguem os passaportes malandros. Se lhe restar algum juízo, Lula embarcará na segunda opção. Como reiterou o caso Palocci, não são poucos os brasileiros que vão deixando de contemplar com bovina mansidão a arrogância dos fora-da-lei que se imaginam condenados à impunidade perpétua.

O desfecho do caso Battisti é vergonhoso. Mas nada tem de surpreendente

A trama destinada a impedir que o assassino Cesare Battisti fosse extraditado para a Itália começou a ser forjada quando Tarso Genro virou ministro da Justiça do governo Lula. Dois posts de 2009, reproduzidos na seção O País quer Saber, ajudam a desmontar o embuste concluído nesta quarta-feira pelo Supremo Tribunal Federal. A decisão de manter Battisti por aqui, aprovada por 6 votos a 3, consumou um aleijão jurídico perturbador: voluntariamente, a maioria dos ministros entregou ao chefe do Executivo poderes que a Constituição atribui ao STF. E a libertação de um condenado por quatro homicídios avisa que a impunidade institucionalizada dos bandidos com amigos poderosos passou a valer também para estrangeiros.

É um desfecho vergonhoso. Mas nada tem de surpreendente.

Dilma descobriu que ninguém troca alianças com o PMDB impunemente

A cerimônia de posse de Gleisi Hoffmann na chefia da Casa Civil também consumou o enterro de Antonio Palocci, escancarou as fissuras no PT e, sobretudo, formalizou a consolidação do PMDB no coração do poder. O vice-presidente Michel Temer, com a pose de quem conseguiu unificar um partido dividido em capitanias regionais e submeteu Palocci a um pito por telefone, foi citado três vezes no discurso de Gleisi (duas a mais que Lula). E mereceu de Dilma Rousseff o tratamento afetuoso que não foi estendido ao PT. Os espertalhões perderam outra batalha contra os velhacos.

Na abertura do palavrório, além de afagar o vice com a suavidade que nega aos companheiros, a presidente saudou José Sarney como representante do Legislativo, Romero Jucá como síntese dos senadores e Cândido Vaccarezza, líder do governo, como uma perfeita tradução dos deputados federais. O petista gaúcho Marco Maia, eleito presidente da Câmara sem o aval do Planalto, não ouviu seu nome pronunciado nem por Dilma nem por Gleisi.

Na segunda-feira, José Dirceu comemorou em Brasília a queda iminente do inimigo Palocci e o início de um governo Dilma controlado pela direção do PT. Descobriu horas depois que festejara um tiro no pé. O partido do guerrilheiro de festim continua com o tamanho que tinha antes da descoberta do milagre da multiplicação do patrimônio de Antonio Palocci. O PMDB, além de aumentar a bancada no Senado com a posse de Sérgio de Sousa, suplente de Gleisi Hoffmann, ficou mais musculoso.

Durante a crise protagonizada pelo traficante de influência, não se registraram diferenças notáveis no comportamento dos principais partidos governistas. Ambos evitaram o abraço do afogado e continuaram na praia em busca de mais espaços. Mas a presidente compreendeu que não conseguirá governar sem o apoio do PMDB. É essa a sigla que hoje decide o que será ou não aprovado no Congresso. E faz questão de ser tratada com muito carinho.

Ninguém troca alianças com o PMDB impunemente. Políticos ou partidos que se unem à legenda representada pela trinca Temer-Sarney-Jucá costumam descobrir tarde demais que o casamento só pode ser dissolvido se a noiva quiser. Pelos sorrisos registrados nesta tarde, a noiva está muito feliz.

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Blog Direto ao Ponto (Veja)

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