No Estadão: Relatório embute quebra de 23% da safra de cana, sem contar a geada

Publicado em 29/06/2011 04:37
por José Roberto de Toledo, do jornal O Estado de S. Paulo

Relatório quinzenal da UNICA divulgado nesta terça-feira aponta quebra de 23% da safra de cana-de-açúcar em comparação ao mesmo período da safra anterior. A associação, que reúne os produtores do centro-sul do País, atribui a diferença ao atraso da colheita por causa das chuvas. Mas pelo menos três fatores indicam que não se trata só de atraso e que parte dessa quebra é definitiva.

O próprio relatório da UNICA aponta uma perda de 3% do total de açúcares recuperado (ATR) da cana na safra atual (2011/2012) em comparação à anterior. Mantida a média no que falta colher (60% a 70%), apenas essa perda de produtividade já diminuiria na mesma proporção a produção de etanol e/ou de açúcar. Mas não é só isso.

Usineiros ouvidos pelo blog dizem que o excesso de chuvas do começo do ano atrapalhou o desenvolvimento da cana (faltou luz e sobrou água). O canavial estámais ralo e baixo, o que pode ser constatado visualmente. Isto é: há menos cana por hectare plantado. Há estimativas de que essa perda seja de 7%. O relatório da UNICA não indica a área colhida, logo não permite calcular a média de toneladas de cana por hectare.

Finalmente, o relatório da UNICA foi feito antes de a geada atingir canaviais de São Paulo esta madrugada. A geada inibe a germinação da cana e obriga o corte antecipado dos talhões mais afetados. Ainda não se sabe a extensão da área atingida pela geada. Mas ela deve aumentar a quebra da safra atual e pode comprometer a de 2012/2013.

Somados esses três fatores, a quebra definitiva da safra passa de 10%. É um fato conhecido que se reflete nas cotações. O preço do açúcar no mercado internacional subia 4% no momento em que este texto foi escrito. O preço do etanol na usina já batia em R$ 1,40 por litro.

Mix e atraso

As usinas podem -dentro de uma margem de 10 a 15 pontos porcentuais- mudar o mix de produção entre açúcar e álcool. Puxada pelo preço alto, a safra passada foi “açucareira” (56% de açúcar e 44% de etanol). Este ano, por pressão do governo e do preço do álcool, a proporção é inversa até agora: 44% a 56%.

A diferença está sendo direcionada para o mercado de álcool anidro (o que não tem água e é misturado à gasolina), cuja produção aumentou 9% em comparação ao mesmo período do ano passado. Em compensação, a fabricação de álcool hidratado (que move os carros flex) tem perda acumulada de 37%, e a de açúcar, de 25%.

É fato que essas perdas eram maiores no começo da safra, mas o ritmo de recuperação está caindo. A colheita da cana começou atrasada este ano por causa das chuvas acima da média entre janeiro e abril (quando chove forte ou por muito tempo a colheita é suspensa).

Em 1º de maio, a diferença em toneladas de cana colhidas era de menos 59% em relação a 2010. Mas 15 dias depois, já caíra 20 pontos, para 39%. Na quinzena seguinte, a recuperação foi menor: 14 pontos, para 25%. E, nos últimos 15 dias, ela tirou apenas 2 pontos da diferença, que ficou em 23%.

A geada em São Paulo deve acelerar o corte da cana, para evitar que as plantas mais queimadas não apodreçam no campo. Isso pode implicar colher cana não-amadurecida, diminuindo ainda mais a produtividade por hectare e a média de ATRs por tonelada. Os próximos três relatórios quinzenais da UNICA deverão medir o tamanho do estrago.

Inflação e eleição

Por que um blog que trata principalmente de política e eleições dedica atenção ao canavial? Porque o preço dos combustíveis e dos alimentos tem sido o principal vilão da inflação. A inflação é a pior vilã da popularidade dos governantes, porque influencia negativamente o consumo. E o bolso é a parte mais sensível do eleitor.

Além de já ter afetado o otimismo e a confiança do consumidor/eleitor, a inflação ameaça a popularidade da presidente Dilma Rousseff. Ela se manteve estável na mais recentepesquisa Datafolha, mas os sinais de preocupação foram acesos em Brasília. Se 2012 repetir 2011, a eleição pode favorecer a oposição pela primeira vez desde 2002.

Vejaaquia íntegra do relatório da UNICA.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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