No Estadão: ex-presidente do BC diz que medidas cambiais do Governo são "desesperadas" e sem efeito
Publicado em 27/07/2011 17:31
e atualizado em 27/07/2011 18:52
O ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria
Gustavo Loyola classificou de "péssimas" e "desesperadas" as novas medidas
cambiais, anunciadas hoje pelo governo. Para ele, um dos efeitos colaterais das
medidas será a exportação do mercado de derivativos do Brasil para a Bolsa de
Mercadorias e Futuros de Chicago.
"No fundo, isso tende a reduzir a liquidez aqui e aumentar no exterior. Acho que é
uma medida que vai contra o Brasil", reclamou Loyola, ao explicar que os
estrangeiros que investem no Brasil utilizam a Bolsa de Mercadorias e Futuros
(BM&F) para fazer um hedge de sua posição. Ao lançar mão de mecanismos para
encarecer essas operações, o governo, segundo Loyola, estimula o investidor
estrangeiro a optar por fazer esse hedge no exterior.
"O mercado de Chicago negocia várias moedas. O Real não tem muita liquidez lá
porque tem aqui. Não sou purista, acho que eventualmente você tem que tomar
medidas drásticas em situações de emergência. Mas elas têm que, pelo menos,
funcionar. Essa não funciona", afirmou.
Medida Provisória publicada hoje no Diário Oficial autoriza o Conselho Monetário
Nacional (CMN) a definir regras específicas para as negociações de derivativos e a
tributar com IOF de até 25% sobre o valor dessas operações. A tributação começa
com alíquota de 1% de IOF sobre a posição vendida líquida - diferença entre a
posição vendida e a posição comprada bruta - que exceder US$ 10 milhões. O
governo também surpreendeu ao penalizar quem toma o empréstimo externo com
prazo médio superior a 720 dias e antecipa a sua liquidação.
Loyola não acredita em uma reversão da atual tendência de queda do dólar por
conta desse novo pacote cambial e argumenta que os efeitos da MP são apenas
temporários. "Acho essa medida péssima, muito ruim. Quase uma medida
desesperada, que não vai gerar efeito nenhum, vai gerar mais distorções." Segundo
ele, a ideia de taxar o mercado de derivativos deve gerar ainda uma insegurança
jurídica, com os investidores estrangeiros temendo novas mudanças de regras.
O ex-presidente do BC pondera ainda que o grande comprador de dólares hoje na
BM&F é o Banco Central, que vem fazendo intervenções constantes e, com isso,
tirando a volatilidade do mercado cambial. "Se você quer aumentar o risco e reduzir
com isso as entradas (de recursos), você tem que deixar o câmbio flutuar. Quando
você retira a volatilidade, você torna o custo barato", disse.
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Fonte:
O Estado de S. Paulo
Telmo Heinen Formosa - GO
Muito feio isto, um ex-Presidente do Banco Central falar o que disse. Só haverá incidência de tributação sobre o excedente das operações, quando houver descasamento. Viajou na maionese quando admitiu que a valorização do Real se devia à fluxo fisico de dólares. Não houve encarecimento das operações de hedge verdadeiras. Tirar do obscurantismo os contratos de gaveta do mercado de balcão é uma transparencia salutar. Mesmo assim nosso ceticismo em relação à eficiencia das medidas é pautado no uso correto das ferramentas disponibilizadas.