Veja: Oposição pedirá investigação sobre Wagner Rossi na Justiça Federal

Publicado em 14/08/2011 19:16
Revista Veja volta com novas denúncias contra o Ministro da Agricultura na edição desta semana

Os líderes de oposição no Congresso Nacional preparam para o início da semana uma sequência de atos como reação aos desmandos cometidos pelo ministro da Agricultura, Wagner Rossi, revelados por VEJA. Na segunda-feira, PPS, PSDB e DEM devem se unir para apresentar um pedido de investigação sobre Rossi ao Ministério Público Federal (MPF), e uma ação por crime de responsabilidade, na Justiça Federal.

O grupo já preparava a ação contra o ministro por causa de suas declarações no Senado, quando disse saber de irregularidades na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), da qual foi diretor, mas não ser responsável por elas. Agora, com a revelação de que não tomou providências quando foi informado de que uma doação de feijão feita pela Conab seria utilizada como moeda eleitoral em João Pessoa (PB), o caso fica mais grave. “Ao transferir a culpa ou não tomar providências, ele incorre em crime de responsabilidade”, afirma o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias.

Wagner Rossi, o colecionador de problemas

Em 30 anos de política, o ministro da Agricultura deixou um rastro de histórias esquisitas por onde passou

A casa de Wagner Rossi, em Ribeirão Preto: propriedade avaliada em 9 milhões de reais

A casa de Wagner Rossi, em Ribeirão Preto: propriedade avaliada em 9 milhões de reais   (Manoel Marques)

O ministro Wagner Rossi, da Agricultura, gastou a semana passada tentando convencer a presidente Dilma Rousseff e o Brasil inteiro de que não tinha ligações com as interferências do lobista Júlio Fróes nos negócios da pasta que comanda, como havia sido revelado por VEJA. Apesar da demissão de Milton Ortolan, segundo na hierarquia e seu braço direito há 25 anos, e das provas de que Fróes tinha sala dentro da Comissão de Licitações da Agricultura, Rossi posava de marido traído. Chamado ao Congresso para dar explicações, disse que Ortolan era ingênuo, e que ele, como ministro, não podia controlar a portaria do ministério para impedir a entrada de Fróes. Sobreviveu uma semana, mas vai precisar de muito mais do que frases de efeito se quiser continuar na cadeira de ministro.

Cristiano Mariz

Ministro da Agricultura Wagner Rossi em Brasília

Ministro da Agricultura Wagner Rossi em Brasília

A edição de VEJA que chega às bancas neste sábado mostra que Wagner Rossi, paulistano de 68 anos, é um colecionador de problemas, um daqueles políticos que costumam deixar um rastro de histórias esquisitas por onde passam. 

A primeira história relatada por VEJA remonta ao tempo em que Rossi presidia a Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, vinculada ao ministério da Agricultura. No final de 2007, a estatal doou 100 toneladas de feijão para a prefeitura de João Pessoa, então comandada por Ricardo Coutinho, do PSB, hoje governador da Paraíba. O feijão deveria ser distribuído entre famílias de baixa renda, mas como havia uma eleição municipal em 2008, o prefeito decidiu guardar parte do estoque. Funcionário da Conab há 25 anos, Walter Bastos de Moura descobriu a irregularidade e a denunciou diretamente a Wagner Rossi, em abril de 2008. Rossi prometeu tomar providências.

Como nada aconteceu, Walter Bastos passou a vigiar a mercadoria estocada. Em setembro, a poucos dias eleição, ele recebeu a informação de que o feijão seria enfim distribuído e acionou a Polícia Federal e a Justiça Eleitoral. Para evitar o flagrante, diz ele, a prefeitura decidiu sumir com as provas e despejou 8 toneladas de feijão no aterro sanitário de João Pessoa. A cena do lixão inundado por grãos foi registrada no vídeo abaixo.

A história chegou a ser explorada como denúncia contra o prefeito, mas era muito mais grave: tratava-se de um flagrante do uso político da Conab para favorecer aliados do governo federal. Num acesso de sinceridade, o ex-presidente da empresa Alexandre Magno Franco de Aguiar, que sucedeu Rossi na empresa e hoje é seu assessor especial no ministério, confessou a VEJA que o próprio Rossi usou o expediente de distribuir alimentos para conseguir votos, inclusive para favorecer eleitoralmente o filho, Baleia Rossi, deputado estadual e presidente do diretório do PMDB de São Paulo.

Já no cargo de ministro da Agricultura, para o qual foi nomeado em março de 2010 por Lula, Rossi não tardou a implantar seu método de lidar com a coisa pública. Em 8 de dezembro do ano passado, a Comissão de Licitação do Ministério da Agricultura estava reunida para abrir as propostas técnicas de quatro empresas que disputavam um contrato para prestar serviços de comunicação à pasta. Um dos representantes de empresas ali presente fez uma denúncia grave. Disse, em alto e bom som, que aquilo era um jogo de cartas marcadas e que já estava acertado um “pagamento de 2 milhões de reais ao oitavo andar”. No oitavo andar, fica o gabinete do ministro.

O presidente da Comissão de Licitação, Israel Leonardo Batista, disse que registraria a acusação em ata e a encaminharia à Polícia Federal. Não demorou para que fosse chamado à sala da então coordenadora de logística do ministério, Karla Carvalho, onde recebeu a ordem de não tomar nenhuma atitude. Karla já era, na época, figura de confiança de Rossi. De lá para cá, só subiu na hierarquia da pasta. Até a semana passada, era a poderosa secretária-executiva do ministério. Trabalhava diretamente com Milton Ortolan, demitido horas após a última edição de VEJA chegar às bancas com as revelações sobre Júlio Fróes.

Não bastassem as suspeitas que rondam seu gabinete na Agricultura, o ministro ainda deve esclarecimentos sobre sua atuação na Companhia Docas de São Paulo (Codesp), cargo ao qual chegou também pelas mãos do amigo Michel Temer. Quando presidia a Codesp, uma estatal, Rossi descobriu que empresas contratadas pelo Porto de Santos deviam 126 milhões de reais à Previdência. Em vez de exigir que acertassem as contas, decidiu pagar ele mesmo a fatura – com dinheiro público da Codesp, é claro. A lista de beneficiários do dinheiro público inclui 99 empresas privadas que jamais quitaram os débitos assumidos pela estatal. Em 2005, seis anos depois do acordo, apenas 20.000 reais haviam sido ressarcidos à empresa.

Amigo há 50 anos e leal servidor do vice-presidente Michel Temer, Wagner Rossi entrou para a política em 1982, quando concorreu pela primeira-vez a deputado federal. Até então, levava uma vida modesta de professor universitário. Morava em uma casa de classe média em Ribeirão Preto, tinha uma Kombi, uma Belina e um Fusca Laranja, com o qual fez a campanha. “Ele não tinha dinheiro nem para bancar os santinhos”, lembra João Gilberto Sampaio, ex-prefeito de Ribeirão Preto. Depois de dois mandatos como deputado estadual, dois como deputado federal, a presidência da Codesp, da Conab e dois anos como ministro (funções cujo salário máximo é de 26 mil reais), sua ascensão patrimonial impressiona.

O homem do fusca laranja e sua família são, hoje, proprietários de empresas, emissoras de rádios, casas e fazendas. Wagner Rossi mora numa das casas mais espetaculares de Ribeirão Preto, no alto de uma colina, cercada por um bosque luxuriante, numa área de 400 mil metros quadrados. Adquirida em 1996, quando ele era deputado, a mansão é avaliada hoje em 9 milhões de reais. Tudo, nas palavras do ministro, conquistado com o esforço de 50 anos de trabalho e uma herança recebida. 

Para os parlamentares da oposição, a presidente Dilma Rousseff não deveria pensar duas vezes antes de afastar Wagner Rossi. “A permanência dele contamina o próprio governo, afeta a imagem da própria presidente, que acaba desautorizando os governistas a falarem de limpeza ética”, considera o tucano. “A regra geral de um governo sério é afastar a pessoa que é alvo de denúncias graves para evitar influência sobre as investigações.”

O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres, destaca que a reação de Dilma neste momento demonstrará sua verdadeira face. “Poderemos perceber se ela é uma caçadora de corruptos ou se contemporiza quando o caso ocorre com uns e outros”, argumenta. “Se ela não tomar uma providência, vai se revelar uma fraude”.

O Palácio do Planalto informou que não pretende se manifestar sobre a reportagem de VEJA desta semana. Os líderes governistas não foram encontrados para comentar o assunto. O ministro Wagner Rossi também informou, por meio de sua assessoria, que não se pronunciaria antes de segunda-feira. Limitou-se a divulgar nota no site do ministério.

Movimento - Por outro lado, um grupo que integra a base está se organizando para sair em defesa da presidente. Estão marcados para esta segunda-feira no plenário do Senado vários discursos de quem, a pedido do senador Pedro Simon (PMDB), decidir contrariar a onda de fogo amigo que tem se espalhado no Congresso. Já estão inscritos para falar os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF), Ana Amélia Lemos (PP-RS), Paulo Paim (PT-RS), Marcelo Crivella (PRB-RJ), Pedro Taques (PDT-MT), Wilson Santiago (PMDB-PB), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e Eduardo Braga (PMDB-AM), Luiz Henrique (PMDB-SC), Casildo Maldaner (PMDB-SC) e Roberto Requião (PMDB-PR) 

De acordo com Simon, o objetivo é demonstrar que, apesar das falhas de gestão e falta de tato para lidar com a base, Dilma está no caminho certo ao promover uma “faxina” nos órgãos em que há indícios de corrupção. “A tese é dar força à presidente da República para que ela faça um governo com integridade moral e ética. Vários parlamentares virão aqui dizer o seguinte: presidente, conte conosco”, explicou o senador na sexta-feira.

A reação do grupo deve também pressionar os demais parlamentares da base, que resolveram obstruir as votações na Câmara por conta da demora do governo em liberar emendas parlamentares, da limpeza feita no Ministério dos Transportes e das prisões ocorridas durante a Operação Voucher da Polícia Federal, que fez uma devassa no Ministério do Turismo.


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Fonte:
veja.com.br

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Olivi, há em Brasília fatos que a igreja deve analisar. Hoje a FOLHA, em mais um artigo, cita pagamentos de R$ 6,5 milhões a uma empresa em nome de laranjas. O entrevistado, um dos sócios da Commerce Comércio de Grãos, Ivanilson de Carvalho Rufino, disse que os R$ 6,5 milhões foram “um achado de Deus”. Estão “ocorrendo milagres” em Brasília !!, OS “SANTOS” DEVEM SER BEATIFICADOS ! ....” E VAMOS EM FRENTE ! ! ! “ ....

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