Mercado de açúcar: AMBIENTE HOSTIL OU OPORTUNIDADE DE COMPRA

Publicado em 26/09/2011 08:02


O mercado de açúcar em NY fechou a semana cotado a 24,26 centavos de dólar por libra-peso no vencimento março/2012, a menor cotação desde junho deste ano. A queda na semana foi de 45 dólares por tonelada. Na semana que vem, o outubro/2011 expira sem muita inspiração. Vimos também quedas entre 30 e 45 dólares por tonelada para os vencimentos de 2012, média de 27 dólares por tonelada para os vencimentos de 2013 e 22 dólares por tonelada para 2014.

O mercado foi profundamente afetado pelo cenário macroeconômico, influenciado pelos problemas na Europa (Grécia, Itália e França), pelas medidas inócuas do FED para estimular a economia americana, vendendo títulos de curto prazo e comprando títulos de longo prazo, consideradas insossas pelo mercado e a discutível desaceleração da atividade econômica chinesa. 

Por aqui, o governo brasileiro que há algumas semanas teve a “brilhante” ideia (mais uma) de taxar o hedge cambial para evitar a valorização do real, agora está pensando em voltar atrás na medida porque o dólar sobe empurrado pelo cenário macro e não tem ninguém na outra ponta para vender, ficando refém das tesourarias dos bancos mais experientes. Mais uma prova cabal de como esse ministro da Fazenda é mediano.

No mês, lideram as desvalorizações das commodities agrícolas, adivinha quem? Um doce para quem respondeu açúcar. Uma queda no mês de 20,4%. Todas as commodities se desvalorizaram: cacau, milho, café, trigo e soja perderam mais de 10%. Apenas para efeito de comparação, há duas semanas o vencimento março/12 fechara a 27,64 centavos de dólar por libra-peso e o dólar a 1,7152. Na última sexta-feira, encerrou a 24,26 centavos de dólar por libra-peso com o dólar negociando a 1,8600. Ou seja, descontada a desvalorização cambial, o mercado de açúcar caiu 4,8% se seus fundamentos fossem isolados.

Para o setor, a consequência imediata de um dólar mais forte é – evidentemente - a queda na cotação do açúcar no mercado internacional. Com o dólar a 1,9000 o custo de produção despenca para 18,85 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos, sem custo financeiro. Por outro lado, a exportação de hidratado (como ocorrida na semana) equivale a um açúcar a 22,87 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos. Ou seja, dólar mais forte estimula a exportação e pode virar o mix (ou pelo menos a perspectiva de mix) para a próxima safra. Isso sem contar que encarece o preço da importação de gasolina incentivando o pagamento de maior preço para o anidro. Se o relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) sobre a safra americana de milho for realmente altista, como se especula, o etanol brasileiro ficará extremamente competitivo. E o mercado mais explosivo e confuso,

No auge da crise de 2008, o dólar atingiu 2,5310 no inicio de dezembro e só retornou aos níveis que estava antes da crise (1,6630) quase dois anos depois. No dia do pico (4 de dezembro de 2008) NY negociava a 10,80 centavos de dólar por libra-peso. Hoje a história é outra.

Uma tese que começa a ganhar corpo entre as cabeças pensantes do setor é que a safra 2012/2013 pode ter um acréscimo considerável em função da renovação do canavial. Fala-se em até 15% sobre uma base de 485 milhões de toneladas, o que não é totalmente inexequível. Vamos assumir que a próxima safra no Centro-Sul possa ser de 530 milhões de toneladas com uma ATR de 138 kg/tonelada de cana. 

De um extremo, imagine que vamos produzir açúcar suficiente para atender ao mercado interno (12 milhões de toneladas) e a exportação (25,5 milhões de toneladas), descontamos 4 milhões de toneladas produzidas pelo N/NE, o Centro-Sul precisaria produzir 33,5 milhões de toneladas e quase 24 bilhões de litros (26 incluindo N/NE). O potencial de consumo para a 2012/2013, segundo o modelo da Archer Consulting, é de 32 bilhões (considerando exportação de outros fins, anidro e hidratado). Para os números fecharem, ou seja, para nos adequarmos à realidade de 26 bilhões o percentual de veículos flex que utilizam etanol teria que baixar para 35%. 

No outro extremo, imagine que vamos produzir etanol suficiente para atender ao crescente mercado de flex, além da exportação de outros fins, 32 bilhões de litros conforme acima. Para os números fecharem, ou seja, atenderem a essa demanda potencial de etanol, a produção de açúcar alcançaria no máximo de 27 milhões de toneladas no Brasil, um déficit de 6,5 milhões de toneladas.

Nem tanto ao céu nem tanto à terra. O exercício acima mostra que independentemente do caminho que o mercado encontrará entre um extremo o outro, o fato é que existe um suporte de preços muito sólido dada à restrita disponibilidade de cana nos próximos dois anos. O paradoxo é o mercado cair abaixo de 20 centavos de dólar por libra-peso, o que desmotivaria qualquer interesse de crescimento e expansão. Um tiro no pé que deprime o mercado no curto prazo, mas potencializaria a explosão de preços mais adiante. Resumindo: acredito que quedas acentuadas de preços neste ambiente macro hostil se configuram em oportunidade de compra.

A volatilidade do mercado tem caído visivelmente: a média de 20 dias é 39,09%, a de 50 dias 39,58% e a de 100 dias 41,79%. Curiosidades: nos últimos 100 pregões, em 51 deles a volatilidade e o mercado caminharam na mesma direção, em 49 em direções opostas. Em 10 pregões o mercado teve uma oscilação de quase 600 pontos, ocorrida pela última vez (considerando 10 dias) em fevereiro deste ano. O recorde de variação em 10 dias ocorreu em 1974 em que o mercado oscilou mais de 2000 pontos !!!

Tenham todos uma excelente semana

Arnaldo Luiz Corrêa

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Fonte:
Archer Consulting

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