Redução de área não segura preço do algodão no pior mês da história

Publicado em 27/11/2008 16:04
Sem o apelo da demanda alimentícia o algodão é a cultura mais depreciada no momento. Em termos reais (já descontada a inflação), a média mensal da cotação da commodity em novembro é a pior desde o início da série histórica do Indicador de Preços do Algodão (Cepea/Esalq), que começou em agosto de 1996.

O cenário de preços baixos, cuja retração já chega a 5,35% só este mês, coincide com a maior safra de algodão colhida no Brasil (2,5 milhões de toneladas), o que tem levado os cotonicultores a anunciarem uma expressiva redução de área que poderá chegar a 35% em algumas regiões, como o Mato Grosso.

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a redução de área deve-se não só aos baixos preços, mas aos altos custos de produção e à restrição de crédito, que pode não ser suficiente para o financiamento das atividades. No entanto, Lucilio Alves, pesquisador do Cepea, ressalta que há divergências em relação ao tamanho da safra. "A decisão de plantio foi feita de maio a agosto e muitos produtores não tem planejamento o suficiente para fazer grandes alterações na área que irão destinar a cada atividade", disse.

Para Alves, os agricultores menos capitalizados e que dependem de crédito externo terão maiores dificuldades.

As negociações entre cotonicultores e indústria têxtil seguem paradas. Além das compras antecipadas, a expectativa de um desaquecimento da demanda mantém as empresas do setor numa posição retraída. As fábricas, inclusive, deverão ter o período de férias coletivas antecipado.

A paridade de exportação e de importação também atrapalha. "Quem precisa comprar, dependendo das condições de negócios e tarifária vai preferir importar", avaliou Alves. Ele ressaltou que uma importação no limite do preço doméstico é sinal de que o preço pode cair ainda mais. "Em contrapartida a paridade de exportação está abaixo de R$ 1 e nesse caso compensaria vender aqui dentro, mas para isso o produtor terá que baixar o preço ou ir para o mercado spot onde os valores são ainda mais baixos".

Mário Wilson Pena Costa, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), acredita que o empresariado brasileiro é criativo e já está habituado a lidar com situações de estresse. "Os desafios são numerosos: a aprovação de novos eventos biologicamente modificados, a obtenção de crédito suficiente para a safra 2008/2009 e seguintes, a continuidade da Política de Equalização do Preço Mínimo Para o Produtor [Pepro]."

Um grupo de produtores está se antecipando e usando a biotecnologia para viabilizar a produção de algodão. Numa atitude pioneira, 20 agricultores realizarão testes com plantio adensado de algodão numa área total de 8 mil hectares que irá abranger os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

A expectativa é a de que o novo sistema de manejo resulte numa redução de custos de até 40%. A técnica já vem sendo utilizada há três safras por produtores do Paraguai e já ocupa 17% da área do país. Esses agricultores estão obtendo uma produtividade de 4 mil quilos por hectare, em média.

Segundo Anderson Pereira, gerente de mercado da MDM, o corte de gastos está concentrado na adubação, cuja redução pode chegar a 50%, encurtando o ciclo da cultura. "Reduz a quantidade de defensivos e com o cultivar adequado o custo pode ficar entre R$ 2,5 mil a R$ 3 mil por hectare", afirmou Pereira. "O custo variando de R$ 4.500 a R$ 5000 por hectare com o plantio convencional está ficando praticamente inviável", completou.

O Grupo Maeda, um dos maiores produtores do País (82 mil hectares entre soja e algodão), irá introduzir a técnica no MT. Considerado o mais verticalizado no segmento do algodão, o Grupo também sente as dificuldades atuais dessa cultura. "Para poder passar por essa crise, o algodão do Brasil precisa ter uma nova forma de produção", afirmou Alexandre Augusto Silva, diretor agrícola do Maeda. Segundo ele a empresa prevê uma redução entre 15% e 20% dos custos. "Mesmo assim não sei se eu vou conseguir viabilizar a produção. O custo está muito alto e o preço dá comercialização está ruim", disse.

Uma técnica que pode baixar o custo de produção e ser mais uma opção para a safrinha. Apesar desse ser o sonho de todo produtor ainda hoje poucos sabem do que se trata o algodão adensado. O diferencial desse tipo de plantio é o espaçamento, que utiliza uma distância inferior ao utilizado atualmente. A relação de espaçamento e volume de semente por hectare pode aumentar de 90 cm para 100 mil plantas por hectare, no convencional, para 250 mil plantas no adensado.

O aumento da quantidade de plantas por hectare faz com que elas tenham um número de estruturas reprodutivas menor, o que possibilita uma maior produtividade por área. Além disso, o controle de plantas daninhas pode ser mais facilitado, devido à menor entrada de raios solares que permitam o desenvolvimento das pragas. Esse tipo de manejo também é utilizado para diminuir o ciclo da cultura de algodão. A expectativa é a de que ao invés de levar de 180 a 190 dias, em média, entre o plantio e a colheita esse tempo seja otimizado para 140 a 150 dias.


Fonte: DCI
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