Maersk faz testes com etanol em combustível marítimo antes de negociar com usinas no Brasil

Publicado em 20/10/2025 15:21

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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - A dinamarquesa A.P. Moller - Maersk, uma das maiores transportadoras marítimas de contêineres do mundo, afirmou nesta segunda-feira que está em processo de testes de uma mistura de etanol brasileiro com metanol e diesel marítimo ("bunker") para os motores de suas embarcações, visando descarbonizar suas operações.

A depender dos resultados dos testes, que incluem o uso de 10% de etanol no combustível marítimo, a empresa deverá iniciar negociações comerciais com grandes produtoras do biocombustível no Brasil, como Raízen, Copersucar, Inpasa, FS e Atvos, disse o VP de Políticas Regulatórias da Maersk Latam, Danilo Veras, a jornalistas.

Considerando os grandes volumes de combustíveis consumidos pelas embarcações, as negociações deverão versar sobre a capacidade de as companhias ofertarem o etanol de forma sustentável, disse Veras, ponderando que o biocombustível brasileiro se mostra com elevado potencial de descarbonizar.

"É a primeira vez que se queima etanol em motor de dois tempos que tem quatro andares de tamanho, é outra escala de pesquisa, outro nível de preocupação...", afirmou o executivo da Maersk, referindo-se ao tamanho do motor dos grandes navios.

A busca pela descarbonização é uma questão chave para o setor de transporte marítimo, que responde sozinho por cerca de 3% de todas as emissões de gases do efeito estufa (GEE) do planeta.

De outro lado, o movimento tem potencial para abrir um mercado enorme para a indústria de etanol. Uma mistura de 10% no combustível de todo o segmento marítimo no mundo poderia demandar, por hipótese, 50 bilhões de litros, um volume que supera com folga a produção brasileira, que deve girar em torno de 35 bilhões de litros em 2025.

Veras evitou afirmar quando a companhia poderia adotar uma mistura de etanol no combustível de suas embarcações. Mas pontuou que a escala de aumento da demanda pelo biocombustível e seus impactos são questões analisadas.

"Quando você dá um salto em escala é preciso estar muito certo de que este salto é sustentável", afirmou ele, ao lado de executivos da Raízen, Copersucar, Inpasa, FS e Atvos.

A Maersk, que representa 15% do mercado mundial de transporte marítimo, tem meta de ter emissões líquidas zero até 2040, alcançando um equilíbrio entre a quantidade de GEE emitida e o volume removido da atmosfera, e os testes para usar biocombustíveis são um dos caminhos nesta direção.

DEMANDA É CHAVE

Ele explicou que, embora o etanol brasileiro seja produzido em áreas de cana-de-açúcar consolidadas, sem impacto relevante para desmatamento, ou fabricado em regiões onde se produz o milho na segunda safra, o que reduz a pegada de carbono, as empresas fornecedoras precisarão comprovar que todo o processo é ambientalmente sustentável. O uso de biomassa para movimentar as caldeiras das usinas também é outro fator favorável ao etanol brasileiro, acrescentou.

"Parte das discussões comerciais é a discussão sobre sustentabilidade", declarou, ressaltando que a companhia não admite que o processo possa causar devastação ambiental. "Estamos felizes até o momento porque está caminhando com dados de boa qualidade."

O VP de Novos Negócios da Atvos, Caio Dafico, um dos executivos de empresas produtoras de etanol presentes no anúncio, afirmou que o Brasil tem condições de "quadruplicar" a produção de etanol de forma sustentável, desde que receba uma sinalização de demanda.

"Acho que isso chama a atenção da Maersk... o Brasil tem condição muito específica e singular de conseguir quadruplicar a produção de combustível barato nos próximos anos havendo a demanda...", disse ele, citando a ampla disponibilidade de terras de pastagens degradadas que poderiam ser convertidas em lavouras.

As discussões com as empresas produtoras de etanol começariam tão logo os testes com a mistura de etanol em "bunker" terminarem.

Os testes da mistura de etanol em navios movidos a metanol devem terminar em 23 de outubro, antes de a companhia realizar os mesmos procedimentos com "bunker".

A adoção da mistura de biocombustível, contudo, tem desafios de infraestrutura portuária no Brasil, e a companhia avalia se exportaria o biocombustível para realizar a mescla no exterior, em um primeiro momento.

Em nota nesta segunda-feira, o vice-presidente sênior e head de Transição Energética da Maersk, Morten Bo Christiansen, disse que as empresas apoiam os trabalhos adicionais da Organização Marítima Internacional (IMO) para examinar a compatibilidade de segurança do etanol com a tecnologia de motores marítimos, após o órgão adiar, na sexta-feira, as discussões sobre o tema.

(Por Roberto Samora)

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Fonte:
Reuters

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