Quinhentos anos de atraso. Ou: O açougue brasileiro...

Publicado em 23/03/2013 11:06 e atualizado em 15/05/2013 14:11
por Reinaldo Azevedo, de veja.com.br

Quinhentos anos de atraso. Ou: O açougue brasileiro

Às vezes, o Brasil está atrasado mais de 500 anos.

O açougue, o matadouro, a carne do animal retalhada, já foi parar em várias telas. Com muita insistência, como vocês verão abaixo, entre os séculos 16 e 17, o que faz sentido. Era um tempo de contraste entre a carne e o espírito. O animal aos pedaços nos lembrava, ao menos em parte, do que éramos feitos.

Vejam esta foto de Sérgio Dutti do Brasil do século 21. É um matadouro da cidade de Vazante, em Minas. Prestem atenção agora às imagens que seguem. Todos esses quadros se chamam “Açougue”. Atribuo as respectivas autorias e o período em que viveu o artista.

“Açougue”, de Pieter Aertsen (1508-1575). O Brasil, como se nota, é mais grotesco

Acima, “O Açougue” de Annibale Caracci (1569-1609): não dá nem para o cheiro

Agora ” O Açougue”, de Annibale Passerotti (1529-1592): havia certo decoro

David Teniers o Jovem (1610-1690), pintou o seu “Açougue”: o corpo é casca

Acima, “O Açougue” de Reinier Coveyin (1636-1674): o ambiente é asséptico

O Brasil pode surpreender a arte, acanalhá-la e acanalhar-se. Leiam texto da VEJA.com. Volto em seguida.

O PPS anunciou que vai protocolar até a manhã desta terça-feira na Mesa Diretora da Câmara um requerimento cobrando explicações do novo ministro da Agricultura, Antônio Andrade, sobre sua parceria com um abatedouro clandestino no município mineiro de Vazante. Reportagem de VEJA desta semana mostra que o Antônio Andrade, conhecido criador de gado, é cliente e amigo do proprietário do matadouro, que já foi autuado por abate ilegal e condições de higiene precárias. “Trata-se de uma denúncia grave que precisa de um esclarecimento imediato do ministro. Como pode uma autoridade responsável por zelar pela saúde animal de nosso rebanho compactuar e se beneficiar de uma situação destas?”, afirmou o líder do partido, deputado Rubens Bueno (PR).

A reportagem de VEJA mostra que o novo ministro da Agricultura tem seis propriedades rurais em Vazante, sua base eleitoral, e um rebanho de mais de 3.000 cabeças de gado. Andrade fornece animais para o abate e usa a carne para alimentar funcionários de suas fazendas.

A Câmara tem prazo de 15 dias para enviar o ofício ao Ministério da Agricultura. Após o recebimento, Andrade terá 30 dias para apresentar uma resposta. O Ministério Público de Minas Gerais solicitou à Polícia Ambiental uma inspeção no local de abate, a ser realizada na manhã desta terça-feira. De acordo com o promotor José Geraldo Rocha, a interdição será pedida caso o laudo aponte irregularidades no estabelecimento.

Voltei

O Brasil tem uma das pecuárias mais desenvolvidas e produtivas do mundo. O próprio ministro é um grande e competente produtor, até onde se sabe. É evidente que o país não pode conviver com essas cenas de horror. O que se tem ali é uma óbvia ameaça à saúde das pessoas. Estabelecimentos que praticam abates nessas condições não podem ser autuados. Têm de ser fechados.

O ministro, que ganhou uma pasta num daqueles acordões do governo Dilma com o PMDB, não pode fazer de conta que a coisa não lhe diz respeito. Sustentar que ignorava a existência do abatedouro clandestino, com o qual sua empresa negocia, ofende a inteligência e os fatos. Absurdos como esse correm o mundo e depõem contra o bom produtor brasileiro, que nada tem a ver com o descalabro.

Por Reinaldo Azevedo

 

Herança maldita da dupla Lula-Gabrielli: acionistas da Petrobras perdem 21% em 12 meses

Volte e meia penso o que teria acontecido a José Sérgio Gabrielli, que presidiu a Petrobras nos oito anos de governo Lula e no primeiro ano de governo de Dilma, se tivesse sido dirigente de uma empresa privada. Não seria convidado nem para servir um cafezinho. A quantidade de más notícias que a estatal acumula decorrentes de sua gestão é uma coisa espantosa. Por quê? Porque a gigante foi usada para fazer política. Em vez de cair no index dos maus gestores, no entanto, Gabrielli foi ser secretário de Planejamento da Bahia, e o governador Jaques Wagner (PT) tenta emplacá-lo como candidato do partido à sua sucessão.

Num país com uma oposição um pouco mais atilada e com um Parlamento minimamente independente, já se teria instalado a CPI da Petrobras. Mas quê… Basta tocar no nome da empresa para que alguns vigaristas apontem longo alguma conspiração. Na Presidência da gigante, Gabrielli chegou a contar uma mentira escandalosa: afirmou que FHC tinha a intenção de privatizar a parte pública da empresa. A Petrobras é uma empresa de economia mista, mas foi gerida durante nove anos como se fosse uma extensão do PT. Leiam o que informa Maria Paula Autran, na Folha:

Cálculos feitos para a Folha pela empresa de informações financeiras Comdinheiro mostram que quem aplicou R$ 10 mil há 12 meses no papel mais negociado da estatal (o preferencial, sem direito a voto) tinha, em 19 de março deste ano, R$ 7.912,18, já considerando os proventos (dividendos, juros sobre capital próprio e rendimentos). Quem investiu o valor na ação ordinária (menos negociada, com direito a voto) perdeu mais dinheiro: o saldo diminuiu para R$ 7.021,70.

As ações caíram no período pressionadas pela desconfiança dos investidores em relação à ingerência do governo na empresa, que impediu, por exemplo, reajustes mais elevados da gasolina por causa da inflação. Além disso, a companhia reduziu os dividendos (fatia do lucro distribuída aos acionistas) no ano passado. Na avaliação de especialistas, para quem tem papéis da companhia ou pensa em comprá-los com uma visão de retorno no curto prazo, a perspectiva não é boa.

“O fator político é preponderante e, se isso continuar no lugar de maximização de valor, o resultado não tem por que ser diferente”, diz Rafael Paschoarelli, professor da USP e um dos responsáveis pelo levantamento.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

A situação miserável de uma universidade federal e a cascata do PT. Ou: Pela primeira vez, aplaudo uma invasão de reitoria; ali, quem está desrespeitando a lei é o MEC. Ou: Mais um flagrante da farsa petista na educação

Estudantes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ocuparam dependências da reitoria na noite de quarta-feira, dia 13. Protestam contra as péssimas condições da instituição. Já chego lá. Antes, algumas considerações.

Os petistas são craques na criação de realidades virtuais. Contam, é verdade, com a colaboração das corporações sindicais — estas, sim, aquinhoadas pelo regime — e de importantes setores da imprensa, que eliminaram do seu conjunto de referências a palavra “eficiência”. Com as exceções de praxe, as redações se tornaram cartórios das demandas das ditas minorias. Estamos perdendo a noção do conjunto. “Ah, mas o país avança!”, objetam alguns. É certo! Sempre se avança um pouco, a despeito, frequentemente, do estado e até contra ele. Temos setores dinâmicos na economia, que seguem fazendo o seu trabalho. Mas é inquestionável que o Brasil se desenvolve abaixo do que poderia, abaixo do seu potencial.

Uma das áreas em que se aponta uma revolução — justamente a que mais excita a pena dos áulicos e dos demagogos — é a educação. Anotem aí: estamos perdendo a batalha para o tempo e, há muito, para outros países. Confunde-se quantidade com qualidade, o que é já um clichê da gestão desastrada, e se alimenta a farsa de que primeiro é preciso operar um grande processo de inclusão para, depois, cuidar da qualificação. É claro que as coisas não acontecem desse modo. E a razão é simples e lógica: a carência, o remendo, o improviso, a incúria, o desleixo, tudo isso também é uma realidade dinâmica, que vai mudando a cada dia. Também as espirais para baixo se movem.

Procurem aí no arquivo e vocês verão quantos posts já foram escritos aqui apontando o que tenho chamado de farsa da expansão do ensino das universidades federais.

O pior é que os setores que deveriam lutar pela excelência são hoje parte do problema. As entidades estudantis foram cooptadas pelo regime se tornaram suas assalariadas. A UNE se transformou no pior exemplo de peleguismo de que se tem notícia. Foi comprada. Os sindicatos de professores, do mesmo modo, são apenas extensões do poder, braços dos partidos políticos como o PT  e o PCdoB (que também manda na UNE). Quando não é assim, quem manda é o PSOL, em parceria com o PSTU, o que piora tudo. A imprensa, no geral, não dá muita bola para o assunto. Os nossos valentes editores estão ocupados demais ajudando a vaiar o pastor Feliciano porque “ele não pensa o que a gente pensa”. As oposições, sempre com as exceções costumeiras, são burocráticas, descoladas dos problemas reais da população, reféns das fantasias com o que o petismo anima o noticiário.

É só na educação? Não é, não! Vejam a patética fila de caminhões rumo ao porto de Santos, que chegam a 30 quilômetros. Há dez anos, a atual presidente da República, Dilma Rousseff — que hoje se elegeria no primeiro turno, indicam as pesquisas — é considerada a maga (patológica?) da infraestrutura. Sim, a MP dos Portos é boa, eu mesmo a elogiei aqui (e mantenho o elogio), mas vem com atraso. Certamente será aprovada com concessões àqueles mesmos setores corporativistas que se tornaram sócios do poder.

O atraso dos portos, no entanto, com um plano agressivo de investimentos, até pode ser superado num prazo, sei lá, de 10, 15 anos. Mas não é assim na educação. Nesse caso, o que se está corroendo não é só o presente. Também o futuro está indo para o lixo. O mundo não conhece revolução do conhecimento que não privilegie o saber e os mais aptos. E o Brasil escolheu o caminho contrário. “Ah, mas Dilma será reeleita; o povo está feliz!” Que seja! Também não sou juiz da felicidade alheia. Nada disso, no entanto, torna certo o que está errado.

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
O Globo trouxe neste sábado uma reportagem impressionante sobre a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, que reproduzo no pé deste post, com algumas fotos. Muito bem, vindos os fatos e as fotos à luz, o que vai acontecer? Nada! As corporações de ofício vão avançar como aranhas saltadeiras sobre os críticos e ainda acusarão uma conspiração contra a popularização do ensino universitário, a exemplo do que fizeram no Twitter alguns vagabundos, que saíram em defesa do MEC no episódio das redações-deboche. Dois estudantes, movidos pela pena da ironia e da galhofa (ainda voltarei a eles), prestaram um grande serviço ao país. Foram três parágrafos que provaram a farsa em que se transformou o Enem, seja como instrumento de avaliação do ensino médio, seja como vestibular.

Na UFRRJ, alunos de educação física fazem aulas práticas — eu escrevi “práticas” — de natação e remo no seco, fora d’água, porque não há piscina ou tanque de remo. O professor se deita numa mesa para ensinar a remada, explica uma aluna. Sabem por quê?

O tanque de remo para instrução está assim, ó (todas as fotos são de autoria de Hudson Pontes, da Agência Globo).

E o parque aquático, fechado há quase um ano, está assim.

O laboratório do Departamento de Tecnologia de Alimentos, do Instituo de Tecnologia, está inundado. Há ali produtos tóxicos, que podem contaminar o lençol freático. Vejam.

Sem saída
Um trecho da excelente reportagem do Globo explica por que a esperança, nesse caso, pode ser vã. Reproduzo em azul:

Eleita nova reitora, mas ainda não empossada, a professora Ana Maria Dantas Soares acha que, apesar das inúmeras falhas detectadas, a universidade “está indo bem”. “Não deixamos de reconhecer os problemas. Estamos tentando resolvê-los. Foram décadas de descaso com o ensino público”, diz ela, que está na UFRRJ há 34 anos, tendo ocupado o cargo de vice-reitora nas últimas duas gestões. Ana Maria atribui algumas limitações ao Reuni, programa criado pelo governo federal em 2007 para ampliar o acesso ao ensino superior, por meio de aumento de vagas e de cursos, inovações pedagógicas e combate à evasão. “O problema, na verdade, não é o Reuni, mas a forma como ele foi adotado. Se tivéssemos tido a oportunidade de construir prédios, criar os cursos e só depois virem os alunos, tudo bem. Mas não foi assim, pois era um projeto de governo, não de Estado”, observa, referindo-se à pressa na implantação do programa.

Voltei
Foi vice-reitora por duas gestões; é, agora, reitora. É sinal de que há continuidade de mando. Apresentada aos descalabros, acha que a universidade “está indo bem”. Os petistas estão no poder há dez anos, mas ela prefere apontar o dedo para as “décadas de descaso” — a culpa é sempre alheia. Pergunte a Lula, e ele pode culpar até Pedro Álvares Cabral. Mas resta um pouco de bom senso: ela reconhece que o tal Reuni levou alunos para as universidades, mas sem a estrutura necessária. Ah, bom… Como ele é de 2007, então as tais décadas não têm nada com isso, certo?

Abaixo, segue a íntegra (em azul) da reportagem com mais algumas fotos. Depois de tudo, volto para concluir.
*
O parque aquático da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, tem quatro piscinas, mas os alunos do sexto período do curso de educação física têm aulas práticas de natação sem cair na água. Não se trata de um método de ensino inovador, mas de uma tentativa vã — e indignada — de compensar os prejuízos causados pelo fechamento do parque, que aconteceu há quase um ano. “O professor se deita na mesa para nos ensinar a remada”, conta a paulista Isabela Damasceno Cruz, de 20 anos, que se diz frustrada com os problemas da UFRRJ.

Antes, segundo ela, as aulas práticas eram ministradas num clube nas proximidades, mas, por inadequação da piscina e falta de transporte para levar os estudantes, o ensino agora fica só na teoria. Uma caminhada de quatro horas pelo segundo maior campus universitário da América Latina, na última quarta-feira, permite constatar um cenário de abandono. A universidade é centenária e funcionava em outro local. O atual campus começou a ser usado em 1948. Nossa equipe visitou a área após um grupo de alunos enviar um dossiê relatando uma série de problemas para a seção “Eu Estudante”, da página de Educação do site do GLOBO.

No parque aquático, as piscinas têm águas sujas e azulejos quebrados, e um tanque para prática de remo está tomado por lixo. A precariedade também está presente no Instituto de Tecnologia: o laboratório do Departamento de Tecnologia de Alimentos está inundado. Além de privar os alunos de usar um recurso importante, o alagamento sistemático do local também expõe a comunidade a riscos, já que há ali produtos nocivos à saúde que podem contaminar o lençol freático.

Salas de aula estão com infiltrações, e alunos e professores convivem com o mofo, que é mais do que metáfora…

Outro laboratório, o de Informática Aplicada à Arquitetura, também está de portas fechadas. O problema ali são rachaduras que cortam o teto, as paredes e o chão. Coordenador do curso de arquitetura, o professor Carlos Eduardo da Silva Costa lamenta: “É inaceitável um curso sem laboratório de informática, mas não podemos ter aulas aqui enquanto isso não for resolvido.”

Dentro dos prédios, o risco é visível também nas instalações elétricas, onde o improviso é recorrente. Aluno do sexto período do curso de relações internacionais, Lincoln Leão, de 21 anos, não quer nem pensar nos estragos que um incêndio causaria. “Não temos brigada de incêndio. E, para piorar a situação, Seropédica não tem Corpo de Bombeiros”, observa ele, que faz parte do grupo de estudantes que ocupa a reitoria desde 13 de março.

Vejam que belo exemplo de cumprimento de normas técnicas nas instalações elétricas…

Iluminação ruim é outra dificuldade
Fora dos institutos, a insegurança também é grande. Estudantes e professores reclamam de assaltos ocorridos até mesmo à luz do dia. Aluno de engenharia química, Blayley Idegard, de 28 anos, estava sentado na porta de um imóvel hoje usado como alojamento, entretido com seu computador portátil, quando foi abordado por dois homens numa moto. “Um deles me chamou de vagabundo e apontou a arma para a minha cabeça. Para mim, foi uma surpresa ser assaltado dentro da universidade”, conta ele, que veio do interior do Pará.

Se durante o dia há riscos, à noite o quadro é mais complicado, pois há vários pontos do campus onde a iluminação é precária. Esther Saraiva, de 22 anos, aluna do quarto período de química, conta que esperava o ônibus quando dois homens chegaram numa moto e levaram sua mochila: “Perdi tudo: material de estudo, dinheiro”.

Na hora em que a fome aperta, a situação no campus é igualmente desconfortável. A fila diante do restaurante universitário assusta. Sem cobertura, os alunos ficam debaixo de sol ou chuva. Um anexo foi construído, mas os funcionários da unidade, que são terceirizados, pararam de trabalhar por causa de problemas salariais .

A estudante Esther Saraiva, de 22 anos, também não gosta da comida, mas bate o ponto no local porque, apesar de morar no alojamento, não tem fogão no quarto. “Moro no antigo hotel dos professores. Invadimos há um ano, por falta de vaga no dormitório feminino. Lá também não é adequado. Faltam água e luz.

Grupo faz diagnóstico
Coordenador do Plano Diretor Participativo da UFRRJ, o professor Humberto Kzure confirma os problemas enumerados no dossiê produzido por alunos. Ele diz categórico: “Uma  palavra que resume a situação hoje da UFRRJ é insalubridade”. Há dois anos, ele iniciou um diagnóstico da situação no campus, com a participação de professores, estudantes estagiários e técnicos administrativos. Um calhamaço de cerca de mil páginas, com fotos anexadas, mostra que a lista de problemas é extensa. “São questões que vêm se acumulando ao longo do tempo. Há problemas na qualidade dos laboratórios, no descarte de resíduos químicos, biológicos, sólidos. E os alojamentos não são adequados”.

Ainda que o pavilhão central da UFRRJ, onde fica a reitoria, esteja em condições muito superiores às demais unidades do campus, Humberto Kzure observa que há problemas na manutenção dos imóveis tombados, como a instalação irregular de aparelhos de ar-condicionado.

Eleita nova reitora, mas ainda não empossada, a professora Ana Maria Dantas Soares acha que, apesar das inúmeras falhas detectadas, a universidade “está indo bem”. “Não deixamos de reconhecer os problemas. Estamos tentando resolvê-los. Foram décadas de descaso com o ensino público”, diz ela, que está na UFRRJ há 34 anos, tendo ocupado o cargo de vice-reitora nas últimas duas gestões.

Ana Maria atribui algumas limitações ao Reuni, programa criado pelo governo federal em 2007 para ampliar o acesso ao ensino superior, por meio de aumento de vagas e de cursos, inovações pedagógicas e combate à evasão. “O problema, na verdade, não é o Reuni, mas a forma como ele foi adotado. Se tivéssemos tido a oportunidade de construir prédios, criar os cursos e só depois virem os alunos, tudo bem. Mas não foi assim, pois era um projeto de governo, não de Estado”, observa, referindo-se à pressa na implantação do programa.

Dados da execução orçamentária da UFRRJ, publicados na página do Ministério da Educação, revelam que o valor pago pelo governo à instituição aumentou quase 24 vezes entre 2005 e 2012: saltou de R$ 14,8 milhões para R$ 347 milhões. Sobre o incremento significativo, a direção da universidade informa que há erro no valor registrado no site em relação a 2005: o repasse teria sido, na verdade, de R$ 140 milhões. O MEC, porém, garante que os dados estão corretos. Considerando apenas os valores relativos ao Reuni, o ministério repassou, de 2007 até o ano passado, cerca de R$ 120 milhões. Para este ano, devem ser pagos R$ 20 milhões.

Seja qual for a quantia, os alunos que ocupam a reitoria divulgaram ontem uma pauta de reivindicações e garantem que só liberam o gabinete após o compromisso da direção de que as solicitações serão atendidas. E ainda condicionam a saída à realização de uma auditoria externa pelo Ministério Público Federal e pelo Tribunal de Contas da União.

Lixo de toda natureza fica exposto ao relento. Mas reitora acha que a culpa é das “décadas de descaso”…

Concluo
Não pensem  que a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro é exceção. Não é. No dia em que a imprensa resolver fazer um raio-X pra valer das universidades federais brasileiras, teremos então clareza das mistificações destes últimos 10 anos, marcados pela baixa qualidade de ensino, deficiência de infraestrutura e espantoso desperdício de dinheiro.

Todo mundo sabe que não sou do tipo que aplaude invasão de prédio público. Nem sei que partido ou tendência, se é que há alguma, está no comando da ação da UFRRJ. Sei que, desta feita, aplaudo, sim! Quem está descumprindo a lei e as regras do estado de direito por lá é o governo federal, é o MEC. A reitora, ora vejam, em linguagem militante, culpa “décadas de descaso”. Ela só não explica por que não consegue chamar nem mesmo o lixeiro…

Por Reinaldo Azevedo

 

Atenção, povo do Rio! Na guerra entre Lindbergh Farias, investigado pelo STF, e Cabral, o relapso da região serrana, acredite nos dois e fuja de ambos! Ou: Chega de coraçãozinho!

Vejam esta foto, de autoria de Pablo Jacobo, de O Globo.

 

Essa coisa fofa, com um monte de gente fazendo coraçãozinho, é da eleição de 2010. No palanque estão Marcelo Crivella (PRB), hoje ministro da Pesca; o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Acabou a fofura. Agora é pau puro!

A disputa pelo governo do Rio está ficando interessante. Cabral quer emplacar como seu sucessor o vice, Luiz Fernando Pezão, e gostaria de contar com o apoio do PT. Lindbergh, no entanto, diz que não abre mão de sua candidatura. E a guerra foi deflagrada. O mais curioso é que os dois lados parecem ter razão, entendem? Pior para o povo do Rio. Vamos ver.

O PMDB pôs para circular um dossiê com um fato: o petista é investigado pelo Supremo Tribunal Federal. Não se trata de boato. Informa o Globo:
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) foi acusado de ter montado um esquema de recebimento de propina de empresas contratadas por Nova Iguaçu, quando ele foi prefeito do município, entre 2005 e 2010.
(…)
A investigação é baseada em dois depoimentos prestados em 2007 ao Ministério Público Estadual por Elza Elena Barbosa Araújo, ex-chefe de gabinete da Secretaria de Finanças de Nova Iguaçu, que até então estava sob sigilo. Segundo ela, logo no início do mandato, em 2005, Lindbergh montou um esquema de captação de propina entre empresas contratadas pela prefeitura. Os valores chegariam a até R$ 500 mil por contrato. Os recursos eram usados, segundo a acusação, para quitar despesas pessoas do então prefeito, inclusive prestações de um apartamento da mãe dele, Ana Maria, em Brasília. Outra acusação da ex-funcionária da prefeitura atinge Carlos Frederico Farias, irmão de Lindbergh. A empresa Bougainville Urbanismo, de sua propriedade, teria recebido R$ 250 mil do esquema. O Tribunal de Justiça do Rio autorizou a quebra de sigilos do senador, inclusive de cartão de crédito e aplicações financeiras.

(…)

Fúria
Muito bem! Lindbergh ficou furioso. E reagiu. Informa Cássio Bruno no Globo:
Levantamento apresentado ontem pelo grupo político do senador, a pedido do próprio, mostra que R$ 887 milhões que teriam sido repassados pela União ainda não foram utilizados pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) na reconstrução das cidades da Região Serrana castigadas pelas chuvas em 2011.
(…)
“Quem faz guerra de dossiês e jogo sujo é o PMDB. Essa é a política velha que queremos derrotar. Em vez de ficarem fabricando dossiês, eles deveriam se concentrar nas obras da Região Serrana. A Dilma fez tudo certo ao liberar os recursos. O problema é que, dois anos depois, as obras não foram iniciadas. Muitas (obras) não foram licitadas, e outras ainda estão em fase de elaboração de projetos. Isso tem nome: má gestão e negligência com a vida das pessoas”, disparou Lindbergh em entrevista ao GLOBO.

A verba federal transferida seria referente à construção de casas, contenção de encostas, dragagem de rios e drenagem da água das chuvas, obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e reconstrução de pontes.
(…)
No fim de semana, Lindbergh colocou um vídeo no Facebook. Nele, lembra o episódio que provocou uma crise no governo Cabral no ano passado: as fotos publicadas na internet pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR) em que secretários de Cabral aparecem se divertindo, em 2009, com guardanapos na cabeça, em Paris, ao lado do governador e do ex-presidente da Delta Construções Fernando Cavendish. “Estão querendo jogar todo mundo na lama. Não adianta. Eles não vão conseguir colocar um guardanapo na minha cabeça. Temos outra conduta: não faço política patrimonialista e para enriquecer”, diz Lindbergh, no vídeo.

Cabral respondeu por nota:
“O governador desaprova e desautoriza o uso de dossiês, lamentando constatar a atribuição deste ao PMDB. À Justiça, cabe julgar fatos. Quaisquer diferenças entre políticos devem ser tratadas com a devida seriedade e respeito dentro do campo político”.

A Secretaria de Obras disse que agiu rapidamente após os deslizamentos de 2011 e vem trabalhando na recuperação da Região Serrana. Segundo o órgão, imediatamente após à tragédia, os R$ 70 milhões repassados pelo governo federal foram destinados aos serviços emergenciais em sete municípios. A secretaria disse ainda que o total a ser investido na região é de R$ 2,2 bilhões, sendo R$ 1,2 bilhão de recursos federais.
(…)

Retomo
Deixe-me ver se entendi. Lindbergh não faz política patrimonialista ou para enriquecer. Como diz isso num vídeo em que leva ao ar as imagens de Cabral dançando na boquinha da garrafa, com Fernando Cavendish, em Paris, suponho, então, que ache que o governador do Rio é que faz política “patrimonialista e para enriquecer”. E isso me faz supor que, há pouco mais de dois anos, Lindbergh colaborou para manter gente assim no poder, certo? Ou ele só descobriu agora o “verdadeiro Cabral”? Ora…

O senador diz também querer derrotar a “política velha” do PMDB. Entendo. Em 2010, ela ainda era nova e só envelheceu depois? A incúria do governo do Rio do caso de Petrópolis dispensa provas adicionais; é autodemonstrável — nota à margem: Lindbergh faz política mesquinha quando poupa o governo federal de críticas. Que o senador seja investigado no STF, isso também é um fato. Ou não é? Não quer dizer que seja culpado necessariamente, mas a investigação existe. E o tribunal não costuma dar atenção a meros boatos.

Por enquanto, os dois lados falam a verdade. Que medo! Só me resta concluir que, até 2010, ambos estavam, então, unidos contra o povo, né? Aí houve um excesso de ambição de Cabral, que quer fazer seu sucessor, e de Lindbergh, que quer o lugar do próprio Cabral, e a coisa desandou. Um e outro pedem ao povo que não confie mais naquele em que, até anteontem, eles mesmos confiavam. Que gente exótica!

Como estavam juntos, sugiro ao povo fluminense que acredite tanto no PMDB como no PT. Não sei se fui muito sutil.

Por Reinaldo Azevedo


Nós pagamos parte das despesas geradas pelo lobista Lula

Luiz Inácio Apedeuta — mas burro jamais! — da Silva é hoje um misto de líder político e lobista muito bem-sucedido. O que o distingue de Zé Dirceu é uma condenação em última instância por corrupção ativa e formação de quadrilha. Eles têm dimensões distintas, é certo, mas, hoje em dia, a mesma profissão.

Não é só ex-presidente que gera despesas ao Estado. Estas estão previstas em lei: oito funcionários entre motoristas, assessores e seguranças. O lobista Lula, revelam Fernando Mello e Flávia Foreque na Folha de hoje, também gera custos aos cofres do Estado. Suas andanças mundo afora como facilitador de negócios de grandes empresas, pesam no bolso dos brasileiros. Leiam trecho da reportagem:

O governo brasileiro também teve gastos com as viagens privadas ao exterior feitas pelo ex-presidente Lula. Ontem, a Folha revelou que 13 de suas 30 viagens ao exterior após sair do cargo foram bancadas por empreiteiras com interesses nos países visitados, conforme telegramas obtidos via Itamaraty. Em parte dessas viagens, Lula recebeu apoio de embaixadas, por meio de funcionários locais ou diplomatas enviados do Brasil para acompanhá-lo. Há também pagamento de almoços e aluguéis de material para a comitiva. Segundo advogados e procuradores da República, gastos não previstos na legislação podem gerar ações para ressarcir os cofres públicos.

A lei que trata dos direitos de ex-presidentes não prevê apoio diferenciado no exterior —como no Brasil, são previstos oito assessores pagos pelo governo, como seguranças e motoristas. Mas a tradição diplomática costuma considerar isso uma cortesia. Em algumas viagens de Lula ao exterior, o Itamaraty designou diplomatas do alto escalão para acompanhá-lo. Foi o que ocorreu em viagem de Lula a Moçambique e África do Sul, em 2012, quando o embaixador Paulo Cordeiro, subsecretário-geral para África e Oriente Médio, foi o encarregado da tarefa.
(…)

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma perde o senso de ridículo e emite nota sobre as viagens de Lula, o lobista. É o fim da picada!

A presidente Dilma Rousseff perdeu o senso de ridículo e divulgou uma nota sobre as viagens de Lula custeadas por empreiteiras. E olhem que ainda não tinha vindo a público a informação de que isso não sai a custo zero aos cofres brasileiros, não. O Babalorixá de Banânia, embora não esteja representando oficialmente o Brasil, recebe das embaixadas no país no exterior tratamento de chefe de estado, com deslocamento de diplomatas e coisa e tal.

Pois bem. Quando Dilma divulgou a nota — e ela é presidente da República, pombas! —, tratava-se apenas de uma reportagem sobre um ser privado chamado Luiz Inácio Lula da Silva. O que a presidente tem com isso? Ex-presidente da República não é governo, ora essa! Os dois são do mesmo partido, é fato; ela o sucedeu, também é fato. Mas isso não a obriga e menos ainda a autoriza e emitir nota. E ainda em tom todo indignado: “Eu me recuso a entrar nesse tipo de ilação sobre o presidente Lula. O presidente Lula tem o respeito de todos os chefes de Estado da África e deu grande contribuição ao país nessa área”. Pode se recusar! Até então, que saiba, ninguém havia pedido a sua opinião. Ainda bem que a imprensa é livre, né?

Ele já é bem grandinho, tem uma equipe imensa à sua disposição, porta-vozes em penca e pode falar por si mesmo.

Dilma agora deveria soltar nota oficial em nome da Presidência da República explicando por que o Brasil arca com parte dos custos das viagens do lobista Lula. Ou estará ele acima das leis, além de estar, segundo querem os petistas, acima das reportagens?

Por Reinaldo Azevedo

 

Governo Dilma – Uma base aliada na barra dos tribunais; agora é a vez de Eduardo Braga

Eu, hein!

Depois de o Supremo ter decidido investigar o deputado Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB na Câmara, chegou a vez de outro Eduardo, agora o Braga, líder do governo Dilma no Senado, também do PMDB, só que do Amazonas. A síntese da história é cabeluda — ou polpuda, como vocês verão. Uma empresa comprou um terreno em Manaus, em 2003, por parcos R$ 400 mil. Três meses depois, vendeu ao governo do Estado por R$ 14,1 milhões. Braga era o governador. Leiam o que informa Jailton de Carvalho, no Globo:
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STF determina abertura de inquérito para investigar líder do governo no Senado

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a abertura de inquérito para apurar o suposto envolvimento do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), líder do governo no Senado, em desvio de dinheiro público na desapropriação de um terreno em Manaus destinado a construção de casas populares. No início de 2003, três meses depois de comprar o terreno por R$ 400 mil, a empresa Columbia Engenharia repassou a área ao governo do Amazonas por R$ 13,1 milhões, o que indicaria uma valorização recorde de 3.100%. Mendes também determinou a quebra do sigilo bancário da empresa no período da transação.

O inquérito foi aberto para apurar formação de quadrilha, peculato e fraude em licitação. Mendes autorizou a investigação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e pela suprocuradora Cláudia Sampaio. Segundo eles, mesmo sabendo da valorização extaordinária do terreno, Eduardo Braga endossou a desapropriação do terreno, conduzida à época pela Secretaria Estadual de Habitação. Os dois procuradores também sustentam também que, na compra do terreno, o governo pagou mais de R$ 5 milhões por benfeitorias inexistentes.

“Mesmo diante do valor extraordinário que seria despendido pela administração pública e evidente irregularidade no desembolso, o então governador Eduardo Braga editou decreto nº 23.418 de 20/05/2003, que declarou interesse social, para fins de desapropriação, o imóvel que especifica situado na cidade de Manaus, necessário a construção de casas populares”, afirmam Gurgel e Cláudia Sampaio. Mendes concordou que os indícios são suficientes e determinou abertura de inquérito contra Eduardo Braga e todos os servidores do governo e dirigentes da empresa que participaram da negociação.

Por Reinaldo Azevedo

 

Vergonha alheia – Mercadante agora anuncia pente-fino em redação nota mil. É um troço escandaloso!

Já escrevi aqui sobre o acerto do sujeito que formulou pela primeira vez a expressão “vergonha alheia”. Ela serve não apenas para designar o constrangimento vicário, aquele que a gente sente em lugar do outro, mas também para designar o nosso desconforto diante do patético, ainda que o protagonista do ato vexatório não se dê conta. Sabem aquele comercial idiota na televisão que o leva a descrer na humanidade? Ou, então, o piadista sem  ritmo, que perde o tempo da narrativa? Pois é…

Mercadante, não há como, desperta em mim, permanentemente, a sensação da vergonha alheia. Eu o peguei no pulo em 2006, anunciando no horário eleitoral um doutorado que não tinha — só faltava a tese… A dita cuja saiu em 2010: um texto-miojo sobre o governo Lula, desmoralizado por aqueles que ele mesmo convidara para a banca.

Pois bem… Vimos o que acontece com as correções das redações do Enem. O MEC, para nossa estupefação, encontrou supostas explicações teóricas tanto para a redação do miojo como para a do Palmeiras. Mas tomou uma decisão: inserções dessa natureza, doravante, levarão à desclassificação da prova. Ulalá! Convém os estudantes nunca mais recorrerem nem mesmo a uma citação. Dada a forma como se seleciona a mão de obra…

Agora, o ministro vem a público para anunciar que redações que obtiverem pontuação máxima vão passar por um “pente-fino”, como se o mal estivesse aí. Não está! O que não se pode é conferir mil pontos — 100% de proficiência — a quem escreve “enchergar”, “trousse” e “rasoavel”.

O ministro está confessando, na prática, que tudo é feito mesmo à matroca. É a desmoralização do exame. Uma nota mil é tão exemplar de uma nota mil como uma nota 560 é exemplar de uma nota 560. Será que precisarei desenhar isso a Mercadante? A questão é saber como os critérios estão sendo empregados para conferir uma pontuação ou outra e com que rigor as provas estão sendo corrigidas, Santo Deus!

Há mais: por uma razão de lógica elementar, certamente há mais injustiçados entre os alunos que tiram abaixo de mil do que entre os que alcançam o topo. Medidas como as anunciadas são a confissão de um desastre e não resolvem nada! Só dão conta do amadorismo, do improviso e da irresponsabilidade dos condutores desse sistema.

Por Reinaldo Azevedo

 

Desocupação do Museu do Índio, no Rio – Ou: A grande tribo dos Caras-Pálidas caras-de-pau

A VEJA.com já evidenciou o surrealismo, digamos, antropológico que se vivia no antigo Museu do Índio, na Zona Norte do Rio. Muito bem! Chegou a hora da desocupação da área, por decisão judicial. E quem eram aqueles que estavam lá para resistir, pintados para a guerra? Sim, grande tribo dos Caras-Pálidas caras-de-pau. Abaixo, segue um texto da VEJA.com. E olhem que Sérgio Cabral tem sorte! Em São Paulo, onde setores da imprensa apoiam até a privatização do espaço público por viciados em crack, largando o pau no governo do estado e na polícia, boa parte das redações estaria também com o rosto pintado com maquiagem M.A.C (peguei a dica com as minhas filhas, hehe), fazendo de conta que é tintura de urucum, e cocares comprados na rua 25 de Março. Segue texto da VEJA.com.
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Por força do homem branco, foi revogado ao meio-dia desta sexta-feira, no Rio de Janeiro, o sentido tradicional da expressão “programa de índio”. Enquanto 12 indígenas tomavam café da manhã em um hotel no centro do Rio, dezenas de manifestantes, munidos de ‘tacapes’ de ferro, pedras, paus e materiais da obra no estádio do Maracanã enfrentavam a polícia. O motivo: resistir à ocupação do antigo prédio do Museu do Índio, que desde 1978, é uma estrutura abandonada. Para deixar claro: os índios estavam num hotel, e a tribo dos manifestantes brancos entoava cantos de guerra contra a polícia.

Da TV do hotel, o que se via, na transmissão ao vivo da GloboNews, era a entrada do Batalhão de Choque no prédio em ruínas, com uma enfurecida etnia identificada pelas calças jeans, os rostos cobertos com camisa e mochilas. O defensor público Daniel Macedo disse à emissora que a entrada da Polícia Militar foi abusiva, pois os índios já haviam concordado em deixar o local.

A versão da PM é outra. Pouco antes do meio-dia, depois da saída de 12 índios – a maioria idosos, mulheres e crianças – aguardava-se a desocupação pelo restante do grupo, num total de cerca de 25 indígenas que estão no local desde 2006. Começou, então, o incêndio em uma oca. Temendo que a situação saísse do controle, foi dada a ordem para a entrada. Formou-se em seguida um cordão de isolamento para retirada dos demais índios.

Com os índios todos fora do local, os manifestantes começaram a fechar as pistas da Radial Oeste. Tumulto formado – com direito a uma representante do Femen, que foi detida depois de tirar a camisa –, o que se viu foi o de sempre: gás lacrimogênio, corre-corre, objetos lançados na pista e os escudos do Batalhão de Choque.

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), da Comissão de Direitos Humanos, informou que os índios aceitaram a proposta do governo do Estado de serem levados para um terreno em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade. Pouco depois das 11h representantes do grupo redigiram um documento concordando com a proposta oficial e passaram, então, a aguardar a assinatura de um representante do governo do estado para deixar o prédio.

Por que cargas d’água, então, eclodiu o tumulto? A explicação dificilmente escapa do seguinte: as razões e os interesses de quem cercava o ‘museu’ e defendia o que passou a ser chamado de ‘aldeia Maracanã’ não tem qualquer conexão com os interesses dos índios de fato. Como mostrou reportagem do site de VEJA, o interesse de ‘índios’ pelo prédio que desde 1978 não funciona mais como museu começou quando o governo do estado decidiu que usaria a área para o complexo do Maracanã.

Na tarde desta sexta-feira, os 25 índios que estavam dentro do prédio em ruínas vão optar pelos seguinte: receber moradia em áreas na Zona Oeste da cidade; receber o benefício de 500 reais do aluguel social – idêntico ao das vítimas da chuva na Região Serrana – ou obter auxílio para retornar a suas aldeias de origem.

Por Reinaldo Azevedo

 

Onde se esconde o “eles” satanizado por Lula? Ou: O discurso da pilantragem política bem remunerada

Há muitos anos invoco com um certo sujeito frequentemente atacado nos discursos logorreicos de Lula. Trata-se de um sujeito simples, mas oculto; presente, mas indeterminado, reconhecível, mas ausente. Vindo do Apedeuta, haveria de ser uma revolução da sintaxe. Não tem nome, mas pronome: “Eles” — eventualmente, há a variante “as elites”, mas o Babalorixá de Banânia tem recorrido menos a essa palavra. Ele gosta mesmo é de atacar um certo “eles”, caso em que temos, então, o objeto oculto, o objeto indeterminado, o objeto reconhecível, mas ausente.

Esse “eles” é capaz das maiores maldades. O “eles” está sempre conspirando contra o Brasil. O “eles” tem sempre as piores intenções. O “eles” atua em nome de uma agenda secreta. O “eles” é contra os benefícios aos mais pobres…

Assim, ao longo desses anos, tenho indagado: “Mas, afinal de contas, quem forma esse ‘eles’?”. Quais são os nomes designados por esses pronomes? Onde estão os “quens” que lhe conferem substância política? Como transformar esse pronome do caso reto em pronome interrogativo, em pronome relativo? Impossível!

Já lhes falei aqui, em 2010, sobre um livrinho chamado “Mitos e Mitologias Políticas”, do francês Raoul Girardet. É de fácil leitura e não traz nada de especialmente fabuloso. Sua virtude principal é sistematizar com muita clareza as características do discurso da manipulação política autoritária. Leiam abaixo as suas características e depois me digam se vocês não reconhecem aí tipos como Chávez (agora Maduro), Cristina Kirchner, Rafael Correa, Evo Morales — e, é evidente, Lula! Notem como todos os tiranos do século passado também seguiram rigorosamente o roteiro. Segundo Girardet, os assassinos da razão política investem nos seguintes mitos:
– prometem a Idade de Ouro;
– apresentam-se como salvadores da pátria;
– apontam uma permanente conspiração de inimigos;
– sempre alertam para o risco representado pelos estrangeiros;
– demonstram que a luta contra os inimigos implica sacrifício pessoal;
– o que deu errado é sempre culpa desses inimigos.

Todos são assim?
Aí dirá alguém: “Ah, Reinaldo, todos são assim! Isso é próprio da política!”. Bem, meus caros, o Brasil mesmo demonstra que isso não é verdade. Pegue-se o caso do político que chegou ao topo sem exercitar nenhuma dessas vigarices: FHC. Apontem uma só dessas pilantragens no discurso do ex-presidente, dentro ou fora do poder. Ao contrário até: o tucano é uma espécie de fanático da racionalidade, enxergando sempre conexões lógicas e necessárias entre passado, presente e futuro; entre o antes e o depois. Já ocorreu de ser generoso demais na leitura do tal “processo”, de sorte que já chegou a ver no próprio Lula o desdobramento da era tucana. Acho isso falso. Mas fica para outra hora.

Lula, ao contrário, cumpriu à risca o roteiro (os “estrangeiros” em sua fala, são os americanos; os “brancos de olhos azuis”), com ênfase na suposta e permanente conspiração dos inimigos — aquele “eles” sujeito, aquele “eles” objeto de demonização.

Quem paga a conta?
Pois é… Nesta quarta, o Globo informou que três empreiteiras arcam com os custos da viagem de Lula à África. Reproduzo trecho de texto publicado nesta quinta na VEJA.com (em vermelho). Volto em seguida:
Três construtoras com histórico de doações eleitorais para as campanhas presidenciais petistas e de execução de obras do governo federal custearam a viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a África, encerrada na terça-feira. Lula ficou seis dias no continente e passou por Gana, Benin, Guiné Equatorial e Nigéria.
Durante a viagem, fez duas palestras custeadas por empreiteiras. A primeira, em Gana, foi paga em conjunto pela Odebrecht e pela Queiroz Galvão, além de uma empresa de seguros local chamada SIC. A segunda foi bancada pela construtora Andrade Gutierrez, que doou mais de 2 milhões de reais a Lula quando ele concorreu à reeleição, em 2006. Naquele ano, a Odebrecht injetou cerca de 200 000 reais na campanha do petista. A Queiroz Galvão não fez doações.
Em 2010, a campanha da presidente Dilma Rousseff recebeu 9,38 milhões de reais da Queiroz Galvão, 15,7 milhões da Andrade Gutierrez e 2,4 milhões da Odebrecht. A informação de que a viagem fora paga pelas empreiteiras foi publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Globo e confirmada pelo Instituto Lula, que, no entanto, não informou os valores pagos sob a alegação de que são dados “reservados”.
(…)

Voltei
Refaço a pergunta: que nomes, afinal de contas, se escondem no pronome “eles”? Lula, por certo, não considera que os trabalhadores sejam os inimigos. Ao contrário: ele se quer seu porta-voz. As empreiteiras, ainda as maiores financiadoras de campanhas eleitorais, também são amigas de Lula. Os grandes industriais, hoje dependentes do BNDES e das bondades “desonerantes” de Guido Mantega, não perfilam com o tal “eles”. O setor financeiro… Bem, esse não mesmo! Quem é esse “eles”? Onde está esse “eles”?

A prática não é nova. No dia 30 de agosto de 2011, Sérgio Roxo, no mesmo Globo, informava (em vermelho):
Depois de uma semana dedicada a articulações políticas para a eleição do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma, a partir de hoje, a vida de palestrante internacional. Contratado pelas empreiteiras OAS e Queiroz Galvão, o petista irá à Bolívia, à Costa Rica e a El Salvador. Nos três países, o ex-presidente também terá atividades políticas e se encontrará com os presidentes locais.
O tema de todas as palestras será o mesmo: integração regional e o desenvolvimento social e econômico dos países da América Latina. Lula viaja em jatos particulares bancados pelas empreiteiras e acompanhado de assessores. Ele recebe cerca de US$ 300 mil por palestra no exterior.
O giro do ex-presidente começou ontem, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde participaria à noite, com o presidente boliviano Evo Morales, de uma reunião com movimentos sociais no estádio da cidade. Hoje de manhã, pago pela OAS, Lula falará a empresários, industriais, produtores rurais e integrantes da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos. A empreiteira brasileira é responsável pela construção no país de uma estrada de US$ 415 milhões (cerca de R$ 660 milhões), que enfrenta protestos por cortar uma área indígena.

Encerro
As viagens de Lula e quem lhe paga as contas não teriam a menor importância se o PT não fizesse do estado uma extensão do partido (e também o contrário). Isso tudo seria irrelevante se ele não se colocasse — e não fosse de fato — um condestável da República. Que se virasse lá com seus financiadores! Seria mesmo irrelevante se o Apedeuta fosse hoje, com efeito, apenas um homem privado, que não se imiscui nos assuntos de estado nem dá as cartas no partido que está no poder; se não houvesse uma fatia enorme do governo que obedece mais a seu comando do que ao de Dilma.

Ocorre que nada disso é verdade. O Apedeuta se transformou num misto de chefe de estado informal e lobista — com a graça de que nem tem o ônus da governança.

Lula está no topo da cadeia alimentar da política. Não tem predadores naturais. Mesmo assim, vive apontando a conspiração dos gnus, das zebras, dos cervos… Sempre deixando claro que pode resolver tudo com uma patada na espinha ou uma mordida na jugular. E toda a savana lhe presta reverência.

Onde, afinal de contas, se esconde o tal “eles”?

Texto publicado originalmente às 20h39 desta quinta

Por Reinaldo Azevedo

 

Lula, nadando em dinheiro privado, quer impor aos outros o financiamento público de campanha

Continuo encantado com o périplo mundo afora de Luiz Inácio Lula da Silva, tudo às expensas de empreiteiras. Reitere-se: fosse ele apenas um ser privado, ok. Poderia fazer de sua  vida o que achasse melhor. Mas é evidente que as coisas não são bem assim. Continua a ser um dos homens mais poderosos do Brasil — talvez o mais —, com forte influência no Palácio do Planalto. É ele que faz e desfaz candidatos no PT, organiza as alianças políticas do partido, deflagra e dá o ritmo do processo sucessório etc. Todos querem ser, claro!, seu amigo. Agora vem o mais interessante: este encantador de empresários, este verdadeiro burguês do capital alheio, tem um sonho: o financiamento público de campanha! Essa é uma bandeira do PT.

Lula é mesmo um senhor esperto. Sai por aí, financiado pelo grande capital, lota o próprio bolso e o caixa de seu instituto de dinheiro — nem mesmo precisa prestar contas, a não ser ao Imposto de Renda —, arrecada o quanto quiser, mas quer confinar os adversários na cafua do financiamento público. Pergunto: o que ele anda fazendo Brasil e mundo afora é ou não é política?

A resposta é óbvia. Não existe financiamento público de campanha que possa coibir as suas “palestras remuneradas”, certo? Se ele quer ser animador de negócios, lobista, porta-voz de conglomerados, o que seja, que vá fundo! O que não pode é impor aos outros uma prática que ele mesmo não segue. 

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma deixou o “papa argentino” com inveja: “Deus é brasileiro!”. O custo do deslocamento da Corte de Dario

Já deveria ter escrito a respeito, mas sabem cumé… Assunto demais para Reinaldo de menos, hehe. Eu ainda estou cá a pensar na brincadeira — ela costuma ser pândega mesmo! — que a presidente Dilma Rousseff fez na quarta-feira, depois do encontro com o papa Francisco. Indagada por um jornalista sobre o que pensava do fato de Jorge Bergoglio ser argentino, ela mandou ver: “Vocês, argentinos, têm muita sorte. A gente sempre diz: ‘O papa é argentino, mas Deus é brasileiro’”. Tá.

A relação de Dilma com a língua é algo que me encanta desde o tempo em que ela foi anunciada como ministra das Minas e Energia. Chama a minha atenção aquele advérbio, o “sempre”. Hoje é apenas o nono dia do pontificado de Francisco, mas Dilma já fundou uma tradição… Assim, há longuíssimos NOVE DIAS, “a gente sempre diz” o besteirol de que o papa é argentino, mas Deus é brasileiro…

Quando a presidente fazia a sua graça, já passavam de 20 os mortos pela chuva em Petrópolis. Deus é brasileiro? Acho que não. Mas Dilma é. Sérgio Cabral é. As autoridades de Petrópolis são. O Nordeste assiste à pior seca dos últimos 40 anos — anunciadíssima, e parte do semiárido já está esfaimando. Deus é brasileiro? Acho que não. Mas todos aqueles que não tomaram as medidas preventivas para que a rotina de miséria se repetisse são brasileiros. Brasileira, mais uma vez, é Dilma, que prometeu na Paraíba o Bolsa Bode quando voltar a chover.

Eu sei que ela estava brincando, eu sei… Mas, definitivamente, é preciso parar com essa cafonice. Os brasileiros é que são brasileiros. Para o bem e para o mal, Deus não tem nada com isso.

O encontro com o papa deixou Dilma muito inspirada. Instada a dar a sua impressão pessoal sobre o Sumo Pontífice, aquela que havia viajado à Itália com uma corte maior do que a de Dario, filosofou: “Ele disse que está com o Brasil e com a América Latina. É um papa muito normal. Ele fala um portunhol e entende o português”. Entendi. De hoje em diante, para mim, o padrão da normalidade será falar portunhol e entender português. No segundo quesito ao menos, o MEC de Mercadante, o da tese-miojo, está cheio de pessoas anormais.

Tenho repetido aqui que o papa não é argentino — o então cardeal Jorge Bergoglio era. O papa é da Igreja Católica e, por definição e função, é universal, é de todo lugar. Mas eu mesmo sou tentado a achar que sobrou no Santo Padre uma ironia portenha com seus “hermanos” brasileiros.

A presidente contou que Francisco lhe deu um livro de presente com o resultado da 5ª Conferência-Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, que aconteceu em Aparecida, em 2007. Segundo a própria Dilma, ele lhe disse:“Você não precisa ler tudo porque você pode se aborrecer, então você pega o índice e vai nos assuntos que te interessam”.

O papa, pelo visto, conhece bem o espírito da turma. Deve ter-se lembrando de uma entrevista ou outra de Lula, antecessor de Dilma, que já afirmou que a leitura lhe dá sono. “É claro que esses brasileiros não vão ter paciência de ler um livro inteiro…”

Ela aproveitou o ensejo, também, para fazer campanha eleitoral. Afinal, é uma conterrânea de Deus. Afirmou ainda: “O papa é extremamente carismático e tem um compromisso com os pobres, o que torna a relação com o Brasil muito importante porque o governo brasileiro vem nos últimos dez anos focando a questão da superação da pobreza. Expliquei como é que estamos. Mas ele conhecia bem. Não houve surpresa, ele conhecia bastante bem”.

Excelente! Então esse papa tem compromisso com os pobres — os outros não tinham! E é isso que tornaria a relação com o Brasil “muito importante”. Se um dia não houver mais pobres no Brasil, a gente cassa a cidadania de Deus. Só nos últimos 10 anos — na gestão petista, portanto —, é que se travou a luta contra a pobreza. Antes, nada foi feito. Naquele tempo em que algumas forças políticas lutavam para acabar com a inflação, tendo de enfrentar a sabotagem petista, o que se fazia, claro!, era punir os pobres…

O deslocamento da Corte de Dario de Dilma Rousseff à Itália custou R$ 324 mil só em hospedagem. Coloquem aí todos os demais custos, a coisa passa fácil dos R$ 500 mil. Não foi inútil. Agora sabemos:
a: o papa é argentino, mas Deus é brasileiro;
b: o papa é uma pessoa normal porque fala portunhol e entende português;
c: o papa deu um livro a Dilma, mas apostou que ela não terá paciência para lê-lo;
d: o Brasil começou a combater a pobreza há apenas dez anos.

O papa já havia se encontrado com Cristina Kirchner e certamente achou aqueles vinte minutinhos com Dilma muito agradáveis…

Por Reinaldo Azevedo

 

Em Duque de Caxias, moradias do “Minha Casa Minha Vida” inundaram. Foram construídas em área de mangue… Ainda que Deus fosse brasileiro, como quer Dilma, teria de lutar com as leis da física…

Vejam esta área inundada.

Reproduzi num post de ontem reportagem do Jornal da Globo sobre prédios do “Minha Casa Minha Vida” destinados aos antigos moradores do Morro do Bumba, em Niterói, que ameaçam desabar antes mesmo que a construção seja concluída. Pois é. O mesmo Jornal da Globo levou ao ar ontem reportagem de Flávia Januzzi sobre casas do programa, em Duque de Caxias, que… inundam!!! A ironia: aquelas pessoas só estão ali porque moravam em… áreas de risco. Vejam as imagens. Para assistir ao vídeo, clique aqui. Reproduzo texto que está no site do jornal. Volto em seguida.
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A chuva do fim de semana inundou os condomínios no distrito de Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias. Quatro dias depois, os moradores ainda tentam recuperar o pouco que sobrou.

São 389 casas do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, destinadas a famílias que viviam em áreas de risco ou violentas.  O projeto saiu por R$ 17,5 milhões, segundo a Caixa Econômica Federal. Os moradores pagam prestações que variam de R$ 25 a R$ 120.

Além de algumas casas encherem durante as chuvas, algumas apresentam problemas estruturais. Em uma delas, há rachaduras por todo o quarto. É um problema muito antigo, segundo o próprio morador da casa, que teve que sair.

A Caixa informou que o terreno não tinha histórico de alagamento e classificou o volume de chuvas como extraordinário. “A Caixa já esta fazendo levantamento e vamos corrigir o que tiver que ser corrigido. Os moradores terão imóveis restabelecidos a plena condição de uso”, afirma Cláudio  Martins, superintendente regional da Caixa Econômica Federal.

Na quarta-feira, o Jornal da Globo também mostrou outro conjunto habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida, em Niterói, que também tem problemas. Dois dos 11 prédios destinados às vítimas do deslizamento no Morro do Bumba, em 2010, estão com a estrutura comprometida e terão que ser demolidos.

Em Duque de Caxias, algumas casas, ainda alagadas, já começaram a ser abandonadas pelas famílias. “Vim para cá com esperança de ter uma vida melhor, de ter uma casa melhor. Não para vir e passar o mesmo problema”, diz a dona de casa Sidnéa Fonseca da Silva.

Voltei
Se vocês assistirem ao vídeo com a íntegra da reportagem, encontrarão lá o testemunho de Idalina da Silva, que é moradora da região há mais de 30 anos. Ela assegura: “Aqui é uma área de mangue. Eu moro aqui há mais de 30 anos. Sempre alagou”.

É isto mesmo que vocês entenderam: escolheram uma área de mangue, que sempre alagou, para construir as casas. Mas a Caixa não viu problema nenhum nisso e financiou. “Ah, Reinaldo, é melhor do que morrer soterrado…” Ah, é! Vista a coisa por esse ângulo, é mesmo!

Por Reinaldo Azevedo

 

Líder do PMDB vira réu por uso de documento falso

Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
O Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou nesta quinta-feira denúncia contra o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), pelo crime de uso de documento falso. A corte considerou haver indícios de que o parlamentar sabia da existência de assinaturas falsas em quatro documentos apresentados por ele ao Tribunal de Contas do Rio de Janeiro em 2002. Na época, Cunha pretendia se livrar de suspeitas de irregularidades na Companhia de Habitação do Estado do Rio de Janeiro (Cehab), que foi presidida por ele. 

O relator, Gilmar Mendes, aceitou a denúncia e foi acompanhado pelos ministros Marco Aurélio Mello, Cármen Lúcia e Joaquim Barbosa. Luiz Fux, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski foram voto vencido. As investigações constataram que eram falsas as assinaturas de três promotores e um procurador, incluídas nas certidões. Apontado como responsável pela falsificação, Élio Fischberg, então 2º subprocurador-geral de Justiça do Rio, já foi condenado.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, defendeu a aceitação da denúncia: “De posse dos documentos falsificados, Eduardo Cunha peticionou nos autos do processo e fez juntar as cópias dos documentos, guardando consigo os originais”, disse Gurgel.

Gilmar Mendes concordou: “A materialidade resta comprovada nos autos”. Joaquim Barbosa, o presidente da corte, lembrou que Cunha era o principal interessado no crime. “Não vislumbro credibilidade na alegação de desconhecimento da falsidade ideológica por parte do denunciado, uma vez que as informações constantes nos documentos se referem a ele próprio.”

Por outro lado, o advogado de Cunha, Alexandre de Moraes, afirmou que seu cliente desconhecia a origem dos documentos: “Como qualquer investigado, ele solicitou certidões tanto no âmbito penal quanto no âmbito cível”, afirmou. O ministro Luiz Fux disse que o conjunto das provas não permite atribuir qualquer suspeita a Eduardo Cunha. “Os próprios corréus dizem que ele não sabia que o documento era falso”, afirmou o ministro. “Uma pessoa pode usar um documento falso, mas é preciso saber se ela usa ciente de que o documento é falso”, acrescentou Fux.

Por Reinaldo Azevedo

 

Paulo Bernardo vira alvo dos pterodáctilos da censura e da sujeira financiada por estatais

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que é petista desde 1984, transformou-se num alvo da ala heavy metal do PT. Nos bastidores, também dirigentes de alto coturno, como o presidente do partido, Rui Falcão, expressam a sua insatisfação. Motivo: o ministro não é um entusiasta das teses de controle da mídia. Os petistas, como está consignado em documento oficial, querem ter o poder até sobre o conteúdo das notícias.

Em entrevista ao Estadão, o ministro afirmou que seu próprio partido está misturando regulação da área de comunicação com investimentos e destacou que “não há e nunca vai haver marco regulatório para jornais e revistas”.

Pra quê!?!?!? Virou alvo dos setores mais radicais, está sendo criticado nos bastidores pela turma de Falcão e se transformou em alvo dos blogs sujos, financiados por estatais, que babam antegozando a possibilidade de um dia poderem censurar o jornalismo, como se faz em Cuba, na Venezuela, no Equador, na Bolívia… Cada um desses excluídos da grande imprensa em razão de seu padrão moral se imagina batendo o chicote nas botas e dando as ordens na Globo, na VEJA, na Folha, no Estadão… Já nãos lhes basta encher as burras de dinheiro fazendo proselitismo partidário, demonizando a oposição e atacando a imprensa livre. Querem mais. Querem é censura. Voltarei ao tema mais tarde.

Nos dois primeiros anos, Dilma não permitiu que os pterodáctilos lançassem dejetos sobre a sua cabeça — embora tenha mantido intocado o sistema de financiamento estatal daquela sujeira. Nos dois anos finais, com ambições de ser reeleita, não parece que vá ceder à voz das trevas nesse particular. “E se for reeleita em 2014, sabendo que não poderá disputar um terceiro mandato?” Ah, bem, aí não sei. Cumpre ficar vigilante caso se reeleja.

Em seu blog, Valter Pomar, da ala esquerda do partido e membro de sua direção nacional, evidencia seu inconformismo: “Se coubesse adotar o termo “incompreensível” utilizado pelo ministro, poderíamos dizer que incompreensível é postergar para um futuro incerto o marco regulatório”.

Os petistas, como se nota, ainda não desistiram. Voltarei ao assunto mais tarde para demonstrar como setores da própria imprensa estão endossando métodos de pressão que um dia poderão resultar no estreitamento da sua liberdade. Aguardem.

Por Reinaldo Azevedo

 

As pesquisas eleitorais: o que é circunstancial e o que é estrutural. Ou: Sem confronto de valores, não há oposição possível. Ou ainda: boa notícia para Eduardo Campos

Ai, ai… Vocês são testemunhas das muitas vezes em que chamei aqui a atenção para o fato de que, tudo o mais constante no terreno oposicionista (ironia: por enquanto, o que não é constante só piora!), Dilma tem tudo para se eleger no primeiro turno em 2014, feito que nem Lula conseguiu nas duas jornadas em que venceu. Certamente o PT atuou para que assim fosse, gostemos ou não. Mas convenham: é uma obra construída com a ajuda da oposição. Sua ruindade na esfera federal se traduz em votos… para o governo, certo? A esperança, hoje, vejam que coisa, chama-se Eduardo Campos, governador de Pernambuco (PSB). Em certa medida, está em suas mãos, e no eventual crescimento de sua candidatura, Dilma ter de disputar ou não o segundo turno. Sim, caros, há elementos inerentes à própria narrativa, que independem de armações e circunstâncias, que explicam esse resultado. Mas é claro que há também, como chamarei?, um buliçoso movimento dos espertos. Falemos um pouco das espertezas. Depois volto às questões de fundo.

As circunstâncias

Dilma apareceu na TV no dia 8 de março — Dia Internacional da Mulher — para anunciar a desoneração dos produtos da cesta básica. Pouco antes, havia feito o anúncio, batendo bumbo, da redução da tarifa de energia. Naquele mesmo dia 8, o Ibope havia começado a colher os dados sobre a sua popularidade, que prosseguiu, segundo o instituto, nos dias 9 e 10 — os dados só seriam anunciados dez dias depois, a 19 de março.

Assim, com o noticiário, inclusive o da TV, tomado pela tal desoneração, com direito a pronunciamento oficial, o Ibope foi a campo: “O que você acha de Dilma?” O resultado foi aquele que se viu. Nem poderia ser diferente. Sua popularidade havia, é evidente, crescido. Na quarta e na quinta, 20 e 21 de março, os números recordes da presidente ganharam grande destaque: para 63%, o governo é ótimo ou bom; 79% aprovam seu jeito de governar.

Também nesta quarta e quinta, enquanto a imprensa e as redes sociais estavam inundadas com essas notícias, aí foi a vez de o Datafolha fazer a sua pesquisa, esta de intenção de voto. Bidu! Dilma cresceu de 54% em dezembro para 58% agora; Marina e Aécio oscilaram dois pontos para baixo — 16% ela, apenas 10% ele. Quem oscilou dois para cima foi Eduardo Campos, que aparece com 6%. Ah, sim: um dia antes de o Datafolha fazer suas entrevistas, a imprensa brasileira havia dado grande destaque ao encontro de Dilma com o papa Francisco. Como se sabe, ela deslocou a Corte de Dario para Roma, gastando mais ou menos meio milhão de reais em três dias. Quem se importa?

Falta coisa. O Ibope, que, segundo afirmou, foi a campo entre 8 e 10 para fazer a avaliação de Dilma para a CNI, voltou às ruas, nesse clima de oba-oba, entre os dias 14 e 18, aí a serviço do Estadão, que também publica neste sábado uma pesquisa. Instituto e jornal decidiram ir mais longe, medindo o que chamam potencial de voto. Se a Folha chama a atenção para os 58% de intenção de voto em Dilma, o Estado prefere um número ainda mais vistoso: o potencial de voto da petista seria de 76%, que é a soma dos 52% que dizem votar nela com certeza mais os 24% que afirmam que poderiam fazê-lo.

Levando a sério esse negócio de “potencial de voto”, os possíveis adversários deveriam retirar suas respectivas candidaturas e dar a vitória a Dilma por WO. Afinal, só ela tem saldo positivo, de 56 pontos: 76% votariam ou poderiam votar, contra 20% que não fariam isso de jeito nenhum. Marina tem saldo zero: 40% votariam ou poderiam votar, contra outros 40% que a rejeitam (estou nesse grupo!).  O de Aécio é negativo em 11 pontos (25% a 36%); o de Campos, em 25 (10% a 35%). Mas há aí uma questão: 39% dizem desconhecer o mineiro; outros 54% não sabem quem é o pernambucano.

O truque
O PSDB caiu no truque de Lula — e apontei isso aqui à época. Quando ele decidiu antecipar a campanha eleitoral, chamando o PSDB para a briga, ele o fez de olho no calendário e na agenda do governo. Como se começou a discutir a sucessão com quase dois anos de antecedência, os eventos políticos passam a girar em torno desse eixo.  Dado que o governo está com a iniciativa, é claro que tudo conspiraria em favor de Dilma. Nota à margem (já volto aqui): embora Campos tenha rejeitado a campanha precoce, ele acabou se beneficiando desse processo, um efeito certamente indesejado pelo petismo, mas inevitável.

É claro que foi um erro o PSDB ter aceitado os termos do confronto proposto por Lula. Não foi falta de aviso. O governo tinha a faca e o queijo — sem qualquer alusão a Minas, eu juro! — na mão. Eis aí. Aécio não pode reclamar de falta de generosidade do noticiário, que lhe garantiu bastante espaço. Apareceu como o candidato certo do PSDB à Presidência, como presidente já nomeado do partido; como adversário preferencial de Dilma, para responder a isso e àquilo. Há três meses, no Datafolha, tinha 12%; agora, está com 10%. Sigamos.

O que não é apenas circunstância
Há circunstâncias, sim — algumas matreiras, outras malandras —, que explicam o fantástico desempenho de Dilma. Mas há também elementos constitutivos da realidade política. Todas as dificuldades e irresoluções do governo e do país — inflação acima da meta, baixo crescimento, investimento pífio — não chegaram à população. A economia ainda ancorada no consumo sustenta a fantasia de um Brasil que resolveu todos os seus problemas. E olhem que não faltam dificuldades, como a pior seca do Nordeste nos últimos 40 anos (a popularidade de Dilma voltou a crescer na região, diz o Ibope), a encalacrada da Petrobras, um serviço de saúde miserável, a infraestrutura capenga (vejam aquela estúpida e inacreditável fila de caminhões nas estradas rumo ao Porto de Santos)… De A a Z, dá para escolher.

“Ah, mas o povo vive bem!” Ainda que isso fosse uma verdade absoluta — e ouso dizer que não é (mas não me estenderei agora sobre a tal “classe média” com renda per capita acima de R$ 300… é piada!) —, é evidente que sobraria espaço para a oposição, não é? Não fosse assim, governos bem-sucedidos, mundo afora, sempre se reelegeriam ou fariam seus respectivos sucessores, o que absolutamente não é verdade. É claro que isso facilita enormemente a tarefa, mas não determina.

O principal problema da oposição no Brasil é não ter construído, ao longo dos anos, uma agenda e uma cultura. Não há valores alternativos aos do petismo. Isso, sim, é dramático. Nas vezes em que se ensaiou algo parecido, o PSDB fugiu como o diabo foge da cruz, com receio de ser considerado um partido conservador.  E, na contramão do quase consenso estúpido da crônica política, sustento: é a ausência de uma visão conservadora sólida, organizada — que, obviamente, também pode estar voltada para o social —, que torna tão singular a política no Brasil. Digam uma única democracia, uma só, além da nossa, em que todas as alternativas de poder, mesmo as remotas, sejam de centro-esquerda. Vejam  que curioso: os petistas vivem acusando o PSDB de ser de direita, e os tucanos vivem tentando provar para os petistas que isso é mentira. São reféns de uma invenção do adversário.

Na última edição da VEJA DE 2010, escrevi um longo artigo sobre os caminhos e descaminhos da oposição. Dilma tinha acabado de vencer a eleição. Não mudei de ideia. Sem promover, de forma permanente, um confronto de valores — uma guerra mesmo! —, será muito difícil a oposição sair do lugar. Corre o risco é de se anular como alternativa de poder, não existindo senão como expressões regionais de poder.

Eduardo Campos
É cedo, mas parece que o nome do Eduardo Campos, dada a sua presença relativamente discreta na imprensa nacional, está além dos que esperavam petistas, tucanos e ele próprio: no Datafolha, 6%; no Ibope-Estadão, 10% dizem que votariam ou poderiam votar nele. Aécio está com 10% no Datafolha e é tratado como presidenciável desde 2006 — para quem tem boa memória, desde 2002 ele já se apresenta nessa condição.

Atenção para isto: Minas tinha, no ano passado, pouco mais de 15 milhões de eleitores (15.019.136); Pernambuco, menos da metade: nem 6,5 milhões (6.494.122). Se todos votassem, Aécio poderia ter, então, 13,85 milhões de votos (10% dos 138.544.348 que compõem o eleitorado brasileiro), um número inferior ao de eleitores mineiros, e Campos, 8,31 milhões, um número bem superior ao de eleitores pernambucanos. “Tá louco, Reinaldo? Nem todos votam! A abstenção é enorme; há os brancos, os nulos…” Eu sei. Mas isso não muda a proporção, já que nem todos votam no Brasil, em Minas e em Pernambuco. Será que fui claro?

Para encerrar
É ainda muito cedo. Não há campanha eleitoral, nada! A presença de Dilma na imprensa, especialmente na TV, é infinitamente maior do que a dos adversários. É esmagadora. De quanto tempo disporá Aécio se for mesmo candidato? Fará qual abordagem? Qual será seu discurso? E Campos? Conseguirá se viabilizar? Seu caminho está mais ou menos traçado se candidato for: dirá que todos os governos até agora fizeram coisas boas, especialmente os do PT, mas falta muita coisa, é preciso ousar mais. Fará, digamos, a crítica construtiva. Isso forçará o candidato tucano a uma fala mais claramente de oposição?

E Marina? Caso viabilize mesmo seu partido, acho que pode ficar por aí mesmo, entre os 16% e os 20% (dos válidos), o que já é fabuloso. Em 2010, obteve 19,6 milhões de votos. Quando penso que quase 20 milhões julgam entender o que ela fala, eu me dou conta da fantástica diversidade humana.

Texto publicado originalmente às 23h58 desta sexta

Por Reinaldo Azevedo

 

Discriminação racial na Funarte – 10 bailarinos negros têm espetáculo recusado por ente oficial porque diretor da pessoa jurídica que os representa é… branco!

Antes que vá ao caso, algumas considerações.

Eu já compro tanta briga, né? Às vezes, confesso, sinto certa preguiça. Mas vá lá… Quando a senadora Marta Suplicy (PT-SP), este monumento do pensamento político nacional — que ganhou o Ministério da Cultura para apoiar Fernando Haddad —, lançou o tal “Prêmio Funarte de Arte Negra”, escrevi o óbvio: “É discriminação racial!” A portaria é de novembro do ano passado e tem a parceria da Sepir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). Que se esclareça: não haveria nada de errado em haver um prêmio para manifestações artísticas que tivessem o negro ou a cultura negra como tema — ou, se quisessem, o racismo. Mas é evidente que ele deveria ser aberto a todos os artistas, com todas as cores de pele que há na raça humana. Qualquer coisa do gênero destinada só a brancos, mesmo promovida por entes privados,  terminaria na cadeia.

Aí os cretinos do politicamente correto vomitam: “Claro! Teria de prender mesmo! Estaria certo! Afinal, branco é maioria!” Pra começo de conversa, diz o IBGE que já não é mais. Ainda que se queira lidar com o conceito de “minoria sociológica” — porque discriminada etc. e tal —, pergunto se não esta subjacente a essa proposta a ideia de gueto, de confinamento. Por que pretos devem concorrer só com pretos? Se a proposta de cotas nas universidades já não se sustenta moralmente, na arte, isso é um escândalo. E é claro que acabaria dando errado.

O primeiro prazo para a entrega de propostas era 4 de janeiro. Prorrogou-se para 4 de fevereiro e, depois, para o dia 25 de março, próxima segunda. Por quê? Por falta de projetos. Sabem por quê? Porque o Brasil, a despeito do que pretendem os racistas às avessas, é um país em que pretos e brancos convivem — nas artes, diga-se, mais do que em qualquer outra área.

Mas estava lá o edital bucéfalo. Branco está fora! Na Folha deste sábado, informa Gustavo Fioratti o que segue. Volto em seguida.

A Funarte, ligada ao Ministério da Cultura, recusou-se a receber o projeto de dez negros que, sob direção do dançarino Irineu Nogueira, tentaram inscrever o espetáculo “Afro Xplosion Brasil” no Prêmio Funarte de Arte Negra, cujo prazo de inscrição termina na segunda.Ana Claudia Souza, diretora do Centro de Programas Integrados (CEPIN) da Funarte, disse à Folha que o grupo foi vetado porque está sendo representado pela Cooperativa Paulista de Dança, cujo presidente, o bailarino Sandro Borelli, é branco.

O edital diz que, no caso de representações por pessoas jurídicas, só estão aptas a participar do prêmio “instituições privadas cujo representante legal, no ato da inscrição, se autodeclare negro”. Ela diz também que os proponentes podem se inscrever como pessoas físicas.

Nogueira considera “absurdo” o veto. “Não estou contra a Funarte, estou contra a concepção deste edital que, no afã de fazer uma reparação histórica, não tomou os cuidados para redigir o projeto com cuidado”, diz. Segundo ele, a opção de se inscrever pela cooperativa evitaria o desconto de IR de 27,5 %, que seriam abatidos do orçamento de R$ 150 mil. Segundo Souza, o texto do edital poderá ser rediscutido em suas próximas edições.

Voltei
Dizer o quê? É discriminação racial na veia! Os bananas acreditam que, assim, estão contribuindo, sei lá, para melhorar a condição do negro ou para elevar sua autoestima. Não estão, não! Isso é ruim para um país que tem de se integrar cada vez mais em vez de discriminar. Isso é ruim para a arte, que não pode se fechar num gueto. Isso é ruim para os negros — menos para os sindicalistas da causa —, que não podem se ver como um grupo apartado.

Acreditem: coisas assim não se dão nem na África do Sul, que se livrou do odiento apartheid há meros 19 anos. Mais uma contribuição de Marta Suplicy à política, às artes e ao pensamento. O que o Ministério Público fará nesse caso? Nada, ué! E isso também deveria nos cobrir de vergonha.

Por Reinaldo Azevedo

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Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

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