"Os dias mais longos que vivi...", por Reynaldo Rocha
Os dias mais longos que vivi,
A história é antiga. As advertências, idem. E o não ouvir, padrão.
Mesmo com diversos outros problemas de saúde – alguns bem mais graves – acrescentei mais um à lista. Dia 18/12, recebi a famosa trombada de um caminhão em pleno peito. Um infarto. Ou, como aprendi no CTI na ficha pregado ao lado de meu leito, um IAM (Infarto Agudo do Miocárdio).
A mistura de susto, dor intensa, enjoo e vômito só é menor que a tontura. Dói o braço, o peito e – que estranho! – a mandíbula.
Agradeço ao BIOCOR de BH pelo pronto atendimento. Em menos de 15 minutos no hospital, já estava na sala de Hemodinâmica colocando um stent no coração. Que me salvou. Obrigado, dr. César, pela presteza e competência.
Três dias no CTI. Quando estive nesta sala de muita dor e tristeza, estive sempre desacordado. Desta vez, não. Desperto e atento a tubos nos braços, mãos, respirador artificial, BIRD, monitores e aparelhos de análise de saturação.
Nada mais desumano. Nada mais assustador. Nada mais intensamente redutor a um absoluto estado de dependência.
Os ruídos são estranhos. A luz, fria. Os outros internos no mesmo silêncio cortado por gemidos prontamente interrompidos por remédios e analgésicos. O contato com o mundo, inexistente.
Reduz-se um ser humano a uma espécie de animal dependente de tudo. Principalmente da própria vida que – naquele momento – não lhe pertence.
Não sei o que é pior: o infarto ou o CTI.
É preciso humanizar os CTI´s. Foram os dias mais longos que já vivi. E não sou neófito neles. Mas, antes, estava dopado. Deixei de ser quem era e passei a ser o “do box 2”.
Não aconselho ninguém a parar de fumar ou ter uma vida minimamente saudável ou menos estressante. Não pode dar conselhos quem não segue os conselhos dados. Mas, se vale uma visão, só posso dizer: evitem.
Não é uma experiência que se viva impunemente.
E esta, creiam-me, pode ser evitada.
De volta à luta.
Feliz Natal a todos!
(por Reynaldo Rocha, de BH)
Depois do pobre que vira classe média sem sair da pobreza, o Brasil Maravilha inventou o ex-miserável que continua paupérrimo. Vai acabar inventando o mendigo magnata
PUBLICADO EM 26 DE FEVEREIRO
Para o governo, os mendigos de São Paulo estão acima da classe média
Às vésperas da celebração dos 10 anos da Descoberta dos Cofres Federais, a presidente da República animou a quermesse do PT com outra notícia assombrosa: falta muito pouco para a completa erradicação da miséria em território nacional. “Mais 2,5 milhões de brasileiras e brasileiros estão deixando a extrema pobreza”, informou Dilma Rousseff em 17 de fevereiro.
Eram os últimos indigentes cadastrados pelo governo federal. Graças aos trocados distribuídos pelo programa Brasil Carinhoso, todos passaram a ganhar R$ 71 por mês. E só é miserável quem ganha menos de R$ 70. Passou disso, é pobre. Nesta segunda-feira, depois de cumprimentar-se pela façanha, Dilma reiterou que o miserável-brasileiro só não é uma espécie extinta porque cerca de 500 mil famílias em situação de pobreza extrema estão fora do chamado Cadastro Único de Programas Sociais.
Como nem sabe quem são, quantos são e onde moram esses miseráveis recalcitrantes, o governo ainda não pôde transferi-los para a divisão superior. “O Estado não deve esperar que essas pessoas em situação de pobreza extrema batam à nossa porta para que nós os encontremos”, repetiu no Café com a Presidenta. Até dezembro de 2014, prometeu, o governo encontrará um por um.
Queiram ou não, estejam onde estiverem ─ num cafundó da Amazônia ou no mais remoto grotão do Centro-Oeste ─, todos serão obrigados a subir na vida. Enquanto isso, perguntam os que não perderam o juízo, que tal resolver a situação dos incontáveis pedintes visíveis a olho nu, o dia inteiro, nas esquinas mais movimentadas de todo o país?
O que espera a supergerente de araque para estender os braços do governo às mãos de crianças que vendem balas, jovens com malabares, adultos que limpam parabrisas sem pedir licença, mulheres que sobraçam bebês, velhos hemiplégicos e outros passageiros do último vagão? Porque não são miseráveis, informam os especialistas em ilusionismo estatístico a serviço dos farsantes no poder.
Desde maio de 2012, por decisão do Planalto, vigora a pirâmide social redesenhada pelo ministro Wellington Moreira Franco, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Segundo esse monumento ao cinismo, a faixa dos miseráveis abrange quem ganha individualmente entre zero e R$ 70 reais. A pobreza vai de R$ 71 a R$ 250. A classe média começa em R$ 251 e a acaba em R$ 850.
Os que embolsam mais de R$ 851 são ricos, e é nessa categoria que se enquadram milhares de seres andrajosos que se plantam de manhã à noite nos principais cruzamentos. Em São Paulo, esmolando oito horas por dia, cada um ganha de R$ 35 a R$ 40. Quase todos rondam os R$ 1.200 por mês. São, portanto, pedintes de classe média. Caso melhorem a produtividade, logo serão mendigos milionários.
Os analfabetos são quase 13 milhões, há mais de 30 milhões de analfabetos funcionais, a rede de ensino público está em frangalhos. Metade da população não tem acesso a serviços básicos de saneamento, o sistema de saúde pública é indecente. As três refeições diárias prometidas por Lula em fevereiro de 2003 nunca desceram do palanque, um oceano de desvalidos tenta sobreviver com dois reais e alguns centavos por dia.
De costas para o mundo real, os vigaristas no comando seguem fazendo de conta que o Primeiríssimo Mundo é aqui. O pior é que uma imensidão de vítimas do embuste parece acreditar na existência do Brasil Maravilha registrado em cartório. E vota nos gigolôs da miséria com a expressão satisfeita de quem vive numa Noruega com muito sol e Carnaval.
Essa parceria entre a esperteza e a ignorância faz milagres. Depois de inventar o pobre que sobe para a classe média sem sair da pobreza, inventou agora o ex-miserável que não tem onde cair morto. Vai acabar inventando o mendigo magnata.
(por Augusto Nunes)
O herói de 1981 reaparece 32 anos mais velho para enterrar a filha e dois netos
PUBLICADO EM 22 DE MARÇO
Foto: Carlos Mesquita/reprodução
No verão de 1981, durante os temporais que mataram 67 pessoas em Petrópolis, o fotógrafo Carlos Mesquita eternizou a imagem do pedreiro Jamil Luminato carregando sob a chuva o corpo de uma criança. A dramaticidade da cena rendeu um prêmio Esso a Mesquita, morto no ano passado. Jamil voltou a submergir no anonimato.
Nesta quinta-feira, Jamil reapareceu nas primeiras páginas 32 anos mais velho, mas sempre ao lado de vítimas das chuvas. Desta vez, as imagens mostram o pedreiro da Região Serrana do Rio enterrando a filha Drucilane Luminato, 37, e os netos Rodrigo de Oliveira Valle Júnior, 4, e João Vitor Alves do Valle, 2.
“A gente sabe que lá é área de risco”, disse à Folha. “Mas vamos para onde? Não temos condição de comprar um apartamento”. Jamil continua onde morava em 1981, a poucos metros da casa em que a filha morava. Ambos se enquadram na categoria de culpados que a presidente Dilma Rousseff inaugurou na semana passada.
“Não pode deixar construir”, irritou-se a chefe de governo. “É uma situação muito preocupante, porque as pessoas não saem. Quando for dito que é uma questão de emergência, as pessoas têm que sair. Têm de ter essa consciência”. O tortuoso raciocínio de Dilma é desmontado por duas frases de Jamil. “Se tivesse condições de sair, saía. Mas foi o que conseguimos construir com nosso dinheiro”.
Daniel Marenco/Folhapress
Veja também: As 6 mil casas prometidas por Dilma agora são 4.702 e nenhuma saiu do papel
Mais fios de cabelos, menos cérebro
(por ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR, artigo publicado na pag. de opiniao de O estado de S. Paulo)
Pela vaidade de alguns fios de cabelos a mais, o senador Renan Calheiros impôs nova afronta ao Brasil e aos brasileiros. Decaído da grandeza de seu cargo de presidente do Senado e do Congresso Nacional, requisitou um jato da Força Aérea Brasileira para levá-lo ao Nordeste a fim de realizar uma cirurgia de implante de cabelos.
A julgar pelas notícias publicadas em diferentes jornais, Renan Calheiros tentou minimizar o episódio com a afirmação de que pretende devolver aos cofres públicos o valor correspondente aos gastos da viagem, como se assim agindo lograsse afastar os efeitos danosos do ato praticado.
Não é a primeira vez que o referido senador se afasta da moralidade administrativa e faz uso de bens públicos como se fossem dele. Ao assumir tal conduta, de novo viola o princípio da moralidade administrativa insculpido na Constituição federal em seu artigo 37. Esse artigo dispõe com absoluta clareza que todos os Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios obedecerão, entre outros, ao princípio da moralidade. Isso significa que o senador Renan Calheiros, embora seja agente político no exercício de cargo eletivo, e se considere acima do bem e do mal, está igualmente submetido aos rigores desse princípio, podendo ser punido caso a Procuradoria-Geral da República (PGR) demonstre coragem e cumpra o seu dever.
Não é novo no sistema constitucional brasileiro o controle jurisdicional da moralidade administrativa, porém, com o advento da Constituição federal de 1988, foi consagrado ao lado de outros princípios de observância compulsória, como a legalidade, a impessoalidade, a publicidade e a eficiência.
O que vem a ser a moralidade administrativa? Embora se trate de um valor com conteúdo subjetivo, prevalece entre os doutrinadores a ideia de que moralidade significa a ética da conduta administrativa, ou seja, são os valores morais que o administrador deve observar na consecução de interesses coletivos.
Do administrador público se exige capacidade para saber distinguir o honesto do desonesto, o bem do mal, o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente. Os antigos romanos, com razão, diziam que nem tudo o que é lícito é honesto - nom omne quod licet honestum est - e disso decorre que o respeito à moralidade é imposto ao administrador para a sua conduta interna.
Em suma, o agente público, na prestação de atividade administrativa, está compulsoriamente submetido à ética e à obrigação de respeitar a moral vigente na sociedade. Quando viola esse princípio, com agressão deliberada ao direito, difunde contagiante dor moral na sociedade, sobretudo entre aqueles que não se conformam com a ausência de necessária punição.
Lamentavelmente, o sistema legal brasileiro não pune a incompetência administrativa, mas, em compensação, a Lei de Improbidade Administrativa (n.º 8.429/92) prevê com toda a clareza até mesmo a perda de função pública em tais hipóteses. Essa lei federal foi editada em função de reserva feita pelo artigo 37, parágrafo 4.º da Constituição federal, que dispõe: "Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade de bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei".
A conduta de usar bens públicos como se fossem seus, consumada pelo senador Renan Calheiros, sem dúvida alguma se afasta da necessária probidade administrativa. Dificilmente se encontrará alguém que reconheça ao senador Renan Calheiros o direito de requisitar um jato da Força Aérea Brasileira sob a alegação de necessidade de serviço e, no fim, desmentir a si próprio ao demonstrar que a viagem estava vinculada à vaidade de implantar uns fios de cabelos a mais.
No Estado de São Paulo, caso um administrador público cometa o deslize de comprar uma penca de bananas sem a licitação prevista em lei, estará sujeito a ação de improbidade proposta pelo Ministério Público. Nessas ações, diante da gravidade dos fatos, os juízes costumam liminarmente determinar o bloqueio de bens, mas a perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos somente se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.
O rigor do Ministério Público não é o mesmo em todas as unidades federativas e já vimos um ex-presidente da República safar-se dos rigores da lei pela circunstância de a denúncia formulada ao Judiciário, em gravíssimo caso de corrupção, haver incluído somente seus parceiros na trapaça.
A verdade é que tem havido no Brasil uma incompreensível tolerância com a conduta abertamente contrária à moral de agentes públicos investidos de mandato. A Lei da Improbidade Administrativa, em seu artigo 14, prevê que qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade. Mas isso raramente é feito.
Está igualmente proporcionado ao Ministério Público, diante de representação formulada, requisitar (abrir) inquérito policial ou administrativo para apurar o ilícito apontado. Quando o ilícito se torna público, como no caso do mencionado senador, em geral é mais cômodo e mais fácil fingir que nada aconteceu e que não vale a pena o esforço.
Essa tolerância faz parte das nossas coisas, coisas nossas, como Noel Rosa dizia no samba. Podemos concluir que o senador Renan Calheiros continuará rindo de nós e enriquecendo sua biografia já conhecida com fatos desse calibre. E os outros senadores, por solidariedade e espírito corporativo, não irão "queimar-se" com uma coisa assim tão sem importância.
Enfim, tudo continuará na mesma.
(por ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR, DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO).
0 comentário

Prejuízos na pecuária devem continuar em 2022, avalia o presidente da Assocon

Exportações totais de carne bovina caem 6% no volume e 11% na receita em janeiro

Santa Catarina mantém proibição de entrada de bovinos vindos de outros estados

A "filosofia" de Paulo Guedes para a economia brasileira. Os liberais chegaram ao Poder
O misterioso caso de certo sítio em Atibaia (Por Percival Puggina)

Integrante da equipe de transição de Bolsonaro é crítica severa do agronegócio