A atriz revelada pelo sobrenome, por Augusto Nunes

Publicado em 04/08/2011 16:34 e atualizado em 07/03/2020 08:11
em veja.com.br

A atriz revelada pelo sobrenome

Bia Lula, neta do ex-presidente, vai ser a protagonista da peça “A Megera Domada”, de Shakespeare,  graças ao patrocînio oficialmente garantido pela Oi, mas bancado pelos brasileiros que pagam  impostos. A empresa telefônica está apostando na atriz ou investindo no avô? Veja os dois vídeos na seção O País quer Saber e decida.

A Oi apostou na neta ou investiu no avô?

As caras e bocas, as poses caprichadas, o sorriso de anúncio de pasta dental, as evoluções na pista e outras evidências agrupadas nos dois vídeos, produzidos para celebrar o 15° aniversário de Bia Lula, informam que vontade de ser atriz a filha de Lurian sempre teve. Só faltavam patrocínio e talento comprovado. A primeira pedra no caminho foi removida pelos R$ 300 mil oficialmente doados pela Oi (mas bancados pelos brasileiros que pagam impostos) ao grupo teatral de que Bia faz parte. A remoção da segunda vai depender da plateia disposta a conferir a performance da atriz agora com 16 anos como protagonista da peça “A Megera Domada”, de William Shakespeare.

Pelo que os vídeos mostram, pode-se descobrir se a Oi resolveu apostar na neta ou investir no avô. Você decide.

A perversidade dos que expõem uma garota ingênua a comparações com Liz Taylor

Interpretar personagens de William Shakespeare não é coisa para qualquer ator, muito menos para principiantes: todas as criaturas do genial dramaturgo inglês são complexas demais para que artistas apenas esforçados possam incorporá-las. Interpretar uma figura como Katharina, protagonista da comédia  The Taming of the Shrew (“A Megera Domada”, na tradução brasileira), é coisa para gente grande. Só atrizes  do primeiro time aceitam o papel, sobretudo depois da versão cinematográfica dirigida por Franco Zefirelli e estrelada por Elizabeth Taylor (veja o vídeo abaixo). Ser Katharina sempre foi difícil. Ser a Katharina que Liz Taylor foi é impossível.

Caso a peça fosse encenada por um grupo de teatro de colégio, a complacência que merecem adolescentes que sonham com a carreira teatral autorizaria Bia Lula a acreditar que pode transformar-se na Katharina de Shakespeare, em Catarina da Rússia ou em Katherine Hepburn. Os R$ 300 mil bancados pelos contribuintes e repassados pela Oi a título de patrocínio mudam tudo. Verbas desse porte não contemplam amadores que ainda engatinham no palco. São reservadas a nomes consagrados, e com eles a neta de Lula será confrontada. O avô decerto dirá que comparar Bia a Liz é coisa de gente perversa. Perverso é quem estimula uma jovem de 16 anos a correr o risco de ser comparada a Elizabeth Taylor.

Desses perigos minha gente me livrou. Somados os quatro mandatos obtidos nas urnas, Adail Nunes da Silva foi prefeito de Taquaritinga durante 16 anos ─ e prefeito, numa cidade com 30 mil habitantes, é mais que presidente. (No fim dos anos 50, uma tia professora perguntou, numa prova de conhecimentos gerais, quais eram os três Poderes da República . “Adail”, “Nunes” e “Silva”, escreveu um aluno). Mas ele me ensinou muito cedo que quem é prefeito também deixa de sê-lo, que o poder é efêmero, que a passagem pelo planalto precede a volta à planície, que nenhuma trajetória política desenha curvas sempre ascendentes.

Não aceitem convites para fazer o que vocês não sabe, vivia dizendo aos três meninos. Quem faz isso está enganando o filho para iludir o pai. Minha mãe era ainda mais direta: “Não façam papel de bobo nem andem com o rei na barriga”. Professora primária, dona Biloca nunca permitiu que algum de nós levasse lanche para o grupo escolar. “Vocês comem antes e depois das aulas, os meninos da roça não comem quase nada o dia inteiro”, resumia.

Eu poderia, por exemplo, ter sucumbido à tentação de começar na fanfarra do colégio pela comissão de frente dos tambores e zabumbas se não compreendesse que a melhor porta de entrada seria a dos fundos, que dava para a modesta ala dos flautistas. Sem queixas, passei meses a fio sentado nos bancos do corredor dos ônibus que levavam o time de futebol até chegar a hora de instalarme num dos assentos nobres. Os passaportes especiais, as mordomias, a ostentação inverossímil e o nariz empinado informam que os filhos e netos de Lula já chegam reivindicando a janelinha.

Confrontados com algum indício de arrogância, meus amigos jamais perderam a chance da pancada pedagógica: “Não banque o filho de prefeito que isso aqui não vale nada”. Bia Lula nasceu e cresceu acreditando que o avô pode tudo. Lula ama Lula acima de todas as coisas. Se é capaz de dizer o que diz em público, o que não dirá em casa o conselheiro de Deus que se nomeou consultor-geral do mundo?

Quando uma vaia atirar a neta do 20° andar, o SuperLula não chegará voando a tempo de interceptar a trajetória e depositá-la, incólume, à cama de princesa. É provável que a garota dramaticamente devolvida à realidade deseje a morte por enforcamento da plateia cruel. Mas a culpa terá sido do avô deslumbrado com o vidaço de novo rico e aboletado no trono imaginário que só escancara a nudez do rei.

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Fonte:
Blog Augusto Nunes

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1 comentário

  • Valter Antoniassi Fátima do Sul - MS

    Quando o lulinha,passou de monitor de zoológico que ganhava 600 reais para empresário milionário,o Lula disse que o Ronaldinho era o fenômeno na bola e seu filho era o fenômeno no mundo dos negócios,imaginem agora o que dirá de sua neta...,e nós que somos reles mortais nos restará colocar aquele lindo nariz de palhaço e dizer AÉÉÉÉ... e vamos em frente...

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