Pedido de recuperação judicial do Frigol é mais um problema da falta de crédito para frigoríficos menores
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Na última sexta-feira (30), mais um frigorífico entrou com pedido de recuperação judicial compondo a extensa lista de empresas com dificuldades financeiras como Pantanal, Independência, Margen, Arantes, Frigoestrela e Frialto. Agora é a vez do Frigol, que em comunicado oficial, critica a política do Governo Federal em conceder recursos fartos e baratos, via BNDES, a três grandes grupos do setor, provocando uma concorrência desleal para com pequenos e médios frigoríficos.
De porte médio, sediada <?xml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />em Lençóis Paulistas, interior de São Paulo, o Frigol tem capacidade para abater 2,7 mil bois por dia e que gera 1,5 mil empregos diretos dentro das três unidades de abate que possui: sua sede em Lençóis Paulista (SP), Água Azul do Norte (PA), e Pimenta Bueno (RO). A empresa está entre as 10 maiores do setor, mas distante dos gigantes JBS e Marfrig.
Segundo fontes do setor, o Frigol estava atrasando o pagamento dos fornecedores, mas, mesmo assim, a notícia pegou pecuaristas e concorrentes de surpresa. Antonio Armando da Silva, ex-funcionário de Lençóis Paulista garante que a companhia não deu indícios sobre uma possível quebra durante os últimos meses, bem como, nunca atrasou o pagamento dos funcionários e até o final de junho, ainda contratou novos empregados.
“Tivemos uma reunião com o senhor Djalma [Djalma de Oliveira , diretor e sócio da empresa] que nos comunicou que as folhas de pagamento já estão feitas [referente ao mês de agosto] e não é para haver preocupação”, relatou Silva.
O ex-dessossador da Frigol acredita que foram demitidos na última sexta cerca de 250 funcionários, e apesar de não saber explicar as causas da ação, conta que pecuaristas já não estavam aceitando receber o pagamento pelo animal com 30 dias de prazo, preferindo oferecer seu produto ao pagamento à vista de outros frigoríficos.
O que tudo indica, é que a recuperação judicial trata-se de uma espécie de prazo que a empresa solicita à justiça para pagar suas dívidas antes que sua falência seja decretada. O Frigol ainda não divulgou o montante da sua dívida, mas pede o prazo de 60 dias para apresentar um plano de reorganização perante seus credores, a contar a partir da decisão judicial concedida pela justiça.
Dificuldade no crédito
Uma fonte ligada à companhia teria dito ao jornal O Estado de São Paulo, afirma que os dirigentes do Frigol fizeram uma peregrinação pelo governo federal em busca de crédito para reerguer a empresa. Bateram em todas as portas: BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Mas não tiveram sucesso.
A questão é que frigoríficos menores estão reclamando da concentração de recursos do BNDES em poucas empresas. Nos últimos quatro anos, o banco estatal investiu R$ 18,5 bilhões no setor em compra de participação e empréstimos. Mas a maior parte do dinheiro foi direcionado ao processo de internacionalização do JBS e do Marfrig.
O analista da Agra FNP, José Vicente Ferraz avalia que o problema da falta de crédito é antigo e privilegiar empresas maiores pode trazer um desequilíbrio para o setor, já que o protecionismo acabará com a concorrência, concentrando diretamente o poder de decisão sobre os preços às poucas companhias fortalecidas pelo crédito.
“Isso é preocupante porque no médio e longo prazo isso vai mudando o desenho da indústria frigorífica no país, transformando num setor muito mais concentrado e, evidentemente, que a concorrência a partir de um determinado momento se tornará pequena, o que prejudica muito, principalmente, quem vai negociar com ela, que no caso seriam os produtores”.