Produtor tira mais lucro de café do que da soja na Bahia

Publicado em 23/03/2018 10:06

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Por Roberto Samora

SÃO DESIDÉRIO/LUÍS EDUARDO MAGALHÃES, Bahia (Reuters) - As vastas e planas áreas cultivadas com soja e algodão no oeste da Bahia podem dar uma ideia de que nada seria mais rentável do que essas safras na importante região agrícola do Nordeste, mas engana-se quem pensa assim.

O café arábica irrigado, cultivado em boas altitudes e colhido em período de seca na Bahia --importantes fatores para a qualidade do grão-- encontra ali espaço para ser mais rentável do que a soja, apesar de os preços da oleaginosa estarem em patamares elevados, após uma redução na oferta global.

Isso em uma conjuntura em que o café enfrenta preços baixos internacionalmente, diante da expectativa de uma safra recorde no Brasil. A Bahia possui uma cafeicultura menor frente a outros Estados, mas consegue produzir grãos premium, de maior valor, com elevada produtividade.

"O café é o que sobra por hectare", disse à Reuters Glauber de Castro, um dos donos da Fazenda Café do Rio Branco, empresa familiar que tradicionalmente cultiva cerca de 500 hectares de café na região de Luís Eduardo Magalhães e aproximadamente 200 hectares de grãos, principalmente soja.

Ele se referia à maior rentabilidade esperada nesta safra para o café frente à soja, em uma temporada na qual o clima foi muito favorável tanto para a oleaginosa quanto para os cafezais, após anos em que as fazendas vinham sofrendo problemas com seca e elevadas temperaturas.

Castro estima que a produtividade média da Café do Rio Branco vai subir para 47 sacas por hectare de café, ante 33 sacas no ano passado, ao passo que a região oeste da Bahia também deverá obter rendimentos agrícolas históricos para a soja, segundo informações de produtores e verificações do Rally da Safra, expedição técnica acompanhada pela Reuters.

Algumas lavouras da Café do Rio Branco devem colher cerca de 70 sacas por hectare, enquanto a média nacional deve ficar próxima de 30 sacas para o arábica em 2018.

"Sobra mais (lucro) do café mesmo com a soja registrando recordes de produtividade e a esses preços", acrescentou ele, lembrando que o grupo familiar trabalha sem atravessadores na comercialização e tem contratos de venda de café "cereja descascado" de alta qualidade para a torrefadora italiana illycaffè.

O agricultor explicou que o custo da saca de 60 kg de café gira em torno de 300 reais, enquanto a mesma saca pode ser vendida por 450 reais.

Na opinião do produtor, para ter um maior lucro com a soja, seria necessária escala de produção mais relevante.

A empresa, com o objetivo de diversificar os negócios, está investindo em novas áreas de soja e detém uma participação de 25 por cento em uma grande plantação totalmente irrigada em Luís Eduardo Magalhães, em propriedade que possui um reservatório com capacidade de 190 milhões de litros para abastecer os pivôs de irrigação.

Em uma das propriedades da família Castro, a soja também já foi utilizada no processo de renovação do cafezal. Após os pés velhos de café serem erradicados, o grupo plantou a oleaginosa obtendo ótimos resultados, com produtividades em torno de 94 sacas por hectare, contando com a infraestrutura da irrigação.

Os ganhos produtivos ocorrem em meio à fertilidade deixada pelo café, além da menor incidência de pragas, pela rotação de culturas.

A renovação do cafezal sobre uma área de soja, por sua vez, também se aproveita da matéria orgânica deixada no solo.

Os cafezais renovados da Café do Rio Branco, quando atingem o ápice produtivo, conseguem produzir nos primeiros anos 15 por cento mais em relação às tradicionais regiões cafeeiras do Brasil, situadas predominantemente no Sudeste.

Mas esse ganho também exige uma renovação do cafezal mais frequente do que em outras regiões, em pouco mais de dez anos, até por conta do clima mais quente do oeste da Bahia, que deixa o pé um pouco mais "cansado".

O grupo conta ainda com propriedades cafeeiras em Pedregulho (SP) e Patrocínio (MG), com as duas propriedades somando juntas pouco mais de 400 hectares.

"O café da Bahia é mais exigente, cresce mais rápido, mas as pragas em função do clima atacam com mais intensidade", disse o irmão de Glauber, Glaucio de Castro, que cuida da propriedade de Patrocínio.

"BICHO MINEIRO"

Entre as pragas que preocupam cafeicultores na Bahia está o "bicho mineiro", uma pequenina lagarta que se instala nas folhas reduzindo o vigor do pé de café, e que se alastrou fortemente pelo oeste da Bahia.

Essa praga, somada ao clima desfavorável dos últimos anos, reduziu a média histórica da Fazenda Carvalho, em São Desidério, para cerca de 60 sacas por hectare, disse o produtor Caetano de Carvalho Berlatto, cuja família cultiva café em 200 hectares, além de soja e milho em outros 4 mil hectares.

A Fazenda Carvalho conta com dois pivôs de irrigação no cafezal, um deles instalado em 100 hectares de café que passaram recentemente por recepa --poda baixa para renovação e melhora da produtividade no futuro.

No café mais novo, Carvalho acredita que poderá colher cerca de 50 sacas por hectares, apesar da alta incidência de "bicho mineiro".

Altamente tecnificado, com colheita mecanizada e beneficiamento de café instalado na fazenda para atender o mercado exportador mais exigente, o produtor avalia que, no momento, a soja está dando um retorno percentual maior do que seu cafezal, que está sendo renovado em parte.

Mas Carvalho, que fez mestrado em Economia e Ciência de Café na Itália, segue entusiasmado com o cafezal, que no passado apresentou, em um pivô de irrigação de sua propriedade, rentabilidade superior a 500 hectares de soja.

"Os cafés do Oeste da Bahia são excelentes", destacou.

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Fonte:
Reuters

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