Queda em preço faz produtores de café ganharem menos de US$ 0,01 por xícara

Publicado em 15/01/2019 08:41

No verdejante planalto meridional da Etiópia, o produtor de café Gafeto Gardo está pensando em dar um tempo a uma indústria que sustenta famílias há gerações.

No ano passado, a quantia que Gafeto recebeu por um quilo de café caiu um terço, para 8 birr, ou apenas US$ 0,29, reduzindo sua renda para menos de US$ 0,01 por um cappuccino vendido no Ocidente entre US$ 3 e US$ 4.

"Agora estamos perdendo a esperança. Não estamos colhendo tanto quanto devíamos e estou preocupado que isso tenha um impacto enorme", disse Gafeto, ladeado por trabalhadores que colocam café cereja em esteiras de juta nas colinas do distrito de Shebedino, na Etiópia. "O café é a nossa vida aqui."

Ao contrário dos produtores de commodities como petróleo e gás natural, os cafeicultores há muito sofrem de estar na extremidade baixa da cadeia de valor -- recebendo apenas uma pequena fração do preço de varejo de sua safra.

Agora, a queda nos preços globais do café para o menor nível em quase 13 anos em setembro está levantando questões sobre se vale a pena cultivar grãos em alguns dos centros cafeeiros tradicionais da América Central, Colômbia e Etiópia.

Mas no outro extremo da cadeia, o café nunca foi tão "quente". Millenials do Ocidente que cresceram com a Starbucks impulsionaram uma proliferação de cafeterias e inovações que vão da extração a fria ao café com nitrogênio.

A indústria também viu uma onda de aquisições, na medida em que empresas como Nestlé, JAB Holding e Coca-Cola gastam bilhões para aumentar suas fatias de mercado.

Para os agricultores em dificuldades, porém, os tempos são áridos. Produtores de todo o mundo alertaram executivos das empresas de café no Ocidente sobre crescente "catástrofe social", caso eles não ajudem a aumentar a renda dos cafeicultores.

Em uma endereçada a executivos-chefes de empresas como Starbucks, Jacobs Douwe Egberts (JDE) e Nestlé carta no ano passado, um grupo que representa produtores em mais de 30 países alertou que fazendas em risco seriam abandonadas, o que alimentaria a agitação social e política, bem como provocaria mais migração ilegal.

Algumas empresas estão respondendo. A Starbucks, por exemplo, destinou US$ 20 milhões para ajudar os pequenos agricultores com quem faz negócios na América Central até que os preços do café subam acima de seu custo de produção.

"Para nós, esse é um passo inicial, reconhecimento de que precisamos fazer algo útil no curto prazo nos países que mais precisam", disse Michelle Burns, chefe de café da Starbucks, que compra cerca de 3% do café do mundo.

Safra recorde no Brasil

O principal fator por trás da mais recente queda de preços foi uma safra recorde de café no Brasil, de longe o maior produtor mundial. A safra brasileira atingiu o preço do café arábica negociado na Bolsa de Nova York.

Em 18 de setembro, um quilo de arábica caiu para apenas US$ 00,95 centavos de dólar por libra-preso, ou US$ 2,09 por quilo, um nível não visto desde dezembro de 2005 e menos de um terço do pico de 2011. Quatro meses depois, o preço ainda está em torno de US$ 1 por libra.

Para Gafeto e os outros 4.500 agricultores da cooperativa que ele ajudou a estabelecer na Etiópia, as flutuações nos mercados financeiros de Nova York rapidamente aumentam os preços em casa.

O mercado interno na Etiópia é amplamente determinado pelos leilões diários administrados pela Bolsa de Mercadorias da Etiópia, mas os preços se correlacionam intimamente com as tendências nos mercados futuros globais.

A Etiópia é um país sem litoral, de modo que um exportador que compra café em leilão normalmente transportará a mercadoria para o vizinho Djibuti, onde será embarcada em contêineres.

Os principais pontos de chegada na Europa incluem Hamburgo e Bremen, na Alemanha, e Antuérpia, na Bélgica. Os grãos são torrados, misturados e embalados na Europa antes de serem distribuídos para cafeterias e redes de varejo.

Embora a Etiópia produza algumas variedades de alta qualidade, apenas uma pequena proporção de seus grãos é vendida como cafés especiais, exclusivos de um local específico.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Fonte:
Reuters

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

2 comentários

  • Ezequiel Dutra Durandé - MG

    "MUDAR AS REGRAS"... Os rótulos éticos como o Comércio Justo têm procurado ajudar os agricultores ao garantir um preço mínimo, mas empresas como a Vega Coffee www.vegacoffee.com e a https://Kaffee-kooperative.de em Berlim acreditam que é necessária uma reforma radical da cadeia de fornecimento.

    "Fairtrade é bom, mas é apenas uma maneira melhor em um sistema de mercado injusto. Você tem que mudar as regras completamente para fazer a diferença para os agricultores ", disse Xaver Kitzinger, co-fundador da Kaffee-Kooperative.

    A empresa alemã fez uma parceria com uma cooperativa em Ruanda para vender café que não é cultivado apenas no país da África Oriental, mas também lavado, torrado e embalado antes de ser enviado para a Europa.

    A Vega Coffee criou parcerias semelhantes, como a construção de um centro de torrefação na Nicarágua e o treinamento de agricultores em todos os aspectos do processo de produção.

    "O que descobrimos é que os agricultores trabalham com café há gerações e são realmente bons em criar um produto final realmente perfeito", disse Terenzi, da Vega.

    "O café torrado tem ficado mais caro nos últimos 10 a 15 anos. Mas não há justificativa para isso. Os agricultores, em geral, seus salários vêm diminuindo ", disse ele.

    Terenzi disse que os agricultores que trabalham com Vega podem ganhar até US $ 11 por quilo, embora isso seja para um produto completamente acabado que tenha sido seco, selecionado, torrado, embalado - até mesmo para colocar a postagem na caixa.

    Mas há obstáculos para tornar o modelo convencional, em parte porque os grandes compradores geralmente misturam grãos de muitos países para garantir uma qualidade consistente, já que diferentes culturas podem ser afetadas pelo clima e por outros fatores de ano para ano.

    "Um monte de café de boa qualidade é uma mistura de várias origens", disse Daniel Martz, que lidera as práticas de sustentabilidade na JDE. "Temos milhares de receitas diferentes para produzir a mesma qualidade e consistência".

    Fontes da indústria também disseram que o valor da colheita não deve apenas refletir sua contribuição para as bebidas nas cafeterias, mas também para o café nos supermercados, onde o custo por xícara é uma pequena fração do preço de um café Starbucks.

    A feroz concorrência entre os grandes varejistas ajudou a reduzir os preços e os consumidores freqüentemente respondem menos às informações sobre a origem do produto nos corredores dos supermercados do que ao absorverem o ambiente de um café, disse Chris Stemman, diretor executivo da British Coffee Associatihere.

    A gigante de alimentos suíça Nestle disse que é preciso haver uma abordagem coletiva e construtiva em toda a indústria para melhorar o lote de agricultores em todo o mundo. "Abordar as questões subjacentes à crise atual está além do escopo das ações de qualquer empresa", afirmou. ($ 1 = 28.0719 birr) (Reportagem adicional de Martinne Geller em Londres e Michael Hogan em Hamburgo; edição de David Clarke)

    0
  • Carlos Rodrigues

    Só mesmo uma catástrofe natural pode salvar o café...

    0