Brasil deve colher café mais cedo em 2019 por calor e excesso de floradas

Publicado em 27/02/2019 15:08

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Por José Roberto Gomes

SÃO PAULO (Reuters) - A colheita da safra de café no Brasil deve começar mais cedo neste ano, até dois meses antes do usual em casos mais extremos em algumas regiões, após floradas antecipadas e forte calor entre dezembro e janeiro que acelerou a maturação, disseram especialistas à Reuters.

Essa situação poderia, eventualmente, afetar a qualidade de uma temporada já marcada por baixa produção bianual, pois a maturação acelerada gera grãos de menor peso, enquanto a desuniformidade no desenvolvimento dos frutos atrapalharia a colheita no Brasil, o maior exportador da commodity.

"A temperatura muito alta em janeiro pode comprometer a produção de 2019. Com esse calor, vai ter de adiantar a colheita, porque o grão amadurece mais rápido", resumiu Carlos Paulino da Costa, presidente da Cooxupé.

Com sede em Guaxupé (MG), a maior cooperativa de café no país prevê colheita até 15 dias mais cedo em sua área de atuação, composta por Sul de Minas Gerais, Cerrado Mineiro e São Paulo.

Segundo Paulino, colheita antecipada não deve afetar o ritmo vendas da Cooxupé, em um ano de baixa de produção no Brasil, dada a bienalidade negativa do arábica, principal variedade cultivada no país.

Em outras regiões, a situação de amadurecimento precoce não é diferente.

"Houve adiantamento no ciclo. Já estamos com lavouras maduras, já tem uns 20 por cento, ou até 30 por cento, no início de maturação. São das floradas lá de agosto", afirmou Paulo Sérgio Franzini, especialista em café do Departamento de Economia Rural (Deral), referindo-se à cultura no Paraná.

De acordo com ele, as plantações do atual ciclo no Estado registraram até cinco floradas, iniciando-se em julho, contra três que geralmente são observadas a partir de setembro.

Estimulados por chuvas, tais florescimentos, aliados ao calor, acarretam agora não só em colheita antes da hora, mas também em grãos com desenvolvimentos variados em um mesmo pé de café, indo de verdes a maduros.

"Vamos ter colheita antecipada... Vamos ter colheita em abril, quando o usual é em junho... A desuniformidade na mesma planta vai atrapalhar o manejo das lavouras e o planejamento da colheita. Aquele produtor que busca uma qualidade maior, vai ter uma preocupação", destacou ele, dizendo que a produção paranaense deve ficar entre 1 milhão e 1,1 milhão de sacas, contra potencial de 1,2 milhão previamente.

QUALIDADE COMPROMETIDA

No Espírito Santo, maior produtor brasileiro de café conilon (robusta), também há receios quanto à colheita antecipada e à qualidade.

"Faltou chuva no período de granação. Neste caso, serão grãos menores. Teremos maior incidência de grãos 'chochos', de menor peso. A qualidade, no geral, será menor", afirmou o pesquisador e coordenador de café no Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Abraão Verdin Filho.

Ele projeta início da colheita até 20 dias antes do normal no Estado, embora ainda em abril, com produção acima dos 9 milhões de sacas do ano passado, mesmo que com alguma "perda".

O pesquisador Lucas Bartelega, da Fundação Procafé, comentou que em áreas mecanizadas poderá ser necessário mais de uma etapa de colheita, retirando-se os grãos maduros conforme forem aparecendo, dadas as várias floradas desde o ano passado.

"Os mecanizados vão dar duas, três passadas. O produtor que optar por uma passada só, vai ter de esperar maior maturação, e daí vai ter algo desigual... Pode ter grão já seco", afirmou.

Ele afirmou ainda que algumas plantações sofreram "queimaduras" em janeiro devido ao calor, o que deve levar a perda de produtividade por redução da área de fotossíntese.

Pelas estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deve colher neste ano entre 50,5 e 54,5 milhões de sacas de café, queda ante os mais de 60 milhões de 2018, mas ainda assim um dos maiores volumes da história.

O café alterna ciclos de alta e baixa produção, e o deste ano é de bienalidade negativa, processo natural em que a planta se recupera do maior direcionamento de energia para a frutificação na safra passada, sobretudo na espécie arábica.

(Por José Roberto Gomes)

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Fonte:
Reuters

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