Taxa zero na importação de café não traz problema econômico ao produtor, mas abre janela para problemas fitossanitários, avalia CNC

Publicado em 22/03/2022 12:28
Silas Brasileiro destaca que condição imposta pelo governo não traz alívio para o consumidor que vem sentido a alta da inflação

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O Ministério da Economia divulgou na última segunda-feira (22) a decisão de zerar as tarifas de importação de café moído não deve trazer alívio para os preços do produto no mercado interno, sem trazer grandes benefícios para o setor cafeeiro do Brasil, avalia Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC). O Brasil há anos se mantém como líder mundial na produção e exportação de café e a discussão em relação à necessidade de importação do produto é antiga no setor. 

O Brasil tem autorização para importação de café, mas o volume comprado é considerado irrisório e normalmente as compras partem de cafeterias ou setores especializados que querem ampliar a oferta de cafés para o consumidor final, mas ainda assim, a decisão do governo é considerada, neste momento, extremamente negativa e que precisa ser avaliada mais afundo pelo próprio Ministério, afirma Silas ao Notícias Agrícolas. 

"Nossa preocupação é justamente por ser o maior produtor do mundo e segundo lugar é a questão fitossanitária. Enquanto nós temos um cuidado especial com relação à preservação da produção de café do Brasil, os outros países desmatam, plantam, abandonam e continuam plantando", comenta Silas. 

O porta-voz ressalta ainda que Brasil atualmente tem controle de pragas e doenças, e que abertura de novos mercados podem sim trazer novos impasses ao setor produtivo no Brasil. "Aqui nós temos tudo isso muito controlado, então nós realmente não podemos trazer de outros países problemas para a produção de café do Brasil", complementa. 

Com problemas climáticos que vão além do Brasil, ultrapassam as fronteiras e são uma realidade para o produtor na Colômbia, Honduras e também no Vietnã, por exemplo, o setor cafeeiro viu os preços avançaram muito nos últimos meses na Bolsa de Nova York (ICE Future US), o que consequentemente também afetou os preços no mercado físico, chegando no ano passado para o consumidor final. "O preço do café praticado hoje teve uma alta justamente pela frustração de safra. O mundo hoje também não tem café, os dados mostram que o cenário entre consumo e produção é muito ajustado", comenta. 

Silas acrescenta ainda a necessidade do Ministério da Economia ouvir o setor para entender os reais impactos da redução das tarifas. O governo brasileiro divulgou que a decisão foi tomada para conter a inflação elevada. "Trata-se de uma medida voltada para a preservação da cesta de consumo da população mais pobre, mas não é nenhuma bala de prata, o instrumento mais efetivo é a política monetária", disse secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, à agência Reuters. 

Silas destaca, no entanto, que a redução de tarifas deve atingir apenas as cafeterias de alta qualidade, que não são frequentadas hoje pela população com poder aquisitivo comprometido. "Isso não traz economicamente nenhum prejuízo para o nosso produtor, mas nós somos contrários sim. Vamos manifestar isso, alegando essas razões de não começar abrir exceção, sem ouvir sequer o seguimento. Essas medidas colocadas de "cima para baixo", sem saber o reflexo que vai ter na população é realmente muito ruim", acrescenta Brasileiro. 

Outros produtos 

Os alimentos que terão imposto de importação zerado são café moído (alíquota atual de 9%), margarina (10,8%), queijo (28%), macarrão (14,4%), açúcar (16%) e óleo de soja (9%). De acordo com os técnicos do governo, esses itens estão entre os componentes que mais pesam no INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

Combustíveis 

A decisão do governo brasileiro de zerar a tarifa de importação de etanol e açúcar cristal até o final do ano, além de outros alimentos, deve baixar o preço dos combustíveis aos consumidores no Brasil na faixa de R$ 0,20 o litro, mas prejudica muito o setor sucroenergético na visão do analista da Safras & Mercado, Maurício Muruci.

“A medida pode prejudicar muito o setor, já que abrange açúcar e etanol. A decisão vem em um momento de início de safra, com tendência de maior produção de etanol hidratado, altos estoques, e agora importação incentivada”, explicou o analista ao Notícias Agrícolas.

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Por:
Virgínia Alves
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Flaviano Amorelli Pereira Tres Coracoes - MG

    Boa tarde

    Um absurdo uma liderança que não representa a cafeicultura,o governo não vai escutar mesmo .

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