Transitar entre o campo e cidade: Levar a potência do café especial, mas sem perder a simplicidade e o fio humano que existe antes da xícara

Publicado em 14/05/2023 11:28 e atualizado em 19/05/2023 17:45
As irmãs Renata e Natália voltaram para a roça durante a pandemia, mas além de mudarem os rumos do cafés da família, trabalham na promoção humanizada da produção cafeeira: É importante não perder os elos que se criam através do café

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Fazer a ligação entre o campo e a cidade ainda é uma missão a ser realizada? Em tempos de velocidade na informação, de internet rápida: Como é possível unir o urbano à realidade de quem vive no campo? Há quem diga que o produto que tem mais força para unir os dois universo é o café. E tem como discordar? A xícara de café sempre traz uma prosa boa, uma pausa na correria do dia a dia, ao mesmo tempo que carrega gás para continuar. 

Mas e como unir os dois universos sem fazer com que se perca a simplicidade que existe dentro de uma pausa para o cafezinho? Essa tem sido a grande pergunta das irmãs Natália e Renata Pelegrini, ali na Fazenda Nossa Senhora dos Remédios, na região do Alto Paranaíba. O Entrelinhas do Cafezal conheceu de perto a produção - em fase de transição para agroflorestal durante a Viagem ao Cerrado, promovida pelo Consórcio Cerrado das Águas.

 

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Mas, como é tradição no Entrelinhas, vamos voltar ao tempo para conhecer melhor a história das duas irmãs que hoje vivem na roça, mas que também mantêm o contato com o urbano com o propósito de propagar o café especial sem perder a simplicidade dos bons momentos que uma xícara (ou muitas) pode proporcionar. 

A chegada da família no Cerrado Mineiro aconteceu nos anos 80. Eles moravam em Águas de Lindoia quando o avô soube de uma região com "algumas terras". O avô vendeu a mercearia e resolveu tentar a vida em novos ares. Foi em 87 que o pai das meninas foi chamado para a ajudar a família e além do café, houveram outras tentativas como por exemplo, o cultivo de feijão. 

 

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Elas cresceram entre a cidade e o campo, mas com 18 anos resolveram se mudar para grandes metrópoles e avançar com carreiras alheias ao campo. A Natália, primeira a sair de casa, se formou em jornalismo e seguiu carreira universitária. 

Já Renata, ficou um pouco mais de tempo, inclusive trabalhou em uma cooperativa de café por dez anos na região, mas em determinado momento também resolveu que era hora de se aventurar em Belo Horizonte. 

Neste período, em decorrência das dívidas, boa parte da área foi vendida pelo avô e uma outra área arrendada. "Depois da morte do meu avô, em 95, eu acabei perdendo minha referência no campo, fiquei com as lembranças de criança no sítio e só depois que de fato eu voltei a dar mais atenção", comenta Renata. 

Desde 2000 a família cuida do café do ponto de colheita até a xícara e foi recentemente que as duas irmãs passaram a se interessar mais pelos negócios. Em 2017 surgiu a ideia de vender o café torrado e moído. Em 2019, Natália teve a experiência com a primeira colheita e as coisas foram fluindo.  O café, inclusive, secou no terreiro de uma fazenda vizinha porque a família ainda não tinha a estrutura necessária. 

 

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"Apesar de ter isso na família, eu comecei do zero, sem entender nada. Fiquei um ano vendendo esse café em Ouro Preto - onde eu morava na época, e era uma torra queimada, sem saber nada de especial. Foi em 2018 que eu conheci uma torrefação e passei a conhecer esse novo universo do especial", comenta Natália. 

Ela lembra ainda que a secagem era feita de acordo com as luzes do sol, exatamente com seu avô tinha ensinando o seu pai. O simples que funcionava. E apesar da família ainda não estar inserida no conceito de especial, naquela época o mapeamento da qualidade já mostrou uma bebida que ultrapassava os 80 pontos, mantendo a forte característica da região. 

A pandemia da Covid-19 foi a responsável por fazer essa mudança. Diante do isolamento social, elas passaram a ficar mais tempo no campo e acompanhar mais de perto os trabalhos. Foi quando o despertar para a produção do especial aconteceu. Em 2020 surgiu o primeiro terreiro suspenso na propriedade e a colheita manual, já focando em um produto de qualidade. 

 

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"Na pandemia a gente veio para fazer a colheita e como estava tudo fechado, pagando aluguel de um apartamento fechado em Belo Horizonte, nós resolvemos ficar. Já tinha pensado em voltar a mexer com terra, mas a pandemia antecipou", comentam as duas irmãs juntas. 

E juntas elas resolveram ir adiante. A terra da família ainda é arrendada, mas com um acordo: elas escolhem o talhão para a colheita e cuidam de todo o processo até a xícara. Desde o pós colheita e embalagens e comercialização, elas estão a frente dos negócios. 

Agora, com a vida voltando ao normal pós Covid-19, elas não se imaginam deixando o café, mas pretendem continuar transitando entre campo e cidade. "Sentimos falta sim da cidade grande. São outras dificuldades, uma vida cultural muito ativa, são outras companhias. Assim como na roça também é tudo muito diferente e muito prazeroso. Passear é muito gostoso, mas quando moramos é que entendemos a rotina pesada de trabalho e os desafios", comentam. 

 

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Entre os dois extremos, as duas irmãs esperam conseguir, dentro do universo tão diverso que é o do café especial, apresentar as boas bebidas, mas não deixar com que a simplicidade dos momentos em família, tomando um cafezinho, se perca na trajetória. 

"O melhor do café são as relações. Sabemos que precisou da ciência e técnicas mas se alcançar os patamares atuais, mas não podemos perder a parte humana. As vezes o café vai perdendo esse rastro das relações que se envolvem no ramo do café e não queremos que isso aconteça. A ciência ainda é muito importante, precisamos manter as duas pontas unidas e não podemos perder esse fio humanizado que tem nessa produção", afirmam. 

 

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Novos projetos

Em parceria com Cerrado das Águas Consórcio, a família entra em novo patamar: o agroflorestal. Implementando novas ruas de café nesse sistema, nessa área as irmãs cuidarão desde a planta até a xícara. 

A fazenda, inclusive, faz parte de uma série de ações que têm sido realizadas região do Cerrado Mineiro em prol de uma produção sustentável e que cuide de todo o ambiente em volta. 

Por meio da metodologia PIPC (Programa de Investimento no Produtor Consciente), desde 2019, o CCA vem desenvolvendo o papel de facilitador e oferece aos produtores, de uma determinada bacia hidrográfica, estratégias para que  suas propriedades possam fazer o processo de transição para uma Agricultura Inteligente para o clima. O PIPC atua em campo em três frentes: restauração, práticas agrícolas climaticamente inteligentes e gestão eficiente de recursos hídricos.

Para saiba mais assista aqui. 

 

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Por:
Virgínia Alves
Fonte:
Notícias Agrícolas

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