Carne: A estratégia agora é investir no marketing
Esse realinhamento estratégico nasce com a missão de derrubar o que a entidade classifica de "esteriótipo do pecuarista devastador", aquele que derruba tudo para produzir. "Essa história está sendo contada por pessoas com interesses em ferir a competitividade nacional, são ONGs e concorrentes. Não é uma história que é contada por brasileiros", argumenta o diretor executivo da Abiec, Fernando Sampaio.
Como explica, nesta primeira década do século XXI, o Brasil surgiu no mercado internacional e logo tomou a dianteira na preferência dos consumidores "e é claro que isso despertou à atenção do mundo e então passaram a associar a imagem da carne bovina brasileira à devastação. Hoje, não existe isso. A abertura de áreas para pastagens foi um movimento iniciado há mais de 40 anos e incentivado pelo Estado brasileiro. Assim como os norte-americanos, nós temos de ter orgulho do segmento e por isso temos de contar a nossa história agora". O diretor executivo afirma ainda que a ocupação da Amazônia reflete um problema de ausência de Estado e não da produção de carne.
A Abiec quer mostrar que a pecuária foi responsável pela evolução do país e vice e versa. "O que precisa ficar claro é que a pecuária é indutora de mobilidade social, como também de integração nacional. Chegou a vez do markting da pecuária e não apenas da carne".
Com este novo posicionamento frente ao mercado internacional e em parceria com o Itamaraty, a Abiec foca a conquista de consumidores mais rentáveis, ou seja, àqueles que podem pagar a mais pelo quilo da carne bovina. Entre os mercados com negociações em andamento e que podem pagar mais, estão a Turquia, México e Indonésia, como também, a reconquista do Chile - mercado rentável - que deixou de importar a carne brasileira após casos de febre aftosa em 2005. De lá para cá, o Paraguai passou a abastecer o consumo chileno de forma bastante agressiva. Para 2011 a previsão da Abiec é de atingir receita de US$ 5 bilhões com a exportações de carnes bovinas, cifras que se confirmadas estarão cerca de 10% acima do resultado obtido no ano passado.
A pressa em se romper o esteriótipo pode ser entendida diante das perspectivas traçadas ao consumo da carne bovina, por exemplo, nos próximos dez anos o mundo demandará 3,6 milhões de toneladas e o Brasil, como reforça Sampaio, somente o Brasil terá condições de dar essa resposta e "de forma sustentável".
A oportunidade à carne nacional está na expansão dos mercados consumidores e na diversidade da produção. Como aponta Sampaio, além de tirar o rótulo, é necessário ratificar os diferenciais da carne, já que o mercado está cada vez mais equilibrado.
"Lá atrás a carne brasileira vendia porque era boa e barata. No entanto, os preços estão balizados em nível mundial e chegou o momento de vender diferenciais, nichos, como a carne orgânica, de confinamento, precoce, fazendo propaganda de tudo aquilo que é feito nas fazendas. A pergunta é: o que o mercado quer. Temos de inverter a cadeia de produção".
DESAFIOS
Sampaio lembra que o Brasil precisa se readaptar a nova ordem do mercado. O período de boi barato e abundante se foi, os preços estão balizados, o câmbio corrói as exportações e tudo isso está mimando a competitividade do produto brasileiro chamado carne. "E o desafio interno nacional para assegurar o potencial de abastecer a demanda mundial requer a missão de aprender a lidar com o câmbio atual - que não vai mudar no curto e no médio prazo -, criar formas de reduzir o abate de fêmeas - que restringe a oferta do boi e encare preços do gado de reposição - e eliminar o seu esteriótipo. Teremos de ser competitivos com todos esses novos problemas".
EMBARGO
Sampaio avalia que o veto russo à importação de carnes brasileiras está relacionado às questões político-econômicas da Rússia e que as carnes bovinas acabaram sendo impedidas à reboque da suína e de aves. "A medida é protecionista porque o país quer ampliar a produção doméstica de aves e suínos. A restrição não tem fundo sanitário, porque quando isso ocorre se fecham as importações de um estado, neste caso foram somente plantas frigoríficas embargadas. O boi entrou de gaiato na história e mesmo assim, das 85 plantas, 24 são de bovinos nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e apenas 41 continuam aptas ao consumo russo". Indagado, Sampaio frisa que as 41 podem tranquilamente suprir os embarques.
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