EUA: Apesar de perda de qualidade, lavouras não devem ser replantadas e produtor deve garantir seguro
As lavouras de soja e milho continuam se deteriorando nos Estados Unidos em função do cenário adverso de clima no país. Os números trazidos ontem pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) apontaram uma redução no índice de lavouras de ambas as culturas no país, complementando o cenário trazido pelo Drought Monitor na última quinta (8) que sinalizou uma ampliação da área também de ambas sob alguma condição de seca.
O reporte semanal de acompanhamento de safras do departamento americano apontoum uma baixa de 64% para 61% no índice de lavouras de milho em boas ou excelentes condições, e para a soja de 62% para 59%. Ambos ficaram abaixo das expectativas do mercado e distantes dos registros do mesmo período do ano passado, quando eram 72% e 70%, respectivamente.
Com o plantio concluído, o que chama a atenção agora é, justamente, a qualidade das lavouras americanas e os sinais de alerta vão se intensificando. "A área boa ou excelente é 10% menor do que a média histórica para o milho e 11% menor para a soja. Além da classificação de área boa ou excelente ser menor, a quantidade classificada como ruim ou péssima aumentou", destaca o consultor de mercado norte-americano Aaron Edwards, da Roach Ag Marketing.
Edwards explica que, por mais que este "não seja um desastre", trata-se de uma safra abaixo da média. "É possível que o estresse de seca tenham promovido um bom enraizamento, que as chuvas daqui pra frente sejam adequadas e que os EUA tenham uma boa safra, mas não estou otimista. Falei com vários produtores que estão bastante insatisfeitos com seus stands e índices de germinação. Plantaram fundo para acharem umidade, mas a umidade de solo seguiu baixa e a semente não teve vigor para sair".
Os gráficos abaixo mostram que os níveis de umidade no subsolo de estados-chave na produção de grãos dos Estados Unidos também caíram na semana passada e acabam por agravar a preocupação dos produtores americanos. As imagens partem da especialista internacional em commodities, Karen Braun, com dados do USDA/NASS.
"Eu ouvi relatos de que a população de milho está 10% menor por acre do que o de costume. A chuva pode trazer saúde às plantas, mas não aumenta a população", explica o analista americano. "Se não fosse pelo seguro, faria sentido para muitos replantar as áreas ruins ou péssimas, mas se replantar fora da janela permitida, perde-se o seguro. Tendo o preço do seguro sido fixado em fevereiro, quando estava bem mais alto, para muitos ou a maioria, é melhor insistir no primeiro plantio e receber o seguro, do que correr o risco de replantar e não ter acesso a este preço mais alto".
Dessa forma, Edwards diz também que, em poucos dias, o plantio já não será uma opção viável em função do calendário, e por isso acredita em correções frequentes na safra norte-americana de grãos 2023/24 para baixo, em todo o ciclo de cultivo.
"Afirmar que os Estados Unidos terão uma quebra de safra é precoce, mas com o que sabemos hoje, espero uma safra abaixo da média e, certamente, não na safra recorde esperada pelo USDA", adiciona.
O consultor destaca também que, diferente de outros anos, o plantio da soja nos Estados Unidos se deu quase que no mesmo período em que o de milho, o que deixa as duas culturas mais vulneráveis às adversidades climáticas e, naturalmente, o produtor americano menos interessado no replantio dada a janela ajustada de tempo.
"Temos toda a safra, tanto de soja, como de milho, com o mesmo risco climático, e o que poderíamos ter tido de replantio para tentar recuperar ao menos parte e ter um restart para tentar ter uma produtividade melhor, não vai ter este ano, ou vai ter muito pouco. Inclusive, o que não foi plantado na janela, também não será plantada por conta do seguro", diz.
As fotos abaixo, também compartilhadas por Karen Braun, trazem lavouras dos chamados I-States - Illinois, Iowa e Indiana - e ela explica o que as mantém saudáveis até este ponto. "Estes campos de milho têm sido sustentados pelas temperaturas amenas e alguma umidade de solo remanescente. Na semana passada, estes estados receberam alguns pequenos volumes de chuvas, mas para o final desta semana já se espera uma volta do clima seco, podendo tornar críticas as condições de chuvas esperadas para os próximos 7 a 10 dias", relata.
As duas imagens na sequência mostram uma comparação de um campo de milho no sudoeste de Illinois entre 4 e 12 de junho. "Oito dias separam estas fotos de um campo de milho no sudoeste de Illinois, que recebeu perto de 25 mm de chuvas no domingo, e ela era extremamente necessária e esperada. As condições melhoraram, porém, as preocupações estão sobre os próximos 10 dias no estado", relata Braun.
Sobre a soja, a especialista relata que "as lavouras estão se desenvolvendo mais lentamenete do que os produtores gostariam por conta da seca. O sudoeste de Illinois recebeu algumas chuvas no final da semana passada, mas outras áreas ainda precisam de mais volumes. Indiana também recebeu algumas chuvas no último domingo".
PREVISÃO DO TEMPO
O aumento das temperaturas em duas semanas, conforme o Commodity Weather Group em seu boletim diário desta terça-feira (13), aumenta as chances de chuvas no Meio-Oeste americano no mesmo período. De outro lado, no curto prazo, as previsões apontam para um intervalo de estresse, em especial na metade norte da região.
As imagens abaixo, que mostram - na direita - as previsões de temperaturas e - na esquerda as de chuvas, ilustram o cenário previsto. A primeira linha refere-se ao período de 13 a 17 de junho, a segunda de 18 a 22 e a terceira, de 23 a 27 de junho.
Na previsão mais alongada do instituro de meteorologia, as chuvas no Meio-Oeste americano entre 28 de junho e 12 de julho devem favorecer uma considerável região de soja e milho no Meio-Oeste americano.
