Risco duplo para o feijão das águas
Estimativa preliminar divulgada pela Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) no início do mês aponta uma tendência de crescimento de 4,3% na área de feijão de verão no Paraná. Com clima favorável, a produção pode crescer 14,3%. Em 334 mil hectares, o potencial é para 556,7 mil toneladas no ciclo 2010/11. A área não é tão grande – há quatro anos, o grão ocupava mais de 400 mil hectares –, mas pode ser a segunda maior safra das águas do estado, atrás justamente da temporada 2006/07 (561 mil toneladas).
O consumo aquecido, as cotações em alta e o apoio do governo à comercialização são, segundo a Seab, os principais fatores de estímulo. Nos primeiros sete meses de 2010, os preços do feijão preto subiram 29% e os do feijão de cor, 83%, conforme levantamento da secretaria.
A depender do comportamento dos mercados de milho e soja nas próximas semanas, o feijão ainda pode ganhar mais que os 14 mil hectares estimados pela Seab, avalia o presidente do Conselho Administrativo do Instituto Brasileiro de Feijão e Legumes Secos (Ibrafe), Marcelo Eduardo Lüders. “Se área crescer 4%, já terá muito feijão concentrado em janeiro e fevereiro. A safra das águas me preocupa”, diz. Segundo ele, muitos produtores devem adiar o plantio para fugir do risco de geadas de primavera tardias (veja matéria ao lado), concentrando ainda mais a oferta nesses dois meses.
“A alta do preço sinaliza uma área maior em uma safra de risco climático elevado. É preciso ficar atento às previsões para evitar que o período crítico do La Niña pegue a lavoura em floração”, recomenda a economista Sandra Hetzel, analista da Unifeijão. “Minha sugestão para o produtor é: escalone o plantio e diversifique variedades”, indica Lüders. Assim, se houver seca, apenas parte da produção será prejudicada. Se a safra for cheia, o produtor terá diferentes mercados para explorar, defende o presidente do Ibrafe.
O governo informa que haverá apoio à comercialização em caso de superoferta, mas somente para parte dos produtores. “Havia algumas pendências de pagamento, mas a política não mudou”, afirma João Figueiredo Ruas, analista da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) responsável pelo mercado de feijão em Brasília. “O produtor deve analisar bem a situação do mercado futuro, e não a cotação atual ou o preço mínimo. O governo não tem como amparar todos os produtores. A Conab está com estoques altos. Se for comprar feijão, deve priorizar os pequenos”, diz o superintendente da Conab no Paraná, Lafaete Jacomel.
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