Mesmo fraca, chuva renova aposta no feijão

Publicado em 28/09/2010 07:43
Preços dão saltos e deixam produtores animados. Semana deve ser de correria para o plantio.
A chuva branda que chegou na última quinta-feira à tarde, depois de duas semanas de sol sem trégua, mal apagou a poeira, mas era tão esperada que deixou os produtores de feijão rindo à toa. Todo molhado na correria do galpão até sua casa, o agricultor Sérgio Rossa, de Prudentópolis (Campos Gerais) – capital brasileira do feijão preto – começou a programar, de cabeça, o plantio de verão. O ânimo, aguçado pelos preços em alta, fez a estiagem e as previsões de clima seco para os próximos meses ficarem de lado.

“A plantadeira está pronta, está tudo pronto. Depois das pancadas desse fim de semana, vai ser só aguardar um ou dois dias para a umidade diminuir e colocar as máquinas para trabalhar”, disse. A chuva demorou tanto que foi necessário passar o plantio de 7 hectares de milho à frente do de 12 hectares reservados ao feijão. A leguminosa continua sendo a maior aposta. O plantio dos 19 hectares deve ser concluído em uma semana.

A expectativa está relacionada aos saltos verificados nos preços do feijão. Na última semana, a média do carioca (cor) chegou a R$ 154 a saca no estado – 46% a mais do que a registrada em agosto e 57% acima da referente a setembro do ano passado. No caso do feijão preto, a cotação foi a R$ 82/sc – com aumento de 19% e 25%, respectivamente, conforme moni­toramento do Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná.

A sobressaltos, o mercado ainda não se ajustou totalmente às previsões de que, com o fenômeno La Niña, haverá novos períodos secos nos próximos meses. No caso do feijão de cor, as cotações variam de R$ 240/sc em Ivaiporã (Norte) a apenas R$ 80 em Francisco Beltrão (Sudoeste). Para o feijão preto, a diferença é de R$ 100 em Apucarana (Norte) para R$ 70 em Franscisco Beltrão e Ponta Grossa (Campos Gerais).

“O desequilíbrio dos preços é que desanima”, diz Rossa. Ele sente falta de uma política, baseada na previsão de demanda, que garanta renda mínima ao produtor e incentive a produção. Os números dos últimos quatro anos justificam seu protesto: a média anual do feijão de cor variou de R$ 58/sc a R$ 135 e a do preto, de R$ 47 a R$ 119.

Com os preços em alta, quem guardou feijão se deu bem. Rossa tem 100 sacas armazenadas há seis meses, que podem render R$ 8,5 mil – 50% a mais do que ele receberia se tivesse vendido logo após a colheita. Na época, o governo anunciava que iria pagar preço mínimo aos produtores (R$ 80 a saca), mas parte das negociações foi suspensa. Os estoques que seriam entregues à Companhia Nacional de Abastecimento (Co­­nab) acabaram ficando no sítio e se transformaram numa poupança para os pequenos produtores.

Após um ano de cotações amargas para quem produziu milho, o feijão deve se expandir no Paraná, prevê o Deral. A avaliação é válida para a safra das águas, a maior das três safras anuais cultivadas no estado. A expectativa de aumento no plantio vem sendo reavaliada semanalmente e chegou a 8%. A semente deve cobrir 344 mil hectares. Se a produtividade chegar a 1,68 tonelada por hectare, conforme a previsão oficial, a produção paranaense deve crescer 19%, para 579 mil toneladas.

Plantio concentrado

A produtividade vai ser determinada pelo clima e o rendimento aos produtores depende da esperteza do setor, afirma o corretor Marcelo Eduardo Lüders, da Correpar, que também preside o conselho administrativo do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe). Ele alerta que só quem conseguir plantar de forma escalonada ou não apostar todas as fichas no feijão carioca reduzirá a chance de uma surpresa desagradável na colheita. Se o plantio for concentrado nesta semana, a colheita também ocorrerá numa mesma época, o que tende a baixar os preços em janeiro, considera. Seu conselho é para que o produtor plante um pouco de feijão preto ou de rajado, e de forma escalonada, se o clima permitir.

Maior produtor nacional de feijão, o Paraná não vem conseguindo dar conta da demanda nas últimas semanas. Segundo Lüders, há um déficit de aproximadamente 200 mil toneladas, com preferência pelo de cor. Na região de Prudentópolis, os produtores teriam 50 mil toneladas de feijão guardadas. Porém, com predominância do preto.

Na avaliação do Ibrafe, a demanda deve continuar sustentando preços elevados. O consumidor poderá pagar perto de R$ 10 pelo quilo de feijão nos próximos meses, mais que o dobro do preço atual. A agravante é que o atraso no plantio do milho pode reduzir a segunda safra da leguminosa, a ser plantada após a colheita do cereal, no início de 2011.

Lüders diz que os solavancos dos últimos dias são, em boa medida, reflexo desse quadro. “No mercado paulista, o feijão preto subiu 40% e o carioca, 130%, em 30 dias”, cita. Em sua avaliação, essa variação não vai se inverter repentinamente. Justamente pelo risco de redução do plantio em janeiro. “Como todas as culturas estão atrasadas, nem todo mundo vai colher o milho a tempo de plantar feijão na sequência. A primeira safra pode ser maior, mas a segunda deve cair”, avalia.

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Fonte:
Gazeta do Povo

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