Arroz: Preços no fundo do poço

Publicado em 19/10/2010 08:28
Cotações em outubro chegam ao fundo do poço, com médias muito abaixo do preço mínimo de garantia do governo federal. Este, até o momento, assiste inerte a crise de rentabilidade da lavoura arrozeira. Algumas regiões gaúchas têm preço de referência abaixo de R$ 25,00 para a saca de arroz

O mês de outubro recém iniciou a segunda quinzena e já se tem a certeza de que deixará amargas lembranças para os arrozeiros gaúchos e catarinenses. As cotações no Sul do Brasil chegaram ao fundo do poço na primeira quinzena do mês, ultrapassando negativamente o preço mínimo de garantia de R$ 25,80 estabelecido pelo governo federal. E que não é cumprido.

Em 2010 o setor não viu um centavo dos mecanismos de comercialização da Conab/Mapa, que estavam orçados. A lei de garantia dos preços mínimos não vem sendo cumprida pelo governo federal. No Rio Grande do Sul já existem praças com preços referenciais abaixo de R$ 25,00 para a saca de 50 quilos de arroz. A média fica entre R$ 25,00 e R$ 25,50 na maioria das regiões. Em Santa Catarina a média de preços baixou para R$ 27,00 e em alguns mercados já opera abaixo desse parâmetro. O Irga tentou realizar um leilão de venda de arroz na semana passada, mas os preços de abertura acima de R$ 28,00, muito além da média do mercado, não gerou interesse.

Nem o anúncio, pelo Banco do Brasil, de reescalonamento das dívidas de custeio e EGFs que venceriam em outubro para fracionamento em parcelas para outubro, novembro e dezembro, trouxe novo alento ao setor. É ponto pacífico que se está apenas empurrando com a barriga uma situação que deve se tornar ainda mais aguda em 2010 com a chegada de uma das maiores safras de arroz que o Rio Grande do Sul já teve, em razão do clima amplamente favorável. A velocidade do plantio, que é recorde na lavoura gaúcha, é um indicador mais do confiável para essa tendência.

Uma grande safra para o próximo ano, com os atuais patamares de preços, estoques do governo em alta, importações do Mercosul, dólar desvalorizado – impedindo maiores volumes de exportação e atraindo produto estrangeiro – só deverá contribuir para a redução de preços e aumento da oferta. E o pior: se o Rio Grande do Sul e Santa Catarina reduzissem área ou produção, ampliariam ainda mais o espaço para a entrada de produto do Mercosul e terceiros países, alguns subsidiados, outros favorecidos por assimetrias como menores tributos, reintegro entre outras benesses.

O arroz do Brasil perde competitividade desde a hora que o produtor compra sementes até que o produto é colocado na prateleira para o consumidor. Sem ações de governo, principalmente no sentido de favorecer à exportação, nos moldes do que aconteceu com o milho do Mato Grosso em 2010 e 2009, dificilmente a situação será revertida. Apenas formar estoques, é colocar uma espada sobre a cabeça da cadeia produtiva. E do mercado.

O setor arrozeiro gaúcho, enquanto isso, busca uma audiência com o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, para exigir a liberação de mecanismos como PEP, Pepro, Prop e contratos de opções.

Depois de cair 2,87% em setembro, as cotações do arroz em casca seguem o ritmo baixista e, apesar do feriadão na última semana em razão do 12 de outubro, dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, que travou o mercado, a primeira quinzena de outubro registrou queda de preços em 1,03%. Segundo o Indicador do Arroz Cepea-Bolsa Brasileira de Mercadorias (BVM&F), a saca de arroz em casca de 50 quilos (58x10), colocada na indústria, registrou preço médio de R$ 25,78 no Rio Grande do Sul na última sexta-feira (15/10). A perda já foi maior, esteve em 1,31% no início da semana passada, com o arroz cotado a R$ 25,71. Ambos os valores são menores que os R$ 25,80 do preço mínimo e deve-se considerar que se trata do produto colocado na indústria, portanto, sem frete. O valor líquido pago ao consumidor varia de R$ 24,80 a R$ 25,30. Em dólar, o Cepea/BVM&F, indica preço médio de US$ 15,49 pela cotação da última sexta-feira, com valorização de 0,57%.

Boa parte das indústrias fora do mercado é sinal de que há abastecimento suficiente para os próximos meses. Analistas ainda apostam em um pico de recuperação para novembro/dezembro, mas nada tão significativo, se o mercado se mantiver livre. Com ação do governo, espera-se uma recuperação mais significativa.

As importações só não sofreram uma alta ainda mais significativa, porque as cotações do produto nos Estados Unidos foram valorizadas, compensando a desvalorização do dólar. Isso pode gerar um movimento de vendas dos países do Mercosul e recuperação de alguns mercados que estavam direcionados ao arroz estadunidense. Na Ásia, o Vietnã reajustou os preços de alguns de seus produtos, seguindo o caminho já percorrido pela Tailândia. Esse país, no entanto, manteve a estabilidade de vendas e cotações nos últimos 15 dias, a espera da adequação de preços de seus principais concorrentes no mercado mundial.

Mato Grosso

No Mato Grosso a situação é diferente. Falta matéria prima nas indústrias. O setor entende que ou a Conab projetou uma safra acima do que realmente foi colhido, ou as vendas para estados como Goiás e outros vizinhos do Centro Oeste, foram muito maiores do que o esperado. O atual estoque das indústrias mato-grossenses só dá para atender a demanda por 30 dias, exceto nas quatro maiores empresas, que já têm matéria-prima estocada para alcançar a próxima safra.

O parque industrial do Mato Grosso já está comprando arroz gaúcho, na faixa de R$ 25,50, para assegurar a manutenção do mercado.Com a matéria-prima chegando a até R$ 40,00 em algumas regiões do Mato Grosso, a importação do RS vale a pena. O Mato Grosso tem 33 indústrias com capacidade de beneficiar 800 mil toneladas/ano. O estado colheu 742 mil toneladas em 2009/10, segundo a Conab. Cerca de 500 mil foram beneficiadas pela indústria local. Para o próximo ano, o Mato Grosso deve manter a área plantada ou até diminuir, em razão da concorrência de área com a soja. Os preços médios foram muito superiores que os gaúchos em 2010 e a qualidade do arroz, com as novas variedades, principalmente a CN Cambará e os híbridos da RiceTec, melhorou muito.

Preços

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 25,50 para a saca de arroz de 50 quilos, em casca, no Rio Grande do Sul. A saca de arroz beneficiado em 60 quilos alcança 53,00. O farelo de arroz é mantido na faixa de R$ 230,00 a tonelada (CIF), enquanto a quirera é comercializada a R$ 22,00 (60kg). O canjicão valorizou em razão da demanda africana por quebrados, em R$ 30,00 (60kg/FOB Porto Alegre/RS).

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Fonte:
Planeta Arroz

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