O que está acontecendo com os preços internacionais do trigo?

Publicado em 17/06/2011 17:33
Na entrevista que demos no último dia 7 de junho para o jornalista João Olivi do Canal Rural insistimos num fator fundamental para o entendimento dos atuais movimentos dos mercados de todas as commodities, fossem elas grãos, moedas ou metais: a forte presença dos Fundos de Investimento que, na falta de melhores aplicações dos mercados financeiros nos países do Hemisfério Norte, onde as taxas de juros estão próximas de zero, se bandearam de mala e cuia para os mercados de commodities, mais ativos e erráticos, que possibilitam ganhos mais rápidos e maiores. Os Fundos sempre estiveram presentes nos mercados de futuros, sendo absolutamente necessários para a sua sobrevivência, mas o caráter excessivo desta presença, com volumes nunca vistos, dissemos na entrevista, está causando um efeito colateral muito perigoso, que é acentuar as tendências naturais das mercadorias. Desde o incêndio das lavouras russas de trigo em meados de 2010 esta forte presença dos Fundos tem acentuado muito mais para cima ou muito mais para baixo os movimentos os mercados do trigo teriam naturalmente.

A demanda por trigo continua bem maior do que a oferta
O rompimento da barreira psicológica dos 7 dólares/bushel nesta quinta-feira foi um desses efeitos. É verdade que, do lado fundamental, a reentrada das exportações russas de trigo brando provocou um certo movimento de baixa no mercado, mas não deveria ser tanto, uma vez que o USDA já contava com exportações de 10 milhões de toneladas da Rússia na temporada 2011/12 e este país anunciou 13 milhões. Ora, os 3 milhões adicionais devem ser contrabalançados com a perda de 2 milhões de toneladas na França e mais 1 milhão no restante da Europa, entre Alemanha e Reino Unido. Aliás, a produção de trigo da Europa deverá cair de 138,12 milhões de toneladas previstas agora em Junho pelo USDA para 125,6 milhões, segundo a renomada empresa francesa Strategie Grains, nesta quinta-feira, uma diferença de 13 milhões que absorve qualquer novo aumento de produção mundial. Além disso, as produções dos Estados Unidos e do Canadá estão com problemas e não deverão ser do mesmo tamanho na próxima safra.  Por seu lado, embora o governo argentino se esforce em reproduzir as mesmas 15 milhões de toneladas produzidas no ano passado, o certo é que os triticultores do país estão reticentes em aumentar a área por falta de boas condições de comercialização do produto e, por isto, o USDA estima uma redução ao redor de 1,5 milhões de toneladas para a próxima temporada. Do lado da demanda estamos vendo um aumento de 3,4% na demanda por grãos em geral e de apenas 0,9% na oferta, o que torna o suprimento muito apertado, com o consumo lento dos estoques estratégicos.

Especificamente no que diz respeito ao trigo, estamos assistindo a uma progressiva redução da oferta que passou de 684,5 milhões de toneladas na safra 2009/10, para 648,21 milhões na safra 2010/11 e para 664,34 milhões estimadas para a safra 2011/12, isto é, uma redução de 2,94% nos três últimos anos, enquanto o consumo mundial está percorrendo o caminho inverso, aumentando de 652,20 milhões de toneladas em 2009/10, para 659,39 milhões em 2010/11 e para 667,19 milhões estimados para a safra 2011/12, isto é, um crescimento de 2,29% cobrindo uma distância de 5,23% entre eles o que, em milhões de toneladas, é muito. Com tudo isto, os estoques mundiais de trigo também estão sendo reduzidos, tendo passado de 198,29 milhões de toneladas em 2009/2010, para 187,12 milhões em 2010/11 e para 184,26 estimados para 2011/12, uma queda de 7,07% no período. Todos estes indicadores são altamente positivos para os preços e era para fazê-los estar em franca alta no momento.

Por que não estão?

Por causa deste efeito danoso dos Fundos.

Para onde, então, vai o mercado?

Quando passar esta fase de “preocupação com a oferta”, demonstrada pelo acompanhamento desesperado da meteorologia que se vê diariamente e a demanda começar a ser mais ativa, principalmente depois de agosto, certamente os preços voltarão a ser mais atraentes e será justamente quando o Brasil e a América do Sul estiver colhendo as suas (pequenas) safras.
E o Brasil, como fica nisto?

Como aconteceu no ano passado, os fatores que afetam a oferta e demanda de trigo e, por consequência, dos seus preços, no Brasil estão mais ligados ao que acontece na América do Sul, do que no resto do Mundo. Não deverá faltar trigo para os nossos moinhos, que, assim, não deverão “estourar” os preços pagos pelo grão: se, por um lado, a Argentina precisa se esforçar para manter a produção, o Uruguai e o Paraguai deverão aumentar consideravelmente (talvez em um milhão de toneladas) as suas disponibilidades para a próxima temporada, garantindo ao Brasil a matéria prima, ao redor de 6,5 milhões de toneladas entre os três, de que necessitará para completar a produção interna do país, que deverá sofrer uma redução de 7,7%, passando de 5,88 para 5,42 milhões de toneladas. Provavelmente o trigo pão tenha um melhor desempenho na evolução dos preços do que o trigo brando por conta do aumento de produção no Rio Grande do Sul e a falta de exportações, pelo menos não no mesmo volume da temporada anterior, uma vez que a Rússia deverá voltar a ocupar o seu lugar como fornecedor dos países da África do Norte e do Oriente Médio, para onde foi neste ano o trigo gaúcho. Há, portanto, que se esforçar desde já para conseguir novos compradores se se quiser manter os mesmos volumes de exportação, o que seria muito positivo para o trigo nacional, porque lhe dá uma excelente alternativa de comercialização, que obriga os moinhos a manter os preços elevados.

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Fonte:
Trigo & Farinhas

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