Clima põe em xeque oferta de trigo do Mercosul
O plantio do cereal nos países do Mercosul está sendo concluído, mas o tamanho da safra não é consenso. A Safras & Mercado prevê uma produção recorde de 24,59 milhões de toneladas, 5,3% maior que a anterior, com grande produção na Argentina e no Uruguai. Já o empresário Lawrence Pih, dono do Moinho Pacífico, um dos maiores da América Latina, acredita que esse volume não passará de 22 milhões de toneladas.
Isso porque os produtores argentinos migraram para o cultivo de sorgo e malte, e o Paraguai deve registrar quebra de safra da ordem de 25% por causa de geadas. "Acredito que a produção paraguaia será 350 mil toneladas menor". Assim, em vez dos 1,10 milhão de toneladas projetados pela Safras & Mercado, a colheita paraguaia pode se resumir a 750 mil toneladas.
Élcio Bento, analista da consultoria, afirma que o plantio do cereal na região está se sendo finalizado, e as lavouras ainda têm um longo percurso até serem colhidas. "Estamos falando de potencial de produção. De qualquer forma, há fortes indicativos de que o Mercosul terá excedente mais do que suficiente para atender à demanda dos países-membros", diz.
Bento acrescenta que quaisquer necessidades de importação de fora do bloco estará mais ligada às demandas específicas da indústria por tipos específicos de trigo.
Pode ser também, avalia o presidente do Moinho Pacífico, que com uma safra menor, Argentina, Paraguai e Uruguai vendam seus volumes excedentes antes de o Brasil precisar comprar, o que geralmente ocorre entre fevereiro e março de cada ano. "Eles não costumam nos esperar. Seguem vendendo e quando precisamos, a oferta já está muito reduzida", relata Pih. O Brasil é um dos principais importadores de trigo do mundo, pois consome em torno de 10,2 milhões de toneladas e produz apenas entre 5 milhões de toneladas e 6 milhões de toneladas.
De acordo com a Safras, os quatro países (Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil) devem exportar juntos 12,2 milhões de toneladas, 2,4% menos. O Brasil, que no ciclo passado embarcou 2,39 milhões de toneladas ao exterior, a maior parte com apoio do governo, deve exportar neste ciclo apenas 1 milhão de toneladas. "Com a Rússia voltando a exportar, haverá menos espaço ao Brasil", afirma Bento.
A Safras prevê para o país quebra de 7,5%, com produção de 5,54 milhões de toneladas. O volume, diz Flávio Turra, gerente técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), deve pressionar os preços internos para baixo, logo que a colheita começar, em agosto. Hoje, pico da entressafra, os preços no Paraná estão entre R$ 480 e R$ 500 por tonelada, já muito próximos do preço mínimo (R$ 477). "A tendência é de que o segmento precise novamente de ajuda do governo para comercialização", diz ele.
Em Chicago, os contratos para dezembro fecharam em alta de 10,25 centavos de dólar, a US$ 6,8725 o bushel. "Estão firmes, com a previsão de um consumo mundial maior do que a oferta e recuo dos estoques", diz Bento.
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