O Papai Noel pode trazer presentes, mas foi a ciência quem trouxe as frutas natalinas para os vários meses do ano

Publicado em 16/12/2019 10:51

As frutas natalinas já foram realmente presenças restritas ao mês de dezembro e a outros poucos momentos do ano. Isso porque, no passado, o cultivo da uva, pêssego, ameixa, nectarina, maçã, pêra e algumas outras, exigiam temperaturas baixas não encontradas no território paulista. Para tê-las em pomares no Estado de São Paulo foi necessário o desenvolvimento de pacotes tecnológicos que as adaptassem. A ciência agronômica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto Agronômico (IAC), foi determinante para a tropicalização da fruticultura e consequentemente para que o consumidor pudesse encontrar frutas nas gôndolas em diversos meses do ano.

Grande parte das frutas consumidas durante as festas no final de ano era oriunda de importações de outros estados e países. Como resultado da ciência e da adoção das tecnologias pelos fruticultores, as frutas passaram a ter maior disponibilidade, a preços mais acessíveis. Embora ainda com ofertas reduzidas e preços elevados, pode-se ter acesso às outras espécies, ainda pouco populares, como as castanhas japonesa e nozes pecan e macadâmia, além de atemoia, lichia, kiwi e pitaya.

A fruticultura de clima temperado paulista deixou de ser praticada somente em áreas serranas, que são mais frias, e em municípios próximos da Capital paulista. “Os pomares passaram a ocupar algumas regiões do interior, onde muitas vezes não ocorrem temperaturas ou condições hibernais frias”, afirma Mara Fernandes Moura, pesquisadora do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).

Essa migração se deve às pesquisas na área de melhoramento genético conduzidas pelo IAC, que tropicalizou a fruticultura. As pesquisas do Instituto envolvem introdução e seleção de novas espécies e cultivares e hibridações para obtenção de cultivares menos exigentes em frio hibernal, além de adequadas aos diferentes sistemas de cultivo.

A pesquisa científica abriu novas fronteiras de produção, as uvas, por exemplo, que antigamente eram produzidas apenas em algumas regiões, como Jundiaí, Vinhedo e Valinhos, atualmente também são produzidas em municípios localizados em regiões mais quentes do interior paulista, a exemplo do Noroeste Paulista, como Jales e Votuporanga.

O pêssego, a exemplo da uva, passou a ser cultivado além da região de Jundiaí e Sudoeste do estado, município de Guapiara. Atualmente pode ser plantado em diversos outros locais da região do Paranapanema e Centro-Norte Paulista. O IAC começou o melhoramento genético do pessegueiro em 1947, sendo pioneiro no Brasil.

Eram também restritos às regiões frias do país, os pomares de maçã. As pesquisas do IAC também viabilizaram sua extensão para a região do Paranapanema, Jundiaí, Vinhedo e Valinhos. Nestes três municípios e também em Presidente Prudente passou a ocorrer o plantio de pêra, adaptada a áreas mais quentes graças ao trabalho científico.

“O conhecimento da resposta das plantas a diversos tipos e épocas de podas permitiu a oferta de frutas em épocas distintas do período de safra convencional”, afirma Mara. O exemplo mais típico desse caso, segundo Mara, é o cultivo de goiabas, que podem ser ofertadas durante todo o ano.

De acordo com o pesquisador do IAC, José Luiz Hernandes, outro exemplo é a produção de duas safras, por ano, da videira proporcionada pela poda extemporânea. Ele ressalta que o sistema de produção em ambiente protegido foi outro recurso que viabilizou o cultivo de espécies com qualidade superior, além de reduzir a utilização de defensivos químicos.

“O cultivo de uva no Vale do São Francisco, maior polo exportador de uva, conhecido como polo de Petrolina-Juazeiro, só foi possível graças ao porta-enxerto de uva IAC 313 Tropical, que foi o responsável pelo desenvolvimento do polo vitícola do Nordeste brasileiro”, diz Hernandes. O pesquisador afirma que sem esse porta-enxerto não haveria a possibilidade de plantio de uva no Vale do São Francisco. Atualmente, o IAC 313 Tropical foi substituído pelo IAC 572 Jales, que é um dos mais utilizados naquela região.

O polo vitícola do Noroeste Paulista, que envolve os municípios de Jales e Votuporanga, só foi possível graças à utilização do porta-enxerto IAC 572 Jales, que também tem sido um dos principais responsáveis pelo cultivo de uva na Tailândia.

A cultivar IAC 766 Campinas é atualmente um dos mais importantes porta-enxertos de videira e vem substituindo paulatinamente outros porta-enxertos usados para uvas comuns de mesa em todo o estado de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e norte do Paraná.

Outro grande fator que contribuiu para o escalonamento e distribuição da oferta de frutas foi o desenvolvimento de novas cultivares com ciclos de produção distintos. “Hoje temos diversas cultivares de frutas de caroço, como pêssego, nectarina e ameixa, que possuem ciclos de 75 até 180 dias, o que permite produzir essas frutas de agosto até dezembro”, diz Mara.

A pesquisadora diz que, com relação à diversificação de espécies, ainda está sendo testado o cultivo de pequenos frutos, como amora preta e framboesa, dentro de um sistema de produção que possibilite a produção de frutas o ano inteiro dentro da pequena propriedade.

Como eram as frutas e como ficaram

Os pêssegos lançados antes de 1980 tinham a tonalidade verde ou levemente rosada.  Depois de 1980, as cultivares IAC foram cruzadas com pêssegos e nectarinas da Flórida, de pele vermelha, sabor acidulado forte e ciclo florada-maturação dos frutos mais precoces. Daí o surgimento de cultivares mais avermelhados, doce-acidulados e de ciclos de maturação mais curtos. A adaptação climática para climas mais quentes foi sendo paulatinamente incorporada ao longo dos trabalhos de cruzamentos e seleção regional feitos pelo IAC.

Com relação à qualidade do produto, o somatório das tecnologias geradas nas últimas décadas resultou no aumento da produtividade, qualidade e, consequentemente, da oferta de frutas no mercado brasileiro. Houve também um crescimento da área plantada. “A produtividade média das frutas de caroço no estado de São Paulo passou de aproximadamente 10 toneladas por hectare para mais de 20 toneladas por hectare, sendo que alguns produtores atingem mais de 30 toneladas por hectare”, relata Mara.

A seleção de porta-enxertos de fruteiras resistentes a nematoides também possibilitaram a produção de frutas em solos do estado afetados pela praga.  Segundo os pesquisadores, o desenvolvimento de cultivares-copas de fruteiras mais resistentes a doenças viabilizou o cultivo em regiões propícias ao desenvolvimento do patógeno.

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IAC

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